MÍDIA, A DISSEMINAÇÃO GLOBAL DOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO DE MASSA - UM ESTUDO SOBRE HOUSE OF CARDS - A SÉRIE ORIGINAL DA NETFLIX E POLÍCIA FEDERAL, A LEI É PARA TODOS – O FILME DOS BASTIDORES DA OPERAÇÃO LAVA JATO, E O REFLEXO NA SOCIEDADE
SUMARIO
1. Introdução; 2. Mídia, a disseminação global dos meios de comunicação de massa; 3. House of Cards - a série original da Netflix; 4. Polícia Federal, a lei é para todos – o filme dos bastidores da Operação Lava Jato; 5. O uso da Mídia e o reflexo na sociedade; 6. Conclusão; 7. Referência.
1. Introdução.
Este artigo pretende analisar conceitual e empiricamente o papel da mídia, no contexto da disseminação global dos meios de comunicação de massa, enfoque que será desenvolvido em todo o texto sob o ponto de vista de sua utilização na área de entretimento e na vida real. No decorrer do texto serão abordados dois dramas políticos a série original da Netflix House of Cards e o filme dos bastidores da Operação Lava Jato, intitulado “Polícia Federal, a lei é para todos”, traçando um ponto convergente entre os dois, bem como o impacto que a real Operação Lava Jato, por meio da mídia causou na sociedade brasileira.
2. Mídia, a disseminação global dos meios de comunicação de massa.
Anthony Giddens (2012, p. 515) ao descrever a mídia - na era global, inicia com a assertiva de que na maior parte da história humana, a fala foi o meio principal de comunicação, e a norma era a comunicação presencial. Agora, as novas tecnologias digitais revolucionaram os meios de comunicação, sendo que a população está cada vez mais conectada, ativa e imersa no mundo digital, dando a internet maior espaço no dia a dia, devido a praticidade e rapidez no quesito entretenimento reinante no atual mundo globalizado.
Antes as informações chegavam até o espectador por meio do papel impresso, ou então, por meio do rádio ou da televisão, eram os meios de comunicação de massa. Num passado próximo, jornais e revistas eram distribuídos nos endereços dos consumidores, e, dificilmente, havia uma residência sem um aparelho de rádio ou de televisão. Com a velocidade da tecnologia digital, muitos abandonaram os tabloides e os periódicos em sua forma original, o papel e, também, diminuíram o uso de rádios e de televisões, ao migrarem para a rede eletrônica adotaram a comunicação digital, que é capaz de proporcionar uma mídia on e off-line, que contém todo tipo de informação e de entretimento almejado.
Na evolução tecnológica ocorreu uma mudança paralela, a da própria forma de comunicação. As grandes redes de comunicação, responsáveis pela agilidade e capacidade de longo alcance das informações, na contemporaneidade situou o ser humano num ciberespaço, proporcionando-lhe novos recursos para estabelecer diálogos, propagar a sua voz ou ideologias, dentre outros, como Intranet, Blog, Redes Sociais (WhatsApp, Twitter, Facebook, MSN Messenger, e outros sites de relacionamento), e E-mail marketing, conhecido por Newsletter, para envios de boletins via correio eletrônico.
A comunicação digital e a interatividade na rede eletrônica não sofrem interferências do espaço físico, razão de distância deixar de ser obstáculo para que a informação circule e alcance regiões remotas em qualquer lugar do mundo. Mas, se por um lado há vantagens na utilização da internet que tornou tudo muito mais próximo, rápido, acessível e prático, do outro é possível contabilizar os inúmeros pontos negativos advindos do mundo virtual.
O distanciamento físico do indivíduo do âmbito social, a quebra ou ausência de privacidade, divulgação de notícias quer verdadeiras ou falsas, propagação e manipulação política, fácil acesso a conteúdo de pornografia ou de pedofilia, instigação de violência, racismo, ou de possíveis desafios de games on-line, como o atual, chamado de Baleia Azul[2], que se disseminou rapidamente em redes sociais para induzir o participante a cumprir metas macabras como submissão, automutilação e, por fim, suicídio, configuram alguns exemplos de pontos negativos.
Anthony Giddens (2012, p. 519), descreve que Howard Rheingold, em The Virtual Community (2000), reconhece o potencial positivo das comunicações mediadas pelo computador, enquanto também aceita que não podemos simplesmente querer que seu lado obscuro desapareça.
E eles não irão desaparecer, os meios de comunicação são garantias da liberdade de expressão e de informação, mas, sem a devida responsabilidade, podem se transformar em instrumentos de manipulação, que é ponto fulcral para gerar domínio e facilitar a alteração de conduta das pessoas. Na medida em que se mitiga a possibilidade de pensar criticamente, opera-se o esquecimento de verificar a realidade da situação e de que tais decisões afetarão diretamente a vida de todos.
3. House of Cards - a série.
A série de televisão norte-americana House of Cards[3], estreada em 2013 e transmitida via Netflix[4], ao retratar um intrincado drama político, exibe no primeiro episódio o congressista Frank, Francis Underwood, estreado pelo ator Kevin Spacey, como homem pragmático e implacável que mata com as próprias mãos um cão de estimação do vizinho, atropelado e que agonizava. O ponto alto do episódio é a explicação direta que o personagem presta ao espectador[5], na qual relata friamente existir momentos em que é necessário que alguém faça algo muito desagradável, mas extremamente necessário.
A partir deste início, o personagem principal se mostra ser um congressista democrata da Carolina do Sul, que por estar no centro do Congresso, usa todo o seu poder para assegurar a eleição do presidente Garrett Walker, em razão de prévio acordo para ser nomeado como secretário de Estado. Mas, a intriga política é intensificada quando é preterido para o almejado cargo, escondendo a raiva e a decepção, apresenta-se como um político amigo e muito útil para o presidente eleito, que o traiu, enquanto meticulosamente trabalha para derrubá-lo da Presidência do Estados Unidos da América e ele próprio assumir o alto cargo político.
Underwood, junto com a esposa Claire, atriz Robin Wright, arquiteta um plano elaborado e complexo para obter uma posição no gabinete, cargo útil que lhe possibilitará dar as cartadas programadas para alcançar o seu objetivo maior. Na jornada, ao manipular em seu favor o jogo de poder, pressiona, ameaça, chantageia quem está no seu caminho. E, para lograr pleno êxito, faz um acordo com a repórter política, Zoe Barnes, uma jovem extremamente ambiciosa, para fornecer-lhe histórias prejudiciais sobre os rivais políticos.
O drama político, vencedor do Emmy e do Globo de Ouro, alcançou a sua quinta temporada com sucesso absoluto de audiência, levando o ator Kevin Spacey afirmar em entrevista[6] que a série está mais assustadora do que nunca, muito em função da similaridade com a política americana atual.
"... parte da campanha de reeleição de Frank como presidente dos Estados Unidos, agora ao lado da esposa, Claire (Robin Wright), como vice-presidente. A expectativa é de que o roteiro faça alusões à eleição americana de 2016, que resultou na vitória de Trump. “Estamos mais assustadores do que nunca”, comentou Spacey em entrevista ao talk-show Late Night‘s com Seth Meyers, da rede NBC. “Algumas coisas que já havíamos gravado aconteceram na vida real, no hiato entre rodarmos a série e ela ser exibida”, explicou o ator. “Nunca foi nossa intenção interferir na política mundial. Queríamos ser um universo alternativo - o que, hoje, muitas pessoas prefeririam que fosse verdade.” Quanto ao futuro de seu personagem, Kevin adianta que Frank usará do medo para conseguir votos, e a reeleição será um momento interessante para ele e Claire."
Para quem acompanha de perto os episódios é possível ter uma perspectiva sobre situações de intrigas que se completam ao longo da história e, embora, inicialmente aparente que as medidas recairão somente sobre Washington, D.C, as ações acabam por atingir direta ou indiretamente não só o povo do EUA e, também, a de outros países.
E, que na busca do cargo de Presidente, a conduta do Underwood, que magistralmente conhece e utiliza todos os pontos fracos dos seus opositores em proveito próprio, ecoa em toda cadeia social, afeta a realidade econômica, acentua a desigualdade social, e, pior, agrava problemas de âmbito local como a educação, a saúde e a violência e, igualmente, no âmbito internacional, aumenta as ameaças de guerras e de terrorismos.
Underwood, na sua trajetória pelo poder, vai ainda mais longe na 5ª Temporada quando ao ter que fazer frente ao seu adversário na corrida pelo cargo Presidencial, que utiliza massivamente a rede social para angariar votos, lança contra-ataques pelos mesmos meios digitais, articulando novas estratégias que acabam por levá-lo à Presidência da Casa Branca. Mas, na continuidade do drama político, quando é confrontado com um possível impeachment pela prática de crimes, ele volta as velhas táticas de manipulação e, para controlar o estrago e evitar a prisão, lenta e continuamente vaza informações para a mídia, por meio de uma fonte anônima.
O sucesso de audiência do House of Cards era previsível por várias vertentes, acima de pesquisas de mercado e de possível utilização do sistema Big Data{C}[9], que permite aferir qual a carência do público alvo para suprir a demanda, a própria história elegida possui o atrativo de encantar e hipnotizar o espectador pelos paralelos e semelhanças com acontecimentos reais do mundo político foco das intrigas retratadas nos episódios.
Glauco Ludwig Araujo (2016, p. 50), ao se questionar igualmente, a razão de tanto sucesso, coloca que até o anterior Presidente dos EUA, Barack Obama, é fã do seriado, e traça um paralelo com a obra de Nicolau Maquiavel “O príncipe”, pois o autor enfrentou acusações que a sua obra ensinava e legitimava a sordidez e a imoralidade na política, mas dois séculos mais tarde, Rousseau apôs essa interpretação, nos seguintes termos: ‘Maquiavel, fingindo dar lições aos Príncipes, deu grande lições ao povo’. Nesse sentido, se House of Cards pode estar ensinando algumas lições a Obama, certamente dá verdadeira aulas de real politik para o público.”.
4. Polícia Federal: A Lei É para Todos – o filme.
O filme policial brasileiro, intitulado “Polícia Federal: A Lei É para Todos”[10], faz parte de uma trilogia inspirada em fatos reais e retrata o início da Operação Lava Jato[11], sob o ponto de vista dos investigadores que após a primeira fase, durante a realização da “Operação Bidone”[12], apreendem no interior um caminhão carregado de palmito, que trazia escondido 697 kg de cocaína.
As investigações sobre as conexões do tráfico levam a Polícia Federal ao doleiro Alberto Youssef e ao ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa, que aceita fazer delação premida e revela a existência de uma imensa estrutura envolvendo construtoras e o governo, articulados de forma a desviar dinheiro público, que culmina na condução coercitiva do ex-Presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva para prestar esclarecimentos.
A produção do filme recebeu duras e acirradas críticas negativas, sendo que muitos apostaram ser ele um grande fracasso de bilheteria. Mas, talvez como consta na abertura da própria obra cinematográfica, por ter se baseado em fatos reais de inegável interesse público de grande repercussão na imprensa e demais meios de comunicação, bem como ter se inspirado em obra literária de caráter documental e histórico, e, ainda, ter utilizado pesquisa jornalística, fundamenta em documentos públicos e oficiais, contrariou tais apostas e bateu recorde de audiência, tornando-se a maior bilheteria nacional de 2017[13], com 1,2 milhão de ingressos vendidos e um faturamento de R$ 19 milhões.
Embora não seja um documentário, o filme situa o espectador no enredo de um mundo de jogo de poder, que conta com articulações no esquema bilionário de corrupção estatal e demais prática de crimes, fazendo-o recordar das várias notícias vinculadas na mídia que segue de perto a Operação Lava Jato, que é uma história em andamento, desdobrada até a presente data em quarenta e duas fases de investigações, segundo site Polícia Federal.
O ponto alto do filme é a 24ª Fase que, iniciada em 04 de março de 2016 e intitulada “Operação Aletheia”, teve por objetivo a condução coercitiva do ex-Presidente do Brasil Luiz Inácio Lula da Silva, interpretado pelo ator Ary Fontoura, para investigar possíveis crimes de corrupção e lavagem de dinheiro oriundos de desvios da Petrobras, praticados por meio de pagamentos dissimulados feitos por José Carlos Bumlai e pelas construtoras OAS e Odebrecht a ele e aos seus associados.
A condução coercitiva gerou forte impacto no Brasil, as pessoas por meio das redes sociais foram convocadas para irem às ruas, e foram. Durante o dia todo ocorreram protestos a favor e contra a ação do Ministério Público Federal e da Polícia Federal, estendendo-se tais protestos por vários Estados do País. O local[14] onde se realizou a colheita de declarações do ex-Presidente, rapidamente ficou cercado de manifestantes, dentre eles alguns políticos do alto escalão, como deputados e senadores, que se opuseram a ação da Polícia Federal e queriam tirar de lá o ex-Presidente Lula carregado pelo braço do povo.
Milhões de pessoas nas ruas, mas a maior demonstração de apoio partiu da então Presidente Dilma Rousseff, que durante uma entrevista anunciou que nomeava o ex-Presidente do Brasil Luiz Inácio Lula da Silva para um do Ministérios do Governo Federal. Como a nomeação atribuiria prerrogativa de foro ao investigado, ele automaticamente passaria ter ação judicial julgada perante o Supremo Tribunal Federal, e não mais sendo investigado em 1º Grau, por consequência, qualquer escuta telefônica realizada seria considerada prova ilegal.
Há uma reviravolta na história quando a Polícia Federal, entre o tempo do pedido de suspensão da escuta e as operadoras efetivamente pararem de gravar, registrou a conversa mantida entre o ex-Presidente Lula e a então Presidente Dilma Rousseff, que havia tomado prévias medidas para rapidamente nomeá-lo ao cargo, encaminhando-lhe o “termo de posse” para que ele usasse no caso de necessidade.
O Juiz Federal responsável pela Operação Lava Jato, Sérgio Moro, interpretado pelo ator Marcelo Serrado, ao tomar conhecimento dos fatos, decide derrubar o sigilo da escuta telefônica e divulgar o conteúdo da gravação, que rapidamente se propagou na mídia imprensa e digital, impactando, mais uma vez, o povo e agravando, ainda mais, a crise política do País.
Outras consequências se operaram após a divulgação do áudio, a população brasileira voltou às ruas em algumas das principais capitais do País para protestar, não houve efetivação da posse programada e, como ressalta o delegado Ivan, um dos personagens principais do filme, papel interpretado por Antonio Calloni, que diz na sua fala no filme "A Lei é para Todos": “... lógico, as investigações contra ex-Presidente Lula, continuaram nas mãos do Juiz Sério Moro”, mas: "... a função da Polícia Federal não é mudar a sociedade, a função é fazer cumprir a lei. Quem vai mudar o Brasil não é a Lava Jato, são as milhões de pessoas indo às ruas, votando e decidindo em qual rumo vão levar o País. E quando me perguntam onde tudo isso vai acabar? – Bem, quem falou em acabar, nosso trabalho está só começando!"
E está apenas começando mesmo. Na vida real, segundo noticiam as mídias, o Ministério Público Federal já tem conhecimento de que Operação Lava Jato é apenas a ponta do icerberg de corrupção no Brasil, pois desde que começaram a apurar as notícias de corrupção, propinas, financiamento irregular de campanhas eleitorais e outras irregularidades, sabem que a maior fonte de corrupção está no BNDES (Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social). O órgão de fomento, criado no começo dos anos 50, com a finalidade alicerçar o desenvolvimento nacional, mas foi sistematicamente usado para o enriquecimento ilícito de muitos.
5. O uso da Mídia e o reflexo na sociedade.
Ambos, a série House of Cards e o filme “Polícia Federal, a lei é para todos”, retratam drama político com o emprego de estratégias para se alcançar um objetivo maior. Na primeira visa-se o próprio poder, representado pela Presidência da Casa Branca, enquanto no segundo o alvo é a responsabilização daqueles que abusam do poder, por meio de esquemas de corrupções no âmbito estatal e de outros crimes, praticados no Brasil.
Quando se analisa os dois em princípio nenhum ponto de convergência surge de imediato, em um olhar mais acurado, verifica-se que os dois se valem do mesmo ponto comum para obter o respectivo propósito almejado, a comunicação de massa, efetivada por meio da mídia, escrita e digital.
Patrícia Cornils ao fazer a apresentação da obra de Perseu Abramo (2016, pp. 8-9), intitulada “Padrões de Manipulação na Grande Imprensa”, diz que:
"Jornais, tevês e revistas da imprensa tradicional não têm mais o poder quase exclusivo de formar opiniões e são menos incontestáveis do que há duas décadas. Mas ainda são, inclusive na internet, responsáveis pelas notícias mais lidas e compartilhadas. A mídia de massa perdeu o monopólio da interpretação dos acontecimentos. Ainda assim, entender os padrões de manipulação da grande mídia é importante."
O poder das empresas de mídia ainda é grande e seus veículos são fonte de informação fundamental para milhões de pessoas, ainda que a partidarização da imprensa seja cada vez mais clara (e sobre jornais e tevês atuando como partidos políticos, o texto de Perseu Abramo é visionário). Ou até mesmo por conta dessa partidarização. Um estudo do Grupo de Pesquisa em Políticas Públicas de Acesso à Informação, da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo (http://gpopai.usp.br/polarizacao.pdf), mostra que os manifestantes pró-impeachment preferem a imprensa escrita (Veja, Estado de São Paulo, Folha de S.Paulo).
Na série House of Cards, os padrões de manipulação da comunicação em massa são chaves usadas como inegáveis aliados para incrementar o drama político, citando-se como exemplos as publicações na imprensa de histórias prejudiciais sobre os rivais políticos do personagem principal, Frank Underwood, e, de problemas consistentes na crise mundial do petróleo, na polêmica da invasão de privacidade online, no desarmamento da população e no terrorismo em escala global.
Ao proferir a frase "nós não nos submetemos ao terror, nós fazemos o terror", Underwood insufla o medo no psicológico do povo americano, o objetivo é alcançado por meio da mídia, que rapidamente chega ao espectador. O seu propósito é no sentido de mostrar a cada eleitor que ele é a única opção para ocupar o salão oval da Casa Branca, tanto que explica no trailer da 5ª Temporada{C}[17], para a sua esposa Claire:
"O povo americano não sabe o que é melhor para si mesmo. Eu sei. Sei exatamente do que ele precisa. O povo é como um neném Claire. Temos de segurar seus dedos melados e limpar as boquinhas sujas. Ensinar o certo e o errado. Ensinar o que pensar, como sentir e que querer. O povo precisa de ajuda para escrever seus sonhos mais loucos, modelar seus piores temores. Para a sorte das pessoas, elas têm a mim, têm a você. Underwood 2016, 2020, 2024, 2028, 2032 e 2036. Uma nação Underwood."
Cabe aqui lembrar a frase célebre de Platão, catalogada por Eduardo Vargas Sores e Macedo Filho (2016, p. 2299): “Não há nada de errado com aqueles que não gostam de política, simplesmente serão governados por aqueles gostam.”.
Não haveria qualquer problema se aqueles que gostam da política e ocupam cargos da administração pública direta ou indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios se pautassem na ética e moralidade administrativa, observando e aplicando em suas condutas os princípios que são caros para a democracia, como a legalidade, impessoalidade, publicidade e eficiência.
Poucos que ocupam cargos políticos reúnem ou praticam tais princípios, para muitos o sigilo de seus atos é corolário para se manterem no cargo ou mesmo longe de condenações e presídios, aplicando com muita propriedade, em causa própria o provérbio: “O segredo é a alma do negócio”. Deveras, de fato, ninguém que desvia para os próprios cofres vultosas fortunas quer a mídia, que possui do seu lado os meios de comunicação em massa, a par de seus atos ilícitos.
O segredo que era mantido a sete chaves e que desencadeou os desdobramentos da maior investigação sobre corrupção no Brasil, denominada Operação Lava Jato{C}[18], veio à tona para a Polícia Federal em decorrência de uma delação premiada após a prisão de doleiros, as provas colhidas apontaram para a existência de um grande esquema de corrupção e lavagem de dinheiro na Petrobras.
A investigação da Polícia Federal ganhou repercussão e notoriedade com o apoio da mídia, que passou a dar ampla publicidade a Operação Lava Jato. Os espectadores passaram a ter contado com os cumprimentos de condução coercitiva de ex-Presidente do Brasil, de prisões preventivas de pessoas de alto poder e influência como ex-senadores, ex-deputados, presidentes e vice-presidentes das empreiteiras e ex-diretores da estatal, bem como dos desdobramentos do processo judicial da operação distribuída para o Juiz Federal Sérgio Fernando Moro, titular da 13ª Vara Federal de Curitiba, especializada em crimes financeiros e de lavagem de ativos.
O próprio Juiz Moro tornou-se uma figura pública mundialmente conhecida[19] e admirada e seguida por milhões de internautas, sendo que atualmente há várias páginas em redes sociais voltadas para manifestar apoio a sua pessoa e a Operação Lava Jato. A página no facebook, com o título “Eu MORO com ele”, foi criada[20] em março de 2016, época em que foi retirado o sigilo de uma série de interceptações telefônicas do ex-Presidente Lula e houve a divulgação do teor das conversas, entre as quais um diálogo mantido com a ex-Presidente Dilma, que engendrou manobras para atribuir a ele um cargo político, com prerrogativas de foro.
Em maio daquele mesmo ano Teori Zavascki[21], então Ministro e Relator do processo da Lava Jato na Suprema Corte, Supremo Tribunal Federal, anulou a validade jurídica da escuta, e considerou que o Juiz Moro não tinha competência para analisar o material. Além disso, considerou irregular a divulgação das conversas para a mídia. Mas, tal decisão sobre a irregularidade da divulgação chegou tarde e não reverteu os resultados alcançados com ela. O povo brasileiro já tinha ido as ruas protestar e o ex-Presidente Lula acabou não ficando no cargo do Governo Federal, para o qual havia sido nomeado.
O Juiz Moro fez a introdução da obra intitulada “Operação Mãos Limpas: a verdade sobre a operação italiana que inspirou a Lava Jato”[22], que retrata a investigação realizada na Itália para desvendar uma enorme rede de corrupção entre governo e empresas vendedoras de bens ou serviços ao setor público, que contou com colaborações premiadas e foram dadas publicidades aos atos da operação, possibilitado que ela recebesse apoio do povo, e ali descreve (2016, p. 7), que:
"Mecanismos que garantam a transparência de ações governamentais e na formação das políticas públicas são igualmente fundamentais."
"Liberdade de expressão e de informação e a imprensa livre são igualmente pilares essenciais no combate e na prevenção de esquemas de corrupção sistemática. É a opinião pública bem informada a condição necessária para o bom funcionamento de todas as demais institucionais, jurídicas ou políticas."
Neste ponto a mídia ao exercer o seu melhor papel que é a comunicação de massa, teve papel de fundamental importância, pois como colocado pelo Juiz Moro no despacho[23] sobre a quebra de sigilo das gravações, envolvendo o ex. Presidente Lula e a então Presidente Dilma, a retirada do sigilo propiciará não só o exercício da ampla defesa pelos investigados, mas também “o saudável escrutínio público sobre a atuação da Administração Pública e da própria Justiça criminal. A democracia em uma sociedade livre exige que os governados saibam o que fazem os governantes, mesmo quando estes buscam agir protegidos pelas sombras.”.
As consequências se prologaram no cenário político, Vladimir Neto (2016, p. 14), relata que enquanto nas ruas se gritava “Renúncia”, no dia 17 de março de 2016, a então Presidente Dilma, durante a cerimônia de posse, proferiu discurso para repudiar o teor da gravação divulgada, asseverando que determinaria uma apuração profunda dos fatos e quem havia determinado a mesma, pois “Convulsionar a sociedade brasileira em cima de inverdade, de métodos escusos, de práticas criticáveis viola princípios e garantias constitucionais, viola direitos dos cidadãos e abre precedentes gravíssimos. Os golpes começam assim.”.
E ainda, no calor daqueles fatos, o então Presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cosentino da Cunha{C}[24], acelerou o andamento ao processo de Impeachment para analisar a admissibilidade de afastamento de Dilma Roussef, da Presidência do Brasil, iniciado sob a justificativa dela ter cometido o crime de responsabilidade fiscal, chamado à época de “Pedaladas Fiscais”[25]. Recebido o processo no Senado Federal houve o devido trâmite, que culminou com o acolhimento da perda do mandato em 31 de agosto de 2016.
A votação no Senado teve transmissão ao vivo fazendo as audiências das emissoras nacionais baterem recordes, o interesse da população repercutiu, inclusive, em âmbito internacional. A CNN, rede de notícias americana, utilizou durante todo o dia imagens da cobertura produzidas pelas emissoras locais brasileiras, como Record News, segundo Vitor Peccoli (TvFoco, 2016). O povo brasileiro parou para acompanhar o desfecho do Impeachment, tanto que o Senado Notícias, registrou:
"Os veículos da Secretaria de Comunicação Social do Senado (Secom) contribuíram de forma intensa para ampliar a transparência do julgamento da então presidente Dilma Rousseff, e registraram índices recordes de produção e audiência entre 25 e 31 de agosto. O canal da TV Senado no YouTube teve mais de 9 milhões de visualizações ao longo dos seis dias da sessão e registrou na quarta-feira (31) mais de 224 mil visualizações simultâneas na transmissão online. A audiência foi 50% superior ao recorde anterior, alcançado segunda-feira (29)."
A TV Senado foi o único canal de televisão aberto que transmitiu integralmente os seis dias da sessão, com mais de 60 horas no ar, ao vivo. A página da emissora na internet registrou quase 7 milhões de visualizações no período. O dia da votação do julgamento, em 31 de agosto, teve 368.755 acessos, o maior registrado no mês.
Diante de tanta informação lançada na mídia e que é facilmente acessada na Internet, as pessoas passaram a ter conhecimento de fatos de forma mais ampla, profunda e em tempo real. Agora, além de estarem mais informadas, mais conectadas na vida social e política, elas se tornaram cada vez mais críticas em relação àquilo que ouvem e vêem, saíram da inércia e do silêncio, com o fim de também serem ouvidas e, assim passaram exercer, um poder que, nas palavras[26] Weber, citado por Juan Carlos Agulla (1991, p. 144), é intensificado pela probabilidade de um homem ter ou de um grupo de homens, impor a sua própria vontade por meio de ação comunitária, inclua-se aqui, com fim de legitimar ou afastar a oposição.
As mudanças se operaram, não há mais espaço para retrocesso. A odiosa ganância que alimenta a corrupção lança milhões na pobreza, pessoas que padecem sem ter como execer o pleno exercício de seus direitos sociais como acesso a educação, saúde, alimentação, trabalho, moradia, transporte, lazer, e segurança. Mas a sociedade não avançou naturalmente, ela impactada, forçada nesse sentido, e como bem alertado por Nancy S. Cardinaux e Andrea L. Gastron (2004, p. 143),
"As condições da mudança social emergem de duas características fundamentais da vida social: diferenciação e desigualdade social. Como consequência desses eventos inevitáveis, surgem tensões e / ou conflitos que encorajam ou resistem aos processos sociais que mobilizam inovações e sua difusão e conduzem a mudanças sociais. Essas tensões e conflitos não constituem fontes de mudança, pois são sempre manipuladas, exploradas ou lideradas pelos verdadeiros "agentes" da mudança (ativistas, líderes, judeus, etc.). Ou seja, são condições de mudança, que podem ser "canalizadas" como elementos de incentivo ou elementos de resistência à mudança social."
Victor Gentilli (2005, pp. 46-47) cita que Stuart Mill foi o primeiro a reconhecer que a participação política não é e não poderia ser encarada como privilégio de poucos. E que a liberdade, leia-se em seu sentido mais amplo, não deveria ser encarada como um luxo que interessasse apenas a uma minoria esclarecida, pois “era, antes de mais nada, o substrato necessário para o desenvolvimento da humanidade. E o era, principalmente, porque ele torna possível a manifestação da diversidade, a qual, por sua vez, é o ingrediente necessário para alcançar a verdade.”.
O desenvolvimento da humanidade é apoiado pela comunicação de massa que tem na mídia forte suporte de difusão de informação. E ao se valer das fontes intermediárias, quer impressa ou virtual, é capaz influenciar indivíduos, grupos sociais, ou mesmo, gerar um grande poder sobre a sociedade e exercer uma espécie de controle social, resultando num contingente de pessoas que caminham seguindo conceitos, professando condutas preestabelecidas.
A mídia virtual quando utilizada para fins nefastos representa papel fundamental na mão de manipuladores que conhecem os mecanismos que giram um mundo marcado por rápidas mudanças, conflitos pessoais, tensões e divisões sociais, vendo neste viés, oportunidades para influenciar ou mesmo alterar o rumo da sociedade. Razão do tema sobre segurança no mundo virtual, como apontado por Rafaela Pozzebon (2011, p. 3), ser importante, pois ele deveria ser ensinado como matéria de sala de aula ou mesmo em forma de palestras e grupos de discussão.
6. Conclusão.
A sociedade acompanhou a modernização, tornou-se usuária da nova tecnologia e participativa na ação social e política. Cristiane Soraya Sales Moura (2017, p. 28), descreve que como há alternativas na convergência midiática, os meios de comunicação interativos e descentralizados, como a internet, atualmente possibilitam formas de ação política que antes era impossível realizar, sendo que por meio de “novas tecnologias muitas pautas foram criadas e protestos organizados, conferindo assim uma participação mais efetiva das pessoas no agendamento das discussões políticas”.
Mas, se há o lado positivo sobre a interação proporcionada pela mídia, um negativo é altamente preocupante, no caso o uso anonimato[28] para propagação de notícias inverídicas. O uso do anonimato na Internet quando somado a sensação de impunidade tem o condão de destravar os freios da moral, da ética e dos bons costumes. Aquilo que não se diria pessoalmente deixa de representar um problema quando se está anônimo navegando na Internet, atrás da tela de um computador, cercado por quatro paredes.
Os boatos e notícias falsas, se propagam rapidamente nas páginas da Internet, repetidas em redes sociais, como facebook ou whatsapp. Rodrigo Gomes e Tiago Pereira (RBA, 2017), descrevem que o professor de Ciência Política da Universidade Federal do Paraná, Rafael Sampaio, especialista em comunicação política na internet, explica ser a boataria e a fofoca comuns entre a população em geral, mas foram turbinadas com as redes sociais, sendo que as pessoas tendem a compartilhar links que dizem o que elas pensam ou o que gostariam de ver nos noticiários, sem checar a origem ou a sua credibilidade.
Na série House of Cards a utilização da mídia se caracteriza bem o perigo das informações que padecem de credibilidade de fonte. Uma mentira bem contada e repetida inúmeras vezes, gera certa credibilidade. Na vida real não há diferença, a mídia tem sido sistematicamente utilizada para dar conhecimento de fatos reais, mas também para inflar com mentiras o povo brasileiro durante a conturbada crise política, decorrente da onda de corrupção estatal que assola o País e é investigada pela Polícia Federal na Operação Lava Jato.
Os dramas políticos e o acesso as notícias da Operação Lava Jato oportunizam que se trace uma linha de reflexão sobre as formas que os meios de comunicações em massa são utilizados e de influência exercida sobre o comportamento da sociedade no atual quadro político coberto de corrupção e outros crimes, num mundo que caminha ceio de incertezas e incerto politicamente.
7. Referência.
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