A evolução dos movimentos sociais pós redes e midias sociais

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Na atualidade, vivenciamos três modelos de Movimentos Sociais: Os tradicionais, com base na luta de classes; Os Novos Movimentos, que surgiram da transformação dos clássicos, e os Novissimos. Assim, precisamos entender as transformações trazidas por ele.

Resumo: Na atualidade, vivenciamos três modelos de Movimentos Sociais: Os Movimentos Sociais tradicionais, com base na luta de classes; Os Novos Movimentos, que surgiram da transformação dos clássicos, tendo ponto de evidencia as questões identitárias e os Novissimos Movimentos Sociais. Nesta perspectiva, o presente artigo busca identificar as especificidades que diferenciam estes movimentos, principalmente dos novíssimos movimentos, que atuam na totalidade através das redes sociais, de modo a verificar as mudanças sociais trazidas pelas redes sociais nas manifestações on-line. Assim, o artigo objetiva apresentar as características diferenciadoras desses modelos e identificar as evoluções sociais ocasionadas por esse ativismo.

Palavras-chave: Redes Sociais. Mídias Sociais. Transformação Social.


1. INTRODUÇÃO

O tema Movimentos Sociais tem ocupado lugar de destaque no cotidiano brasileiro já há algumas décadas. Como bem diz Tarrow (2009, p.18), tudo decorre do fato de que “(...) as pessoas comuns irrompem freqüentemente nas ruas e tentam exercer o poder por meios contenciosos contra estados nacionais opositores.”

Ainda segundo Torrow (2009), os Movimentos Sociais seriam o resultado dos confrontos político exercido pelos cidadãos que remontam ao início da história.

Já Gohn ( 2015) entende que os Movimentos Sociais “são ações sociais coletivas de caráter sociopolítico e cultural que viabilizam distintas formas da população se organizar e expressar suas demandas.”

Certo é que hodiernamente, o tema Movimentos Sociais tem se espalhado pelo mundo e no Brasil, tem feito história, principalmente no Século XXI, quando eclodiu a participação social na formatação das políticas públicas. Nesse caso, os Movimentos Sociais transformaram-se em mola mestra na condução da publicação dos interesses sociais. Neste sentido, diz Gohn(2015,p.335)

Na ação concreta, essas formas adotam diferentes estratégias que variam da simples denúncia, passando pela pressão direta (mobilizações, marchas, concentrações, passeatas, distúrbios á ordem constituída, atos de desobediência civil, negociações, etc), até as pressões indiretas.

Vivemos assim em um momento de extensas transformações na materialização dos Movimentos Sociais. Trata-se de um momento traduzido através das mídias sociais, onde as redes sociais se transformaram em espaço de informação, comunicação e aprendizagem. Nesse contexto, os Movimentos Sociais passaram a ser não somente espaço de formação de confrontos, mas de transformação da cidadania.

Assim, o presente artigo pretende apresentar a transformação percorrida pelos Movimentos Sociais, desde o momento em que as redes sociais passaram a funcionar como elemento de desenvolvimento na construção das identidades coletivas, transformando pessoas comuns em ativistas sociais, onde as bases estratégicas dos Movimentos não são mais as salas ou corredores de instituições ou sindicatos, mas sim, as redes e mídias sociais.

Nesta perspectiva, o presente artigo busca identificar as especificidades que diferenciam os antigos,dos novos e dos novíssimos movimentos, com um enfoque especial nos novíssimos movimentos, que atuam na totalidade através das redes sociais, de modo a verificar as mudanças socio-culturais trazidas por ele nas manifestações on-line.

O objetivo Geral do artigo será avaliar a influência das redes sociais na transformação dos movimentos sociais, enquanto que os objetivos específicos busca descrever a transformação dos Movimentos Sociais em novíssimos movimentos sociais de modo a avaliar a influência das redes sociais na transformação dos movimentos sociais, verificando a influência das redes e mídias sociais nas transformações sociais que vivenciamos. O Trabalho será desenvolvido através de uma Pesquisa bibliográfica descritiva.

O estudo apresenta assim a hipótese de que os novíssimos movimentos sociais se apresentam como sendo fragmentados e individualizados, contrastando com os movimentos tradicionais e, apesar de terem alcançado maior visibilidade, apresentam redução de estratégias programáticas e teóricas, sendo formado em sua maioria por ativistas sem engajamento, com adesões momentâneas.

Assim, passamos dos Movimentos que na contemporaneidade são denominados de Movimentos Sociais Clássicos ou tradicionais, por ocuparem um lugar de destaque na história sendo responsáveis no mundo e no Brasil pelos avanços nas legislações trabalhistas e também pelas reformas constitucionais, aos atuais e novíssimos movimentos sociais, que apesar de continuarem nas ruas em constantes situações conflituosas, adotaram novas estratégias de atuação e divulgação.

O Referencial teórico do presente estudo terá como base as conceituações de Tarrow(2009), e de Gohn(2015), passando por Bourdieu(1996), Bauman (2001).


2. PRINCIPIOS BASICOS DA EVOLUÇÃO DOS MOVIMENTOS SOCIAIS

O conflito é a base teórica de toda e qualquer forma de movimento. Essa é a palavra base dos Movimentos Sociais. A representação dos conflitos é visto em obras de arte e musicas. Assim, o conflito tornou-se a base de todas as evoluções sociais, culturais e econômicas. Foi através do conflito que os países buscaram em sua origem sua autodeterminação social e territorial. Foi com o conflito que a história registrou as grandes obras literárias de Shakespeare, os poemas de Camões, a origem do cristianismo, do protestantismo, a independência dos Estados Unidos e do Brasil. Não importa se o conflito é coletivo ou pessoal, certo é que há uma necessidade extrema do individuo em alimentar o conflito, passando pelo confronto, para chegar a pacificação social ou mesmo a sua realização pessoal.

Na busca da pacificação social, um dos princípios básicos é de que os indivíduos quase sempre caminham por ou entre um confronto social ou político, e como dito por Bauman (1988 p.30), “Para dizê-lo de maneira curta e grossa: a emancipação de alguns, exigia a supressão de outros.” Com isso, os princípios básicos dos Movimentos Sociais, em qualquer dos modelos aqui estudado terão suas bases erguidas sobre as insatisfações sociais, restrições políticas dos sistemas autoritários, busca por mudanças, e é obvio os conflitos sociais.

Assim, confirmando a teoria de Bauman, é basicamente impossível emancipar-se um grupo sem forçosamente não suprimir-se outro. Com isso, acresce-se aos princípios básicos dos Movimentos Sociais, a busca pelo poder, mesmo que este poder seja, ao dizer de Bourdieu (1989, p.8) um Poder Simbólico, “... esse poder invisível o qual só pode ser exercido com a cumplicidade daqueles que não querem saber que lhe estão sujeitos ou mesmo que o exercem.”

A evolução dos Movimentos Sociais tem como base unanime os conflitos e a busca ou quebra de poderes para formação das transformações sociais.

As ações coletivas dos Movimentos, se analisados sob o aspecto histórico evolutivo, desde as épocas mais remotas, demonstram que assim tem sido e não poderia ser diferente, seja qual for a estratégia adotada para sua formação.

Conforme diz Tarrow (2009, p.19):

A ação coletiva de confronto é a base dos movimentos sociais não por serem estes sempre violentos ou extremos, mas porque é o principal e quase sempre o único recurso que as pessoas comuns tem contra opositores mais bem equipados ou estados poderosos. Isso não significa que os movimentos não fazem outra coisa senão confrontar: eles formam organizações, elaboram ideologias, socializam e mobilizam seus membros e estes se engajam em autodesenvolvimento e na construção de identidades coletivas.

Além da pacificação social e do confronto, outra base comum dos Movimentos Sociais é a solidariedade, o interesse comum. Em qualquer momento os movimentos passaram por confrontos de interesse comuns, lutando solidariamente um ao lado do outro, por ideologias coletivas que nascem não de um protesto isolado, mas do interesse de um grupo. Assim foram feitas as revoluções políticas, sociais, econômicas e culturais que se tem conhecimento.

AS ESTRATEGIAS DOS MOVIMENTOS SOCIAIS

Qualquer atividade que envolve a busca de resultados necessita de uma estratégia. Assim, não poderia ser diferente com os Movimentos Sociais. Antes mesmo de se pensar em nomear os Movimentos, em Roma, em 509 a.C, os Plebeus já faziam movimento contra os patrícios que enriqueciam as suas custas e para isso faziam rebeliões. Em 494 a.C conseguiram parte do que desejavam, participação no governo. Para isso, os plebeus reunidos subiram o monte Aventino como forma de recusa a participar na defesa da cidade até que o Estado lhes desse direitos Políticos. Vendo que os plebeus não cediam às pressões, os patrícios aceitaram os pleitos e criaram o Concilium Plebis e em 450 a.C se reecontaram mais uma vez para assim criarem a Lei das 12 Tábuas, conforme diz GUIMARÃES(1999).

Assim vemos que desde os Romanos a estratégia dos revoltos tem início com a formatação de uma ideologia, um propósito coletivo, um objetivo comum. A partir daí, outra base comum nos Movimentos sempre foi a Organização, seguida das rebeliões, que inicialmente vieram seguidas do enfrentamento físico. Esse enfrentamento poderia vir acompanhada de muitos prejuízos, como mortes e conseqüentes epidemias, o que fez com que rebeliões desembocasse em situações do “incomodo” social, que trouxesse algum inconveniente para a população, sem contudo prejudicar os hipossufiencientes, o que levou a modalidade dos tumultos, das invasões de propriedade.

Mas foi com Marx e Engels que as lutas de classe ganharam novas estratégias, trazendo além da mobilização, um fator importante, a conscientização e a solidariedade, elementos que se tornaram necessariamente a base estratégica dos Movimentos na idade Moderna. Contudo, além da mobilização e da conscientização e solidariedade entre os pares, a formação de lideranças, de revolucionários propriamente ditos, sempre foi uma base estratégica de peso.

Entre os séculos XVII e XVIII, novas estratégias passaram a ser adotadas, a exemplo dos boicotes e das petições de massa. Segundo TAMASON (1980, p. 15-31citado por Torraw 2009), no século XIX os funerais passaram a ser utilizados para mobilizações contra autoridades e daí surgiu os falsos funerais, quando os grupos mobilizados criavam funerais simbólicos de autoridades desprezadas.

Já na França, surgiram as insurreições urbanas, que se transformaram em insurreição armada, culminando com a tomada da Bastilha.

Todas as estratégias foram sendo adaptadas e reformuladas com o passar dos anos, de modo que a criação das associações e dos sindicatos foram simplificando as formas de atuação dos Movimentos com a chegada da imprensa, o que facilitou a divulgação e com isso aumentou o numero de ativistas e o reforço dos movimentos com a ampliação de simpatizantes, que com a revolução da imprensa diminuiu, face a queda do numero de analfabetos. A divulgação através de folhetins distribuídos em praça pública provocou naquela época, a mesma reação das redes sociais no Século XX, fazendo a expansão das ideologias e ampliando as associações e as redes de movimentos.

OS MOVIMENTOS SOCIAIS TRADICIONAIS E OS NOVOS MOVIMENTOS SOCIAIS

Movimentos Sociais Tradicionais, são os movimentos que vêem sendo firmados desde antes da Revolução Francesa, passando pelo industrialismo, possuindo origem sindical e focados nos meios de produção, com influência Marxista, a exemplo dos movimentos operários, camponeses, abolicionistas e outros.

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Segundo Gohn (2017, p.9), “Os clássicos abarcam os sindicatos, os sem-terra, estudantes, movimentos populares/comunitários de bairro, os sem teto, etc.” Sua organização passa por estratégias de atuação formalmente atreladas aos conhecimentos organizacionais e burocráticos, com lideranças identificadas e mobilizações materializadas através de convocações diretas, onde os ativistas são representados por sindicatos e associações.

Ainda segundo Gohn (2011, p.335), estes movimentos adotam diferentes estratégias, que vão da simples denúncia até a pressão direta. Nesses momentos, utilizam-se das mobilizações, das marchas, concentrações, passeatas, distúrbios a ordem constituída, atos de desobediência civil e as negociações, até as pressões indiretas.

Assim, a transição entre os movimentos clássicos e os novos, mantém os mesmos elementos de formação, quais sejam, o descontentamento social e a busca da realização coletiva, mantendo ainda os mesmos modelos de organização e mobilização.

OS NOVOS MOVIMENTOS SOCIAIS

O termo de Novos Movimentos Sociais foi expressão cunhada na Europa, nas análises de Clauss Offe, Touraine e Melucci e diz respeito aos movimentos sociais ecológicos, das mulheres, pela paz e etc. Criados a partir do final dos anos de 1970, os novos movimentos se contrapõem aos velhos movimentos sociais, em suas práticas e objetivos, ou seja, se contrapõem ao movimento operário-sindical, organizado a partir do mundo do trabalho. (GOHN, 1995, p.44).

O Novo nesse caso, não trata de novos, nascidos, surgidos, mas de uma readequação dos velhos. Ao dizer de Gohn (2014,p.13), seria uma construção histórica, refazendo o pensar e agir. Mantém, no entanto os mesmos atores sociopolíticos e mais alguns além dos ativistas, são os militantes, os simpatizantes e novas lideranças além dos grupos de elite ou governantes.

Estes “novos” trazem novos discursos, novas práticas e novas representações. Apresentam uma postura anti-partidos, anti-estado, passando uma postura de anarquismo atualizado, pois apresentam ideais de Proudhon.

No entanto, os novos movimentos ganharam maior destaque do que os clássicos através de sua forma mais popular e de maior coletividade, em sua maioria em bases populares, preocupando-se mais com as condições periféricas, cuidando dos abandonados políticos que não eram amparados pelas políticas públicas, fazendo surgir assim uma nova identidade política. Foi nesse momento de transição que segundo Gohn (2014, p.15), surgiu o refrão “o povo unido jamais será vencido”.

Ao final do Século XX, a estratégia principal dos Novos Movimentos passou a ser a internet. A divulgação através desse novo meio de comunicação, fez surgir novos ativistas, assim como no século XVIII quando os movimentos foram difundidos pela imprensa.

O Século XX foi concretamente um momento de grandes transformações, pois ao tempo em que os Movimentos Sociais enfraqueceram em razão do golpe militar, as idéias trazidas pela Teologia da Libertação apresentaram novos atores, a exemplo dos movimentos cristãos, trazidos pelas pastorais, apesar de o enfraquecimento perdurar até meados dos anos de 1980, quando surgiu a redemocratização. Até inicio dos anos 90 o que se teve foi um momento de grande transformação social, onde os movimentos foram reforçados pelo retorno da cidadania com a criação de políticas públicas participativas, aliado as mudanças políticas, os movimentos foram tomados por organizações institucionais, que fortalecia a participação popular.

Seguido a isso, a promulgação da nova Constituição de 1988, reforçou o poder do direito de livre associação e de movimentação popular, fazendo com que as mobilizações organizassem inclusive o impitimam presidencial. A partir daí, grupos organizados de Direitos Humanos fez ressurgir movimentos silenciados como o movimento estudantil, acompanhado do movimento de mulheres, das lutas étnicas, de gênero, culturais e territoriais, além da ampliação dos movimentos sindicais, que nunca se deixaram aniquilar, seguidos dos movimentos culturais.

A formatação das redes, que antes eram acrescidas apenas pelos encontros pessoais em formato de mobilizações reais, encontros, manifestações com multidões, passaram a usar a mídia como reprodutora das insatisfações e indignações.

As reivindicações clássicas como a terra vieram acompanhadas dos novos movimentos populares por moradia, educação e saúde, direitos sociais trazidos no texto constitucional e silenciados pelas décadas ditatoriais.

Esses novos movimentos mudaram os formatos de suas redes, surgindo as ONGs e o terceiro setor formado inclusive por empresas privadas.

OS NOVÍSSIMOS MOVIMENTOS SOCIAIS

Os novíssimos Movimentos Sociais tem sua origem no final do Século XX, fortificado no Século XXI, vem acompanhado de novos atores. São ao dizer de Gohn(2014,p.11), novos sujeitos sociopolíticos historicamente excluídos das arenas da democratização e da estrutura de poder.

O Novo modelo que forma esses novíssimos movimentos, apresentam conflitos anteriores, mas que não possuíam visibilidade, ou mesmo novos temas, a exemplo das questões de raça, etnia, gênero e atividades produtivas diferenciadas e muito novas, como a economia solidária. Também possuem uma visão globalizada de multinacionalidade, como os movimentos antiglobalização, ou ao dizer dos sociólogos com expertise sobre o tema, “movimentos altermundialistas, como bem diz, Gohn(2014), No entanto, esse movimento altermundialistas não deveria ser tido como novíssimo movimento, visto que ele data do Século XX, no entanto, sua maneira de apresentar novos formatos de ação e de se opor as ações governamentais o trouxe até o século XXI.

Segundo Zizec (2012,p.16) em citação de Gohn(2014), o que caracteriza esse novo modelo de movimento social, é o fato de ele trazer o essencialismo da luta de classe substituído pelo pluralismo das lutas antirraciais, feministas, etc.

Até mesmo os nomes dos movimentos foram transformados, como os Indignados, Occupy e a Primavera Árabe. Os movimentos são essencialmente organizados por chamadas digitais, utilizando como base de divulgação as mídias e redes sociais. Os ativistas também são os antigos simpatizantes, que tomados pelas transformações do Marketing vão se envolvendo através das mensagens midiáticas. Concretamente, todo simpatizante que responde ao chamamento das mídias acaba por se transformar em um ativista em potencial.

Nessa nova atualidade, os movimentos tornaram-se Foruns de atuação, onde a estratégia de atuação não é apenas de mobilizar pessoas, mas de formar, informar, preparar pessoas para tornar-se ativistas multiplicadores de ideologias e saberes. Pode ser dito com firmeza que há uma pedadogogia, uma aprendizagem colaborativa de expansão do conhecimento, onde o importante não é aglomerar pessoas por uma busca coletiva, mas capacitar essas pessoas para que elas conheçam, reflitam e tornem-se ativistas conscientes e não apenas massa de manobra movimentista.

Na estratégia de propagação, os panfletos se transformaram em blogs; A frase de ordem, em mensagens de texto via twiter, facebook, torpedos via SMS, e What zap.

As manifestações agora são autônomas, na maioria, sem uma liderança formal, atuando com uma multiplicidade de pautas, e sempre no modo on line, usando como meio de informação as mídias digitais de onde saem suas estratégias de organização.

As novas manifestações começam em espaços fechados, via mídias e terminam nas praças. Enquanto no passado as lideranças se uniam em reuniões arriscadas em espaços anônimos, organizando eventos locais, na atualidade todo o inicio decorre do contato virtual redes sociais. O Povo é convocado através das redes sociais e em pouco tempo, milhares de pessoas formam aglomerados em várias partes do País e até no mundo,no mesmo horário, ou em horários diferentes, mas sempre em torno de um tema comum, o estabelecido pelas mensagens. Os lideres, pessoas, foram substituídos pela internet.

Na atualidade, é ela que dita às regras. As lideranças não precisam ter rosto, a exemplo do Anonymus que mesmo usando a máscara de Guy Fawkes, em uma alusão grupo hacker Anonymous, utilizada no movimento Occupy Wall Streetvai através das mídias e redes, vão propagando suas idéias que são imediatamente aceitas e em pouco tempo, as manifestações estão tomadas por anonymous que passaram a ser conhecido desde o ano de 2008 quando surgiu o movimento que ganhou notoriedade ao declarar guerra contra a seita da cientologia, conseguindo reunir mais de nove mil pessoas. Foi a partir daí que outras reinvidincações vieram e foi se espalhando pelo mundo, passando da Primavera Árabe até o Brasil em 2013.

No entanto o movimento nascido dos anonymous não foi um movimento pacifista, pois além das marchas e tomadas de praça, eles também trouxeram um movimento cibernético feito através de sofisticados programas de computadores que visavam invadir determinados sistemas do governo e assim, tirar os referidos sites do ar. Isso foi feito com bancos e sites públicos e até com organismos internacionais.

Os movimentos surgidos dos Anonymous espalhou-se pelo mundo, atuando na Tunísia, Egito, Estados Unidos, França, Espanha e outros, até chegar ao Brasil em junho de 2013 quando o pais foi tomado por manifestações populares que passaram a se organizar em diversas cidades e capitais do país. As reinvidicações eram das mais diversas, desde saúde e educação, até o grito político de impeachment, de uma presidente.

O concreto é que criou-se no Brasil um novo modelo de movimento a que os sociólogos denominaram de “Novíssimos Movimentos Sociais”. Nele, segundo Santos(2013), citando Melluci (2001,p. 31): “ A ação coletiva de tipo antagonista é uma forma, a qual, pela sua própria existência, com seus próprios modelos de organização e expressão ,transmitem uma mensagem para o resto da sociedade.”

Os formadores desses novíssimos movimentos, não possuem um perfil único, mas multifacetado, como é descrito por Singer:

Foi, portanto, um movimento formado por base majoritária de jovens, complementada por significativo contingente de jovens adultos (aproximadamente de 26 a 39 anos), com pequena inserção de adultos da meia-idade para cima. Somados, os dois blocos principais agregavam cerca de 80% dos que estavam na rua.(SINGER. 2013,p.5).

Corroborando com o dito por Singer, escreveu a revista Veja de 26 de junho de 2013:

Segundo Datafolha, a maioria dos manifestantes tem menos de 25 anos (53%), não tem preferencia partidária (84%), tem nível superior, completo ou incompleto (77%) e se informaram do ato pelo Facebook (85%). Estudantes são 22%, contra 5% na população geral. Em enquete de múltipla escolha, a maioria (56%) aponta o aumento da passagem como motivo para protestar, mas outras causas já se misturam: contra a corrupção (40%), contra a violência/repressão (31%), por um transporte de melhor qualidade (27%) e contra os políticos (24%). Uma minoria defende a tarifa zero, bandeira original do Passe Livre. (OS SETE..., 2013).

Tais estatísticas demonstram as multifaces desse novíssimo movimento, assim demonstram a multiplicidade de reivindicações.

A manifestação digital desde o início tem sido circundada de criticas mais ferozes do que as formadas pelos Movimentos Clássicos ou pelos Novos Movimentos. Sobre elas os jornais descrevem como jovens baderneiros, descentralizados, bagunçados, criminosos e formadores de desobediência civil. Foi assim que a Folha de São Paulo os descreveram em 13/02/2012.

Certo é que a Internet trouxe uma nova modalidade de democracia, a Democracia Digital, ampliando a liberdade de expressão e criando uma pluralidade de caminhos para a propagação das informações, dando voz a indivíduos que antes não podiam ser ouvidos, criando assim novas relações de poder que ultrapassam os descritos na Simbologia do Poder de Bourdieu.

Ocorre, que essa abertura ideológica formada pelos novíssimos movimentos através da internet, que apresenta um acesso quase que global, se considerado aos livros e revistas, transformou as formas de associações, como dito por (GHON, 2014, p.51):

O Brasil também apresenta um quadro do associativismo da sociedade civil bastante diferenciado na atualidade, quando comparado com o que predominou nas décadas de 1980 e 1990. Mudanças no cenário político, com a ascensão de novos grupos ao poder, reformas na gestão das políticas sociais são parte da explicação.

Nesses Novíssimos Movimentos Sociais, observam os expertises que há uma quebra com o marxismo, como dito por Gohn: ”Percebe-se uma negação do marxismo como campo teórico capaz de dar conta da explicação da ação dos indivíduos e, por conseguinte, da ação coletiva da sociedade contemporânea tal como efetivamente ocorre (GOHN, 2007, p. 122).

No entanto, podemos afirmar categoricamente que essas breves mudanças ideológicas não mudaram os habitus, como no dizer de Bourdieu:

O habitus é esse principio gerador e unificador que retraduz as características intrínsecas e relacionais de uma posição em um estilo de vida unívoco, isto é, em um conjunto unívoco de escolhas de pessoas e bens de práticas. (...) Assim, por exemplo, o mesmo comportamento ou o mesmo bem pode parecer distinto para um, pretensioso ou ostentatorio para outro e vulgar para um terceiro. (BOURDIEU, 1996, p. 21. e 22)

Ao dizer de Ghon (2015, p. 14. e 15), na atualidade, os principais movimentos, ou novíssimos movimentos, atuam através de uma agenda emancipatória, atuando em redes e articulando ações coletivas contra a exclusão e lutando pela inclusão social. Possuem uma força sociocultural e política, utilizando como meio de transmissão de conhecimento as redes virtuais viam on line.

As lutas ainda são centralizadas em temas coletivos, como mulheres, estudantes, meio ambiente, afrodescentens, moradia, educação, emprego, gênero, indígenas e os novíssimos movimentos de solidariedade, a exemplo dos movimentos populares em proteção aos portadores de HIV, anemia falciforme, deficientes físicos, etc.

Na atualidade, todo e qualquer movimento, seja ele tradicional, novo ou novíssimos atuam através das redes sociais. Dos mais antigos aos mais atuais, em qualquer forma de estratégia de mobilização, desde os sindicatos com suas burocracias associativas, até os menores dos movimentos usam das redes sociais para sua organização final.

AS REDES SOCIAIS E OS MOVIMENTOS SOCIAIS

A internet é na atualidade a maior aliada da evolução. A democratização das redes sociais, apresentou um novo mundo, onde todos tem as mesmas oportunidades e falam a mesma língua. Não importa se é de paz ou de confronto, tudo passa por um novo habitus, como disse Bourdieu.

As redes sociais formam ativistas e mobilizadores. Impitimam presidentes, como ocorreu com Dilma e os elegem, a exemplo de Obama nos Estados Unidos, e seu sucessor, sem esquecer o mais recente presidente eleito no Brasil.

Essas novas vertentes mostram que a internet, as redes sociais e as mídias sociais, têm feito parte da vida de bilhões de pessoas em todo o mundo. As campanhas eleitorais no Brasil têm, já há algum tempo utilizado das mídias e redes sociais para seu desenvolvimento, no entanto, foi na eleição de 2018 que houve uma expansão surpreendente. Ocorre que a expansão das redes e mídias tem apresentado problemas não previstos, como o uso indevido das mesmas, que levou o Legislativo a ver a necessidade de regulação, o que foi feito através do Marco Civil da Internet representado pela Lei n° 12.965/2014, que regula o uso da Internet apresentando assim princípios, direitos e deveres para o uso das redes. No entanto, não bastou e vieram novos delitos cibernéticos, culminado assim com lei Carolina Dieckmann. a Lei 12.737/12.

Certamente que nas organizações das mobilizações sociais os problemas também existem e tem sido mostrado constantemente nas mídias sociais. A intolerância, a violência, o mal uso das redes, tem sido visivelmente apresentada, construindo um novo formato de confronto, o confronto digital. A trsnformação do quadro de delitos em delitos digitais, apresentou um novo risco, ampliando assim a possibilidade de criminalização dos movimentos sociais, como ocorreu com os Black Blocs, quando ao organizar suas manifestações via on line, concluiu as mobilizações das multidões com atos de violência, depredação e o inevitável confronto com as forças policiais.

Em verdade, o surgimento dos Black Blocs trouxe um misto de alegria e violência, fazendo surgir dúvidas quanto a quem pertencia a violência, se a polícia ou aos manifestantes.

A lição passada foi a de que seria necessário um controle do Estado sobre essa nova modalidade de movimento, que passou não apenas pela criminalização dos movimentos, mas também pelo Marco Civil, ou seja, o controle também do uso das redes e mídias sociais.

CONCLUSÃO

O Uso das redes e mídias sociais como elemento estratégico de mobilização social foi em verdade um reenquadramento de direitos que apresentou ao mundo um novo modelo de confronto. O que se pode extrair dessa nova fase dos Movimentos Sociais, é que as mudanças culturais decorrentes de cada uma das fases que os movimentos tem vivido, não alterou os símbolos mobilizadores, muito menos extraiu de suas essências a necessidade do confronto, como também não impediu a revolução ideológica que se abateu sobre os jovens e adultos do Século XXI.

Os agentes envolvidos não alteraram as formas de mobilização e de confronto político, apenas alteraram as estratégias de trabalho, saindo dos panfletos e das palavras de ordem para o uso direito de contato com os ativistas e simpatizantes, com o uso das redes e mídias sociais. Ao fim, os lideres, anônimos continuam a firmar organizações através de uma associativismo diferenciado, que transformou também a hierarquização constante nos antigos movimentos. Na atualidade, todos são iguais desde que tenham o mesmo objetivo coletivo.

Este movimento tem trazido serias mudanças, como a formação dos Fóruns e a evolução política, como a participação popular, a formação dos conselhos, a ampliação de políticas públicas. Como bem diz Tarrow (2009,p.165): “O fato de poderem recorrer a redes sociais existentes possibilitam mobilizar rapidamente os apoiadores e pressionar o Estado através de instituições estabelecidas.” Isso significa que as redes sociais não só ampliam o campo de informação, mas também de mobilização e de solução dos conflitos, tornando os confrontos menos duradouros e as respostas sociais mais eficazes. Por outro lado, a formação de saberes passadas pelos rápidos círculos de informações podem também rapidamente transformar os habitus e formar um senso comum distorcidos, fabricando ativistas despreparados que facilitará uma ruptura da democracia e uma fadada instabilidade dos Movimentos Sociais e quem sabe até o fim dos mesmos.

Por fim, pode ser dito que a vida útil dos novíssimos movimentos sociais tem sido mais curta do que a dos Movimentos Clássicos e dos Novos Movimentos Sociais face a transformação que vive o mundo, principalmente o Brasil na atualidade, onde uma elite despreparada veste a marca dos Novíssimos Movimentos para dizimar direitos conseguidos a duras penas pelos Movimentos Sociais.

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Sobre a autora
Márcia Margarida N. S. Martins

Mestra em Segurança Publica Justiça e Cidania pela UFBA; Especialista em Processo e Direito do Trabalho pela ESMAT-5; Advogada militante de direito do trabalho e Direitos Humanos. Professora efetiva na UNEB-DCHT XIX-Camaçari ds disicplinas de Direito e Movimentos Sociais, Direitos Penal, Processo Penal e Pratica Jurídica III e IV.

Informações sobre o texto

Este texto foi publicado diretamente pelos autores. Sua divulgação não depende de prévia aprovação pelo conselho editorial do site. Quando selecionados, os textos são divulgados na Revista Jus Navigandi

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