[1] É necessário pontuar que as semelhanças entre o evento realizado por Bonaparte III e Lula são bastante limitadas. Trouxe essa aproximação devida a enunciados propagados por Karl Marx na obra 18 de Brumário logo no início da sua reflexão onde o mesmo afirma que, a partir de Hegel, “os grandes fatos na história universal aparecem, duas vezes: a primeira como tragédia e a outra como farsa” (2008: 207). Dito isso, evoco a tragédia que foi a deposição da presidenta eleita democraticamente Dilma Rousseff e, posteriormente, a farsa do período eleitoral exposta pelo candidato Jair Bolsonaro como detentor de uma nova política onde priorizaria o combate à corrupção e o fortalecimento das instituições políticas. Portanto, objetivos que não se efetivam dado o quadro político que compõem sua gestão, dotados de escândalos de corrupção, bem como fatos que evidenciam a relação da família Bolsonaro com milicianos do Rio de Janeiro e corrupção envolvendo seus assessores.
[2] Pelas ações colocadas em prática no primeiro semestre do então Governo do presidente Jair Bolsonaro, o que se percebe é a exacerbação das ações neoliberais a que chamamos de ultraneoliberal com fortes características fascistas.
[3] A primeira vez que essa denominação surgiu foi a partir de um artigo escrito por Sérgio Abranches em 1988. O conceito de presidencialismo de coalizão foi cunhado pela primeira vez em seu, agora clássico, artigo intitulado Presidencialismo de Coalizão: o dilema institucional brasileiro, publicado em 1988 na Dados – Revista de Ciências Sociais que, posteriormente, foi ampliado e tornou-se um livro.
[4] ABRANCHES, Sérgio Henrique. O presidencialismo de coalizão: o dilema institucional brasileiro. In: Dados: revista de ciências sociais. Rio de Janeiro, v. 3, n. 1, 1988. p. 21-22.
[5] PEREIRA, André. Coalizões de governo no presidencialismo. In: Dimensões – Revista de História da Ufes. Vitória, n. 12, 2001. p. 45.
[6] Entendemos que o que está em jogo são os interesses de cada classe. Aqueles que não mais querem que o governo conceda qualquer regalia para as camadas menos favorecidas foram sujeitos importantes para a concretização do impedimento. Portanto, o enfoque teórico que entendemos ser o mais elucidativo é o enfoque marxista. Ele não parte nem de indivíduos, nem de correntes de opinião, mas sim das classes sociais. Dito isso, o processo político que estamos a analisar parte do resultado do conflito entre classes e frações de classe, e a crise aparece como resultado do aguçamento desses conflitos.
[7] Percebam que neste momento histórico a classe trabalhadora ou, “nova” classe trabalhadora é impelida pelos meios de comunicação e demais formas de formação de opinião pública a estarem na rua para a deposição da presidenta. Penso que deveríamos fazer uma análise profunda sobre as mudanças na composição da sociedade brasileira graças aos programas governamentais de transferência de renda, inserção no consumo e universidade, elevação do salário mínimo e recuperação dos seus direitos sociais. Isso provocou mudanças profundas na vida de milhões de brasileiros que passaram a formar a nova classe média que esteve nas ruas pedindo a deposição de uma presidenta que fez parte das ações para que esses mesmos sujeitos melhorassem a qualidade de vida. Para entender essa nova configuração faz-se salutar o auxílio do conceito de Paul Singer de subproletariado ou de precariado, proposto por Jessé Souza.
[8] Este artigo está contido no livro “Por que gritamos golpe?” da editora Boitempo.
[9] Aos grandes protagonistas da onda neoliberal foram Margareth Thatcher e Ronald Reagan, que foram os grandes pilotos na Europa e América na prática e configuração do Consenso de Washington. Nesse mundo dominado pelos mercados de capitais, movimentações cada vez mais robustas e intensas de capitais privados intensificam-se essa movimentação a partir das décadas de 70 e 80 e na década de 90. Nesta última década, temos a América Latina e os países do denominado “Terceiro Mundo” agenciado por esses interesses.
[10] Ver a obra: “A valsa brasileira” de autoria da economista Laura Carvalho que vai analisar o “boom” da economia brasileira até o caos, ou seja, desde 2006 até os dias atuais. Reporta sobre o aumento do consumo das famílias e suas consequências, bem como o caos que viria posteriormente, tendo como carro chefe as crises de âmbito mundial.
[11] As demais referências bibliográficas utilizadas para a confecção do texto foram citadas ao longo do mesmo ou nas notas de rodapé.