Descontentamento na Europa em tempos de austeridade: da ação coletiva à participação individual no protesto social

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Centra-se no exame do novo ciclo de protesto social na Europa em resposta à austeridade neoliberal ocorridos a partir de 2010, considerando-se dois níveis de análise, uma em sentido Macro e outra em sentido micro, e explicam.

 

 

 

 

 

 

 

  1. Abordagem quanto à análise do Tema

Centra-se no exame do novo ciclo de protesto social na Europa em resposta à austeridade neoliberal ocorridos a partir de 2010, considerando-se dois níveis de análise, uma em sentido Macro e outra em sentido micro, e explicam.

Os autores falam em dois níveis de movimentos sociais, e explicam.

 

1.1 Nível Macro – Ações Coletivas (Sindicato)

Movimentos gerados por iniciativa dos Sindicatos no âmbito da União Europeia.

 

1.2 Nível Micro – Participações Individuais (“Novos Movimentos Sociais”)

Protestos a nível individual, movimentos sociais de caráter difuso no âmbito, incentivados por novos meios de comunicação como Redes Sociais e utilização da tecnologia da informação.

 

1.3 Base de estudo dos autores: Inquérito Social Europeu (ESS,2012)

Inquérito transnacional, acadêmico, que tem sido realizado a cada dois anos por toda Europa desde 2001.

É dirigido por uma equipe científica central (Core Scientific Team) liderada por Rory Firgerald da University of London – Reino Unido, com instituições parceiras. O ESS mede atitudes, crenças e padrões de comportamentos de populações diversas em mais de 30 nações.

O intuito é a investigação transnacional em ciências sociais, fazendo-se questionários e pesquisa de dados de variadas formas para estatísticas e análises científicas.

 

1.4 Tempos de Austeridade

Cabe aqui fazer somente um preâmbulo para fins de conhecimento da motivação de uma política de austeridade (restritiva) e sua motivação.

A Crise econômica de 2007–2008 é uma conjuntura econômica global que se sentiu durante a crise financeira internacional precipitada nos EUA, pela falência do tradicional banco de investimento estadunidense Lehman Brothers, fundado em 1850. Em efeito dominó, outras grandes instituições financeiras quebraram, no processo também conhecido como "crise dos subprimes".

A quebra do banco de investimento sediado em Nova Iorque Lehman Brothers em 2008 foi seguida, no espaço de poucos dias, pela falência técnica da maior empresa seguradora dos Estados Unidos da América, a American International Group (AIG).

Ato contínuo, outras importantes instituições financeiras do mundo, como Citigroup e Merrill Lynch, nos Estados Unidos; Northern Rock, no Reino Unido; Swiss Re e UBS, na Suíça; Société Générale, na França declararam terem sofrido perdas colossais em seus balanços, o que agravou ainda mais o clima de desconfiança, que se generalizou de forma global.

Em outubro de 2008, a Alemanha, a França, a Áustria, os Países Baixos e a Itália anunciaram pacotes que somavam 1,17 trilhão de euros (US$ 1,58 trilhão, R$ 2,76 trilhões, em valores correntes na época) em ajuda ao seus sistemas financeiros. O PIB da Zona do Euro teve uma queda de 1,5% no quarto trimestre de 2008, em relação ao trimestre anterior, a maior contração da história da economia da zona.

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Descrição: Mapa mundial mostrando as taxas de crescimento real do PIB para 2009. Estimativas do FIA World Factbook em abril de 2010.

Encontro: 19 de abril de 2010, 09:54 (UTC)

Fonte: Gdp_real_growth_rate_2007_CIA_Factbook.PNG

Autor: Gdp_real_growth_rate_2007_CIA_Factbook.PNG : Sbw01f, Kami888, Fleaman5000, Kami888; trabalho derivado: Mnmazur (talk)

Derivado desta grave situação de crise financeira mundial, Citam os autores: Ortiz et al. 2013, que conclui: “a crise financeira internacional de 2008 alastraram-se pelo mundo com elevada incidência na Europa”.

Devido a tais questões de âmbito econômico globais é que geraram políticas de austeridades que deu origem ao presente artigo.

2.Questões abordadas pelo Autor

   2.1“Novos” movimentos sociais

Analisando os protestos sociais entre 2006 e 2013, em 87 países, abrangendo 90% da população mundial, constataram-se a escalada de protestos sociais neste período e sua elevada incidência na Europa. (Ortiz et al. 2013)

Destacam, os autores, que, muito embora a justiça econômica per se tenha estado no centro dos protestos, estes foram potencializados pela exigência de uma “Democracia Real”.

Observaram que as referidas mobilizações sociais, não só se rebelavam com o agravamento das condições econômicas e sociais, mas acima de tudo como uma expressão de motivações metapolíticas relacionadas com o grau de insatisfação com o funcionamento da democracia e com a ausência de respostas do sistema político aos problemas econômicos e sociais (Della Porta e Diani, 2006)

Cita, (Crouch, 2011), que o neoliberalismo, políticas austeritárias e o défice democrático na tomada de decisão contribuíram certamente para estes “novos movimentos” e protestos, na Europa.

 

   2.2 Reinvindicações principais

a) Justiça Social contra as desigualdades crescentes,

b) Uma Democracia Real (crítica à democracia representativa)

   2.3 Destaque dado pelo Autor aos “novos” movimentos sociais

a) Dimensão global/ internacional dos protestos,

b) Dinâmicas e especificidades nacionais e locais,

c)  Modos alternativos de organização e ação, flexível e horizontal,

d) Facilitação dado pelas Redes Sociais e uso das tecnologias de informação potencializando a mobilização,

e) Forte participação dos jovens na organização, e em particular dos jovens com níveis de educação elevados.

(Della Porta e Diani, 2006; Della Porta, 2012; Castells, 2012; Fominaya e Cox, 2013, Toussaint, 2012)

 

  2.4 Citação de alguns movimentos sociais:

Della Porta, 2012; nos informa que nos “novos movimentos”, os protestos acompanharam a geografia da emergência econômica que atingiu com diferente intensidade e em diferentes tempos e países europeus, iniciando-se em 2008/2009 na Islândia e prosseguindo em 2011 em Portugal, em Espanha e na Grécia.

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Verificaram os autores uma característica dos protestos sobre uma crítica à democracia representativa, analiso alguns dos principais movimentos sociais:

 

 

a) “Democracia Real Ya” – Também conhecido como Real Democracia AGORA – Iniciado na Espanha em março de 2011

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Caracterização:

  • O manifesto é um amplo movimento social, dedicado ao protesto não-violento, e que não mantém nenhuma afiliação com nenhum partido político ou sindicato.
  • Não nomeou nenhum líder e não está disposto a se juntar a nenhum dos órgãos políticos existentes.
  • Exigem mudanças nas atuais políticas sociais e econômicas, que levaram muitas pessoas ao desemprego, à perda de seus lares e à pobreza.
  • A organização denuncia a forma como as grandes empresas e os bancos dominam a esfera política e econômica e pretendem propor uma série de soluções para esses problemas por meio da democracia participativa de base e da democracia direta, baseada em assembleias populares e tomada de decisão por consenso.

b) “Geração à Rasca” (Rasca – Estar em dificuldade) – Iniciado em Portugal, em março de 2011

Geração à Rasca é o nome dado em Portugal a um conjunto de manifestações ocorridas em Portugal e outros países, no dia 12 de Março de 2011, as maiores manifestações não vinculadas a partidos políticos desde a Revolução dos Cravos.

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  • Movimento de protesto, autointitulado "apartidário, laico e pacífico",
  • Reivindica melhorias nas condições de trabalho, como o fim da precariedade. O manifesto incitava à participação numa manifestação dos "desempregados”, e outros mal remunerados e empregados informais, dentre outros.
  • O protesto encheu a Avenida da Liberdade em Lisboa. As estimativas para o número de pessoas presentes no protesto em Lisboa variaram entre as 200.000 e as 300.000 pessoas. Houve também manifestações no Porto (80.000 pessoas),

Funchal, Ponta Delgada, Viseu, num total de 11 cidades portuguesas.

  • Houve também manifestações menores em Barcelona, Londres, Berlim, Haia, Madrid, Lubliana, Luxemburgo, Bruxelas, Maputo, Nova Iorque, Copenhaga e Estugarda em frente às embaixadas de Portugal.
  • A Polícia de Segurança Pública estima a presença de 100.000 pessoas em Lisboa e 60.000 no Porto, enquanto a organização fala de 200.000 e 80.000, respectivamente.

c) “Movimento Occupy” – Occupy Wall Street (OMS) – Iniciado nos EUA, em Setembro de 2011

Descontentamento com a burocratização da participação política e com a erosão da possibilidade de qualquer expressão verdadeira da maioria da vontade popular (Crouch, 2012).

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Wall Street é a rua que corre na Manhattan Inferior, e é considerada o coração histórico do atual Distrito Financeiro da cidade de Nova Iorque, onde se localiza a bolsa de valores de Nova Iorque, a mais importante do mundo. “We are de 99%”

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Caracterização:

  • É um movimento de protestos contra a desigualdade econômica e social, a ganância, a corrupção e a indevida influência das empresas, sobretudo do setor financeiro, no governo dos Estados Unidos,
  • O slogan, “We are the 99%” (" Nós somos os 99% "), refere- se à crescente desigualdade na distribuição de renda riqueza nos Estados Unidos, tomando-se como base de que seriam 1% os mais ricos e o 99% o resto da população,
  • O movimento espalhou-se por todo o mundo em diversos países.
  • Presença dos “black bloc”, mascarados, sendo alguns adeptos do anarquismo, que visavam formar uma parede e proteger as manifestações, em alguns casos de forma violenta e com confronto. O referido movimento origem na Alemanha em 1980, sendo um movimento autônomo.

d) “Movimento O Gigante Acordou” e “Vem pra rua” – Iniciado pelo Movimento Passe Livre (MPL) no Brasil em Junho de 2013.

Inicialmente um movimento voltado para o aumento de R$0,20 centavos na tarifa do transporte público foi estopim para que milhões de pessoas fossem às ruas reclamar das condições de vida no país, assim como falta de Segurança, Educação e Saúde básica.

Também contra corrupção e perda da credibilidade nas instituições constituídas.

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Caracterização:

  • Movimento apartidário e difuso, com uma insatisfação generalizada por vários setores da sociedade,
  • Com grande organização através das redes sociais e tecnologia da informação,
  • Em alguns atos houve a presença de violência,
  • Presença da figura dos “Black Bloc” e mídia alternativa.

Citam os autores, ainda, outros movimentos em âmbito da União Europeia, Tunísia, Islândia e Itália.

Informam, no entanto, que a incidência das mobilizações dos movimentos sociais foi muito diversa atingindo mais uns países do que outros, e confirmam as expressões “primavera árabe”, ou “primavera mediterrânea”.

Primavera Árabe, como é conhecida mundialmente, foi uma onda revolucionária de manifestações e protestos que ocorreram no Oriente Médio e no Norte da África a partir de 18 de dezembro de 2010.

Houveram revoluções na Tunísia e no Egito, uma guerra civil na Líbia e na Síria; também ocorreram grandes protestos na Argélia, Bahrein, Djibuti, Iraque, Jordânia, Omã e Iémen e protestos menores no Kuwait, Líbano, Mauritânia, Marrocos, Arábia Saudita, Sudão e Saara Ocidental.

Os protestos compartilharam técnicas de resistência civil em campanhas sustentadas envolvendo greves, manifestações, passeatas e comícios, bem como o uso das mídias sociais, como FacebookTwitter YouTube, para organizar, comunicar e sensibilizar a população e a comunidade internacional em face de tentativas de repressão e censura na Internet por partes dos Estados.

3. Crítica à Democracia Representativa

No caso da nova onda de protestos, a democracia representativa é criticada por ter permitido a subordinação da democracia aos ditames dos poderes financeiros e também aos ditames das organizações internacionais como o FMI e a União Europeia (Della Porta, 2012).

Exigem uma maior participação popular direta nas decisões político sociais procurando uma Justiça Social efetiva. Sendo que no movimento social da Espanha fala-se numa Democracia Real. Enfatizam a democracia participativa como forma para possibilitar a forma de reduzir as desigualdades posto que os interesses seriam voltados para a maioria.

4. Protestos de iniciativa sindical

Os protestos de iniciativa sindical geraram um movimento de greves gerais sem precedentes nas últimas décadas (Ortiz et al., 2013).

Multiplicação das greves gerais, manifestações em massa, assembleias de protesto e ocupações, foram formas de manifestação usadas pelos Sindicatos.

Há que se destacar a capacidade de atração de indivíduos, pelos “novíssimos movimentos sociais”, em relação a grupos que os sindicatos possuem dificuldade de organizar, quais sejam: os desempregados, os trabalhadores precários, os jovens em geral.

Entre 2010 e 2013 realizaram-se na Europa 24 greves gerais, das quais:

  • 9 na Grécia,
  • 5 em Portugal,
  • 3 na Espanha,
  • 3 em Itália,
  • 2 na França,
  • 1 na Polônia,
  • 1 na Romênia (Ortiz et al. 2013).

Neste sentido, as manifestações sindicais se multiplicaram na Grécia, em Espanha e em Portugal.

5. Concluem os autores:

Percebe-se que esta escalada de um novo ciclo definiu também novas formas quanto as relações entre os protestos dos “novíssimos movimentos sociais” e os protestos de iniciativa sindical, potencializando as mobilizações de uns e de outros e a mobilização conjunta.

Dentre as iniciativas de protestos desencadeadas pelos novos movimentos sociais e pelos sindicatos, identificam-se pontos de convergência e diferenças de perspectiva e de ação entre os dois tipos, contudo ambas formas de mobilização criam também novas oportunidades políticas no sentido de aprendizagem recíprocas e a possibilidade de explorar sinergias, construindo a unidade na diferença e maximizando a capacidade de resistência anticapitalista, na era da austeridade.

Protestam, em regra, por uma democracia real, pela a justiça social, por uma redistribuição de renda que reduza a pobreza e a desigualdade de rendimentos, e a crítica às instituições democráticas se concerne à exigência programática do dever dos governos de resolução dos problemas sócio econômicos.

FIM

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Sobre os autores
Maria da Paz Campos Lima

Doutorada em Sociologia pelo Instituto Universitário de Lisboa (ISCTE-IUL) ISCTE-IUL - Instituto Superior Ciências Trabalho e da Empresa. Investigadora Integrada DINÂMIA'CET - IUL - Centro de Estudos sobre a Mudança Socioeconómica e o Território (ECSH) [Inovação e Trabalho]

Antônio Martin Artiles

Professor Catedrático de Sociologia na Universidad Autónoma de Barcelona (UAB). Doutorado em Sociologia pela mesma universidade. Diretor do Instituto Estudis del Treball.

Informações sobre o texto

Este texto foi publicado diretamente pelos autores. Sua divulgação não depende de prévia aprovação pelo conselho editorial do site. Quando selecionados, os textos são divulgados na Revista Jus Navigandi

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Mestrado em Ciências Jurídico Políticas

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