BAUMAN, Zygmunt. Consumidores na Sociedade Líquido-moderna. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2007.
Zygmunt Bauman nasceu em Poznam na Polônia em 1925, era filho de judeus. Foi sociólogo, Professor e escritor polonês da contemporaneidade. Foi um dos mais influentes observadores da realidade social e política. Bauman, em 1939 escapou das tropas nazistas e se refugiou na União Soviética. Em 1940 ingressou no Partido Operário Unificado e em 1945 entrou para o serviço de inteligência Militar, fatos que certamente influenciaram o autor a escrever várias e renomadas obras dentre elas: “Pensando sociologicamente”, Globalização, Amor líquido, Modernidade Líquida. Teve como influenciadores de suas obras os mestres da universidade de Varsóvia: Julian Hochfel e Stanislaw Ossowski. Criador da expressão “Modernidade Líquida” que retrata a fluidez existente atualmente em um mundo em que os indivíduos não possuem padrões de referência.
A obra sob comento faz parte do capítulo 5 do livro “Vida líquida” de Zigmunt Bauman, tem como título – OS Consumidores na Sociedade Líquida Moderna e está subdividida em três subtítulos: Vida de Consumo, Corpo de consumo e Infância de consumo. O autor inicia com uma abordagem da necessidade da humanidade em consumir produtos em busca de uma satisfação que muitas vezes não é alcançada, pois o mercado de consumo cria um produto novo, causando no ser humano uma insatisfação, um novo desejo de consumir. Produtos adquiridos, rapidamente perdem o valor e a utilidade e desta forma ligeiramente são encaminhados para os lixões.
No subtítulo: Vida de consumo retrata a necessidade permanente da sociedade em consumir novos produtos para a inalcançável satisfação pessoal, no segundo subtítulo – corpo de consumo aborda a tentativa de convencimento aos consumidores, pelo mercado de consumo, com ofertas de produtos milagrosos capazes de resolver todos os tipos de problemas desde estéticos a emocionais. No último subtítulo denominado Infância de consumo apresenta as crianças como um público lucrativo e promissor.
No subtítulo: Vida de Consumo é apresentada a chamada síndrome consumista que, segundo Bauman (2007, p. 110) “consiste na negação enfática da virtude da procrastinação, da adequação e conveniência de retardar a satisfação – os dois pilares axiológicos da sociedade de produtores governada pela síndrome produtivista’’. A síndrome consumista promove a transitoriedade, valorizando mais a novidade do que a permanência. Diante disso, surgem questionamentos: todos os produtos vendidos pela mídia são extremamente benéficos e necessários ao consumidor? E a adesão a estes produtos ocorrem de forma consciente? Esses como tantos outros questionamentos são pertinentes e devem ser pauta de discussão não somente no universo da sala de aula, mas em palestras e em programas midiáticos uma vez que os meios de comunicação influenciam no modo de ser das pessoas.
Objetivando responder essas inquietações é importante a contribuição do sítio Projeto Redação que ao propor a análise da sociedade consumista no século XXI observou “o estímulo ao consumo exacerbado que a mídia realiza, em consonância com a falta de consciência sustentável da maioria da população; que uma vez alienada a adquirir muitos produtos, não avalia os efeitos catastróficos [...] principalmente no que tange ao meio ambiente.
Bauman (2017) amplia este conceito para as relações interpessoais e amorosas expondo a velocidade com que os indivíduos transitam entre o amor e o desapego, neste ponto o referido autor faz referência Phil Hogam e retratando a curta duração dos casamentos e, salientando também, a falta de paciência e tolerância que as pessoas têm umas com as outras que, consequentemente traz fins rápidos e radicais para os relacionamentos, ou seja, além do medo da morte, hoje as pessoas vivem com medo de serem jogadas no mais novo recipiente de lixo criado: o recipiente do lixo dos relacionamentos fracassados. E esta referência não é apenas a relacionamentos amorosos, pois englobam relacionamentos profissionais, familiares, dentre outros. Assim, pessoas consomem pessoas, e quando já não se satisfazem dão a elas o mesmo destino que dão aos objetos – o lixo.
O mais difícil é criar meios que permitam a satisfação das pessoas. Assim, na reflexão de Bauman (2007, p.106) “a sociedade do consumo consegue tornar permanente a satisfação [...] o que começa com necessidade deve terminar como compulsão ou vício’’.
No tópico Infância de Consumo Bauman (2007) faz referência a Barbara Ellen (s.d.) que retrata a sociedade como refém do capitalismo, a qual diariamente usa a mídia como forma de influência nos costumes e valores. Logo, o olhar da sociedade é sobre o que as pessoas possuem, e em meio a toda dinâmica abordada que as crianças a cada dia tornam-se reféns desse mundo consumista e são vistas como principais indivíduos de consumo.
Nos dias atuais, o Brasil adota vários tipos de ferramentas para persuasão infantil, tais como: a TV, o telefone celular, a internet como meio de publicidade entre outros que chamam a atenção das crianças a participarem do mundo adulto, as quais são cada vez mais expostas ao complexo das relações de consumo. Vem corroborar com essa discussão Costa (2017), que observou não somente crianças, mergulhadas no universo midiático, mas jovens, adolescentes e adultos, demonstrando grande preocupação ao perceber que esse público recebe cotidianamente informações tidas como verdades absolutas sem checar o conhecimento obtido que na maioria das vezes deturpa e mascara a realidade causando-lhes extrema influência na maneira de agir, comportar-se e viver em sociedade.
As crianças sendo mais vulneráveis que os adultos sofrem desde cedo com diversas consequências relacionadas aos excessos do consumo, como erotização precoce, obesidade infantil, consumo de álcool, drogas ilícitas, agressividade, entre outras. Deve- se salientar que neste momento tanto o papel da família quanto o da escola são de suma importância para a educação de consumo consciente na vida das crianças, atentando-se para a necessidade de ensiná-las a partir das necessidades de consumo própria de cada faixa etária e não banalizando a infância no que diz respeito ao excesso na aquisição de produtos. Geralmente, os agentes globais estão preocupados com seus lucros, fazendo com que as crianças sejam consumidores em formação, consumidores de hoje e do amanhã, sendo uma influência para as escolhas dos produtos ou serviços.
Muitas vezes, o mundo do consumo entre as crianças se dá nos casos em que os pais não conseguem dedicar tempo suficiente aos filhos e sentem- se culpados, compensando o “tempo perdido” com brinquedos, telefones, vídeo game e incentivando a prática de jogos cibernéticos, ou seja, o autor faz menção à atitude dos pais, que muitas vezes erram ao incentivar os filhos a entrarem no mundo consumerista precocemente, o que poderá levá-los a um fracasso futuro, tornando-os adultos em um ciclo vicioso. Contudo, o autor não menciona a necessidade de estratégias que ajudarão no desenvolvimento e formação das crianças, fazendo com que elas entendam o que podem comprar ou não, educando-as de forma a conscientizá-las do consumo baseado na real necessidade ao invés do modismo.
Na sessão Corpo de Consumo, o estudioso mostra a obsessão pelo padrão de beleza imposto pela mídia que quando não seguido acarreta sofrimento e até mesmo doenças como: a depressão, anorexia, compulsão alimentar, dentre outras. Assim, o padrão de beleza que a mídia apresenta em comerciais de TVs, novelas, filmes mostram uma realidade fictícia fazendo com que as pessoas internalizem um modelo que dita como elas têm que ser, e não como realmente são. Como fato exemplo, todos os dias nas TVs e internet vêem-se comerciais com mulheres lindas, esbeltas, corpos perfeitos fazendo o uso de cremes redutores de gordura, cintas modeladoras, chás ‘milagrosos’’ passando falsas promessas aos telespectadores de que, se consumirem estes produtos ficarão igual ao ‘’ personagem’’ daquele comercial. Diante disto, indaga-se: até que ponto a indústria é capaz de influenciar o modo de vida das pessoas? Até onde as pessoas são capazes de chegar em busca da perfeição de seus corpos?
Bryan Turner (2007) pautado na opinião de Oliver Sarchs (s.d.) explicitou o surgimento de uma sociedade em que todos devem conceber o corpo como algo a ser moldado segundo os padrões estabelecidos pela sociedade. O corpo tornou-se extensão do mercado de consumo, se transformou num fenômeno social. Logo, percebe-se que existe uma verdadeira obsessão pelo corpo perfeito. Partindo dessa realidade, faz-se necessário a adoção medidas como acompanhamentos médicos, psicológicos, palestras que abordem o padrão de beleza e suas consequências, mostrando para a sociedade liquido - moderna que, é assustador como as pessoas reagem ao buscar pela perfeição, e assim contribuir para que minimize a cultura do ‘’lixo humano’’.
No item “corpo que consome’’ o estudioso aborda o consumismo, o qual é concebido como uma forma de suprir nossos desejos e necessidades, até os emocionais por consumo de produto, mas não faz referência àquelas pessoas que não agem assim e que poderiam servir como exemplo para uma postura diferente.
A obra de Bauman (2017) foi de grande riqueza intelectual, já que instiga a reflexão sobre os artifícios utilizados pelas lojas, fábricas e mídias para convencer os consumidores a comprarem cada vez mais fazendo com que estes entrem em um ciclo vicioso, porém não fala como deve ser o posicionamento dos leitores que buscam resistir às tentações e aos argumentos cada vez mais convincentes expostos nos meios de comunicações. Leva-nos a refletir sobre a aquisição, de produtos de curta duração sem que sejam consideradas questões relevantes como a real necessidade deles e o prejuízo que estes causam a economia doméstica.
Diante disso, merece também destaque o papel das famílias e do Estado no tocante à proteção das crianças, embora não possa deixar de ser mencionados ainda os adolescentes e os adultos no que tange o consumo consciente.
Palavras Chaves: Consumo; Sociedade; Infância; Corpo de consumo.
REFERÊNCIAS
BAUMAN, Zygmund. Vida líquida. Org. MEDEIROS, Carlos Alberto. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2017.
COSTA, Amanda Denise da. Influência da mídia do cotidiano, 2017.Disponível<http://decom.ufsm.br/redajor1/2017/07/04/influencia-da-midia-do-cotidiano/>. Acesso em: 14 set. 2019.
IMPACTOS DO CONSUMISMO NO SÉCULO XXI, 2019. Disponível em: https://www.projetoredacao.com.br/temas-de-redacao/consumo-consciente-como-minimizar-o-impacto-do-nosso-consumo-no-planeta/impactos-do-consumismo-no-seculo-xxi/563m0g9upm