ALGUMAS POUCAS PALAVRAS SOBRE JACKSON DE FIGUEIREDO
Rogério Tadeu Romano
Jackson de Figueiredo foi um místico que acreditava ter sido escolhido para levar a Igreja ao poder, usando a divisa “A ordem é superior à liberdade”. Também se batia por uma arte que, “para ser realmente arte, tem que ser moral, tem que ser católica”.
Jackson de Figueiredo nasceu em Aracaju, a 9 de outubro de 1891, tendo cursado humanidades no Ateneu Sergipense daquela cidade e também no Ginásio Alagoano, em Maceió. Transferiu-se para Salvador onde concluiu a Faculdade de Direito da Bahia, em 1913. Nessa fase de sua existência situa-se no chamado campo dos “livres pensadores” e colabora em diversos jornais. Após diplomar-se, radicou-se no Rio de Janeiro onde se converteu ao catolicismo e conquistou, sucessivamente, uma posição de grande liderança no movimento de renovação católica que então teve lugar no país, impulsionado por d. Sebastião Leme. Fundou e dirigiu o Centro Dom Vital e a Revista A Ordem, conseguindo atrair numeroso grupo de intelectuais, fato sem precedentes na República, a começar por Alceu Amoroso Lima. Sua atuação assegurou à liderança católica presença marcante no plano político, conduzindo-o na direção daquela espécie de conservadorismo que foi denominado tradicionalismo, para distingui-lo do conservadorismo de índole liberal.
Entre 1921 e 1922, fundou o Centro Dom Vital e a revista A Ordem, através dos quais combateu o comunismo, o liberalismo e a revolução de modo geral. A sua proposta era reunir leigos e religiosos que se dedicassem aos estudos da doutrina católica. Foi através de sua obra que o pensamento conservador, tradicionalista ou reacionário foi introduzido no Brasil.
O centro Dom Vital viveu sob a linha ultramontanista, com a finalidade de congregar leigos e religiosos no aprofundamento da doutrina católica e a revista A Ordem, para divulgar a doutrina católica. Através do Centro e da revista, combateu o liberalismo e o comunismo.
Ideólogo e líder da direita católica no Brasil dos anos 20, pregava a autoridade civil, a hierarquia militar e a luta contra a "anarquia" na política, na religião e na arte. Era nacionalista e queria a volta à Idade Média, que considerava época "de paz, equilíbrio e sabedoria".
Jackson se dizia "um humilde soldado da fé" e "escritor que abdicara de seu individualismo intelectual nas mãos amantíssimas da Igreja". Mas, por trás da humildade em mãos amantíssimas, havia um centurião romano, um soldado mongol, que assustava até a alta hierarquia da igreja. Um de seus motes era: "Prefiro, como homem, como caráter, um materialista convicto a um católico de meia-cara".
Ele dizia: “Os meus amigos são minha pequena igreja”.
Considerava-se um apóstolo da lei e da ordem.
Seu proselitismo religioso, empenhado em catolizar a vida intelectual e política, não impediu que sua influência se expandisse além de seus círculo de amigos.
Investiu contra o positivismo e o liberalismo
Colaborador em vários jornais e revistas, como a Gazeta de Notícias e O Jornal, Jackson de Figueiredo produziu, entre outras obras, Afirmações (1921), A Reação do Bom Senso (1922), Literatura Reacionária (1924) e A coluna de Fogo (1925).
Publicou os seguintes livros:
- Xavier Marques - 1913
- Garcia Rosa - 1915
- Algumas Reflexões sobre a Filosofia de Farias Brito - 1916
- A Questão Social na Filosofia de Farias Brito - 1919
- Do Nacionalismo na Hora Presente - 1921
- Afirmações - 1921
- A Reação do Bom Senso - 1921
- Pascal e a Inquietação Moderna - 1924
- Auta de Sousa - 1922
- Literatura Reacionária - 1924
- A Coluna de Fogo - 1924
- Durval de Morais e os Poetas de Nossa Senhora - 1925.
Também colaborou com jornais e revistas, como a Gazeta de Notícias e O Jornal.
Após sua morte, foram publicados o romance Aevum (1932) e parte de sua Correspondência (1946).
É destacado o significado da fundação do Centro Dom Vital e da revista A Ordem no processo de divulgação e centralização do que o autor chama "renovação espiritual": uma autocrítica da situação da Igreja no Brasil que vai resultar numa linha de pensamentos de grande importância na concepção filosófica do integralismo. Jackson de Figueiredo, Padre Leonel Franca e Alceu Amoroso Lima são algumas das figuras centrais desta linha de pensamento. Plínio Salgado considerava Jackson de Figueiredo como o inspirador da concepção filosófica integralista.
Faleceu tragicamente afogado em 1928, durante uma pescaria na Barra da Tijuca (RJ), aos 37 anos, num domingo de sol.
Dramaticamente, antes de sumir na praia da Joatinga, fez o sinal da cruz. Seu delírio, hoje, virou a realidade.
Desequilibrou-se, caiu no mar, debateu-se durante alguns minutos e desapareceu, fazendo antes um aceno de adeus ao filho de 8 anos que, do alto, contemplava aterrado a tragédia. O corpo só apareceria dias depois, numa praia de Maricá. O triste episódio inspirou a Carlos Drummond de Andrade uma "Ode a Jackson de Figueiredo"[
O conde Alfonso Celso disse a propósito de sua morte: “Viveu conforme se finou, debatendo-se contra ondas misteriosas e formidáveis – as ondas procelosas da impiedade; as ondas paludosas da indiferença; as ondas amargas da decepção”.
Deixou duas obras póstumas: Aevum (1932) que significa “o tempo dos anjos”, um romance semi-autobiográfico e Correspondências (1946) que reúne as cartas que escreveu a Alceu entre outros. Sua obra filosófica, propriamente dita, se resume a três livros: Algumas Reflexões Sôbre a Filosofia de Farias Brito (1916), A Questão Social na Filosofia de Farias Brito (1919), e, seu principal livro, Pascal e a Inquietação Moderna (1922).
A plataforma política de Jackson de Figueiredo consistiu em organizar essa elite espiritual que deveria por direito (teo)lógico conduzir a vida nacional. Sua tarefa é expressamente a de criar instituições que formem, a partir do culto da ordem (e da hierarquia e autoridade, seus correlatos), novos quadros capazes de intervir, em nome do catolicismo e em consonância estrita com as diretrizes da Igreja, em todas as dimensões da realidade brasileira. É sintomático que o ateu que professara como única religião a amizade refira-se agora a seu grupo como "minha pequena Igreja", comunidade ecumênica de homens livres para submeter-se à ordem que irradia o mesmo imperativo de submissão em todas as direções. Tal intento se desdobra concretamente na fundação da revista A Ordem em 1921 e do Centro Dom Vital no ano seguinte, instâncias de preparo e divulgação da prédica, de cujo núcleo emergem as ações políticas consideradas mais urgentes a cada momento para aproximar a organização real da sociedade da ordem perdida, de que só se encontra um equivalente histórico numa visão idealizada da tradição brasileira que dá toda ênfase ao papel da religião católica como constitutiva da unidade nacional. As teses de Jackson seguem de perto o pensamento conservador anti-revolucionário europeu que ganha impulso no século XIX (Joseph de Maistre é talvez o autor mais citado por ele) e estará em consonância com os movimentos políticos mais à direita nas primeiras décadas do XX, que reagem contra tudo que for "revolucionário", ou seja, contra a configuração social moderna que destruiu a harmonia perdida. Restaurar a ordem significa então repor a diferença (e a desigualdade) natural entre os homens, o que redunda no reforço das ideias diretrizes de autoridade e hierarquia, evocação de uma nostalgia medievalista não explicitada, mas que alimenta o imaginário social de insumos como o valor da família, da nobreza cavalheiresca, da pequena propriedade, dos ritmos não urbanos de vida, e de uma vida em comunidade, conforme os termos de Francisco Iglesias.
Como acentuou André Stangl(O pensamento de Jackson de Figueiredo) o romantismo niilista de Jackson negava o racionalismo, o paradoxo, o individualismo, o ego, o livre arbítrio. Após a conversão suas posições não mudam, mas a forma de expor seu pensamento muda; abraçando o dogma católico, Jackson continuava negando o egocentrismo de sua época, como diz no prefácio a “Cartas à Gente Nova” (1924), de Nestor Vítor:
“troquei toda veleiadde de construir por mim só ou com ajuda deste ou daquele grande espírito uma filosofia da ação. Preferi ser o humilde soldado que sou da Igreja Católica, e me sinto tão orgulhoso disto como se fora um rei”, como se lê de Alceu Amoroso(Memorando dos 90. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1984).
Jackson de Figueiredo era antimodernista e contra o liberalismo, anti-democrático e hierárquico, converteu-se por pragmatismo, a ciência lhe parecia perigosa e a fé, para ele, não precisava de adornos humanos, a qualidade da moral está na ação e não na justificativa racional da ação. O Comunismo queria paz através da guerra, o Positivismo queria ordem através do progresso, o Catolicismo, para Jackson, deveria lutar (guerra) pela lei (ordem) divina onde a paz seria o supremo progresso. Jackson achava que “o mal-do século” era fruto da pretensão racional e a felicidade só seria encontrada quando a mente descansasse.
Portanto o pensamento de Jackson de Figueiredo transcende a seu tempo, trazendo, no mundo atual, reforço considerável às teses conservadoras.