Um ano para se esquecer ou adotá-lo enquanto parâmetro definitivo?

2020

16/06/2020 às 11:10
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Trata-se de uma abordagem reflexiva sobre a Pandemia do Corona Vírus e seus reflexos gerados à humanidade, repensando o seus valores, posturas e readequação de suas relações sociais, amiúde, a partir da quarentena ou isolamento social

                As advertências estavam lá no Código Divino: “Estejais prontos!” Do mesmo canteiro de lições gratuitas, também está jungida a reflexão sobre as catástrofes, mortes coletivas, ponderando as suas existências, para renovação, mudança, evolução da humanidade.

               De certo, é que havia um modus vivendi, onde diversas pessoas estruturaram suas teias habitacionais e relações pessoais revestidos por uma bolha virtual. Daí em diante, horas intermináveis em sítios e redes sociais ao arrepio da ideal alimentação, e do mínimo acondicionamento físico. Reconhece-se, com pesar, que os diálogos eletrônicos atropelaram o interagir presencial com pessoas e natureza.

               Outrossim, num factício dia, sob a auréola de nuvens escuras e baixas temperaturas, a atmosfera dos laboratórios chineses deslizava, de forma silenciosa e fatal. Talvez, numa estratégia de disputa por fatias do mercado. De modo, que no ar ficou o rastro do corona vírus pelas cidades, estados, países, continentes, dizimando vidas, populações. Alguns sobreviventes, para evitar o contágio; outros, já imunizados pela resistência, para evitar a disseminação; se autoflagelaram num regime de prisão domiciliar.

               Neste lado de quarentena e isolamento social, muitas pessoas redescobriram que possuíam uma família, esposa, filhos, pais, irmãos, tios, avós, e que necessitavam interagir com esses. Constataram que havia um quintal com plantas, aves, cães, gatos, um céu azul cheio de estrelas e um sol radiante de energia sem ônus. Atinaram, enfim, que o pequeno espaço físico do lar servia para inúmeras ocupações e atividades, inclusive para caminhada e até o ofegante teletrabalho. 

              Em tempo de reflexão, volvendo o olhar para o que ficou para trás, depara-se com a geração dos anos 60, e o sonho de liberdade da sua juventude. Rememora a paz e o amor dos hippies cabeludos e os festivais Woodstock nos anos 70. Finalmente, extasia-se com a fartura e riqueza cultural insuperável dos anos 80. Logo após, houve um hiato, um vazio em inúmeros aspectos e circunstâncias, salvo pontuais exceções. Acredita-se que o eclipsar dessa ausência de cultura e arte por tantos anos, submete-se agora a um veredicto de juízo final apocalíptico no Tribunal da Pandemia do Corona Vírus. As premissas, álibis, teses se articulam na perspectiva de questionamentos, tais como: O que fizemos? O que produzimos, nestes anos todos? Será que apenas copiamos, plagiamos? Só fizemos leituras sintéticas, rápidas, de conteúdos rasos? O que retivemos neste longo interregno das relações virtuais sob a viatura da internet?

               Nos meados do ano 2020, o grito de Silvio Brito nos anos 70 ainda ecoa: “Parem o mundo que nós queremos descer!” O roqueiro Raul Seixas já profetizava, sobre o silêncio nas ruas, comércio fechados, num dia em que a terra iria parar. As pessoas ressentem, enfim, que a respiração ofegante não alcança a velocidade de celulares e computadores de última geração. Os cidadãos não querem tantos títulos e nem tampouco super-heróis de netflix. Necessitam apenas dos préstimos da enfermeira, do médico, do padeiro, do lavrador, do gari, da faxineira, esses heróis do sermão do monte, legado insuperável da ética cristã.

                As estatísticas de milhares de mortes diárias constituem o parâmetro definitivo do ano 2020. Em quem acreditar? Nas gestões, governos, políticos, que ostentaram tanto poderio em material bélico, mas não detinham o mínimo de estrutura hospitalar e medicamentos, nem tampouco pesquisadores, cientistas, para prevenir e combater o Covid-19. A saúde e os investimentos em pesquisas e estudos científicos relegados a segundo plano expuseram a estupidez dos administradores públicos que preferiram os investimentos maciços em material bélico e conquistas de territórios para garantia de petróleo

                   A reflexão que se chega ao final é que jamais seremos os mesmos, e nem tampouco teremos o parâmetro daquilo que fomos ontem, amiúde pela inexistência de registros de um tempo que se pautou pelo predomínio do fútil e descartável. Aquilo que poderemos ser no futuro, em nível de gente, constitui uma incógnita. Certamente, haverá uma longa marcha de desconfianças, suspeitas, incredulidade.

                   Espera-se, não obstante, que o ser humano novamente volte a confiar, assim como a palmeira confia nas abelhas, colibris, e ventos de julhos, conduzindo o pólen das árvores vizinhas para fecundar seus frutos. Assim como o chão árido espera e acredita pelo regresso das primeiras chuvas para engravidar o solo e gerar novas sementes. 

         

* Zilmar Wolney Aires Filho. É advogado e professor pós-graduado em Direito Processual Civil. Mestre em Direito Civil. Titular da Cadeira n. 16 da academia de letras de Dianópolis-TO. É membro da União Literária de Anápolis-ULA. Integra o quadro docente da Faculdade FIBRA em Anápolis-GO.

Sobre o autor
Zilmar Aires

É advogado e professor unversitário. Especialista em processo civil pelo Centro Universitário de Anápolis. Mestre em Direito pela UniCEUB. Membro da União Literária de Anápolis-ULA e da Academia de Letras Brasileira-ALBA. Articulista político. Poeta-compositor. Músico. Palestrante e conferencista das ciências jurídicas e no seguimento religioso cristão. Tem como pilares básicos: a família, a escola e a religião.

Informações sobre o texto

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