O destino de décio escobar

21/04/2019 às 19:23
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O ARTIGO DISCUTE SOBRE FATO CONCRETO.

O DESTINO DE DÉCIO ESCOBAR
 

Rogério Tadeu Romano

Em e agora, José?, por Cristina Silveira tem-se:

"No dia 05 de dezembro de 1946, algumas alunas do Instituto de Educação, próximo ao parque cortam caminho passando por ele e se deparam, num local mais ermo com um cadáver de um homem, que jazia sujo e ensanguentado. Era Delgado, um rapaz de uma família influente em Campinas.

Começa uma investigação sobre a vida de Delgado e se descobre um segredo bem guardado: apesar de sua aparência máscula ele levava uma vida homossexual ativa e frequentava o parque frequentemente. Apesar da enorme repercussão do crime, a polícia, nos primeiros dias, nada consegue, trabalhando com hipóteses de crime passional, latrocínio, etc. E ainda ocorrem várias falhas técnicas, como a não inspeção do local do crime pela polícia técnica e misteriosamente, as roupas ensanguentadas de Delgado desaparecem misteriosamente no necrotério. Provocando um imenso impacto junto à população, que exigia a solução do crime, boatos corriam soltos a longo do culpado, um dos mais impactantes era que o crime era passional e envolvia um integrante da alta sociedade mineira e a polícia estava o protegendo, por isso o sumiço das roupas.

Surge então o primeiro suspeito, Nicanor Pereira da Silva, filho da empregada de Delgado. Mesmo com o brutal interrogatório ele nega a autoria e não sabe porque se tornou suspeito. Os "carinhos" da polícia fizeram tanto efeito que ele suicida, cada um interpreta o ato a sua maneira, mas sem provas, a polícia volta a estaca zero. Surgem outros boatos, como a vingança de um marido traído, e que o crime não teria acontecido no parque e sim numa mansão no bairro Serra, ou que era uma vingança da família de uma ex noiva da vítima.

Em 1953, mais precisamente no mês de março, uma bomba explode junto à opinião pública mineira e nacional: Yeda Lúcia Ribas, ex-funcionária da Prefeitura Municipal de Belo Horizonte, e filha de conhecido empreiteiro de obras públicas, que estava em processo de ação de anulação de seu casamento, alegando erro essencial sobre sua escolha, após tentativa fracassada de desquite amigável, acusa o próprio marido, o jovem diplomata e funcionário da embaixada brasileira em La Paz, Bolívia, Décio Escobar, de ser o verdadeiro autor do brutal assassinato ocorrido no Parque Municipal.

Segundo ela, ficara sabendo de tudo em uma determinada noite em um hotel em Porto Alegre (outra vez, Luiz Morando dá outra versão; segundo ele, a revelação se deu em La Paz). Acidentado estranhamente com um disparo de arma de fogo, que lhe ferira a mão direita, e em clima de total horror e histeria, Escobar começara a gritar alucinadamente "É ele! É ele que não me larga... Luiz Delgado...". Depois, começara a lhe contar como tudo aconteceu.

Extraída uma certidão, a polícia reabriu o caso, ouvindo, no dia 19 de abril, a doméstica Maria do Nascimento Silva, empregada do casal, Ela confirmou a acusação dizendo que se lembrava bem, ver o diplomata chegar, na madrugada do assassinato, com a roupa empapada em sangue.

 Preso, Décio Escobar teve o apoio de sua mãe que acreditou e lutou por sua inocência. 

O diplomata Pimenta da Veiga foi chamado para defender o diplomata.

Durante o sumário de culpa, Décio Escobar se negou a responder as perguntas do juiz.

Décio Escobar foi ao banco dos réus, em 27 de abril de 1954. O julgamento começou, numa sexta-feira, às 12:30 horas e terminou, na terça-feira, ás 8 horas de domingo, com um veredito pela absolvição do acusado. Décio Escobar, em face de recurso de apelação ajuizado pela acusação, permaneceu preso mais cinco meses até que foi confirmada a sentença absolutória e expedido um alvará de soltura. 

Durante os debates, o diplomata permeneceu alheio ao que se passava ao redor dele.

Por que a esposa do acusado demorara tanto tempo para efetuar sua acusação, se eles já estavam separados há muito tempo?
- Por que a esposa, mesmo após a separação, escrevera cartas de amor ao réu, começando por "meu amor" e terminando com "da sempre tua, Yeda"?
- Por que as investigações relacionadas com o bailarino foram abandonadas pela polícia tão cedo?
- Por que Escobar teria que se encontrar com Delgado no interior do parque, se eram vizinhos no bairro Serra?"

O caso envolveu a sociedade mineira.

Pedro Aleixo, aplaudido de pé, fez o papel de advogado, assistente da acusação. O réu nervoso, fumante, saia da audiência até o boteco de frente pra beber um copo de leite.No inquieto mutismo, sua única fala: o juramento de inocência.

Segundo Pimenta da Veiga, pela defesa, Escobar não poderia ter sido o assassino, porque, primeiramente, estava dormindo, como de hábito, à hora em que o crime fora cometido; segundo, Delgado fora assassinado com objeto "perfuro-cortante", e a faca que supostamente pertencia a Décio era daquelas sem ponta. Além do mais, o advogado de defesa levantou uma questão primordial: como poderia Décio Escobar, ex-tuberculoso, de compleição franzina, não pesando nem sessenta quilos, e sozinho, ser o autor de 27 facadas em Delgado, um homem parrudão e chegado a exercícios físicos?

Os outros advogados de defesa seguiram essa mesma linha de raciocínio, a nota hilária do dia ficando por conta de um deles, Ney Messias, que causa profundo mal-estar no recinto ao chamar o acusado de "Cristo transviado e alucinado".

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Escobar, chamado pela imprensa de o “Dorian Gray das Alterosas”, foi considerado inocente por cinco jurados contra dois que o consideraram culpado. Foi a senha para cenas de histeria coletiva, a multidão aplaudindo freneticamente o resultado. Dona Diva, a "heroína", mãe de Escobar, foi carregada em êxtase pela multidão, enquanto Décio, frente a um microfone, declamava o poema de Carlos Drummond de Andrade "E Agora, José?”.

Como o jovem poeta foi declarado inocente, o crime do Parque Municipal jamais foi esclarecido.

Escobar morreu alguns anos depois, assassinado a facadas num ponto frequentado por homossexuais.

Quatro homens participaram da morte de Escobar, liderados por Barone.

Barone, o cara que arquitetou o crime, e o Italiano, eram ladrões profissionais sem carteira assinada, mas com curriculum respeitável: assalto a casas, bancos, sequestros, roubo de carros de luxo e de imagens sacras de igrejas do nordeste. Artur e Paulo eram menores, habitués nas festas em casa de Escobar, portadores de envelopes de cocaína (nesta época, sem controle alfandegário, devia ser pó di prima). Escobar foi enforcado com 5 voltas de um fio puxado pela direita e esquerda. Estendido na cama, o olhar morto na parede pichada com sangue: “Este era veado e chupador. ” Ele era veado e morreu. ”

Na cena do crime havia um palco onde se imputava um ritual de vingança no ambiente oriental do apartamento de Décio Escobar no Rio de Janeiro. Ele morrera por estrangulamento com um cordão de nylon grená sobre a cama revolta de seu atelier. Em verdade, a cena do crime parecia um cenário de um "vendaval de violência".

No apartamento estavam inscritos: “Vingamos nosso irmão, às 23 horas do dia 17/4 de 1969.”

Tudo levava a crer que não havia sequer o cuidado de ocultar a motivação do crime. Seria um homicídio qualificado praticado com requintes de vingança.

Barone, o homem que matou Décio, disse que ele morrera em quatro ou cinco minutos. Décio, que não teria sentido nada, estava dopado de cocaína.

Frio, Barone disse que se não fosse o “passo em falso” de um outro elemento conhecido como Italiano, tentando vender uma vitrola, tudo teria dado certo.

Disse Barone, cabeça do crime “do dragão vermelho":

“Não tínhamos plano de matar, mas de imobilizar Décio e saquear o seu apartamento. Quando dei o laço e ele ficou roxo, os outros se afobaram. Daí veio a morte.”
Disse ainda Barone:

“Eu queria tontear a polícia e o consegui. Encarreguei Artur, que conhecia a vida de Décio, de escrever as frases de conduzir as frases a levar a hipótese de vingança”.

Barone negociou duas estatuetas roubadas do apartamento de Décio Escobar.

Segundo Barone, Sérgio(conhecido por Baianinho), Gordinho, e Antônio(italiano) entraram primeiro, Baroni e Artur vieram depois, quando Décio estivesse imobilizado. Às 21:30 horas, Sérgio e Antônio, o italiano, subiram.

Eles entraram no apartamento de Décio.

Contou Barone à polícia que, com a demora, resolveu subir. Entrou com Artur, que, à época, era menor de 17 anos. O poeta estava no banheiro. Os outros dois, Artur e Antônio, nus na cama, esperavam por Décio. Barone percebe e se esconde no quarto da empregada. Italiano chama Décio para o quarto. Quando o poeta entra no quarto ele se deita na cama, Baroni arranca um fio que fazia adorno na sala, penetra no quarto, envolve o pescoço de Décio e dá outra para que o Italiano puxasse. Barone deu mais quatro ou cinco voltas em torno do pescoço de Décio. Mandou que os companheiros apertassem mais.

Barone atacou Décio por trás e o matou.

O caso que levou à morte de Décio acabou sendo explicado como um latrocínio.

Sobre o autor
Rogério Tadeu Romano

Procurador Regional da República aposentado. Professor de Processo Penal e Direito Penal. Advogado.

Informações sobre o texto

Este texto foi publicado diretamente pelos autores. Sua divulgação não depende de prévia aprovação pelo conselho editorial do site. Quando selecionados, os textos são divulgados na Revista Jus Navigandi

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