A intangibilidade da intimidade da mulher- um direito particular.

23/08/2018 às 23:40
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A cultura do estupro e do assédio tem crescido demasiadamente, adquirindo uma credibilidade que ofende não tão somente suas vítimas, porém também o entendimento de grande maioria da nossa sociedade que sustenta sua justificativa.

Não adianta questionarmos o porquê que as mulheres, principais vítimas de tais crimes, devem necessariamente protegerem-se do estupro ou atos relacionados à violação de sua dignidade ou a integridade sexual. Pois isso nos dar margem para definirmos o que simplesmente não está associado à forma como estas atuam ou deveriam atuar na sociedade. Todavia, é interessante compreendermos  que vivemos em um mundo tecnicamente violento e agressivo; as demandas criminais crescem tão consistentes que se inovam e nos preocupam a cada tempo. E isso nos condiciona a refletir no que realmente precisamos fazer para não tornar estes atos criminais extintos de punição ou passíveis de desconsideramento. E esta banalidade se torna preocupante não só pelos riscos à segurança da mulher como a mentalidade de grande maioria que busca justificar tais ações criminosas pelo estímulo da "má conduta da vítima" que seria até então indispensável para não ocorrência destas atrocidades.

Lamentavelmente, os argumentos utilizados para fundamentar tais procedimentos demonstram o nível ofensivo da incompreensão estabilizada pelas pessoas, pois elas acreditam, por exemplo, que o vestuário seria o principal influenciador que nutri a razão pela qual muitos criminosos subsistem. Embora estejamos em um país quente ou frio, trajando pouca roupa ou não, a vulnerabilidade nos tornará alvo da violência sexual independente disto. A roupa nos protege, protege do frio, mas ela nunca será pretexto para alegar o crime. Ela nunca será um instrumento para combater o abuso sexual. Sabe o  porquê? Porque vivemos em uma  sociedade e em o mundo doente, com problemas sérios de saúde socio-educucacional; porque vivemos para promover o crime e não para reduzir ao menos seus efeitos.

Acreditar que nós mulheres temos que nos envolver com mais tecidos para prevenir olhares maliciosos é nos enganar ao achar que por isso não seríamos alvos óbvios da violência. E essa consciência prejudica o mínimo bom senso que espera-se ter para julgar prudentemente essas violações. Mais uma vez, o problema nunca esteve na roupa, está na capacidade que o homem em geral tem para retroceder ou ao menos evoluir para o bem estar social. 

Quando pararmos para analisar que somos atingidos violentamente por nós mesmos, vamos começar a entender que estamos vivendo a maior doença social, a indiferença. Evoluímos de forma considerável, porém tanto para o melhor quanto para o pior. Conseguimos coisas que se tivéssemos a oportunidade de perguntar para a sociedade antiga, eles desacreditariam sem hesitar. Mas ainda assim, somos afetados pelas mesmas chagas. Porque tudo que não evoluiu ainda foi a nossa mente. Somos reféns e coautores dos mesmos conflitos, por pensarmos que muitas coisas por serem tecnicamente banais, apenas precisaríamos então nos adaptar a elas, fadados continuamente a sobrevivência reversa.

Precisamos entender que a nossa visão de mundo faz toda a diferença na maneira como vivemos no meio social, pois isto define o quão preparados estamos para receber essas causas que ofendem a integridade que deveria ser inerente à mulher e não limitada pela padronização de vestimentas imputadas por uma maioria desprovida da sensação de ser livre sem nenhum preço para isso.      

Sobre a autora
Luciana Carvalho

Sou Luciana Cristina Azevedo Carvalho, estudante do curso de Direito e escritora. Atualmente estou morando na cidade de Manaus no Estado do Amazonas. Nasci em primeiro de fevereiro do ano de mil novecentos e noventa sete (01/02/1997).

Informações sobre o texto

Este texto foi publicado diretamente pelos autores. Sua divulgação não depende de prévia aprovação pelo conselho editorial do site. Quando selecionados, os textos são divulgados na Revista Jus Navigandi

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