As cores da política

Que cor você quer para enfeitar seu presente de Natal?

14/08/2018 às 22:42
Leia nesta página:

Só não compare a política com religiões ou igrejas, porque na política não há lugar para quem procura a salvação das almas. Não há anjos brancos, a não ser os racistas.

A política tem, sempre teve e sempre terá cores. Pela única (e, por demais, óbvia) razão de que não há política ‘neutra’, ou seja, descolorida. Todos tomam um lado, um partido, fazem escolhas, inclinam suas esperanças e frustrações neste ou naquele caminho. Até os pais e mães têm filhos ou filhas de preferência.
Ainda que alguém quisesse comparar a política a uma empresa – tipo: Partido S/A –, a obviedade chamaria nossa atenção. As empresas, toda criança sabe, lucram ‘com’ e ‘sobre’ alguém. Por gentileza, digamos que as empresas lucram com a satisfação de seus clientes; no entanto, para fechar a equação, é preciso ter claro que as empresas lucram sobre o trabalho dos outros: chama-se isto de mais-valia ou sobre-lucro – e também têm várias formas.
Agora, some-se ao Partido S/A o fato de que a expressão cliente deriva do latim ´cliens’ – e cliens significa vassalo. E quem são os vassalos da Política S/A? Os consumidores que o marketing nocivo lhes incute o desejo, a compulsão de consumir, ou até mesmo o vício incontestável? Ou são seus empregados, trabalhadores e trabalhadoras que ali permanecem ao custo de sua dignidade?
Pois bem, o partido a ser tomado aqui seria do empregador, do empresário ou, popularmente falando, do patrão. Isto é, onde está a neutralidade desse caminho e dessas escolhas? Por isso é preciso muito cuidado com quem vende a política a preço barato.
 Em todo caso, quais são as cores da política nacional em 2018? Há muitos tons e sobretons, mas, encurtando a história, vemos três cores fortes: vermelho, azul e preto. E já nos desculpamos com qualquer nação ou seleção que empunhe essas cores em sua bandeira ou uniforme. Ninguém pode carregar nossa culpa, é passado o tempo de ‘comprar indulgências’.
Enfim, o vermelho simboliza a esquerda: os quilombolas; os trabalhadores que lutam por direitos; a Vereadora Marielle brutalmente assassinada no Rio de Janeiro; os ambientalistas e os defensores dos direitos humanos mortos todos os dias neste país, os socialistas e os comunistas.
Os azuis representam o capital, o mercado, as reformas trabalhista e previdenciária, as privatizações de Correios, universidades federais, Petrobrás, Eletrobrás e outras. Conhecemos um pouco desse espectro contabilizando o número de pedágios nas rodovias do Estado de São Paulo. Aliás, um exemplo claro da Política S/A.
 Contudo, ainda há o preto. Na verdade, como ausência de luz e de cor, o preto era tido como habitante das catacumbas da história. Até 2013-16, com o abuso do verde-amarelo e estampa da CBF a honrar o peito gentil. Aí se encheram da cor de breu e, num dia como hoje, frio de expectativa, eis que o cenário ficou bem borrado de preto.
Esses ‘camisas pretas’ defendem, entre outras mil, a liberação de agrotóxicos que sabidamente matam, e de várias formas (loucura, intoxicação irreversível). Também defendem a criminalização dos movimentos sociais, na moeda de troca em que preveem a liberação da venda de armas de fogo. Some-se ainda a este cenário preto, sem luz que nos guie para fora do fundo do poço, inserções como estas: “uso o apartamento funcional (público) para comer gente”; “negros não servem para procriar”; “a indolência vem dos índios”; “a malandragem (corrupção), dos negros”.

Sobre o autor
Vinício Carrilho Martinez

Pós-Doutor em Ciência Política e em Direito. Coordenador do Curso de Licenciatura em Pedagogia, da UFSCar. Professor Associado II da Universidade Federal de São Carlos – UFSCar. Departamento de Educação- Ded/CECH. Programa de Pós-Graduação em Ciência, Tecnologia e Sociedade/PPGCTS/UFSCar Head of BRaS Research Group – Constitucional Studies and BRaS Academic Committee Member. Advogado (OAB/108390).

Informações sobre o texto

Este texto foi publicado diretamente pelos autores. Sua divulgação não depende de prévia aprovação pelo conselho editorial do site. Quando selecionados, os textos são divulgados na Revista Jus Navigandi

Publique seus artigos Compartilhe conhecimento e ganhe reconhecimento. É fácil e rápido!
Publique seus artigos