Uma abordagem da brevidade da vida na obra odes, de Ricardo Reis

20/05/2020 às 21:23

Resumo:


  • O poeta Ricardo Reis, heterônimo de Fernando Pessoa, aborda a brevidade da vida e a importância de vivê-la plenamente, aproveitando cada momento sem se prender a sofrimentos ou preocupações desnecessárias.

  • Reis utiliza a metáfora do rio que corre para o mar para ilustrar o fluxo inexorável da vida em direção à morte, aconselhando a desfrutar da existência com tranquilidade e sem excessos emocionais.

  • A obra "Odes de Ricardo Reis" reflete sobre a transitoriedade da vida e a aceitação do destino, promovendo um estilo de vida epicurista de prazer moderado e uma visão estoica de aceitação do inevitável.

Resumo criado por JUSTICIA, o assistente de inteligência artificial do Jus.

Este artigo tem como objetivo analisar a brevidade da vida na obra Odes de Ricardo Reis, poeta neoclássico, criado por Fernando Pessoa. O poema analisado é "Vem sentar-te comigo, Lídia, à beira do rio", no qual o sujeito vive um romance com Lídia.

RESUMO: Este artigo tem como objetivo analisar a brevidade da vida na obra Odes de Ricardo Reis, poeta neoclássico, criado por Fernando Pessoa, em uma data não bem definida, numa carta à Adolfo Casais Monteiro, o heterônimo foi criado em 1912, em outro momento, Fernando afirma que o mesmo nasceu dentro de sua alma em 1914, quando se deu conta, já estava vivenciando o Ricardo Reis.  Sabemos que a vida para se viver não é tão fácil, mas para Reis, ela pode sim ser fácil, mas para isso, devemos buscar viver a vida da melhor forma possível, pois ela é breve, logo passa, então para aproveitar essa brevidade, é necessário que aproveitemos cada momento como se fosse o último, curtir as coisas boas e se omitir daquilo que nos causa sofrimento, dores, desilusões. Para isso, devemos ser uma pessoa disciplinada, como é o eu lírico do poema analisado na obra de Reis. O poema analisado é "Vem sentar-te comigo, Lídia, à beira do rio", no qual o sujeito vive um romance com Lídia, uma pastora que está vivenciando um momento de gozo com o eu lírico. Tendo em vista, que o mesmo deixa claro, que enlacem as mãos para ver o correr do rio, mas que este enlaçamento não seja para sempre, logo devem-se soltar-se as mãos, pois a vida é como o rio que corre para o mar, sem regresso. Da mesma forma é a vida que passa depressa e logo chega a morte, a qual nem os deuses escapam dela.

Palavras-Chave: vida, brevidade, viver, eu lírico.

Introdução

O poeta Ricardo Reis, considerado como neoclássico surgiu antes dos outros heterônimos criados por Fernando Pessoa, segundo ele, foi por volta de 1912, em uma carta à Adolfo Casais Monteiro, que veio a ideia de escrever alguns poemas de inclinação pagã, mas Pessoa deixou de lado esse heterônimo. Só que quando se deu conta já estava se vendo como Reis. “Tinha nascido, sem que soubesse, o Ricardo Reis”, afirma Pessoa.

        Pessoa apresentou datas distintas com relação ao nascimento de Reis. O mesmo alega que Dr. Ricardo Reis nasceu dentro de sua alma no dia 29 de janeiro de 1914, mais ou menos pelas 23 horas da noite. Tendo em vista que sem se dá conta do que estava acontecendo, deixando-se levar por seus sentimentos, sentindo as coisas sem se sentir, foi se deleitando nessa reação momentânea, quando parou para pensar no que estava pensando, percebeu que tinha criado uma teoria que seria considerada como neoclássica e cada vez mais ia se desenvolvendo em princípios que ele nem gostava, nem aceitava.

         Na biografia de Ricardo Reis, Pessoa apresenta disseção com relação ao lugar de nascimento de Reis, situa o seu nascimento em 19 de setembro de 1887, em Lisboa, às 16:05 horas  da tarde, já na carta à Adolfo Casais, a cidade natal do heterônimo muda de Lisboa para o Porto.

          Na carta que ele escreveu pra Monteiro, assegura que “colocou toda a disciplina mental, coberta da música de que lhe é própria” e mais, Ricardo tem outra disciplina diferente: “as coisas devem ser sentidas não só como são, mas integramente dentro de um ideal de medida e regras clássicas”.

          Poeta disciplinado que consegue mandar e/ou controlar seus pensamentos e emoções, característica esta, que é totalmente o contrário de Pessoa. Com esta disciplinaridade, Reis consegue viver no mundo mantendo a tranquilidade, a qual é uma característica marcante para o  heterônimo. O mesmo aceita o destino como se tudo fosse assim mesmo, coisas que passam em nossas vidas que não irão mais voltar, o que passou, passou, e o que tem que viver é o momento presente, sem ansiedade esperar pelo amanhã, não alimentar esperanças que não sabemos se irão ser vivenciadas ou não.

 Reis com essa maneira de viver no mundo consegue manter o equilíbrio, um fator que é muito valorizado pelos poetas neoclássicos do século XVIII, por isso, que ele consegue viver em conciliação consigo mesmo e com o mundo, coisa que Fernando Pessoa jamais conseguiu.

Fundamentação teórica

          Para Ricardo Reis, viver o momento presente, o chamado carpe diem (aproveite o dia), não é esse momento presente, não, o hoje. Mas sim, viver o momento que está passando na vida da pessoa. Viver um prazer equilibrado, puro e duradouro, aproveitar vagarosamente com prazer, tendo consciência da transitoriedade das coisas, de que a morte está sempre por perto das pessoas que nos cercam. Vejamos nesse poema fragmentado subsequente, essa afirmação:

        Tão cedo passa tudo quanto passa!

        Morre tão jovem ante os deuses quanto

        Morre! Tudo é tão pouco!

        Nada se sabe, tudo se imagina.

Essa estrofe nos mostra o desconsolo do poeta mediante os mistérios da vida e da morte, mas por se achar tão instruído foge do sofrimento buscando constantemente o prazer equilibrado e tranquilo. Reis se aprofunda tanto nesses sentimentos que prejudica suas relações amorosas como com Lídia, Neera ou Cloe, suas principais musas. O medo de sofrer faz com que não permita que nenhum sentimento venha lhe causar tristezas ou desassossego, como mostra nesse poema a seguir:
Análise do poema "Vem sentar-te comigo, Lídia, à beira do rio"

Vem sentar-te comigo Lídia, à beira do rio.

Sossegadamente fitemos o seu curso e aprendamos

Que a vida passa, e não estamos de mãos enlaçadas.

(Enlacemos as mãos.)

Depois pensemos, crianças adultas, que a vida

Passa e não fica, nada deixa e nunca regressa,

Vai para um mar muito longe, para ao pé do Fado,

Mais longe que os deuses.

Desenlacemos as mãos, porque não vale a pena cansarmo-nos.

Quer gozemos, quer não gozemos, passamos como o rio.

Mais vale saber passar silenciosamente

E sem desassossegos grandes.

Sem amores, nem ódios, nem paixões que levantam a voz,

Nem invejas que dão movimento demais aos olhos,

Nem cuidados, porque se os tivesse o rio sempre correria,

E sempre iria ter ao mar.

Amemo-nos tranquilamente, pensando que podíamos,

Se quiséssemos, trocar beijos e abraços e carícias,

Mas que mais vale estarmos sentados ao pé um do outro

Ouvindo correr o rio e vendo-o.

Colhamos flores, pega tu nelas e deixa-as

No colo, e que o seu perfume suavize o momento -

Este momento em que sossegadamente não cremos em nada,

Pagãos inocentes da decadência.

Ao menos, se for sombra antes, lembrar-te-ás de mim depois

Sem que a minha lembrança te arda ou te fira ou te mova,

Porque nunca enlaçamos as mãos, nem nos beijamos

Nem fomos mais do que crianças.

E se antes do que eu levares o óbolo ao barqueiro sombrio*,

Eu nada terei que sofrer ao lembrar-me de ti.

Ser-me-ás suave à memória lembrando-te assim - à beira-rio,

Pagã triste e com flores no regaço.

          Este é o mais conhecido poema de Ricardo Reis, pois é o que melhor sintetiza sua vivência no mundo. Quando ele metaforicamente diz que a vida é um rio, reforça a temática recorrente, tendo a brevidade da vida e/ou do tempo, afirmando que a vida humana é miserável, não tendo saída de fato. A única saída existente é contemplar e renunciar a vida, negando-se ao sofrimento.

           Percebemos que na 1ª e 2ª estrofes, há um desejo pelo prazer de desfrutar o momento presente,  podemos observar também a aceitação das leis do destino. Vejamos:


1ª estrofe: 



Vem sentar-te comigo, Lídia, à beira do rio.

Sossegadamente fitemos o seu curso e aprendamos

Que a vida passa, e não estamos de mãos enlaçadas.

(Enlacemos as mãos.)


           Nessa primeira estrofe, percebe-se que o sujeito poético está buscando uma felicidade, e ela é relativa, tendo em vista, que só é encontrada na natureza e nas simples coisas, levando-se, portanto, ao epicurismo (materialismo). As expressões “beira do rio” e “sossegadamente diremos que o seu caminho” conduzem-nos ao áurea mediocritas e ao carpe diem horacianos, concernente, referindo-se à vontade de querer aproveitar o momento, mas, para isso ocorrer, só será possível mediante à natureza, observando o rio correr. Na expressão “que a vida passa”, o eu lírico convida sua amada e pastora Lídia a sentar-se com ele para apreciar o desenrolar-se da vida, metaforizando o correr do rio como o decorrer da vida. E neste último verso dessa primeira estrofe, o mesmo propõe a sua amada  que  se amem ali mesmo, em meio a natureza, enquanto podem viver aquele momento tão prazeroso, sem pensar no amanhã.

2ª estrofe:

 

Depois pensemos, crianças adultas, que a vida

Passa e não fica, nada deixa e nunca regressa,

Vai para um mar muito longe, para ao pé do Fado,

Mais longe que os deuses.

           Nessa segunda estrofe, percebemos claramente a importância que o pensamento tem para o sujeito poético logo no primeiro verso. É possível perceber, também, um certo fatalismo, em que ele diz que “a vida” passa e não fica, nada deixa e nunca volta”, ficando implícito que o fluxo da vida é sem volta, e assim como o rio segue seu fluxo a caminho do mar, a vida em direção à morte. No fim do terceiro verso a palavra “Fado”, remete-nos ao destino, do qual nem os deuses escapam. Por um instante, cheguei a pensar e/ou questionar que essa morte que o eu lírico fala no poema, seria a morte sentimental, isto é, o amor que pode terminar e causar sofrimento, uma paixão, enfim, os sentimentos amorosos que passa na vida do ser humano, mas ao ler essa segunda estrofe desse poema, percebemos que a morte citada é a morte física, que todos nós passaremos por ela, até mesmo os deuses não escapam dela.

3ª estrofe 


Desenlacemos as mãos, porque não vale a pena cansarmo-nos.

Quer gozemos, quer não gozemos, passamos como o rio.

Mais vale saber passar silenciosamente

E sem desassossegos grandes.

         Entendemos que neste primeiro verso, o eu lírico propõe a Lídia que desenlacem as mãos, ou seja, que não se amem, pois acredita que não vale à pena se casarem, tendo em vista que o fim será sempre a morte – remete-nos, assim, ao estoicismo, em que nada vale à pena a não ser a aceitação das leis do destino. De que adianta, se casar, se apegar as coisas, constituir família, plantar uma árvore nesta vida, se vamos deixar tudo aqui, nada do que construímos podemos levar para onde formos, se nem isso sabemos!. Observa-se, ainda, nesses versos, que o sujeito lírico pretende afastar-se de tudo que possa lhe causar dor e sofrimento, demonstrando, assim, o epicurismo. Ou melhor, apenas viver pelo prazer físico, namorar e não gostar, não amar para não se machucar e nem machucar o outro, mas, como viver assim, sem machucar o outro, isolar-se de tudo e de todos! Somos cientes que o sentimento não é algo que se escolhe, e sim que acontece! Qual é a pessoa que vai querer viver com outra sem existir sentimentos? Ou saber que o sentimento existe, mas não pode deixar se aprofundar, porque não pode se apaixonar, não pode amar, para não sofrer, nem causar sofrimento ao outro. Isso não acontece em nossa realidade.

         Conseguimos controlar nossos sentimentos!? Será que o eu lírico era feliz, optando por esse tipo de vivência? Será que ele não amava Lídia?, mas para não lhe causar sofrimento, preferiu sofrer, sem expor suas dores de amor à fazer a amada sofrer. Trazendo esse tipo de vivência para nossa realidade, o ser humano não consegue viver uma vida tranquila, quando está cheio de problemas, pode até omitir para a sociedade, mas, em meio aos mais íntimos acaba expondo o que sente, ou pensar diante das dificuldades, dos amores não correspondidos. Muitas vezes solta seu estresse, raiva, ou rancor nas pessoas mais próximas, sem as mesmas merecem ouvir e/ou suportar coisas desagradáveis sem ter culpa, mas, somos cientes que isso é natural do ser humano.

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        A culpa é sempre do outro. Nunca paramos pra pensar que nossos problemas, somos nós mesmos que os provocamos. Querendo ser forte, resistente para não mostrar que no fundo, no fundo de seu coração estava só o pó, com o pensamento de que iria morrer, com a visão de que a vida é breve, e não queria deixar pessoas vivendo em amarguras, por ter partido para onde não se sabe, a única coisa que tinha certeza, é que seria uma ida sem volta, pode ser que o “eu lírico”, evitando demostrar seus lamentos, quisesse que sua amada Lídia, fizesse o mesmo que ele, sem precisar amar, apenas curtir a vida, enquanto está jovem, saudável, tendo a certeza que o que estivessem vivendo iria ser interrompido pela “morte”.

         Enquanto para Ricardo Reis a vida é breve,  para Sêneca (2007), a vida é breve para os homens que são ocupados demais, e não tem tempo para a meditação, para cuidar deles mesmos, não se contemplam, quando se dão conta disso, a vida já tem passado, já estão velhos, ou seja, maioria dos seres humanos, querem aproveitar a vida quando já não podem mais, daí vem as lamentações que a vida passa muito rápido, não aproveitou nada, só trabalhou, estudou, perdeu tempo com coisas que não valeu a pena, enquanto, poderia ter vivenciado uma vida diferente, melhor, como afirma (SÊNECA, 2007, p. 26)

Não temos exatamente uma vida curta, mas desperdiçamos uma grande parte dela. A vida, se bem empregada, é suficientemente longa e nos foi dada com muita generosidade para a realização de grandes tarefas. (...) Desse modo, não temos uma vida breve, mas fazemos com que seja assim. Não somos privados, mas pródigos de vida. Como grandes riquezas, quando chegam às mãos de um mau administrador, em um curto espaço de tempo, se dissipam, mas, se modestas e confiadas a um bom guardião, aumentam com o tempo, assim a existência se prolonga por um largo período para o que sabe dela usufruir. (SÊNECA, 2007, p. 26)

         Comungo do pensamento de Sêneca quando esse diz, pois que a vida quando não é bem aproveitada, principalmente momentos em família, envelhecemos antes mesmos de percebermos, pois só nos preocupamos com os problemas, com a disputa do dia a dia, deixamos de viver o melhor que muitas vezes a vida nos propõe, dizemos não ter  tempo, para gozar a vida e com isso, a vida passa e nada gozamos dela, só nos resta quando não podemos mais aproveitá-la, à reclamação. Reclamação essa, que formos nós mesmos que fizemos por onde ela ser gerada.

        Essa é a temática trabalhada nesta obra poetica “ODES DE RICARDO REIS”, obra  composta de forma complexa e variável, por poema lírico, a ode tem como característica tom elevado e perfeição tratando - se de determinado assunto.

  A tranqüilidade conduzida por Reis se dá por uma atitude ante a vida e o destino que pode resumir o heterônimo mais altivo de Fernando Pessoa. Como viver, ou passar pela vida, está no centro de sua obra poética. Aceitação tranquila do destino, assegurar que a vida é passageira, o tempo  passa e leva consigo a permanência: “fomos, já não somos; somos, já não fomos”. Podemos ver essa colocação:

Nada, senão o instante, me conhece.

Minha mesma lembrança é nada, e sinto

Que quem sou e quem fui

São sonhos diferentes (PESSOA, s. d., p. 133).

          Firme no agora, o presenteísmo faz com que o poeta não faça planos para o futuro, não dá espaço à morte e ao fim, nem se prende a lembranças do passado. O que passou é de outro que não eu. Resta-lhe o destino, o Fado, superior a ele e aos próprios deuses, com quem conversa, pedindo que dele não se lembrem, ou seja, o poeta omite momentos em sua vida para não sentir o sofrimento lhes desgastando por dentro.

Quero dos deuses só que me não lembrem.

Serei livre — sem dita nem desdita,

Como o vento que é a vida

Do ar que não é nada.

O ódio e o amor iguais nos buscam; ambos,

Cada um com seu modo, nos oprimem.

A quem deuses concedem

Nada, tem liberdade (PESSOA, s. d., p. 147).

       Ricardo Reis busca caminhar pelo amor e o ódio com a certeza de que não quer sofrer em meio a ambos, através da calma passa pela vida sem se entregar aos sentimentos. Essa é a sua liberdade, apesar de considerar o que é certo que “só na ilusão da liberdade/ A liberdade existe” (PESSOA, s. d., p. 107).

        Poderíamos interpretar os versos e completá-los sem causar prejuízo ao poeta: só no mundo imaginário do ser humano, a tranquilidade existe quando se ama ou odeia. Porque, por dentrás da tranquilidade buscada esconde-se uma inquietude, um faz de conta, um não querer sofrer, por isso, Sêneca (2007), alega que como não sabemos quando a morte vai cegar, então, precisamos cuidar da vida, pois ela com o passar do tempo, vai mostrando os sinais de que a morte está próxima, enquanto ela (morte) não chega, devemos cuidar, aproveitar cada momento como se fosse o ultimo. [...] “quem organiza todos os dias como se fosse o ultimo não deseja, nem teme o amanhã” (SÊNECA, 2007, p. 43), podemos ver essa confirmação nesta citação:

“Do mesmo modo que uma conversa, uma leitura ou qualquer reflexão maior desvia a atenção do viajante, que, de repente, se vê chegando ao seu destino sem perceber que dele se aproximava, assim é o caminho da vida, incessante e muito rápido, que, dormindo ou acordados, fazemos com um mesmo passo e que, aos ocupados, não é evidente, exceto quando chega ao fim” (SÊNECA, 2007, p. 47).

         O autor quer nos mostrar com essa colocação que a vida por si só já é breve, e por não sabermos lidar com o que acontece com ela muitas das vezes, desperdiçamos esse pouco tempo que temos, com coisas que não valem a pena, como por exemplo, amar sem ser amado, correr a vida toda por uma melhor posição social, quando na verdade, quanto mais se tem, mais se quer. Quando se dá conta dos erros cometidos, já é tarde demais, a vida já tem passado e não temos aproveitado  as coisas boas da vida.

Metodologia

         Nesta pesquisa, analisamos como “Ricardo Reis”, um dos  heterônimo de Fernando Pessoa, aborda a brevidade da vida na sua obra Odes, escolhendo como base para esta analise, o poema "Vem sentar-te comigo, Lídia, à beira do rio” que encontra-se no livro "Odes de Ricardo Reis: obra poetica III.  Fernando Pessoa; (Notas de Jane Tutikian.)  Porto Alegre: L&PM, 2006. A partir da leitura deste livro foi feita uma análise, a qual identificamos alguns pontos fundamentais em relação a  obra, com relação a vida, cujos acontecimentos, são totalmente é passageira.

           Ao realizar-se a leitura desta obra, percebemos que o eu lírico busca “viver uma vida” com tranquilidade, se omitindo dos problemas, como evitar se apaixonar, se casar, para não sofrer, nem fazer as outras pessoas sofrerem, tendo em vista que  a morte logo chega.

           Através dessa análise percebemos que são várias às maneiras como o sujeito lírico quer aproveitar a vida, dentre elas podemos observar que ele busca namorar contemplando a natureza, por ela ser tão natural, assim pode ser o amor em meio a mesma, para tornar esse momento de gozo inesquecível, podemos ver também, o não querer casar para não causar sofrimento a esposa e a ele mesmo, pois logo a morte chega e um dos dois vai ficar em prantos, sofrimento, então, para evitar esses desgostos, prefere amar, sem enlaçar as mãos etc.

Buscando fazer uma comparação entre a brevidade da vida para Ricardo Reis e Sêneca(2007), podemos perceber que, enquanto para Reis a vida é breve, logo vem a morte e, com isso, tem que se omitir dos problemas para se ter o gozo da vida, para Sêneca, a vida é breve para aqueles que não sabem aproveitá-la, pois o ser humano na correria do dia a dia, esquece de viver a vida, quando se dá conta, já está na velhice, a qual, já não se pode mais gozar da mesma, então, com isso, vêm as reclamações, que a vida passa muito rápido, não aproveitou nada. Sêneca deixa claro que podemos fazer com que a vida seja longa, isto é, fazendo com que ela dure mais com relação a gozar mais dela, curtir mais, é buscando fazer da mesma a arte do uso, ou seja, temos que viver uma vida procurando driblar as dificuldades, fazendo dessas a arte de viver.

Considerações finais

           Concluímos que para viver uma vida com longevidade podemos buscar praticar o que Sêneca (2007), disse, que é viver cada dia intensamente como se fosse o último dia de nossa vida, pois, enquanto a morte não chega, temos que curtir, gozar a alegria, o amor, a harmonia, porque a morte é uma fatalidade certa, que todos nós passaremos por ela, como diz Reis (2006), “nem os deuses escapam.” Então, façamos de nossas vidas, das nossas dificuldades uma arte, ou melhor, a arte de viver a vida, como alega Sêneca (2007): “A vida pode até ser breve, mas o que a prolonga é a arte do seu uso”, tendo em vista que falar é fácil, difícil é colocar isso na prática, mas, vamos tentar, pois sem o experimento, é que temos a certeza que não conseguiremos nunca.

         Vamos buscar a viver a vida como Reis e Sêneca, quem sabe assim, seremos mais felizes, viveremos mais longevidade, parar um pouco de nos preocuparmos com os outros, com o dinheiro, com posições sociais e buscar o que realmente nos apraz.

Para o eu lírico a vida é como um rio que corre para o mar, sem volta, ou seja, assim como o rio corre para o mar, sem volta, nossa vida corre para a morte da mesma forma. Jamais voltamos no tempo, portanto, nos enlaçamos as mãos, mas, sabemos enlaçá-las, quando for o memento de desenlaçá-las, desenlaçamos, assim, evitamos passarmos pelo sofrimento e dores. “Tristeza e dor” nunca mais, procurando viver assim, longevidade e gozo teremos até que a morte se aproxime, nos levando com ela, para onde, isso não sabemos!

REFERÊNCIAS

Odes de Ricardo Reis: obra poetica III. Fernando Pessoa; (Notas de Jane Tutikian.)  Porto Alegre: L&PM, 2006.

PESSOA, Fernando. Obras em prosa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1986.

SÊNECA, L. A. As relações humanas – a amizade, os livros, a filosofia, o sábio e a atitude perante a morte. São Paulo: Landy, 2002.

http://www.fpessoa.com.ar/heteronimos.

Fonte: http://www.doseliteraria.com.br

Sobre o autor
Informações sobre o texto

Este texto foi publicado diretamente pelos autores. Sua divulgação não depende de prévia aprovação pelo conselho editorial do site. Quando selecionados, os textos são divulgados na Revista Jus Navigandi

Mais informações

Escrevi esse Artigo como trabalho de uma Disciplina de Literatura na Universidade Estadual da Paraíba.

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