Falar sobre Educação para o poder é retomar o debate proposto por Paulo Freire acerca da Educação Popular. É a possibilidade de enxergarmos que o maior objetivo dos professores progressistas é formar alunos críticos que compreendam seu lugar no mundo e que se assumam como sujeitos-objetos da história, que têm voz para mudar as estruturas sociais vigentes. É a esperança de uma participação popular que integre as classes oprimidas e torne a sociedade mais justa.
As classes oprimidas veem seus dias repetitivos por conta de tanta exploração e não enxergam que algo pode mudar. Para essa parcela da população seus avós tiveram essa vida, bem como seus pais e seus filhos também terão. Contra esse fatalismo, é preciso que a educação interfira fazendo com que seus alunos compreendam que possuem o direito de sonhar; entretanto, como professores é nosso dever entender as inseguranças e medos das classes populares.
Para entender\debelar o medo das classes populares é preciso compreendermos o contexto Neoliberal no qual estas estão inseridas. A ideologia Neoliberal foi implantada no Brasil por meio da mídia como sendo uma realidade irrefutável, pois está diretamente ligada à globalização; contudo, pensar dessa forma é subestimar a História, afinal, o Feudalismo durou 10 séculos e chegou ao fim assim como o Absolutismo. Segundo Freire, é preciso superar a visão mecanicista da história e ver que ela pode ser mudada. É preciso enxergar a história como possibilidade.
Para Freire, o autoritarismo de direita acredita muito mais na prática educativa do que a esquerda. Podemos explicar esse raciocínio pois enquanto a direita busca ocultar certos fatos para não desencadear uma revolução por parte das classes oprimidas, a esquerda vê a classe popular como “inculta” que deve seguir suas ordens.
As classes dominantes defendem uma educação autoritária e não-libertadora pois acreditam no poder da Educação e sabem que isso pode desencadear uma revolução, assim como já aconteceu em outros períodos da humanidade, como na queda do Absolutismo causada por uma revolução da Burguesia contra as opressões da Aristocracia.
Devemos compreender nossos alunos como seres individuais, levando em consideração a luta de classes e é preciso sabermos adequar nossa linguagem e metodologia. Os alunos não são apenas aprendizes que estão ali para absorver conteúdos como máquinas pois isso não é possível, cada ser humano tem uma essência e vivenciou diferentes acontecimentos ao longo da vida que o trouxeram até ali. Para Freire, se o educador não for capaz de entender a dimensão do medo das classes populares, ou seja, os limites que estas colocam em si mesmas e, pior, utilizar uma linguagem difícil de ser compreendida pelos alunos, ele provavelmente será recusado e intensificará o medo dessas pessoas.
Em suma, é preciso pensar e abordar conteúdos que façam parte do cotidiano dos alunos, reconhecendo que a forma com a qual estes se expressam na linguagem, vestimentas, músicas e até jeito de andar fazem parte da resistência e cultura dessas classes. Reconhecer esses nuances da resistência das classes populares faz com que os alunos se entendam como seres pertencentes do mundo e da história, para que possam, por fim, fazer questionamentos políticos, tornando-se de fato alunos críticos e questionadores.
Referencias:
...
FREIRE, Paulo. Política e Educação. São Paulo: Paz & Terra, 3ª edição, 2014, 144 p.
SILVA, A. R. F. da. Do Estado liberal ao neoliberal: aspectos sociais e jurídicos-econômicos. Revista Jus Navigandi, ISSN 1518-4862, Teresina, ano 19, n. 3978, 23 maio 2014. Disponível em: <https://jus.com.br/artigos/27961>. Acesso em 12 de setembro de 2019
...
Vinício Carrilho Martinez (OAB/108390)
Pós-Doutor em Ciência Política e em Direito
Professor Associado II da Universidade Federal de São Carlos – UFSCar
Departamento de Educação- Ded/CECH
Programa de Pós-Graduação em Ciência, Tecnologia e Sociedade/PPGCTS
Ana Laura Pegoraro
Acadêmica do 2º ano no Curso de Pedagogia
Universidade Federal de São Carlos-UFSCar