A palavra “moral” deriva do latim mores, que, traduzida para o contexto mais atual, significa hábito, costume, comportamento. A ela, corresponde o termo grego ethos. Embora moral e ética, nos parâmetros rigorosamente filosóficos, não se confundam, o fato é que, vulgarmente, ambas possuem o mesmo significado, na medida em que se estribam na dualidade lícito-ilícito, justo-injusto, permitido-proibido.
A moral seria, por assim dizer, o critério com o qual organizamos, de modo subjetivo, o nosso próprio sistema de valores. Ao tomarmos decisões, sejam elas relevantes ou nem tão relevantes assim, pautamos os atos em parâmetros anteriormente estabelecidos pela nossa consciência. Tais paradigmas, que internalizamos por meio das observações da realidade que nos circunda, decorrem da razão e da reflexão, pois se concluímos que alguns valores são, de fato, necessários para nós, isso é feito depois de um longo e exaustivo processo de cálculo, ponderação e medida das coisas.
A moral, neste sentido, seria o produto final da filtragem racional perpetrada em face das influências a que nos sujeitamos cotidianamente, como, por exemplo, a religião, a família, o trabalho, a escola, o círculo de amizade, a política e as manifestações artísticas.
Outra noção digna de nota consiste na ideia de que, quando quebramos esse código, isso passa a nos incomodar. Na verdade, esta sensação de vergonha, de culpa e, até mesmo, de dor e sofrimento, é, em última análise, sintoma flagrante de quem introjetou certos padrões morais em seu ser, o que, a rigor, induz à conclusão de que se trata de alguém digno, honrado, virtuoso e íntegro. Íntegro, neste caso, seria a pessoa que, mesmo diante de situações adversas, nas mais variadas formas de “pressão” e “temperatura”, se mantém firme em seus propósitos axiológicos. A moral traduz, neste instante, uma força interior manifestada no sujeito (virtus).
Mas em que implica a importância da moral? Na medida em que ela proporciona um agir, cuja causa parte do íntimo das pessoas, de seu foro interior, é forçoso dizer que o significado da moral se baseia sobretudo no impedimento de ações danosas aos nossos semelhantes, sem que seja necessário recorrer a elementos externos ao ser, como o direito, a religião e a própria ética. A função da moral é, portanto, evitar que o mal se expanda, atribuindo-nos – e somente a nós – o papel de primeiro juiz de suas atitudes perante o mundo. Moral é o imperativo que regula a relação de nós para com nós mesmos.
O problema é que a moral está com a cotação baixíssima na bolsa de mercadorias e futuros no mundo da vida social, uma vez que ela demanda uma postura filosófica diante da realidade, exigindo razão, pensamento, reflexão, indagação, dúvida e respostas muitas vezes complexas. Preferimos deixar o controle das coisas a cargo de elementos externos que praticamente tomam a decisão por nós. Por isso que se “vomitam” leis e regulamentos para quase tudo, sendo que muitos deles, em curto prazo, se tornam banais e ineficazes, às vezes, por aqueles que, a rigor, deveriam observá-los.
Percebam que o conceito dado sobre a moral foi eminentemente formal, pois não se disse, a nenhum momento, quais seriam os valores substanciais que deveriam prevalecer sobre outros em determinadas situações. Significa afirmar que a formação da moral e da personalidade de cada um, como foi dito no começo, é um processo subjetivo. Cada um vai estabelecer para si quais são esses valores e a posição que eles ocupam numa determinada escala construída ao longo de sua história.