Há uma forte apreensão no mercado jurídico sobre as mudanças que estão por acontecer, causadas pelas novas tecnologias, robôs, inteligência artificial etc. (uma certa “hype” ou “frisson”).
Realmente, os avanços tecnológicos em todas áreas são assombrosos e tenho a total convicção que estamos nos aproximando a um ponto de singularidade (o termo “singularidade” vem da física e designa fenômenos tão extremos que as equações não são mais capazes de descrevê-los).
Trazendo a discussão para a atualidade em termos econômicos, o que temos é um tsunami com seu epicentro ocorrido na crise mundial de 2008, que gerou uma reação em cadeia na economia global e que estamos sentindo agora no mercado jurídico.
As empresas em crise se voltaram para otimizar seus custos, sua governança e houve (e ainda está havendo) o boom da aplicação de regras rígidas de compliance, gerando modificações importantes; e tudo isso começa a afetar os serviços jurídicos.
Primeiramente, a mudança gradativa das funções dos “General Counsels”, passando de gestores de carteiras jurídicas para participantes ativos nas decisões estratégicas da empresa e com o aumento brutal de “accountability” sobre os aspectos financeiros dessas carteiras.
Segundo, por conta das regras rígidas de compliance, a migração da responsabilidade na contratação de serviços jurídicos terceirizados para os setores de “procurement” ou simplesmente setor de compras das empresas.
Terceiro, a constatação de que o ticket médio para os serviços executados internamente nos departamentos jurídicos é cerca de um terço dos valores cobrados por escritórios externos, gerando uma onda de internalização inversa àquela ocorrida na década de 90, quando quase todos os serviços jurídicos de empresas foram terceirizados. A estatística citada em meu evento de Governança da Informação, ocorrido em maio de 2017, quando o General Counsel de uma importante empresa mundial de logística comentou seus números: em oito anos passou de sete para 58 advogados internos, num processo ainda em andamento para internalizar uma grande parte dos serviços jurídicos da empresa.
Como tudo o que acontece no mundo, a grande motivação é sempre econômica e este caso não foge à regra. O grande tsunami que está chegando aos prestadores de serviços jurídicos (“aka” Escritórios de Advocacia) é o desafio de se reinventar e tentar sair da posição de zona de conforto que estiveram durante as últimas décadas.
O grande desafio é a mudança do “mindset” para entender que o mercado passou de “sellers pricing” para “buyers pricing” e que esse mesmo mercado espera que todos os seus fornecedores sejam empresas que ofereçam serviços ágeis, inovadores e mais baratos.
Nesse exato ponto é que entra a aplicação das novas tecnologias, mas com uma grande observação: “Só a tecnologia não garante a inovação. Precisa haver um pensamento estratégico inovador para que a tecnologia possa ajudar a implementá-lo!”.
Esse pensamento engloba alguns pontos fundamentais que toda empresa deve estar atenta no atual mercado digital:
• estar totalmente voltada para as necessidades de seus consumidores (lembrando sempre que escritórios devem começar a tratar seus clientes com o conceito mais amplo de consumidores). Oferecer efetivamente o que o mercado quer e não o que se sabe fazer (se as duas coisas coincidirem, melhor ainda);
• estar totalmente atenta à competição e sempre tentar estar um passo à frente;
• mudar a gestão para “data centric”, deixando o amadorismo e achismo de lado;
• tentar ser inovadora, sem deixar de se preocupar paralelamente a sempre melhorar e otimizar seus procedimentos e práticas internas;
• apresentar um serviço que realmente agregue valor ao cliente.
Tudo isso com utilização intensa de todas as tecnologias disponíveis no mercado!