A política nas redes sociais e a falta de percepção crítica

23/08/2018 às 22:05
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A falta do conhecimento político necessário para o futuro da nação é refletida pelas redes sociais e seus cientistas políticos, que se opõem entre si, mais pelo prazer de se opor e pela admiração partidária do que por convicções genuinamente políticas.

É causa de espanto perceber o quanto a democracia das redes sociais tem anulado o cidadão democrático. Impressionam as infindáveis discussões em defesa das próprias razões; o menosprezo do pensamento divergente; o cultivo do ódio e os disparates que leio. Chocam, deixam-me estarrecido, as análises políticas que vejo nas redes sociais, não pela visão polarizada, mas pela ignorância, seja pela falta de urbanidade, seja pelo desconhecimento analítico do que expõe com tanta “propriedade”. Em alguns casos, digo raros, o comportamento de certas pessoas chega às raias da insanidade ou da necessidade de se opor a seus pares.

Apoucam o conhecimento alheio escorados em subliteraturas, em fundamentos frágeis e em pesquisas superficiais, daí, conjecturam suas ideias como se cientistas políticos fossem, sob um substrato de informação, que, na maioria das vezes, é trabalhado pelo interesse unilateral do veículo midiático. Existem boas fontes, é claro, todavia, é duro se informar de verdade com qualidade e tentativa de verossimilhança como já dizia, em outras palavras, RAMONET (A Tirania da Comunicação. Vozes: São Paulo, 2007). Entretanto, pelo solecismo e barbarismo das postagens, podemos pressupor que os autores dos posts não se deram ou não se dão o trabalho de pesquisar suas fontes, banalizando, assim, o conceito de análise crítica que enriquece qualquer debate, fato este que HANNAH ARENDT tanto preconizava em suas obras, tais como “Origens do Totalitarismo” (Tradução de Roberto Raposo. Companhia das Letras: São Paulo, 1989) e “EICHMANN EM JERUSALÉM” (Um relato sobre a banalidade do mal. Tradução de José Rubens Siqueira. Companhia das Letras: São Paulo, 1999).

É claro que vivemos em um tempo de antinomia, de divergências políticas, mas não podemos conduzir as nossas falas de forma incongruente, ora, v.g. se você é a favor da paz, se diz católico ou evangélico, como você pode discursar a favor de um político que seja a favor da pena de morte ou do porte de armas? Como você pode ser a favor legalização do aborto além do que já é legal? Ou da legalização da maconha? É no mínimo um contrassenso. Se você é desonesto (embora seja um fato inadmissível na acepção do termo por quem é) ou faz uso de maconha, seria um ato de insanidade, ou no mínimo incoerente apoiar um político que flerta com os tempos sombrios da ditadura e, declaradamente, é a favor da intervenção militar.

Enfim, o peso daquilo que você compartilha nas redes sociais extrapola, e muito, a pressão exercida com o dedo sobre a tela do celular ou do teclado de seu computador, já que seu alcance é universal. Exige responsabilidade. Pesquisas de opinião e manifestações significativas são organizadas nas redes antes de ganharem as ruas. Em cada pequena discussão, a prioridade dada ao bem-estar humano deveria ser a questão central.

Sobre o autor
Juliano Augusto Rodrigues

Professor atualmente de cursos preparatórios para concursos públicos nas disciplinas de Direito Constitucional e Direitos Humanos;<br>Escritor de artigos para sites de estudos direcionados para área jurídica;<br>Advogado desde 10 de março de 2002 até o presente em escritório próprio denominado Carpan Advogados.<br>Delegado da OAB/RJ.<br>Professor dos cursos de extensão da Universidade Estácio de Sá na área de Direito, desde janeiro de 2003 até janeiro de 2008,

Informações sobre o texto

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