Um autêntico e verdadeiro estudioso das Ciências não pode deixar de reconhecer que os conteúdos dos mais diversos Ramos do Conhecimento Humano, - particularmente nas Ciências Sociais -, são inerentemente políticos e ideológicos.
Não obstante, sua apresentação aos aprendizes, ainda assim, necessita ser irremediavelmente ampla, plural e, sobretudo, isenta, com vistas a permitir, em última análise, a formação de profissionais com efetiva e necessária capacidade de reflexão crítica, densidade intelectual e aprofundado conhecimento técnico.
As Ciências, de modo geral, precisam constantemente evoluir a fim de responder às complexas demandas da sociedade atual, por intermédio da constante e permanente criação de novas vertentes, possibilitando a inauguração de pensamentos (além de métodos, procedimentos, processos, mecanismos e sistemas) inovadores, e de rumos até então inimagináveis.
Em razão de tal inequívoca assertiva, um Professor, honestamente preocupado com o enfrentamento dos notáveis (e, muitas vezes, surpreendentes) desafios da livre docência, não se deve colocar na audaciosa posição de “dono da verdade”. Muito pelo contrário, resta absolutamente fundamental que o mesmo ostente um comportamento ético, provido de certa dose de humildade que o permitia comportar-se derradeiramente como um aguerrido pesquisador, posto que, em essência, ele se constitui apenas e tão somente em um catalisador (e, consequentemente, um simples analista) de diferentes opiniões sobre os mais diversos temas que se entrelaçam e, muitas vezes, já foram amplamente debatidos.
Ainda que, como ser humano que é, simpatize naturalmente, em maior ou menor escala, com alguma corrente do pensamento, em detrimento de tantas outras, é sua irrefutável obrigação – na qualidade de educador que é ou pretende ser –, mencionar, analisar e, sobretudo, respeitar todas elas, permitindo apresentar um conteúdo desprovido dos pecados da fragmentação (ou segmentação) e incompletude – e de todos os demais defeitos que possibilitam torná-lo partidário, sectário, faccioso e iníquo –, consentindo, por fim, que o lecionando possa chegar às suas próprias conclusões, mesmo que estas sejam eventualmente diferentes das suas.
O Professor é, portanto, acima de tudo, um motivador e incentivador do estudo. Alguém que compreende a dialética da ciência e a correspondente validade temporal (e mesmo espácio-geográfica) de suas ousadas pretensões de certeza.
Nesse sentido, é cediço concluir que a sinérgica e essencial contribuição intelectual de um Professor (traduziva de sua vitória pessoal) encontra-se, ao arrepio do senso comum, na exata superação de seus saberes pelos seus discípulos e, mais do que isto, na demonstração de que seu compromisso maior foi (e continua sendo) com o desenvolvimento universal do conhecimento, e não com a desprezível difusão ideológica (muitas vezes com a odiosa característica panfletária) de suas convicções pessoais e, consequentemente, subjetivas.
Destarte, a virtuosidade do Professor não se encontra, e jamais poderá ser obtida, através da defesa apaixonada (e, portanto, desmedida e tendenciosa) por uma linha de pensamento, ou por uma arraigada e insuperável posição político-jurídica, mas, – em sentido diametralmente oposto –, na estrita qualidade contributiva de docente que glorifica e que, em última análise, o incentivou a dedicar praticamente toda a sua vida ao estudo e à pesquisa, tendo como lema derradeiro a busca incessante pelo conhecimento imparcial.
Seu mérito encontra-se no trabalho perseverante e despretensioso de não subtrair, ou mesmo distorcer, informações aos seus discentes, permitindo que estes, de forma independente, e sem auxílio de intermediários, possam percorrer o caminho pantanoso (porém, fundamental) do conhecimento autêntico e fidedigno e, sobretudo, da lídima verdade, que, em sua substância essencial, encontra-se em permanente evolução dialética.
A obra-prima do Professor, por conseguinte, procura reproduzir, em suas páginas e linhas, sem falsas pretensões, essa concepção instrumental, buscando, ao máximo, se revelar como uma ferramenta utilitária para o desenvolvimento intelectual de seus leitores, e não, de forma dissimulada, como um desonroso documento de arrogância do saber.
Ela deve conter, – além da vasta experiência de seus inúmeros anos de estudo ininterruptos das Ciências (na graduação, na especialização, no mestrado e no doutorado) e nos seus demais anos de carreira docente e de pesquisa –, a aplicação prática, coligada a seus muitos anos de exercício profissional. Trata-se, portanto, e em última instância, da tradução retributiva de uma extraordinária oportunidade que a vida concedeu ao Docente, enquanto eterno aprendiz, de poder usufruir diretamente do amplo conhecimento dos mais brilhantes estudiosos e cientistas sociais brasileiros e estrangeiros, na qualidade de aluno, discípulo, colega e, muitas vezes, até mesmo amigo pessoal, em forma também de singela (porém justa) homenagem aos mesmos.
Esta é, portanto, a verdadeira missão do Professor e seu papel fundamental na sociedade, sempre disposto, com singular coragem, a enfrentar todos os desafios da empreitada docente, com o único propósito de construir o caminho, seguro e pavimentado, para todos aqueles que se propõem a desbravá-lo, desenvolvendo e aperfeiçoando o conhecimento das Ciências Sociais e, sobretudo, edificando sua teoria fundamental.