INTRODUÇÃO
O objeto dessa dissertação é discorrer sobre a aculturação e psicologia do servidor penitenciário na cultura penitenciária e os distúrbios sofridos por esse profissional que transita em dois tipos de sociedades com culturas e modos de hábitos diferentes e até mesmo conflitantes dos conceitos de certo e errado do que a sociedade comum incluindo seus familiares possa entender devido esse afetação imposta por seu trabalho no Sistema Penitenciário.
Como se sabe a palavra aculturação deriva do processo que implica a recepção e a assimilação de elementos culturais de um grupo humano por parte de outro. Desta forma, um povo adquire uma nova cultura ou certos aspectos da mesma, usualmente em detrimento da cultura própria e de forma involuntária. (Dicionário Aurélio). Dessa forma podemos analisar esse aspecto pela ótica do servidor penitenciário que adentra essa nova cultura ao qual vamos discorrer e a assimilação que o mesmo passa a absorver da instituição penitenciária conjuntamente com os apenados e toda essa afetação no seu comportamento.
É de conhecimento de todos que as condições insalubres e degradantes dos presídios não possibilitam o trabalho do servidor penitenciário de recuperação do criminoso, que volta freqüentemente a cometer novos delitos. Agravantes que só aumenta com o passar dos anos e já começaram a ficar incontroláveis para o Estado, as constantes rebeliões retratam essa realidade vivida tanto pelos detentos como pelos servidores penitenciários que lá trabalham tendo como conseqüência o temor geral de toda a sociedade.
A partir dessa análise de estudos publicados e da notória inefetividade do atual sistema carcerário brasileiro é que vamos começar analisar o servidor penitenciário que nada mais é uma vítima desse processo de aculturação causando-lhes transtornos esses que acabam sendo repassados tanto aos apenados como seus próprios familiares.
Apesar da legislação ampla, o direito penal brasileiro carece no que tange à aplicação de seus conceitos, em especial o conceito que tem-se como o objetivo da figura da privação da liberdade: a ressocialização que só pode ser almejada com o devido respeito de tratamento ao representante do Estado no ambiente carcerário que tem seus próprios direitos desrespeitados nesse processo e são acometidos psicologicamente a um processo que vai além da simples assimilação de novos valores culturais conflitantes com o que se vive na sociedade civil comum perfazendo com que esses conflitos de pessoa se manifeste através de distúrbios na sua personalidade.
Assim, concretiza-se também, cada vez mais, analisar e desenvolver pesquisas voltadas a políticas públicas que englobem o servidor penitenciário como instrumento disseminador de fatores que possam contribuir de fato com a reinserção dos apenados em sociedade e conseqüentemente diminuindo a grande carga psicoemocional e psicanalítica que os acomete de diversas doenças os levando juntamente com os apenados a transtornos diversos e até irreversíveis.
Nesse sentido, o trabalho irá discorrer sobre a aculturação e psicologia em ambiente penitenciário na afetação do aplicador desse processo ao qual acaba se tornando disseminador, vítima e conseqüentemente um paciente dos distúrbios sofridos.
1 ACULTURAÇÃO : CULTURA
1.1 CONCEITO DE ACULTURAÇÃO
Nós todos temos aspectos de nossa vida que são ancorados na cultura que compartilhamos, em partes, com o meio social em que nos desenvolvemos.
A cultura é parte do que somos e responsável pelo que vemos e entendemos o mundo em que existimos, de modo que interfere como nos apresentamos aos outros indivíduos e como assimilamos a imagem dos demais integrantes de nossa sociedade.
Manifesta-se em nossa aparência, na forma como nos vestimos e até em nossas refeições diárias, na culinária que adotamos como usual. Mas esse aspecto tão amplo de nossas vidas não é estático ou imutável, muito pelo contrário. Nossa cultura está em constante processo de mudanças. Adotarmos costumes, valores ou mesmo símbolos diferentes, modificamos, por exemplo, hábitos culturalmente construídos, de modo que os significados culturais que absorvemos de nossa família se alteram tanto no decorrer de nosso convívio que dificilmente serão exatamente iguais aos que passaremos as novas gerações. (Redfield, R., Linton, R. and Herskovits, M. (1936) Memorandum for Acculturation. American Anthropologist, 38, 149-152).
A aculturação é o nome dado ao processo de troca entre culturas diferentes a partir de sua convivência, de forma que a cultura de um sofre ou exerce influência sobre a construção cultural do outro. (Dicionário-Barsa)
Neste processo, porém, não se confunde com outros fenômenos da interação entre culturas diferentes, como a assimilação cultural, processo em que um grupo cultural assimila ou adota costumes e hábitos de uma outra cultura em detrimento da sua.
A aculturação é um conceito ao mesmo tempo antropológico e também sociológico que está relacionado com a junção de elementos pertencentes a duas ou mais culturas.
A mesma é determinada por um processo dinâmico de mudança social e cultural que acontece pelo contato entre grupos sociais distintos. Grupos são influenciados por elementos diversos e vão criando novas culturas. Como exemplo, podemos citar a fusão entre a cultura indígena brasileira e a fusão com culturas européias através dos portugueses e africanos através dos escravos, dando origem a cultura brasileira que conhecemos nos dias atuais.
Cultura é um conceito muito amplo que envolve conhecimentos, valores, costumes modos de fazer, práticas, hábitos, comportamentos e crenças de determinado povo. Ela não é estática, estando, portanto, em um processo contínuo e permanente de modificação.
A psicologia da aculturação, que estuda a interculturalidade de grupos e indivíduos submetidos a processos de aculturação como no caso de apenados e servidores penitenciários, essa imposição de valores não se confundindo com valores de certo e errado, previstos em legislação perfazem esse processo de colonização do próprio servidor penitenciário dentro desse meio social que ele vive no caso o sistema penitenciário com a rotina carcerária a ele imposta.
Somos seres culturais e sociais, mas não percebemos o fato de que possuímos um jeito de ser e de agir em função de nossa própria cultura. Acreditamos que o nosso a nossa maneira é universal, o que chamamos de etnocentrismo. Por isso o contato com as diferenças muitas vezes leva à negação da outra cultura que por sua vez causa problemas relacionados à diminuição do individuo que esta apenas sendo ele mesmo uma cultura se sobrepondo a outra.
Essa noção de aculturação tem varias variáveis e problemas. Pois a idéia está baseada na concepção de “cultura” como um conjunto de traços que podem ser perdidos ou obtidos. A “cultura” também pode ser entendida como unidade fechada, equivalente aos limites de um grupo. É como se as culturas fossem sistemas fechados.
1.2 TIPOS DE ACULTURAÇÃO
Os processos pelos quais ocorre uma aculturação podem também se dar de formas diferentes.
- Direta: na aculturação direta, existe a presença justamente de um agente de colonização que, violentamente, impõe sua cultura a uma outra. Nessa classificação, entra o critério de uma coerção explícita.
- Indireta: nesse tipo de aculturação, não há explicitamente uma imposição cultural violenta. Ela se daria de uma maneira mais sutil, como em propagandas na mídia, afetando os modos de viver das pessoas. Isso não elimina, de fato, o caráter de violência, se considerarmos conceitos mais contemporâneos como de violência simbólica.
Segundo Bartolomé (2000), a aculturação "apresenta-se como um processo de mudança de atitudes e comportamentos que ocorrem, consciente e inconscientemente em pessoas residentes em sociedades multiculturais ou que entram em contato com uma nova cultura"
2.1 - GAGNÉ & DECI, 2005 – QUATRO TIPOS DE REGULAÇÃO:
1) Regulação Externa: Controlado por contingências externas especificas. O individuo comporta-se de maneira a alcançar uma conseqüência tangível de recompensa ou no propósito de evitar uma punição;
2) Introjecção: Assimilação do individuo das contingências do meio que o rodeia. nesse processo o comportamento humano é regulado auto-determinadamente o individuo age não só na tentativa de corresponder ás recompensas e punições mas para assimilar um conjunto de regras no seu exterior que se manifesta segunda as circunstancias;
3) Identificação: reconhece e aceita o valor subliminar do comportamento. Valorização essa tendo maior nível de aceitação consigo mesmo de forma autônomo e motivado pelo seu bem estar.
4) Integração: Considerada a mais completa e complexa forma de interiorização da motivação extrínseca, envolvendo a identificação com o valor inerente ao comportamento e sua importância como também sua integração pelo individuo. Aceitando completamente as circunstancias e as interiorizando de maneira natural e coerente com seus próprios valores;
3. PSICOLOGIA: PSICANÁLISE
3.1 PSICOLOGIA
Rogers (1983, p.50), no seu trabalho terapeuta e facilitador, menciona atitudes comprovadamente eficientes na promoção de mudanças construtivas na personalidade e no comportamento dos indivíduos. Assim, as pessoas desenvolvem autocompreensão, autoconfiança e capacidade de escolher os comportamentos que terão. São livres para ser e transformar-se. Á auto-realização é ativa no ser humano. E finaliza: "Quando criamos um clima psicológico que permite que as pessoas sejam, estamos descobrindo uma tendência para se tornar toda a complexidade de que o organismo é capaz."
Psicologia do servidor penitenciário é uma área pobre de bibliografia, pesquisas e intercâmbios. Na grande parte, está afeta à utilização de testes e entrevistas, elaboração de laudos e pareceres para subsidiar os transtornos psicológicos vivenciados pelos servidores penitenciários. Poderia ir além: elaborar projetos, lançar mão de práticas de orientação que provoquem mudanças, transcendendo a prática pericial e questionando o papel do servidor penitenciário e suas atribuições na reinserção do apenado em sociedade e seu papel como garantidor de direitos e deveres mesmo tendo os seus próprios constantemente violados e nunca reconhecidos.
Fátima França, em Reflexões sobre a Psicologia jurídica e seu panorama no Brasil, cita sua experiência como sistema penitenciário. Menciona que diariamente testemunhava as conseqüências do encarceramento e percebia que não se tratava apenas dos comportamentos adquiridos na prisão, mas de uma nova forma de pensar e sentir; eram marcas impregnadas na subjetividade dos egressos que iriam determinar a forma de suas existências. Aqui faze-se uma pontuação voltada ao servidor penitenciário trazendo esse mesmo contexto de pensamento uma vez que sua vivencia diária vai se moldando e transformando esse servidor ao que conhecemos.
Como menciona Renato Sérgio de Lima e Roberta Astolfi em seus relatos dentro de livros e entrevistas “Os agentes são como escudos humanos, deixados à própria sorte e risco, mas que pelas atuais condições e falência das políticas criminais e penitenciárias”.
O servidor penitenciário passa sua vida, sob ambientes insalubres, violentos e de pouco ou nenhum reconhecimento social. Para o desenvolvimento de seu trabalho de executar atividades que envolvem o cumprimento das penas estabelecidas aos apenados; recebimento de preso provisório, atividades de escoltas hospitalares e judiciais, custódia de presos, provisórios ou com sentenças transitadas em julgado (Lei Federal nº 7.210, de 11 de julho de 1984 - Lei de Execução Penal)
De inicio já podemos analisar pela parte laboral o caráter e complexidade de tudo que pode ser envolvido na mente humana desse profissional e os transtornos ao qual os mesmos assim como os próprios apenados estão sujeitos em um ambiente insalubre tanto mentalmente como higiênico sendo por essa ótica os desencadeadores do inicio de toda rebelião não sendo aqui o tema a ser tratado, mas a de se verificar o quão importante na sua parte psicanalítica um dos extravasamento dessa raiva contida e no caso do servidor se manifesta com vícios desde alcoólicos e drogas até mesmo perturbações mentais que podem levar o mesmo a se afastar do ambiente de trabalho ou vir a ser acometido de depressão levando a tentar contra sua própria vida.
3.2 PSICANÁLISE
A psicanálise foi um método criado por Sigmund Freud (1856-1939) que tem como linha de investigação o tratamento das doenças mentais. Sendo com o tempo ficou constatado que impulsos instintivos que são reprimidos pela consciência permanecem no subconsciente e afetam o sujeito.
Competindo ao psicanalista tornar visto esses conflitos inconscientes ao paciente através de interpretação como sonhos, atos falhos e a livre associação considerada por Freud a sua primeira regra onde o paciente expressa na terapia suas emoções, idéias, pensamentos e o que mais for e o psicanalista ajuda a enxergar determinando nessas manifestações os conflitos inconscientes.
Através desses estudos detectou-se mecanismos de defesa em procedimentos psicológicos não raciocinados de um acontecimento que provoca stress ajudando assim milhares de pessoas.
Faze-se necessário deixar claro a diferença psicanálise é confundida com a psicologia, ciência que estuda o comportamento, os sentimentos e a razão humana, mas não são iguais. A psicanálise não é considerada uma ciência, mas sim um método terapêutico que interpreta os elementos inconscientes das ações e falas de uma pessoa. Sendo que para atuar como psicanalista, o profissional pode ter formação em diversas áreas de ensino superior, enquanto o psicólogo precisa ser graduado em psicologia.
4. DISTÚRBIOS: SERVIDOR PENITENCIÁRIO
4.1 DISTÚRBIOS – TRANSTORNOS MENTAIS
Os transtornos mentais são alterações de funcionamento da mente e advêm do conjunto de fatores que podem ser disfunções cerebrais, fatores genéticos, fatores da própria personalidade do individuo, condições de: trabalho, educação decorrentes de stress, agressões físicas e psicológicas, decepções, perdas, frustrações sendo bem resumido por Ballone (2008) como sendo fatores prejudicam o desempenho da pessoa na vida familiar, social, pessoal, no trabalho, nos estudos, na compreensão de si mesmo e dos outros na sua autocrítica, tolerância e percepção de ter contentamento e felicidade na vida.
- Têm-se vários transtornos mentais, com apresentações diferentes. Eles geralmente são caracterizados por uma combinação de pensamentos, percepções, emoções e comportamento anormais, que também podem afetar as relações com outras pessoas.
- Conta-se diversos transtornos mentais, como à depressão, o transtorno afetivo bipolar, a esquizofrenia e outras psicoses, demência, deficiência intelectual e transtornos de desenvolvimento, incluindo o autismo.
- Constata-se que se têm estratégias eficazes para a prevenção de transtornos mentais como a depressão. Há tratamentos eficazes para os transtornos mentais e maneiras de aliviar o sofrimento causado por eles.
- Os cuidados de saúde e aos serviços sociais capazes de proporcionar tratamento e apoio social é fundamental.
A carga dos transtornos mentais continua crescendo, com impactos significativos sobre a saúde e as principais conseqüências sociais, de direitos humanos e econômicos em todos os países do mundo.
A depressão é um transtorno mental sendo uma das principais causas de incapacidade em todo o mundo. Estatisticamente estima-se que 400 milhões de pessoas são afetadas por essa condição segundo último estudo divulgado pela OMS 2016. As mulheres sofrem mais depressão que homens.
A depressão se caracterizada por tristeza, perda de interesse e prazer, sentimentos de culpa ou baixa autoestima, sono e apetite alterados, cansaço e falta de concentração. Podendo também ter relatos de dores físicas sem nenhuma causa aparente. A depressão pode ser de longa duração ou recorrente, prejudicando substancialmente a capacidade das pessoas de serem funcionais no trabalho ou na escola, assim como a capacidade de lidar com a vida diária. Em seu estado mais grave, a depressão pode levar ao suicídio.
Acerca dos distúrbios e acometimentos dos servidores penitenciários são sempre sintomas e diagnósticos preestabelecidos, que fomenta a avaliação, descrição ou investigação. Os mais citados estão o burnout e o estresse pós-traumático com uma analise mais profunda.
Boudoukha (2013) mencionou em seus trabalhos que os servidores penitenciários demonstram altos níveis de sintomas de estresse pós-traumático, apresentando elevado grau de exaustão emocional, estresse, despersonalização, fuga e hiper-reatividade.
O trabalho de Gonçalo, Gomes e Barbosa (2010), Portugal, refere-se à diferença do estresse ocupacional em dois grupos de força de segurança portugueses: um grupo que trabalha em contexto público (n=95) e outro de agentes penitenciários (n=237). Essa análise relata que os agentes penitenciários possuem experiências negativas em grande parte do tempo e níveis de burnout e desejo de sair da profissão, ao mesmo tempo em que apresentam menores níveis de comprometimento com a organização, sensação de bem estar com a vida e reconhecimento profissional.
Analisando o estudo transversal de Okoza, Imhonde e Aluede (2010) busca examinar as fontes de estresse entre trabalhadores de prisão na Nigéria. Participaram agentes masculinos e femininos. A pesquisa revelou que motins e inícios de rebeliões que foram controladas nos presídios foram à maior cauda de estresse para os funcionários prisionais (96%). Bem como inícios de conflitos esses que poderiam desencadear toda uma rebelião processo esse onde todos os apenados não mais obedecem às ordens dos servidores podendo a ter reféns sendo eles apenados ou trabalhadores no caso os profissionais responsáveis pela guarda e custódia do apenado.
Depressão e suas conseqüências : Obidoa et al. (2011);Que versa sobre estudo transversal que avaliou o conflito familiar e organizacional e seu impacto na depressão entre agentes penitenciários nos Estados Unidos da América. Tais sintomas de depressão foram encontrados entre os servidores e suas famílias causando-lhes conflitos familiares e os padrões organizacionais eram um fator crítico, contribuindo para o sofrimento psicológico.
Liu et al. (2013). Já esse estudo examinou as associações entre a percepção do apoio organizacional e psicológico (autoeficácias, esperança, resiliência e otimismo) e os sintomas de depressivos nos servidores penitenciários chineses. Sendo a conclusão que o apoio institucional e investimento no capital psicológico e humano (otimismo e adaptação ) devem ser incluídos na prevenção e tratamento da depressão.
Em obras de pesquisadores brasileiros em seus estudos entre 2010 e 2016 destacaram a atenção e cuidado com a saúde mental, além da atenção ao sofrimento dos agentes penitenciários. O trabalho de Rumin (2006) é um estudo transversal buscou conscientizar sobre as condições de trabalho dos agentes penitenciários, refletindo com a necessidade de ser ter um espaço para acolhimento do sofrimento psíquico desses servidores de maneira continua.
Outros dois estudos desenvolvidos por Rumin: Souza e Rumin (2010) mencionam sobre a necessidade da atenção a saúde mental dos trabalhadores penitenciários ao constatarem que acabou permitindo que diversos fatores fossem estudados sendo como principal a defesa em relação às rotinas de trabalho e a saúde do servidor.
O segundo estudo - Rumin et al. (2011) – diz respeito a um relato de experiência que apresenta características do sofrimento psicológico acometido por servidores penitenciários e delimita os elementos psicodinâmicos que emergem no trabalho de vigilância prisional. Sendo este mais um exemplo claro da importância de se estudar e valorizar a dinâmica do convívio e afetação do trabalho e transtornos vivenciados por esses trabalhadores.
Assim podemos começar analisar os fatores desencadeadores dos adoecimentos de agentes penitenciários, estudos de 2015 como citados antes mostram que a terceira maior causa de afastamento ao serviço do servidor penitenciário são os transtornos mentais e comportamentais em Brasília é a primeira cauda de afastamento desses servidores.
Cinco primeiras causas de afastamento informados em estudos e dados disponibilizados pelo sistema de informações estatísticas do sistema penitenciário brasileiro/2016: 1)Episódio depressivo, 2) Stress Grave e Transtornos de Adaptação, 3) Outros transtornos ociosos 4) Transtorno afetivo bipolar e 5) Transtornos mentais e comportamentais pelo uso abusivo do álcool.
Falta de reconhecimento é um fator de adoecimento dentro de todas as profissões no caso dessa profissão não reconhecida sequer como profissão e no artigo 144/CF88 segregada como um dos entes de segurança pública e políticas governamentais, por isso quando analisamos esse ponto vemos que para ser feliz no trabalho temos que analisar o que sofrem com avaliações de desempenho, assedio moral,solidão,ambiente insalubre, desqualificação do trabalho, depressão, desesperança levando até ao suicídio grande parte se não a maioria dos servidores penitenciários do Brasil estando sujeitos de forma mais direta a todos esses fatores
Michel Foucault e Sigmund Freud apesar de contradições acerca de posicionamentos éticos, política, praticas terapêuticas sendo as diferenças entre o que se acredita ser como fundamentos de Filosofia e Psicanálise. Como mencionado por diversos autores as criticas de Foucault à Psicanálise foram diversas em suas obras. Mesmo assim como podemos notar em estudos mais recentes é possível extrair o melhor dos pensamentos entre os projetos freudianos e foucaultianos. Servindo então de evolução aos os distúrbios psíquicos que nos tem acompanhando ao longo da vida.
Sabemos Freud antecedeu Foucault e na sua época a forma de conotação e colocação para aquela sociedade mesmo tendo como base de que o pensamento o ser humano é o mesmo desde sempre esta em constante evolução e por isso mesmo com contradições os pensamentos de poder elencados por Foucault em suas obras demonstram uma critica a psicanálise e psicologia. Penso que as duas assim como estudiosos atuais acreditam podem convergir como explicita Birman (2000).
Tais considerações são necessárias para se valorar os pensamentos até aqui colocados não desviando o tema, mas se analisando que para uns existe ou não essa aculturação de valores após adulto e o que isso possa influenciar em suas atitudes e comportamentos mentais em sociedade, para outros a negativa do que sou por educação com pensamentos Freudianos nos faz não agir de modo animal mesmo tendo desejo e vontade de agir dessa forma, ou mesmo comportamento críticos do modelo social em que vivemos defesa do modelo de Foucault.
Como bem colocado por Mezan (1985), “a Psicanálise, a partir de Foucault, deveria cada vez mais posicionar-se como abertura de si a si” através da abertura de si ao outro e do outro a si próprio”.(Ética, loucura e normalização: um diálogo entre a psicanálise e Michel Foucault-Eduardo Pinto e Silva)
CONCLUSÃO
Aristóteles fala sobre regras para bem viver com o outro, aja como se você ama-se as pessoas entorno de você mesmo que não ame de verdade, quando ama você sempre tende agir corretamente com aquela pessoa, Freud faz a proposta de bem estar uma proposta de hipocrisia você não pode ser o que é o tempo todo e tudo que tem vontade, no espaço especifico você vai reservar tudo que tem vontade para exercer tudo que tem vontade, já no estar social tem que usar de hipocrisia e tudo bem não dizer a verdade, nessa visão você não consegue dizer a verdade nem para si mesmo como afirma Freud.
Ainda nesta linha de reflexão a proposta do Freud é deixar a sinceridade de lado para viver bem em sociedade para respeitar o outro na sua individualidade e bem estar, regras de comportamento em relação ao outro educação, sendo nessa linha de pensamento Freudiana pois essa pessoa pode se tornar sua parceira de prazer.
Temos que pensar na forma de tratamento ao servidor penitenciário o que seria politicamente correto uma vez que o mesmo venha adoecer e ser também um vetor social que ira alimentar o que queremos reprimir e curar, no caso se bem analisarmos os transtornos sociais que representam os apenados em sociedade, uma vez que eles estão afastados para que possam aprender conviver na sociedade ao qual voltaram a fazer parte da mesma.
Aspecto psicanalítico todas as vezes que reprimo uma coisa que é natural de modo severo, chamamos isso de recalque. Eu tenho que apagar da minha consciência tudo aquilo que não é mais aceito socialmente, tenho que recalcar nossos impulsos, exemplo disso no primeiro momento no caso do apenado ou o próprio ser humana vontade de matar, agredir ter para si tudo, roubar, demonstrar e aparecer. Sentimentos esses que todos temos como pessoas em sociedade, mas escondemos pelo pacto social.
Meu desejo de destruição, morte tem que ser recalcado isso é recalque eu enterro isso no funda da consciência meus desejos e vontades em nome do pacto social segundo nos diz a psicanálise. Ocorre que não é possível esconder isso pois aquilo que tento esconder de maneira agressiva sempre escapa de alguma forma saindo da pessoa.
Um exemplo disso seria quando por comoção social a sociedade, deixa apenas por simples informação de noticia de um roubo e furto de suspeito promovem seu linchamento deixando seus afazeres mesmo sendo de suma importância como cuidar dos filhos levando eles para escola e deixam isso em segundo plano e vão promover essa ação, no caso como colocamos você é levado a colocar isso como firmação de que é atitude errada e precisa reafirmar esse valor para si mesmo e mesmo sabendo não ser a conduta mais adequada linchar e resolver as coisas com violência já que pelo pacto social essa conduta não é politicamente aceita o meu recalque coloca isso para fora externalizando essa conduta.
A educação é um fato continuo não nos ocorre hoje depois de anos agir de forma primitiva e voltar aos métodos ancestrais. É o processo de pensar que nos faz pensar racionalmente para além de impulsos e incorporar esses conceitos e a analise dos fatos ocorridos nos outros nos faz analisar a minha conduta em sociedade.
Conforme a definição de Edward Burnett Tylor – “O complexo que inclui conhecimentos, crenças, artes, morais, leis costumes e outras aptidões e hábitos adquiridos pelo homem como membro da sociedade”. Cultura como expressão de estilo de vida, pessoas diferentes grupos diferentes formas culturas diferentes mesmo sendo essa expressão mais comum no pensamento através das artes. Ou cultura como um grau de estudo que a pessoa tenha um estudioso, o que esses tipos de cultura em comum que vem da palavra “colere” (cuidar de – tomar conta de), quando administra algo que transformamos a natureza humana.O ser humano não nasce adaptado inicialmente a nenhum meio, esse cuidado com o meio que vive a cultura transforma aquele que compartilha.
Retomando esse conceito assim como toda fundamentação filosófica e psicanalítica dos trabalhos abordados que documentam e pelas próprias definições aqui colocadas é que concluo que todos esses processos provêem dessa forma até então estudada de se olhar para o servidor penitenciário quase que como enxergar nele um miserável assim como o apenado um executor do mal necessário aquele que transgrediu as regras da sociedade e por cultura não nos cabe analisar isso pelo simples fato de nunca ter-se dado importância que apenas com o processo de implantação de uma nova doutrina e como base utilizando-se de um novo olhar para o executor das penas atingiremos melhores níveis do objetivo almejado que seria de fato indivíduos melhores do que entram no sistema penitenciário e não piores como se constata hoje na maioria dos casos incluindo como vitima desse processo genocida o próprio servidor penitenciário.
Esse servidor é vitima de todo esse processo de forma direta e indireta de aculturação penitenciária, sendo colocado num papel de carrasco social ao qual acaba fazendo conviver de forma impositiva, com valores que são essencialmente contra tudo que aprendeu até sua idade adulta, onde a Lei real é extremamente diferente da Lei escrita ao qual também tem seus direitos assim como os apenados desrespeitados. Todo esse conflito interno e o choque de valores ao qual transcende todos os dias acabam se manifestando de alguma forma e essa forma como podemos constatar nas pesquisas aqui estudadas levando-se em conta todos os processos da psicanálise, psicologia, cultura, aculturação e a própria sociologia.
Temos que através da educação e cultura mudar esse paradigma que tem destruído não só famílias de servidores penitenciárias, mas esse ciclo infinito de enxergar e efetivamente agir nesse meio nos leva sempre ao mesmo resultado. Mais delitos, transtornos, distúrbios e muitos casos de depressão e baixa alto estima. Então como alguém que é desrespeitado efetivamente irá respeitar ? Como alguém que é infeliz ira mostrar o caminho da Paz, Respeito, Dignidade e Moralidade se nem ao menos tem pra si mesmo?
Então nesta linha de pensamento e voltando a todo pensamento abordado anteriormente é que vou discorrer sobre o significado distúrbio psicológico ou melhor (transtorno psicológico ou doença mental) que é uma alteração do comportamento e da razão de uma pessoa, fazendo com que em vários casos não se possa ter uma vida normal ocorrendo a necessidade de tratamento para que se possa viver com normalidade. O transtorno limita a vida da pessoa que sofre dele por isso tem esse nome e deriva de uma desadaptação e disrupçao.
Com todo esse entendimento de tudo que foi abordado até aqui que percebemos a importância da psicanálise que causou como mencionado por vários estudiosos do mundo todo inclusive da psicologia a importância dos processos de aprendizagem ou esquemas do que aprendemos e interiorizamos seja na infância como também quando adultos. Por isso abordagens como a PNL (Programação Neuroligüistica) para realizar intervenções como a sugerida nas pesquisas para que se tenha atendimento dentro do presídio especializado para que o servidor penitenciário possa sempre que possível fazer uso de um profissional qualificado seja da psicologia/psiquiatria ou o psicanalista prestando esse atendimento.
Em escolas, hospitais e empresas já existe esse modelo de tratamento ao qual costuma aumentar e qualificar a qualidade de vida de quem acessa esses profissionais agregando valor e aumento de produtividade e diminuição significativa de baixas laborais, tais dados ainda estão apresentados de maneira não uniforme por pesquisas publicadas apontando que esse é o caminho.
Os casos mais comuns no sistema penitenciário por pesquisas relacionados são esquizofrenia quando escuta-se vozes que as outras pessoas não ouvem, incentivando a fazer coisas. Transtorno bipolar emoções exageradas um momento muito feliz e outro muito triste um estado de depressão. Transtorno de personalidade um conjunto de perturbações, emocionais, afetivas e sociais sendo os mais comuns o transtorno de personalidade antissocial e o transtorno estado-limite de personalidade (borderline) mencionado anteriormente ao longo dessa dissertação.
Conclui-se que nesse contexto a psicanálise pode em muito contribuir para uma melhor qualidade de vida do servidor penitenciário e conseqüentemente tento a real importância da aplicação desse método o aplicador da execução penal também passara a compreender o que desconhece sobre esse tema, hoje o apenado é conduzido pelo servidor penitenciário ao psicólogo, psicanalista e psiquiatra, mas ele enquanto servidor não tem direito a mesma consulta e não se importa com isso por ser visto por total desconhecimento como fraqueza e algo afeto apenas a quem cumpre pena.
Só se dá conta que precisa de atendimento quanto já é muito tarde, a família esta sofrendo junto com ele e muitas vezes não dá tempo. Por ser também servidor penitenciário agente do Estado e já ter trabalhado na área de saúde escoltando apenados para consultas médicas dentro do presídio e fora dele vivenciei a tentativa do próprio colega ao suicídio além de diversas vezes a tentativa do próprio apenado e por isso hoje consigo enxergar o tanto que é importante cuidarmos da nossa saúde mental e cultivar bons hábitos mesmo que por profissão estando expostos a todos os tipos de agentes e fatores que podem desencadear um processo de transtorno como notoriamente conhecidos em todos os estudos apresentados e esse texto.
Sigmund Freud e Carl Gustav Jung esses dois grandes autores temos uma visão mais ampla do psiquismo humano e penso que apesar das diferenças entre os autores de terem trabalhado juntos ao seu tempo com visões e métodos próprios desenvolvidos por cada um, penso que ambos se relacionam um que fala do consciente e inconsciente e desejos sexuais relacionados à Freud e Jung psicologia analítica e inconsciente coletivo e com isso vejo que ambas as visões se complementam assim como as novas apresentadas por outros pesquisadores.
A mente humana nunca deixara de ser estudada e aprimorada e dificilmente conheceremos por completo diante de tamanha complexidade por isso nos cabe aprimorar e sempre rever os princípios norteadores para que estejamos sempre em evolução.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
FRANÇA , Fátima. Reflexões sobre Psicologia Jurídica e seu Panorama no Brasil. In Psicologia: Teoria e Prática, vol.6, nº 1, jan./jun. 2004
KELLER, E.F. O Paradoxo da Subjetividade Científica. In Schnitman, D.F. (org). Novos Paradigmas, Cultura e Subjetividade. Porto Alegre : Artes Médicas, 1996.
OTTOBONI, Mário. Ninguém é Irrecuperável. 2ª ed. São Paulo: Cidade Nova, 2001.
“The past is a foreign country”? Acculturation theory and the anthropology of globalization – João Leal
Implicações atuais do debate entre Herskovits e Frazier sobre os africanismos – Alexandre Almeida Marcussi
Melville J. Herskovits (1895-1963) e a antropologia do Caribe – entrevista com Kevin A. Yelvington
Culturas em transformação: os índios e a civilização – Clarice Cohn
Aculturação, impactos culturais, processos de hibridação: uma revisão conceitual dos estudos antropológicos do turismo – Rafael José dos Santos; Margarita Barretto
Benevides, P. (2002). Burnout: quando o trabalho ameaça o bem estar do trabalhador. São Paulo: Casa do Psicólogo
Carlson, J. R., & Thomas, G. (2006). Burnout among prison caseworkers and corrections officers. Journal of Offender Rehabilitation, 43(3), 19-34.
Chies, L. A. B. (2013). A questão penitenciária. Tempo Social, 25(1), 15-36.
Fernandes, R. C. P., Silvany Neto, A. M., Sena, G. M., Leal, A. S., Carneiro, C. A. P., & Costa, F. P. M. (2002). Trabalho e cárcere: um estudo com os agentes penitenciários da região metropolitana de Salvador, Brasil. Cad. Saúde Pública, 18(3);
Foucault, M. (2002).Vigiar e Punir. Petrópolis: Vozes.
França, A. C. L., & Rodrigues, A. L. (1997). Stress e trabalho: guia básico com abordagem psicossomática. São Paulo: Atlas.
Gonçalo, H., Gomes, A. R., & Barbosa, F. (2010). Stress ocupacional em forças de segurança: um estudo comparativo. Análise Psicológica, 28(1), 165-178.
Ballone G. J.O que são Transtornos Mentais. in. PsiqWeb, Internet, disponível em http:// www.psiqweb.med.br. Acessado em 16 de dezembro de 2015.
Pesquisa Apresentada: Márcio José de Santana e Roberto Moraes Cruz - Transtornos Mentais e do Comportamento Relacionados ao Trabalho dos Agentes Penitenciários do Estado de Santa Catarina ano 2011 site: http://www.ismabrasil.com.br/trabalho/38
RUMIN, C. R. Sofrimento na vigilância prisional: o Trabalho e a atenção em saúde mental. Psicologia: Ciência e Profissão, Brasília, v.26, n.4, p.570-581, 2006.