Quem é Jair Bolsonaro? Jean Piaget pode ter a resposta

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Muitas pessoas se questionam sobre declarações e visões de mundo que o atual presidente da República possui sobre diversos temas. Jean Piaget pode ter elementos importantes para entendermos algumas decisões do então Presidente da República deste país.

RESUMO

Acreditamos que muitas pessoas se questionam sobre as declarações e visões de mundo que o atual presidente da República possui sobre diversos temas. Declarações que são publicizadas e que deixam, a ver a opinião pública, perplexa pelo olhar limitador. Diante dessa situação, começamos a nos indagar que fatores psíquicos e sociais faltam ao atual mandatário do maior cargo público do país na formação do seu conhecimento. Dessa forma, percorremos as trilhas exploratórias do maior teórico da formação do conhecimento, isto é, Jean Piaget. Através deste, procuramos entender como são desenvolvidas e definidas as decisões por Jair Bolsonaro. Dito isso, esse apanhado analítico é formada a partir de uma conjugação analítica entre a teoria do conhecimento de Jean Piaget, iluminando as deliberações que o atual presidente desenvolveu e desenvolve nas decisões públicas. Para isso, fazemos uso do percurso teórico do desenvolvimento intelectual, fundante para o aparecimento de inovações, mudanças e transformações do pensamento para analisar a visão de mundo do atual presidente a partir das falas públicas obtidas em diversos meios de comunicação, como jornais, revistas e meios eletrônicos. Assim, depreende-se que Jean Piaget possui elementos imprescindíveis para responder as posições e decisões verbalizadas por Jair Bolsonaro.

PALAVRAS-CHAVE: Jair Bolsonaro; Jean Piaget; Teoria do conhecimento; Governo.

Introdução

Quem, em algum momento, não se deparou com declarações e atitudes do então presidente da República que coloca em dúvida sua capacidade intelectual de poder comandar os destinos do país? Não muito raro, nos deparamos constantemente com “visões de mundo” que alçam ao pedestal do incrédulo ou do inacreditável ao ver e ouvir coisas como “transformar Angra dos Reis numa Cancun brasileira”, simplesmente por já ter ele visitado Cancun e não conseguir vislumbrar que o turista estrangeiro pode não ver com bons olhos um espaço que possui uma Usina Nuclear, como existe nesse “pedaço de chão” do Rio de Janeiro.

Em outra situação, ao visitar um templo Evangélico, onde muitos que lá se encontravam pediam mais espaço e poder para esse segmento social, Jair Bolsonaro pronunciou a necessidade de ter no Supremo Tribunal Federal (STF) um Ministro no STF de religião Evangélica. Outro exemplo, popularmente conhecido por falar constantemente de armas, justamente por gostar e, diga-se, é artilheiro nessa prática (pelo menos até onde se sabe, esportivamente) pretende generalizar, como tentou no Projeto de Lei que foi rejeitado[1] pelo Congresso Nacional, a posse e o porte de armas aos brasileiros.

Para seu prazer de dirigir e por já ter tido sua carteira de motorista apreendida por realizar essa atividade em uma velocidade além da permitida, já contabilizando cerca de 40 pontos na carteira, ele busca, através de decreto, abolir os radares e elevar a quantidade de pontuação por infração ao dobro do permitido na atual legislação.

Percebam que a visão que o Presidente Jair Bolsonaro possui está relacionada a estruturas e situações estabelecidas. Quando observa determinado exemplo que para ele – enquanto indivíduo – é positivo, ou algo que o beneficia, tende a tentar trazer como experiência a ser implantado no plano coletivo, isto é, para a sociedade brasileira. Mas isso ocorre sem realizar nenhuma articulação com o contexto, os determinantes sociais, bem como outros elementos que devem ser levados em consideração, como fatores geográficos, populacional, histórico, cultural.

As ações e opiniões que são constantemente notícias nos jornais a partir da sua fala vêm justamente afirmar a falta de uma visão desenvolvimentista e articulada que só ocorre em sujeitos, quando crianças, que não passaram pelos quatro estágios necessários para o desenvolvimento do conhecimento como afirma Jean Piaget.

Jean Piaget e a teoria da construção do conhecimento

Jean Piaget é considerado um grande teórico no que diz respeito à formação do conhecimento. Muito estudado nas áreas da educação, psicologia, filosofia e áreas correlatas, Jean Piaget estudou e esboçou o desenvolvimento da construção do conhecimento humano que ocorre ainda quando o indivíduo é criança.

Para o teórico o conhecimento não é algo nato, mas sim desenvolvido a partir das experiências que ele vai desenvolvimento e vivendo ao longo da sua vida. Em outras palavras, sua experiência de vida diz muito do olhar que você tem sobre os diversos assuntos e aspectos da sociedade.

Todo o conhecimento é uma construção que vai sendo desenvolvido a partir da interação com outros indivíduos e demais elementos objetivos e subjetivos no seu cotidiano. E a partir dessa interação o sujeito vai elaborando o novo, ou seja, ideias novas que não são encontradas prontas, mas sim elaborados pelo sujeito a partir do acúmulo de conteúdo das interações.

Segundo Piaget, o conhecimento não pode ser concebido como algo predeterminado desde o nascimento (inatismo), nem como resultado do simples registro de percepções e informações (empirismo): o conhecimento resulta das ações e interações do sujeito no ambiente em que vive. Todo conhecimento é uma construção que vai sendo elaborada desde a infância, por meio de interações do sujeito com os objetos que procura conhecer, sejam eles do mundo físico ou do mundo cultural. O conhecimento resulta de uma inter-relação do sujeito que conhece com o objeto a ser conhecido (MOREIRA, 1999, p.75).

Dessa forma, Jean Piaget busca explicar o surgimento de inovações, mudanças e transformações no curso do desenvolvimento intelectual, bem como distinguindo os elementos necessários para que esse processo aconteça.

Ele esboça uma teoria galgada no construtivismo. Onde as construções mentais só são possíveis se os indivíduos, ainda na infância, passaram pelos quatro estágios necessários para um processo mental que “vá além da cortina”. Ele distinguiu em quatro períodos o desenvolvimento cognitivo: sensório motor, pré-operacional, operacional-concreto e operacional-formal.

Para Piaget a compreensão dos estágios do desenvolvimento cognitivo ocorre a partir das estruturas de um conjunto de elementos que caracterizam cada estágio. Cada estrutura corresponde diferentes formas de ver e vivenciar o mundo, completando seu ciclo quando a criança chega ao seu quarto estágio.

O primeiro estágio é o sensório motor, que ocorre do nascimento até os dois anos de idade. Nesta fase, a criança se mostra egocêntrica inconsciente e de maneira integral. Em outras palavras, quer tudo para ela. É o momento onde ela começa a ter os primeiros contatos com as coisas ao redor e com o próprio corpo. Além disso, passa a sentir emoções a partir dos estímulos do ambiente das pessoas que a cercam.

O segundo estágio é denominado de pré-operacional, que ocorre entre os dois aos sete anos. Neste período, a criança começa a representar as coisas ao seu redor. Através de formas esquemáticas que vai encontrando através do olhar, do ouvir e do falar, ela passa a representar aquilo que vê como vê. É preciso salientar que também há uma mistura entre realidade e fantasia. Lembrem como crianças de três, quatro, cinco anos se comportam em, por exemplo, assistirem desenhos animados e, posteriormente, repetirem a ludicidade dos desenhos em suas brincadeiras como se fosse “verdade”.

O terceiro estágio é chamado de operacional-concreto, que ocorre entre os sete anos e os doze anos. Neste período, vamos vivenciar o declínio do egocentrismo, isto é, de querer tudo para si. A razão começa se estrutura. E o conhecimento objetivo, isto é, saber que uma maçã é uma maçã é algo que vai sendo delineado. Ações que levavam minutos para serem resolvidas, agora passa ser resolvida de maneira instantânea.

E a quarto e última etapa da formação do conhecimento humano é denominado de operacional-formal que ocorre a partir dos doze anos em diante. Nesse estágio, o objeto a nossa volta vai sendo paulatinamente substituído por hipóteses e deduções. Ou seja, a partir do encontro com determinada situação, o sujeito passa a questionar, procurando outras pistas, caminhos elucidativos que evoquem repostas outras as encontradas de maneira primária. Nesse estágio, a partir da interação do sujeito com o mundo que vive, passa a indagar situações, problemas, soluções. Isto é, o ser humano passa a desenvolver o caráter hipotético-dedutivo. Característica imprescindível nesse estágio é a flexibilidade na opinião. Mobilidade de argumentar conforme as nuances e fatores que compreendem determinado aspecto da vida social. E como se alguém procurasse os elementos necessários para entender uma situação a partir dos seus determinantes.

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Jair Bolsonaro e o encontro com Jean Piaget

Levando em consideração os quatros estágios de Jean Piaget e analisando as tomadas de decisões do então Presidente da República, observa-se que Jair Bolsonaro, na formação cognitiva da sua personalidade, ficou estacionado no terceiro estágio. Como os exemplos acima demonstram, ao reconhecer que uma situação lhe é favorável ele tende aplica-la para as demais pessoas a partir da função que atualmente exerce.

Piaget também reporta a situações que podem ocorrer caso o sujeito não consiga concluir os estágios da formação do conhecimento, por exemplo, a dificuldade de adaptação e equilíbrio. Pessoas que não conseguem completar o ciclo da formação cognitiva sofrem com adaptações e requerem situações que lhes só beneficiam. Além disso, contrariados em seus diversos momentos de ser e querer ter, podem leva-los a constantes e rotineiros desequilíbrios.

Não raro vemos situações em que Jair Bolsonaro se manifesta com total desequilíbrio, quando, na maioria das vezes, é contrariado. Dito isso, o indivíduo que não completa os estágios de formação cognitiva, ao serem interpelados, se manifestam com violência, quer seja verbal ou física.

O quarto estágio é aquele que o indivíduo faz sem a necessidade do objeto concreto para poder “ter uma idéia”. Não é necessário ir para Cancun e querer uma Cancun no Brasil. Por gostar de armas ele quer armar a população. Por gostar de pescar, busca flexibilizar as leis ambientais porque sofreu, quando Deputado Federal, represália e punição/infração de multa por pesca em habitat de preservação. Porque uma Universidade nos Estados Unidos é paga ele quer aqui também seja. Porque viu o processo de dessalinização em Israel, ele acha que encontrou a solução da seca do semi-árido nordestino. Porque a punição penal de crianças e adolescentes em alguns países é de quatorze anos, ele acha que aqui também deve ser. Contudo, falta-lhe entender a complexa estruturação dos determinantes que encontramos nesse país que difere em todos outros países exemplificados acima. E para entender é necessário “ir além da cortina”. E isso só é possível com desenvolvimento do quarto estágio, sito é, aquilo que lhe, hipoteticamente, mas fortemente constatado, lhe falta.

Falta a Jair Bolsonaro, o quarto estágio que não foi completo na sua infância. Um estágio que propicia hipóteses e deduções, bem como a formulação de ideias a partir de determinantes. E dessa forma, como quem ficou estagnado nos estágios anteriores, ele comporta-se a partir dos seus desejos e não conforme a criação de uma situação que esteja relacionada ao contexto e seus elementos inerentes.

Falta-lhe a ampliação do olhar e tem-se uma exacerbação do individual, do limitador, do trivial. Dessa forma, temos um grande problema quando se pensa em políticas públicas e ações de longo prazo porque Jair Bolsonaro é o imediato.

Referências bibliográficas

RAPPAPORT, Clara Regina. Psicologia do Desenvolvimento. São Paulo: EPU, 1981. Capítulo 3, modelo piagetano.

PIAGET, Jean. Seis estudos de Psicologia. 21ª ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1995.

MOREIRA, Marco A. Teorias da Aprendizagem. São Paulo, EPU, 1999.

PALANGANA, Isilda Campaner. Desenvolvimento e aprendizagem em Piaget e Vygotsky: a relevância do social. São Paulo: Summus, 3ºed. 2001


[1] Foi derrubado pelo Congresso Nacional, mas já foi redesenhada novamente pelo Executivo presidencial e novamente estará tramitando nas casas legislativas federais.

Sobre o autor
Antonio Nacilio Sousa dos Santos

Graduado em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Ceará (UFC); Graduado em Serviço Social pela Universidade Estadual do Ceará (UECE); Graduado em Pedagogia pela Faculdade Integrada do Ceará (FIC); Graduando em Enfermagem pela Faculdade Metropolitana da Grande Fortaleza (FAMETRO); Graduando Tecnológico em Saneamento Ambiental pelo Instituto Federal do Ceará (IFCE); Graduando em História pela Universidade Estadual do Ceará (UECE); Especialista em Serviço Social, Políticas Públicas e Direitos Sociais pela Universidade Estadual do Ceará (UECE); Especialista em Legislação Social, Políticas Públicas e Trabalho Social com as Famílias (RÁTIO/PÓTERE); Especialista em Saúde do Idoso pela Universidade Estadual do Ceará (UECE); Mestre em Sociologia pelo Programa de Pós-graduação em Sociologia (PPGS) da Universidade Estadual do Ceará (UECE); Mestrando Acadêmico em Avaliação de Políticas Públicas (PPGAPP) pela Universidade Federal do Ceará (UFC); Mestrando Acadêmico em Serviço Social, Trabalho e Questão Social (MASS) pela Universidade Estadual do Ceará (UECE). Curriculum Lattes: http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4893524E9

Informações sobre o texto

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