O ano de 2019 mal começou e já vem marcado por enormes descasos tanto no setor público, quanto no setor privado, principalmente no que diz respeito a ocorrência das mais terríveis tragédias que temos visto nos últimos tempos, sendo Brumadinho a maior no segmento de rompimentos de barragens e de vítimas.
Inúmeros questionamentos surgem, quase que diariamente, sobre as causas de tamanho desastre. A maioria delas procura trazer à tona uma série de irregularidades que são ignoradas pelas empresas, por suas controladas e contratadas. Demais disso, são ignoradas as recomendações do Poder Público, quando a realização e a atividade do objeto empresarial dependem de sua aprovação, assim como seu descaso e a recorrente ausência de fiscalização contínuas.
No caso de Brumadinho, a total displicência restou clara: inúmeras recomendações foram feitas, assim como perícias técnicas ao local, e o que restou? O total descrédito dos Diretores, assim como do Conselho de Administração, que é pilar fundamental em um programa de compliance e cuja atenção que deveria ser redobrada e dedicada aos riscos iminentes.
O apoio da alta administração, a identificação de riscos, sua mitigação, e monitoramento e treinamento constantes, quando não realizados “para inglês ver” produzem, sensivelmente, mudanças na condução e na gestão empresarial.
O que mais se destacou em relação a tamanho desastre, foi a total inexistência de observância aos riscos. Pergunta-se, assim, se a Vale teria a exata dimensão do que a falta de segurança e de critérios elementares poderiam causar em sua empresa, aos seus funcionários, aos investidores e a sociedade em geral. Como os atos previstos não foram revistos e, se foram, não tiveram suas recomendações atendidas, o programa de compliance restou ineficiente e, por conseguinte, falho.
Descabido prejuízo financeiro foi enorme, e a empresa caiu em descrédito, onde inúmeras famílias foram dizimadas, moradias foram extintas em um mar de lama, e o meio ambiente perdeu aproximadamente 125 hectares de florestas, dentre outros prejuízos de enorme monta que serão sentidos ainda por anos.
Uma empresa referência em programas de integridade possui uma cultura de respeito, integração e interação entre seus funcionários. Ao revés, uma empresa que não transmite confiança, não consegue sequer recrutar bons profissionais, pois estes preferem trabalhar em um ambiente corporativo que lhes dê, no mínimo, segurança em seu labor diário.
Antes de aderir a conformidade, a atividade empresarial deve estar pautada em um programa de governança baseado em valores que abrangem diversidade, independência, coerência e, sobretudo, responsabilidade corporativa.
Demais disso, as atividades empresariais devem ser norteadas por seus princípios institucionais, os quais se aliam diretamente a valores éticos, humanos e familiares. É o demonstrar fazer o que é certo, da forma correta. Portanto, uma empresa que possui em suas atividades o desenvolvimento de atuações sociais, por exemplo, demonstra sua preocupação com o indivíduo e com a melhoria de toda a sociedade.
Quando um programa de compliance é falho, é evidente a ausência de crescimento na empresa. Os canais de denúncia não funcionam, pois os funcionários são inseguros e têm medo de situações retaliadoras, as diligências entre os fornecedores e terceiros não são realizadas a contento, os treinamentos não abrangem os riscos e, sobre estes, sequer são levantados ou mitigados com a seriedade que deveriam ter.
Ademais, destaco que se os próprios funcionários não acreditam na empresa em que trabalham, a população acredita menos ainda. Indenizações que não cobrem vidas, números que não superam as perdas.
Por esse motivo, a mudança tem que vir de dentro para fora, e todos os gastos institucionais com o desenvolvimento em valores e em integridade, alocados como investimentos. Um sistema de políticas internas efetivas, com investigações eficazes, gera credibilidade e confiança desde o chão de fábrica até a alta administração.