O CONTRAGOLPE NA BOLÍVIA
Rogério Tadeu Romano
"Em Fevereiro de 2016, em referendo para reformar a constituição e autorizar uma nova eleição, Evo Morales foi derrotado, com 51,3% dos eleitores votando contra a mudança constitucional. Além disso, não se pode alegar que a vitória, mesmo que apertada, não foi representativa da população, já que 84,4% do eleitorado compareceu às urnas. No final de 2018, entretanto, o Tribunal Supremo Eleitoral da Bolívia autorizou uma nova candidatura de Evo Morales.
O entendimento do tribunal foi o baseado em um parecer do Tribunal Constitucional boliviano. Em novembro de 2017, a corte estabeleceu que limitar mandatos e, com isso, impedir uma candidatura era uma forma de violação de direitos políticos. Na realidade, a autorização do TSE e o próprio desejo do presidente foram contra a decisão popular afirmada pelo referendo. Essa é uma crítica que poderia ser pertinente à todos os espectros políticos. Se um dos méritos de Evo foi justamente o de estabelecer referendos e participação popular para decisões políticas, o cumprimento dessa voz deve ser reivindicado, senão a legitimidade das consequências será questionada."
Ali, àquela época, Evo Morales aplicou um golpe, continuando na presidência da República e se candidatando a novas eleições, em 2019.
Segundo os observadores essas últimas eleições transcorreram num clima de fraude.
"Evo ficou com apenas 47% dos votos segundo a contagem oficial. "
Houve um cenário de violência e tudo descambou para um pedido das Forças Armadas para que Evo renunciasse.
As milícias neopentecostais de “Macho” Camacho, a polícia partidarizada e, agora, as Forças Armadas foram as grandes vitoriosas.
As elites, que antes da chegada de Morales ao poder, sempre foram as grandes e verdadeiras donatárias das riquezas daquele país, não se interessavam pela continuidade de Evo Morales no poder.
Tudo isso interessou aos Estados Unidos.
E Evo renunciou.
Houve, sem dúvida, um contragolpe, num país onde a história se fez de golpes.
O contragolpe envolve:
- reação forte e provocada;
- golpe de resposta a outro.
O contragolpe, pois, foi obra das elites bolivianas.
Sabe-se que as oligarquias latino-americanas, de um modo geral, subsistem na falta de compromisso real com a democracia e sua incapacidade de conviver com processos significativos de distribuição de renda, de combate à pobreza, e de ascensão social e política das camadas da população historicamente excluídas dos benefícios do desenvolvimento.
A crise de poder na Bolívia não se encerra com o asilo político concedido pelo México a Evo Morales e seu afastamento da presidência da República.