Revolução 4.0

03/09/2019 às 21:02

Resumo:


  • A revolução 4.0 está relacionada à evolução tecnológica, incluindo a internet das coisas e a computação em nuvem, resultando em redução de custos e aumento da produtividade.

  • A tônica dessa revolução são os sistemas ciberfísicos, que combinam máquinas com processos digitais, permitindo decisões descentralizadas e cooperação com humanos.

  • O surgimento da revolução 4.0 traz consigo o risco de automação de empregos tradicionais, gerando novos postos de trabalho e dilemas como a desigualdade na distribuição de renda e a segurança internacional.

Resumo criado por JUSTICIA, o assistente de inteligência artificial do Jus.

As tecnologias irão nos levar a uma nova revolução industrial? O emprego formal será substituído por máquinas?

   A revolução 4.0, ou quarta revolução industrial, está relacionada à evolução tecnológica, englobando, por exemplo, a internet das coisas (Iot ou “internet of things”)[1] e a computação em nuvem (“cloud computing”)[2]. Com isso, há uma diminuição do custo e o aumento da produtividade.  Porém não se trata dar somente mais um passo ou de um grande passo evolutivo, mas sim de uma verdadeira revolução tecnológica que transformará a nossa forma de viver, pensar e trabalhar.

A tônica dessa revolução são os sistemas ciberfísicos (que combinam máquinas com processos digitais)[3], que somente se tornaram realidade com o surgimento da internet das coisas e da computação em nuvem, como já mencionado. Tais sistemas podem tomar decisões descentralizadas e são capazes de cooperar com o ser humano por meio da internet das coisas.

Contudo, não há somente um lado nessa história: corre-se o risco de, com a automatização e com o surgimento de fábricas inteligentes, haver a redução do número de empregos tradicionais e o surgimento de novos postos de trabalho ainda nem imaginados.

Esse modelo tem sido chamado de “darwinismo tecnológico ou digital”[4], onde quem não se adaptar não irá sobreviver. Porém isso está ocorrendo de forma mais rápida do que as mudanças anteriores. Na verdade, é uma mudança sem precedentes, que ocorre a uma velocidade nunca vista.

No livro “Obrigado pelo atraso”, Thomas Friedman trata dessas mudanças como a “era das acelerações”, onde as três maiores forças do planeta, a tecnologia, a globalização e as alterações climáticas, estão mudando rápida e simultaneamente. Essa era modifica cinco pontos-chaves da sociedade, ainda segundo o autor:  o local de trabalho, a política, a geopolítica, a ética e a comunidade.

Para o autor, vivemos a era do “antropoceno”, nome científico para designar o poder de muitos.  O mundo está mais interconectado do que nunca e isso permite a troca de bens virtuais. A moeda virtual, como a bitcoin, é um desses bens.

    Há alguns setores mais pessimistas que acreditam que essa revolução somente contribuirá para o aumento da desigualdade na distribuição de renda e também trará outros dilemas, como a segurança internacional. Para os que pensam dessa forma, haverá a substituição de alguns trabalhos pela inteligência artificial e, no futuro, muitas profissões deixarão de existir. Porém reconhecem que surgirão outros trabalhos, mormente os ligados a necessidades básicas, como alimentação personalizada, caseira.

A inteligência artificial exercerá um importante papel no futuro, porém aqueles que não acompanharem a evolução do mercado e as inovações que surgirão sofreram o darwinismo tecnológico, sendo, em uma visão mais pessimista, inadaptáveis e inutilizáveis no mercado de trabalho, passando a ter que contar com o assistencialismo do governo, das empresas e dos membros produtivos da sociedade, em uma espécie de “socialismo pós-capitalista”[5].

Um dos pontos a serem considerados diante de todo esse quadro é o surgimento da chamada “economia de compartilhamento”, que também só foi possível em razão da evolução da tecnologia, como o advento dos celulares com a tecnologia 4G (quarta geração, que prioriza dados de internet), o amplo acesso à internet e o próprio desenvolvimento da economia.

Um exemplo bastante claro é o Uber, sistema de transporte compartilhado, considerado um ícone dessa nova economia, ao lado do Airbnb. Tanto assim que já se fala em “uberização do trabalho”, no sentido de que “uberizar” é alterar a forma de gerenciamento de negócios, em que consumidores e fornecedores entram em contato direto. Pois bem, o Uber é uma alternativa ao modelo tradicional de se pegar transporte, onde o consumidor não possui o bem, mas o seu acesso.

E, de fato, algo muito estranho ocorre hoje. Para ficarmos somente nos exemplos citados, o Uber é a maior empresa de transporte do mundo e não possui nenhum carro. Já o Airbnb é o maior sistema de aluguel de quartos e apartamentos do mundo e, no entanto, não é proprietário de nenhum imóvel! Os exemplos podem ser citados às centenas.

Porém outra discussão surge conforme a economia compartilhada ou colaborativa atinge novos setores: o subemprego 4.0 ou a escravidão digital. Isso porque com a redução do emprego formal, surgem os trabalhos ocasionais, nos quais se insere o Uber. Há uma disrupção na forma de se trabalhar e de se criar modelos de negócios.

O relatório “Futuro do Trabalho: Emprego, Competências e Estratégia da força de trabalho para a Quarta Revolução Industrial”, apresentado na última edição do Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça, informa que nos países cobertos pelo estudo as tendências atuais podem levar a um impacto líquido de mais de 7,1 milhões de postos de trabalho perdidos entre 2015 e 2020.

Já a consultoria Ernest & Young prevê que até 2025, um em cada três postos de trabalho deve ser substituído por tecnologia inteligente e que em nove anos poderá haver a extinção de profissões operacionais, como operador de telemarketing, caixa de bancos e de mercados, juntamente com uma maior demanda por carreiras que lidem diretamente com tecnologia de ponta.

Voltando à discussão, no caso do Uber o próprio motorista possui o carro e arca com todas as despesas, sendo que a sua força de trabalho é disponibilizada a um aplicativo global. Trata-se, para alguns, da precarização do trabalho, causada pelo “capitalismo informacional digital” [6].

Há que se ressaltar aqui as duas perspectivas referentes à Inteligência Artificial (IA): a IA fraca e a IA forte. A primeira está relacionada à construção de máquinas e softwares de certa forma inteligentes porém incapazes de raciocinar por si próprios. A última está relacionada à criação de máquinas com autoconsciência e que possuem a capacidade de pensar e não somente de simular raciocínios. Nesse tipo de inteligência o software tem consciência do que faz. A IA fraca é bastante popularizada nos sistemas inteligentes existentes, enquanto a IA forte ainda é fonte de muita discussão e, hoje, é ainda impossível de ser criada.

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A inteligência artificial é um conceito amplo que engloba o machine learning, que nada mais é do que o aprendizado da máquina ou o aprendizado computacional em inteligência artificial. A interferência humana nesse processo é mínima. A máquina aprende de forma autônoma, tendo por base a sua própria experiência, por regras lógicas. Um exemplo bem conhecido é o Deep Blue, supercomputador e software criados pela IBM para jogar xadrez e que ganhou, em fevereiro de 1996, uma partida do enxadrista Garry Kasparov, campeão mundial. Em maio de 1997, após várias atualizações, o Deep Blue venceu Kasparov novamente, obtendo 2 vitórias, 3 empates e 1 derrota.

Isso sem falarmos nos chips que nos acompanham no dia-a-dia, seja no celular, nos smartwatches, no GPS do carro, na tecnologia vestível (wearable technology), etc. Toda a confluência dessas tecnologias poderá conduzir ao surgimento de novas tecnologias e de novas oportunidades ainda desconhecidas. Porém, ao lado disso tudo, temos países que, ainda hoje, sequer possuem as mínimas condições para uma sobrevivência digna.

E, no Brasil, temos um cenário de desigualdade econômica e cultural crônica, com 45 milhões de desbancarizados[7], referindo-se tal termo a brasileiros que não movimentam a conta bancária há mais de seis meses ou que não possuem conta em banco. Tal fato se mostra como um óbice à circulação do crédito e à geração de riqueza, além de demonstrar que o acesso à tecnologia ainda está longe de se tornar uma realidade para todos.

Mudanças sempre conduziram o mundo a um novo paradigma e, no início, há forte resistência à sua adoção, mas com o tempo geralmente a inovação prevalece e a adaptação se faz necessária. Porém as inovações insurgentes são de proporções nunca vistas e irão demandar um esforço global para que se possa chegar a um denominador comum, tendo em vista as barreiras políticas, econômicas, sociais e religiosas de cada País.


Notas

[1] Conexão entre objetos que fazem parte do nosso cotidiano, a fim de facilitar e tornar o dia a dia mais dinâmico.

[2] Computação em nuvem é a possibilidade de acessar arquivos e executar diferentes tarefas pela internet, sem a necessidade de instalar aplicativos no computador. O armazenamento de dados é feito em serviços on-line, em uma rede.

[3] No Brasil instituições acadêmicas como o SENAI/SC (Instituto SENAI de Inovação) a UFBA, UFMG, Unicamp, UNIFESP, UNB, USP, UFSC, UFRGS ,UEMA, UFABC, FURG, UFPA e UFRA, desenvolvem projetos baseados em Sistemas Ciberfísicos. 

[4] Evan Schwartz descreveu o processo em meados de 1998. Adaptando o modelo de Darwin para o mundo virtual, propôs um novo modelo de negócios ao dizer que quem sobrevive não é o mais forte, mas o mais flexível à internet. A sua ideia foi bastante ampliada.

[5] Próton, Sara. Socialismo pós-capitalista: um efeito do darwinismo tecnológico. Disponível em: https://saraproton.jusbrasil.com.br/noticias/562168972/socialismo-pos-capitalista-um-efeito-do-darwinismo-tecnologico.

[6] https://www.saudeocupacional.org/2018/07/industrias-4-0-levarao-a-escravidao-digital.html

[7] https://epocanegocios.globo.com/Brasil/noticia/2019/08/brasil-tem-45-milhoes-de-desbancarizados-diz-pesquisa.html.

Sobre o autor
Fabio Andrade

Advogado inscrito na OAB/MS

Informações sobre o texto

Este texto foi publicado diretamente pelos autores. Sua divulgação não depende de prévia aprovação pelo conselho editorial do site. Quando selecionados, os textos são divulgados na Revista Jus Navigandi

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