INTRODUÇÃO
É evidente o crescimento da extrema-direita no mundo, na Polônia, o PiS, partido de extrema direita e maioria esmagadora em toda a política nacional [1], por sua vez, propôs à sociedade polonesa a defesa de valores cristãos. Em consequência disso, impedimentos como a proibição do aborto mesmo em casos de má formação do bebê, restrição ao uso da pílula do dia seguinte e corte nos subsídios para programas sociais vem se tornando realidade no atual cenário político polonês.
Além dos fatos destacados, a Europa enfrenta hoje o aumento no número de refugiados sírios, o que fez surgir na Polônia, a mobilização contra as políticas de imigração impostas pela União Europeia, sendo assim, é comum movimentos de extrema direita organizarem marchas para defesa de seus ideais e para dar suporte ao atual Governo.
No Brasil, o que ocorre é semelhante, por ter a maior parte de sua população cristã, o PSL, partido pelo qual o Presidente da República foi eleito, que é majoritário no País, utilizou-se da defesa da família tradicional brasileira e dos bons costumes na eleição do ano de 2018. Além disso, assim como na Polônia, o Brasil passa por um momento de manifestações, porém, pedindo Intervenção Militar, e a implantação, mais uma vez, da ditadura que aqui perdurou por mais de vinte anos.
Porém, cada país tem a sua peculiaridade, e é imprescindível destacar e exemplificar os contextos históricos vividos em cada país, que talvez possam ser utilizados para elucidar o porquê do apoio ao extremismo.
I – Contexto histórico – Ditadura militar no Brasil apoiada pelos EUA
O ano era 1964, o mundo passava por um período extremamente delicado, tensões entre os Estados Unidos da América e a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas aumentavam cada vez mais na Guerra Fria, sobretudo após a vitória das forças revolucionárias de Fidel Castro na Revolução Cubana [3], apoiadas pela União Soviética, e também pelo descobrimento de misseis nucleares na ilha caribenha por espiões americanos. Na América Latina, a empatia com o socialismo aumentava, e de maneira consequente, incomodava os norte-americanos.
O medo com o possível surgimento de novas “cubas” ocasionou no apoio norte-americano a ditaduras militares realizadas no continente Sul-Americano entre os anos de 1960 e 1980. No Brasil, João Goulart ocupava o cargo de Presidente da República, quando em 31 de março de 1964, ocorre o golpe militar no Brasil [4], apoiado pelos EUA com a arguição de que existia uma possível ameaça comunista no País. Então, em 15 de abril de 1964, o General Castelo Branco toma posse da Presidência da República, dando início ao período ditatorial conhecido como Ato Institucional 1, conhecido como AI-5, que foi a primeira das cinco fases da ditadura, deste modo, após o AI-1, foram implantados, respectivamente o AI-2, AI-3, AI-4, e o AI-5.
Durante todo o período ditatorial, houveram diversos exílios de artistas e de pessoas que se opuseram, ou que tinham ideais contrários aos dos governos militares [5], repressões aos meios de comunicação, tortura e morte de jornalistas e coações aos movimentos estudantis. Outrossim, não existia democracia, os Presidentes eram escolhidos através de eleições indiretas, além do fim do multipartidarismo, assim, o Brasil adotava, como os EUA, o bipartidarismo.
Porém, o período ditatorial, após vinte e um anos, chegou ao fim, em 15 de março de 1985, após intensas manifestações e com a vitória de Tancredo Neves nas eleições para Presidente da República, colocando fim em um dos piores momentos da história do Brasil. Três anos após o retorno da democracia, foi criada uma nova Constituição, que vigora até os dias atuais, onde são pregados princípios como a dignidade da pessoa humana, isonomia e outros direitos e garantias fundamentais criados para que o Brasil não passe por isso outra vez.
II – Contexto histórico – invasão da URSS na Polônia
Em setembro de 1939, durante a Segunda Guerra Mundial, a União Soviética, move tropas do exército vermelho e ocupa o leste da Polônia, dias após o oeste polonês ser ocupado por tropas de Hitler, e a partir desse período começava um dos piores momentos da história da Polônia moderna, a ocupação soviética. Após o fim da Segunda Guerra Mundial, a União Soviética anexou toda a área territorial da Polônia e de outros países a URSS, dando início a Cortina de Ferro, nome utilizado para designar a Europa em duas partes no pós-segunda guerra, Europa Oriental (países de domínio da URSS), e Europa Ocidental (países que constituíam a OTAN).
Com isso, a Polônia sofreu durante anos um regime de repressão socialista [6], que, instituiu a nacionalização de empresas, repressão a pessoas que discordavam do governo e fraudes eleitorais, com a tentativa de simular uma possível democracia. Nas escolas, crianças polonesas eram obrigadas a aprender russo e o ensino religioso foi retirado, além do racionamento, que limitava o quanto os poloneses poderiam comer. Além disso, uma grave crise econômica assolou a Polônia durante os anos 80, e diante dos protestos e da resistência das forças de oposição, foi declarada a lei marcial na Polônia e o toque de recolher.
Porém, em 1989, com a queda do muro de Berlim e o fim da cortina de ferro, o domínio Russo na Polônia, por fim, acaba. Em resultado disso, um ano após o fim da cortina de ferro, ocorre a primeira eleição por sufrágio universal na história moderna da Polônia, criando assim, um governo democrático, mudando de forma total o rumo do País.
III – Comparação entre o Brasil e a Polônia no cenário atual
Conforme é descrito nos textos acima, Brasil e Polônia são países que, apesar de estarem muito longe um do outro, tem muitas coisas em comum. Assim como o Brasil, a Polônia também passou por um momento de repressão, a única diferença foram os países que apoiaram e o sistema político vivenciado por cada país em sua época ditatorial e antidemocrática. Entretanto, no cenário atual, apesar de ambos os países estarem sob governo de direita, o contexto histórico mostra que a repressão ocorrida na Polônia teve muito mais impacto para o povo polonês, do que a ditadura ocorrida no Brasil para o povo brasileiro.
Nos dias atuais, o Governo da Polônia é de extrema direita e é apoiado pela maioria esmagadora do povo [7], que em sua maior parte é composta por cristãos católicos, que, pregam o antissemitismo, xenofobia e a homofobia, onde o governo limita programas sociais e suprime o direito das minorias, com a justificativa estarem defendendo a família e os ideais cristãos.
No caso do Brasil, é muito similar ao da Polônia, a maioria dos políticos presentes no cenário atual é de extrema direita, em um país onde a maioria da população também é representada por cristãos, que muitas das vezes pregam a intervenção militar no País [8]. A famosa bancada evangélica na Câmara dos Deputados, corresponde a um grupo de parlamentares que defende os ideais cristãos a qualquer custo, com o apoio da maior parte das pessoas, incluindo jovens.
Entretanto, observando o contexto histórico e atual dos dois países, apesar de estarem em situações totalmente similares, a conjuntura atual nos mostra um caminho oposto tomado por Polônia e Brasil.
A Polônia, que sofreu durante anos com uma ditadura de cunho socialista, carrega um enorme “trauma da revolução comunista”, e tenta, de todas as formas, retirar qualquer ideal ligado ao socialismo ou a extrema esquerda do seu país [9], tal fato explica a maioria esmagadora de apoiadores da extrema direita, todo esse conjunto é entendível pelo simples fato de tudo que os poloneses vivenciaram no passado.
Todavia, o Brasil vivenciou durante anos, um período de repressão, antidemocrático e de torturas, provocado pela extrema direita e apoiado pelos EUA por um possível “golpe comunista” no País, golpe esse, que nunca existiu e foi utilizado como “desculpa” para a implantação de uma ditadura militar. Portanto, mesmo com tudo o que o povo brasileiro sofreu, crises econômicas, escândalos de corrupção e exílios, ainda sim, o brasileiro continua a apoiar esse período.
CONCLUSÃO
O momento vivenciado por Brasil e Polônia é semelhante, ambos países tem governos de direita, onde a população é majoritariamente cristã e vive com o medo de uma possível ameaça que poderá colocar em risco os costumes cristãos e da família tradicional. Todavia, cabe destacar a diferença histórica vivenciada entre os dois países, onde a Polônia vivenciou um regime ditatorial de esquerda, com ideais socialistas e com sua integração á URSS, já o Brasil vivenciou um regime ditatorial de direita, apoiado pelos EUA, com ideais capitalistas.
Portanto, é totalmente compreensível o trauma que os poloneses ainda carregam de uma época onde sofreram com a fome, repressão e a recessão, e hoje tentam, a qualquer custo, proteger o seu País de pessoas que para eles podem possivelmente causar danos e levar, mais uma vez, a Polônia ao abismo.
Contudo, a situação no atual cenário político e social brasileiro não é passível de entendimento, pois, embora todos os anos de ditadura presenciados no Brasil, até os dias de hoje, pessoas defendem a volta dos militares e clamam por intervenção militar, que matou, torturou e reprimiu milhares de brasileiros. Assim sendo, resta claro que os erros do passado não conseguiram atingir o futuro, e com isso, estamos condenados a errar outra vez.
REFERÊNCIAS
[1]https://oglobo.globo.com/mundo/direita-ultraconservadora-vence-eleicoes-na-polonia-17875967
[3] SILVA, Daniel Neves. "Revolução Cubana"; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/historiag/revolucao-cubana.htm
[4] SILVA, Daniel Neves. "Ditadura Militar no Brasil"; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/historiab/ditadura-militar.htm.
[5] SOUSA, Rainer Gonçalves. "General Medici"; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/historiab/general-medici.htm.
[6] https://www.mises.org.br/Article.aspx?id=3030
[7] https://brasil.elpais.com/brasil/2018/07/07/internacional/1530989514_090493.html