I. Introdução
Immanuel Kant nasceu em 1724 em Konigsberg, na Prússia Oriental. Dentre suas obras, destacam-se "A crítica da razão pura", que é uma reflexão sobre o conhecimento; "A crítica da razão prática", que é uma reflexão sobre como devemos agir, e "A crítica do juízo", que é uma reflexão sobre o belo. Nelas observamos como o seu pensamento é importante, influenciando outros posteriores, além de ser uma base importante do Direito.
Tal autor desenvolveu diversos conceitos de extrema relevância, mas no seguinte trabalho será abordada a ruptura de Kant com os gregos para destacar alguns pontos importantes da sua teoria do conhecimento.
II. A ruptura de Kant com os gregos e alguns aspectos sobre sua teoria do conhecimento.
Para os gregos, o conhecimento era obtido pela contemplação. Isso ocorre porque, nessa visão, além da verdade já estar explicitada na ordem do universo, já que ele é ordenado, há a ideia de que tudo está em seu devido lugar. Logo, para conhecer, o indivíduo não precisa da prática, pois a contemplação é suficiente, ou seja, há uma postura de passividade.
Nesse sentido, é como Clóvis de Barros costuma dizer: “O vento venta, o sapo sapeia e a girafa girafeia.” Isso é resultado da concepção da finitude do universo e de que todas as coisas possuem uma finalidade e existem por conta disso.
Já Kant, irá estabelecer uma forte ruptura com esse pensamento, visto que, enquanto para os gregos o universo é integrado, havendo essa consciência teleológica, tal autor - com o conhecimento de Copérnico, Galileu e Newton - afirma que ele não é ordenado, mas caótico.
Com essa concepção, fica claro que não existe nada de verdadeiro na imediatidade da observação. Assim, o fundamento da causa final desaparece e as coisas não são classificadas como existentes devido sua função, já que inexistem finalidades anteriores a nossa existência. Sendo assim, a produção do conhecimento depende da participação ativa do homem, muito além da contemplação.
Clóvis de Barros afirma que, dentro desse universo finito, a ética deixa de ser a do encaixe e do ajuste e passa a ser a das relações humanas, ou seja, definida pelo homem através da sua vontade. Nesse sentido, o ser humano para conhecer não pode mais ser passivo, mas deve organizar o mundo e dar a ele uma certa ordem. Com isso, o conhecimento passa a ser produção do homem e não um dado do universo.
Para Kant, a filosofia platônica e aristotélica são dogmáticas, porque se cria um dogma do transcendente, já que é atribuída uma causa para cada objeto em que se chegará, em algum momento, à causa em si mesma. Não obstante, como já citado, nos gregos o "Eu" não aparecia. Logo, a filosofia funcionava como uma razão para explicar o mundo, sendo que tudo tem uma ordem e o ser humano é uma dessas coisas.
Tal autor prussiano busca investigar o que é o mundo e o homem. Assim, afirma que tudo o que existe é construção da nossa mente, sendo que é o ser humano que tem dentro de si conceitos universais e que fixa o pensamento no mundo. Nesse sentido, com Kant, o homem se libertou das correntes metafísicas e é criada uma metafísica que parte do indivíduo.
Esse fato de que a natureza é, em parte, obra do homem é o transcendental - que é diferente do transcendente, o qual é típico da linguagem platônica e aristotélica - e Kant define: "chamo transcendental a todo o conhecimento que em geral se ocupa menos dos objetos, que do nosso modo de os conhecer, na medida em que este deve ser possível a priori (KANT, P.79) , ou seja, são as condições do sujeito e as suas faculdades a priori que possibilitam toda a relação de conhecimento." (SILVA, 1999. P.1).
Nesse sentido, é questionado: será possível um conhecimento independente da experiência e das impressões dos sentidos? (KANT, P.66) Ao responder que sim, chama esses conhecimentos de “a priori”, distinguindo assim, dos empíricos, cuja origem é “a posteriori”, isto é, da experiência. Dessa maneira, ele defende que o fato do conhecimento é que temos representações que são a priori, graças às quais julgamos. Essas são ou as apresentações – espaço e tempo, em que só reconhecemos um objeto no tempo e no espaço – ou as representações propriamente ditas – como o conceito de substância. Ou seja, nessa visão, há uma tabela de conhecimentos a priori, assim, como o conceito de substância, que já estaria dentro do homem e isso seria uma nova metafísica, mas do sujeito.
Como falado anteriormente, nos gregos a teoria do conhecimento se baseava na correspondência entre o sujeito e o objeto, em que o universo seria ordenado e que tudo existente possuiria uma finalidade. Diferentemente dessa concepção e do empirismo de Hume, Kant nega a harmonia entre o sujeito e o objeto (acordo final) pelo princípio de uma submissão necessária do objeto ao sujeito. (DELEUZE, 1963, P. 21).
Tal autor afirma que a capacidade de conhecer o objeto, ou seja, de julgar, é a faculdade, em que o objeto - que vem pela intuição ou por esquemas - “se cola” no entendimento, assim há o conhecimento e essa análise é denominada sintética.
Nesse sentido, ele faz uma grande inovação e afirma que a faculdade de conhecer é legisladora, já que, com a razão, o homem estabelece leis e formas de descrever o objeto, sendo assim, o ser humano não possui entendimento sem objeto.
Kant pretende superar essa dicotomia do racionalismo dogmático e o empirismo céptico que separaram a razão da matéria, os conceitos do conteúdo, pois tanto uma posição como outra acabaram por deixar um abismo que divide as relações de conhecimento. (SILVA, 1999) Assim, o autor reconhece que “sem a sensibilidade, nenhum objeto nos seria dado; sem o entendimento, nenhum seria pensado. Os pensamentos sem conteúdos são vazios; intuições sem conceitos são cegas” (KANT, 2001, p. 115).
III. Considerações finais
Como vimos, o conhecimento, para o autor, não é mero reflexo dos objetos, mas parte do sujeito. Com essa breve análise de alguns aspectos da concepção de Kant, foi possível notar sua importância para a filosofia, podendo classifica-lo como um divisor de águas, sendo que, posteriormente foi considerado criador da base do idealismo alemão.
IV. Referências
Aula do professor Clóvis de Barros: Kant e o século XXI. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=muqQXJq-xoA.
DELEUZE, Gilles. 1963. A filosofia crítica de Kant. Lisboa: Edições 70.
KANT, Immanuel. A crítica da razão pura. 5ª edição. Tradução de Manuela Pinto e Alexandre Fradique. Fundação Calouste Gulbenkian. 2001.
LANG, Fernando. A teoria do conhecimento de Kant: O idealismo transcendental. Cad. Cat. Ens. Fís., v. 19, número especial: p. 28-51, mar. 2002.
SILVA, Neilson. A propósito da introdução à crítica da razão pura de Immanuel Kant. Metavnoia : São João del-Rei, n. 1, p 84-91, 1998/1999.