1 INTRODUÇÃO
A escola e a família possuem o dever de garantir a educação dos indivíduos, de modo que ambas se complementam em seus papeis, razão pela qual é importante voltar o olhar para a participação da família como parceira do ambiente escolar para concretização do processo de ensino e aprendizagem, principalmente na perspectiva das crianças consideradas como deficientes, ao buscar uma inclusão satisfatória desses discentes.
Nesse sentido, justifica-se a pertinência desta temática diante da necessidade em se firmar parcerias entre a família e a escola para garantir a melhor forma de desenvolvimento para o educando, pois com a cooperação de todos, o trabalho pode se dar de maneira mais satisfatória e trazer resultados diferenciados para os profissionais e interessados no processo de ensino e aprendizagem. Além disso, o enfoque neste tema pretende contribuir para que seja aberta à comunidade escolar a possibilidade de uma gestão democrática e participativa, em que todos os agentes possam trazer alguma contribuição. Em visto disso, a pesquisa que deu origem a este trabalho procurou responde a seguinte questão: Em que termos se dá a relevância do desempenho da família para a concretização da educação inclusiva de alunos com deficiência no ensino regular?
Em vista do problema da pesquisa, o objetivo geral do estudo consistiu em compreender o papel dos familiares no processo inclusivo de alunos com deficiência, no âmbito do ensino regular e os objetivos específicos consistiram em conceituar educação inclusiva, contextualizar a parceria entre família e escola, assim como apontar a importância que a participação familiar desempenha nesse cenário.
Em termos metodológicos a pesquisa caracteriza-se por ser um estudo de revisão bibliográfica, por meio de consulta a livros, artigos científicos, teses e dissertações, em um recorte atemporal. As buscas foram realizadas na plataforma Google Acadêmico, Scielo e bibliotecas digitais de universidades.
2 A EDUCAÇÃO INCLUSIVA
A educação inclusiva tem se apresentado como um assunto muito pertinente na contemporaneidade, tendo em vista que esta temática foi foco de muitos debates ao longo dos anos, diante dos vários desafios que os espaços escolares enfrentam para concretizar esse direito aos alunos, o que apesar disso, ainda há um caminho que se desenvolve muito lentamente até que haja a sua efetivação de modo satisfatório.
Nesse prisma, o presente estudo volta o olhar para os alunos com deficiência, os quais são integrantes da educação especial ao lado dos educandos com transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades/superdotação. Entende-se como pessoa com deficiência, segundo a Convenção da ONU sobre os direitos das pessoas com deficiência (2008), aqueles indivíduos que têm impedimentos que sejam considerados de longo prazo, tendo natureza física, mental, intelectual ou sensorial, que ao interagir com as diversas barreiras do cotidiano, podem ter sua participação em sociedade obstruída, não permitindo que essa seja plena e efetiva, se comparada em igualdade de condições com as demais pessoas.
A garantia de educação às pessoas com deficiência é uma maneira de efetivação do direito social de educação, bem como o direito fundamental de igualdade, que prevê o igual tratamento para todos, sendo considerado um dos princípios basilares do direito brasileiro e de muitos acordos e tratados internacionais. Nesse sentido, o Ministério da Educação em conjunto com a Secretaria da Educação Especial, dispõem na Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva que esse é um movimento que envolve vários setores entre eles o político, cultural, social e pedagógico, destacando que:
O movimento mundial pela inclusão é uma ação política, cultural, social e pedagógica, desencadeada em defesa do direito de todos os alunos de estarem juntos, aprendendo e participando, sem nenhum tipo de discriminação. A educação inclusiva constitui um paradigma educacional fundamentado na concepção de direitos humanos, que conjuga igualdade e diferença como valores indissociáveis, e que avança em relação à ideia de equidade formal ao contextualizar as circunstâncias históricas da produção da exclusão dentro e fora da escola (BRASIL, 2008. p. 1).
Nesse âmbito, extrai-se que a educação inclusiva tem como escopo desenvolver os ideais dos direitos humanos, garantindo que haja respeito pelo direito à igualdade, buscando eliminar qualquer forma de discriminação destinada a uma pessoa em razão de suas características pessoais, ao serem consideradas diferentes das demais. Sob esse enfoque, é por meio de uma proposta voltada à inclusão que se vê a importância do espaço escolar como lugar de igualdade e respeito às diferenças, sendo que é imprescindível considerar o contexto social em que este educando esteja inserido. Portanto, só é possível estabelecer uma educação inclusiva efetiva e satisfatória se esta for resultado do somatório dos esforços internos (ambiente escolar) e dos externos (família e sociedade).
Sob esse enfoque, verifica-se que o espaço escolar desempenha um papel muito importante para garantir a efetivação do direito à educação, pois este deve adotar uma postura que vise superar qualquer forma de discriminação existente, seja por parte dos gestores, educadores ou até mesmo dos demais alunos. Deve ser buscado constantemente um ambiente que priorize pela educação de qualidade aliada a uma proposta igualitária que seja capaz de incluir o aluno da educação especial nas diferentes classes de ensino.
Conforme Frias e Menezes (2008), essa realidade nem sempre se concretiza em razão de que em várias escolas ainda predomina uma ideologia relacionada à separação, em que considera-se que este ambiente não esteja pronto para abrigar o aluno da educação especial, regulando assim a oferta de matrícula a esses educandos, bem como não investem na formação de profissionais para atendê-los e não realizam a adaptação do espaço físico e disponibilidade de um serviço especializado para atender às necessidades da clientela.
Nesse contexto, considera-se que um dos maiores desafios para a inclusão de alunos da educação especial no espaço escolar do ensino regular, consiste na falta de preparo dos educadores e demais profissionais envolvidos nesse processo para lidar com esses discentes. Não se diz isso apenas com relação à formação de professores no contexto de que ele conheça dos conceitos teóricos que envolve a educação especial, mas no sentido de que é comum que haja um pensamento de que esses alunos possuam o nível de aprendizado diferenciado dos demais e por isso os deixam excluídos.
Nesta senda, é preciso que se invista na formação de professores, nos projetos de ensino e melhoria e adequação do espaço físico. Fernandes (2007, p.37) destaca que é preciso que haja transformações de base estruturais, consistindo na “remoção de barreiras físicas e materiais e a organização de suportes humanos e instrumentais, para que todos possam ter a participação social em igualdade de oportunidades e condições”.
Destaca-se que a formação dos docentes, tanto em sua fase inicial quanto na continuada, deve englobar assuntos muito mais amplos do que uma atualização científica de questões sobre conteúdos e didática, conforme é vinculado em cursos e palestras oferecidas a esses profissionais. Essa formação, por outro lado, deve se consubstanciar em um momento reflexivo e de oportunidade de um espaço participativo para esses docentes, permitindo que eles possam ver a realidade desses educandos. Essa afirmação se justifica a partir do pensamento de Bergamo (2007), que pontua que o espaço escolar, para ser realmente considerado inclusivo, deve possibilitar que os educadores participem de projetos com enfoque na formação continuada, a fim de que possam refletir sobre seu cotidiano e suas práticas, de modo a se configurar como um agente de transformação da realidade de exclusão em uma de inclusão.
É preciso que se leve em consideração um conjunto de fatores que proporcione ao discente para que se sinta incluído, devendo-se fomentar uma prática reflexiva entre todos os agentes envolvidos no processo de ensino e aprendizagem, para que ele se efetive satisfatoriamente e garanta a concretização dos direitos desses educandos, conforme se extrai de Facion (2008, p. 61-62) quando afirma:
Precisamos, isto é lógico, refletir sobre a construção de um modelo educacional que possa ser coerente com nossa realidade e que extrapole o universo escolar. É necessário que todas as crianças possam estar na escola, sim, mas com garantir de desfrutar, no âmbito social, de uma vida mais digna, pois nada adiante planejarmos leis e políticas inclusivas voltadas para o ambiente escolar, se não promovermos no social uma equidade econômica capaz de não só levar os alunos para a escola, mas, principalmente, de deduzir a exclusão a que se acham submetidos inúmeros seres em nossa sociedade.
Salienta-se também que consiste em um ônus para o educador promover e disponibilizar o apoio às necessidades desses alunos, de modo que possa atender tanto os educandos oriundos da educação especial como aqueles pertencentes ao ensino regular, tratando todos os envolvidos como sujeitos de aprendizagem, razão pela qual não se deve realizar atividades diferenciadas para os mesmos, mas garantir que sejam aplicadas as mesmas, mas que haja a devida adequação metodológica, inclusive no que se refere à avaliação.
Assim sendo, não basta proceder a matrícula desse educando no espaço escolar e depois esperar que ele se familiarize com o lugar, mas sim garantir o acesso dos mesmos à educação e buscar estratégias para garantir que esses educandos possam desenvolver o sentimento de pertença e que se sintam motivados a continuar com os estudos porque se identificam com essa realidade.
Diante do exposto, vislumbra-se que o discente com deficiência deve ser visto como um aluno igual a qualquer outro no contexto do processo de ensino e aprendizagem, pois ele também é capaz de aprender e contribuir para a construção do conhecimento, sendo que o professor não deve deixá-lo excluído ou delegar a supervisão do mesmo a um terceiro. O diferencial é que esse profissional da educação irá adaptar seus métodos e projetos à realidade e necessidade desse educando. A rigor, só é possível garantir a efetivação da educação inclusiva por meio de um olhar reflexivo e humanizado voltado ao aluno, enxergando-o como um agente de aprendizagem, o qual é capaz de contribuir para esse processo, independentemente de suas características pessoais.
3 A RELAÇÃO ENTRE A INSTITUIÇÃO FAMILIAR E O AMBIENTE ESCOLAR
O primeiro contato que a pessoa estabelece com o outro é por meio de seu contexto familiar. Assim sendo, a família é o mais importante agente para promover a socialização e desenvolvimento da prole, independentemente da situação e tipos de deficiência de uma criança. A família, e em que pese sua estrutura, atua no contexto social, transmitindo ensinamentos, cultura e valores.
Justificando esse pensamento inicial, Dessen e Polonia (2007) defendem que o âmbito familiar compreende o primeiro ambiente de convívio em sociedade que o sujeito em formação pode experimentar, pois é a primeira instituição social, que se funda na ideia de garantir o bem-estar e proteção, além de ensinar valores, crenças, aspectos culturais, entre outros.
Além disso, com a sua família, a criança é capaz de expressar seus primeiros sentimentos e aprender sobre os conflitos que podem surgir em sua vida, também no que tange às suas emoções e como tratar o outro, respeitando as pessoas que as cercam, sendo este um importantíssimo ensinado para a boa convivência com a comunidade (DESSEN; POLONIA, 2007).
Ademais, é importante considerar que a participação dos genitores e responsáveis no aspecto educacional de seus tutelados, está assegurada em vários ordenamentos jurídicos previstos no direito brasileiro. A Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, em seu artigo 205, estabelece que a educação é um direito pertencente a todas às pessoas, sendo que a família e o Estado possuem o dever de garanti-la, com a finalidade de que o indivíduo possa se desenvolver, bem como se tornar um cidadão qualificado para o mercado de trabalho. (BRASIL, 1988).
De igual modo, há outros regramentos jurídicos que tem como enfoque a questão da família influenciando a educação e o ato de desenvolver esse sujeito, a partir de uma proposta articulada, como o Estatuto da Criança do Adolescente (ECA), a Política Nacional de Educação Especial, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (Lei nº 9394/1996).
Corroborando com esse enfoque, destaca-se os ensinamentos de Barbosa (2011, p.13), que estabelece:
O dever da família com o processo de escolaridade e a importância de sua presença vem na legislação nacional e nas diretrizes do Ministério da Educação aprovadas no decorrer dos anos 1990, tais como: Estatutos da Criança e do Adolescente (ECA), instituído pela Lei nº 8069/90, que aponta para os deveres da família e os direitos das crianças; Política Nacional de Educação Especial, que adota como uma de suas diretrizes gerais: adotar mecanismos que oportunizam a participação efetiva da família no desenvolvimento global do aluno, entre seus objetivos específicos, temos o envolvimento familiar e da comunidade no processo de desenvolvimento da personalidade do educando; Lei de Diretrizes e Bases da Educação, instituído pelo Lei n. 9394/96, que atenta para a importância da família, nos artigos 16 e 123, Plano Nacional de Educação, aprovado pela Lei nº 10172/2001, que define como uma de suas diretrizes a implantação de conselhos escolares e outros formas de participação da comunidade escolar (composta também pela família) e local na melhoria do funcionamento das instituições de educação e no enriquecimento das oportunidades educativas e dos recursos pedagógicos (BARBOSA, 2011, p.13).
Consoante Lazzaretti e Freitas (2016, p.04) os pais possuem um papel muito importante neste aspecto, porque os mesmos podem gerar espaços estimulantes para essas crianças, criando consideráveis contribuições, pois “o diálogo e as vivências são aliadas nesse ambiente, pois favorecem a estimulação e o vínculo de confiança entre os pares”.
Em que se pese essas pontuais considerações, verifica-se que não há um molde fixo de instituição familiar, sendo que cada uma possui suas configurações, porque nenhum indivíduo é igual ao outro. Em razão disso, conforme Daneluz (2008) assevera, é preciso que haja uma valorização das mesmas, como sendo um ambiente que produz e gera a construção da identidade social individual da criança. Considerando, portanto, que na atualidade a família se redefiniu e hoje se apresenta de diversas maneiras, é imprescindível que haja respeito e reconhecimento de que cada uma, em vista de sua configuração formal e cultural, ainda que pese que famílias desestruturadas podem acarretar na prole influências negativas.
Diante da importância da família, verifica-se que ela atua em conjunto com o espaço escolar para proporcionar essas vivências para os educandos, sendo relevante que haja estreitamento de relações entre a entidade familiar e o espaço escolar. Juntas podem criar ambientes de desenvolvimento dos indivíduos, ainda que esse contato varia muito, pois esta relação está condicionada a diversos fatores. Elucidando esse pensamento, destaca-se que isso engloba questões como a profissão dos genitores e o ritmo do trabalho que levam, a quantidade de filhos que possuem, o nível de escolaridade dessas pessoas, seus aspectos culturais, entre outros fatores (FARIA FILHO, 2000).
Nesse sentido, é possível exemplificar com o caso de um hipotético pai que possuindo longa jornada de trabalho e afazeres em grande parte do seu dia, em que na maioria das vezes não tem tempo para acompanhar o cotidiano escolar dos filhos ou até mesmo de frequentar as reuniões de pais e mestres, ficando alheio às atividades e avanços escolares do mesmos.
Sob esse enfoque, certifica-se que o ambiente familiar possui uma impactante influência sobre o fato de o discente permanecer no espaço educacional e dar prosseguimento aos estudos, pois “a participação da família na escola é uma necessidade para a resolução de diversas problemáticas referentes ao desempenho do aluno. Por isso, é importante compreender as diferentes famílias e descobrir a maneira de auxiliá-las” (LAZZARETTI; FREITAS, 2016, p.05), com a finalidade de que seja efetivado o ensinar e o aprender.
Não há dúvidas, assim, de que o contexto social e familiar em que esse educando está inserido é determinante para o seu desenvolvimento e desempenho no espaço escolar, sendo que se a organização familiar não for satisfatória para a construção cultural, emocional e cognitiva dessas crianças, isso também se refletirá no aspecto escolar.
Por outro lado, com uma base familiar forte e acolhedora, o discente pode desenvolver melhor seus sentimentos e laços afetivos, tendo relações mais saudáveis com as pessoas que o rodeiam e estando mais aberto às oportunidades que podem surgir, como surgir um novo contato, ou uma conversa, da qual possa extrair um proveitoso aprendizado (DESSEN; POLONIA, 2007).
Nesse sentido, é preciso enfatizar a influência que a formação familiar desencadeia no sujeito desde os seus primeiros contatos com a esfera escolar e ao longo de sua vida social, razão pela qual o educador também precisa reconhecer a realidade do discente, a fim de que o espaço seja visto como acolhedor pelo o mesmo, motivando-o. Lazzaratti e Freitas (2016, p.06) asseveram que:
O conhecimento de valores e as práticas educativas adotadas em casa refletem na escola e vice-versa. Por isso, a escola deve adequar o seu projeto político pedagógico à finalidade de inserir um espaço que busca valorizar, trabalhar e reconhecer essas práticas educativas e utilizá-las como fonte de recurso nos processos de aprendizagem, levando em consideração as diferenças culturais, decisões coletivas e formação para a cidadania.
É importante ter em mente que apesar de que os institutos familiar e escolar se complementarem, em cada um desses espaços a criança assumirá diferentes posições, sendo que no primeiro seguirá questões mais ligadas a sentimentos, questões culturais e costumeiras, enquanto no segundo as relações são mais complexas, sendo que nesses dois casos há ações educativas. Assim sendo, para que possa haver uma aproximação entre família e escola, é imprescindível que o espaço escolar faça um investimento para fortalecer o seu relacionamento com os genitores ou responsáveis e os docentes, adotando, assim, mecanismos para que acompanhem as ações pedagógicas, atuando no planejamento e implementação, conforme destacam Lazzaretti e Freitas (2016, p.06):
Para o estabelecimento de relações mais próximas, [...] a escola deve investir no fortalecimento de vínculos entre pais e professores, inserção destes no Conselho Escolar e em outros espaços de participação, propiciando a articulação entre a família e a escola. A escola deve adotar estratégias que permitam a família acompanhar as atividades curriculares da escola, planejando e implementando parcerias entre ambas, objetivando soluções para os desafios enfrentados cotidianamente.
A partir disso, verifica-se que a instituição familiar pode ter uma significativa contribuição para a finalidade de mediação do conhecimento, entre o ensinar e o aprender, pois o fato de ocorrer a participação desta instituição da sociedade civil permite que haja uma aquisição de saberes e efetivar a formação dos sujeitos, aptos para encarar a realidade que a sociedade lhes apresenta (LAZZARETTI; FREITAS, 2016, p.13)
Acerca da relevância em se propor uma colaboração que se pode estabelecer entre a instituição familiar e a escolar, destaca-se que é possível proporcionar um intercâmbio de ideias, em que há uma troca de informações e saberes entre os profissionais e a entidade familiar, no sentido de propiciar facilitação do trabalho, para que em casa continue como sendo um prosseguimento daquele realizado na escola, proporcionando assim:
Intercâmbio de informação: ocorrem trocas de informações entre os familiares e os profissionais, através de diversos meios, tais como questionários, conversas cotidianas, informações descritas, reuniões com pais, entrevistas de acompanhamento, entre outros meios. - Atividades em casa: as atividades em casa possibilitam pautas de controle de conduta, hábitos de autonomia pessoal, sistemas alternativos e estimuladores de comunicação, entre outros. - Participação em atividades: atividades propostas pelos profissionais, por meio das quais permitem-se transparência e abertura. Esse envolvimento direto dos pais possibilita a continuidade das atividades em casa (PANIAGUA 2004; apud SILVA,2010, p.19).
Desta forma, a instituição familiar, como participante do processo educacional, atua como um importante instituto social ao garantir parcela significativa da formação da pessoa, possibilitando o desenvolvimento nos mais variados aspectos e ao atuar em conjunto com o espaço escolar, permite que que a criança assimile melhor tudo que ali for abordado.
4 IMPORTÂNCIA DA FAMÍLIA PARA O PROCESSO DE INCLUSÃO ESCOLAR DOS ALUNOS COM DEFICIÊNCIA
Como visto anteriormente, a família deve estabelecer relações de proximidades e complementares com a escola, para que haja contribuição positiva no processo ensino e aprendizagem. Isso se torna mais relevante quando se trata de crianças com deficiência. Sob esse enfoque, é necessário ter em mente para começo de reflexão que a família constitui uma entidade com inúmeras funções, que se concentram no aspecto social, caracterizando, assim a função socializadora e a função social. Segundo Barbosa (2011), a primeira delas corresponde ao fato de que a família transmite traços culturais e sociais para a criança, influenciando em aspectos mais relacionados às suas crenças.
Nesse prisma, a segunda classificação correspondente à função social, diz respeito ao fato de que a instituição familiar contribui para a aquisição de diferentes status, relacionando-os aos aspectos de etnia, nacionalidade, religiosidade e outros, concretizando, portanto, uma forma de preparação e estruturação para sua vida nas próximas fases do desenvolvimento (BARBOSA, 2011).
Assim, certifica-se que a família nada mais é do que uma instituição da sociedade civil que considera a criança na sua individualidade ao mesmo tempo em que observa sua relação com o grupo social. A família proporciona a realização dos traços de personalidade, criando cidadãos que ajam em conjunto com o poder público. Conforme Barbosa (2011, p.13):
Trata-se de uma instituição da sociedade na qual a criança atua efetivamente como sujeito individual e social. É um espaço concreto e fundamental para a formação de significados e para o exercício da cidadania: na medida em que possibilita a aprendizagem de participação crítica e criativa, contribui para formar cidadãos que atuem na articulação entre o Estado e a sociedade civil. Para a família, o ensino quanto mais individualizado, melhor para seu filho, pois nessa conjetura vai haver a peculiaridade de melhor ajudá-los e a destacá-lo. As preocupações transitam, portanto no âmbito do privado. Este enfoque mais social do que individual, carrega objetivos éticos, pois a escola deve ser um espaço de valorização tanto da informação, como da formação de seus alunos, dentro de uma estrutura coletiva.
Considerando esse pensamento, verifica-se que os genitores ou os responsáveis por exercem importante influência sobre seus dependentes e, por isso, verifica-se que no contexto da educação inclusiva, ao se ter o enfoque em alunos com deficiência, a participação e colaboração dos pais ou responsáveis, se tornam indispensáveis. Isso evidencia que essas pessoas também apresentam uma maior vulnerabilidade que os demais, porque necessitam de informações constantes, bem como orientadores com maior frequência, além de haver casos em que há participação em grupos de apoio (MACIEAL, 2000).
Realizar debates com a participação da comunidade escolar sobre a deficiência, segundo Maciel (2000), abre espaço para uma colaboração e participação de interessados, para melhorar o processo de ensino e aprendizagem, permitindo que seja gradativamente dizimado o mito de que a deficiência seja considerada um problema ou castigo. Essa mentalidade resulta na pouca valorização da pessoa com deficiência.
Desta forma, a criança com deficiência que se adapta ao espaço escolar, está diante de uma realidade em que estabelecerá laços com três estruturas presentes no espaço educacional, qual seja, formando a relação educador-educando, discente-discente e com o ambiente de ensino e aprendizagem. A educação inclusiva se inicia pela adequação da criança ao ambiente escolar, mediante estímulo e recepção.
[...] a inclusão escolar deve ter início a partir da adequação das três estruturas da dinâmica escolar citadas anteriormente e do levantamento de alternativas que favoreçam o desenvolvimento dos alunos. É de extrema relevância analisar se o ambiente de aprendizagem é favorável, se ocorreu a eliminação de barreiras arquitetônicas, sonoras e visuais, se existe oferta de recursos audiovisuais, se os currículos estão adequados à realidade dos alunos e, também, se toda a comunidade escolar está sensibilizada para atender a criança com deficiência com consideração e respeito (LAZZARETTI; FREITAS, 2016, p.09).
A partir deste pensamento, verifica-se que há vários desafios para a concretização da inclusão escolar de alunos com deficiência, a exemplo das barreiras arquitetônicas, sonoras e visuais, além da necessária adequação curricular para atender ao contexto vivido pelo educando. Esses aspectos devem ser necessariamente discutidos com a comunidade escolar, e serve para o aprimoramento do projeto pedagógico.
No entendimento Maciel (2000) é preciso que os educadores tenham conhecimento sobre o diagnóstico da situação de cada um desses educandos, sendo que essa medida se dá a partir da entrevista com os genitores ou responsáveis, a fim de que por meio desta prática se possa conhecer a história da criança e, a partir disso, criar mecanismos para auxiliar no processo de ensino e aprendizagem das mesmas. De igual forma, esse educador deve buscar a orientação dos profissionais de áreas ligadas à fonoaudiologia, fisioterapia, psicologia, medicina e outras que atendam às necessidades desses educandos.
Nesse sentido, Lazzaretti e Freitas (2016) preleciona que o laço de diálogo e interação que se estabelece entre o docente e o discente só se torna possível no momento em que estes profissionais deixem de lado qualquer forma de preconceito e vislumbre oportunidades para desenvolver esses alunos, mediante valorização das relações horizontais, estabelecidas em tal contexto.
A integração professor-aluno ocorre quando não há preconceito e o professor possibilita o pleno desenvolvimento de seus alunos com necessidades educacionais especiais [deficiente]. A interação aluno-aluno pode demonstrar diferenças interpessoais, preconceitos e dificuldade de aceitar o outro como ele é. Por isso é fundamental que os demais alunos recebam orientações sobre a deficiência e as formas de conviver, além de lidar com as diferenças (LAZZARETTI; FREITAS, 2016, p.10).
Logo, advogar a favor da educação inclusiva, é desejar que a criança com deficiência desenvolva um sentimento de pertencimento ao ambiente. Essa defesa consiste em desenvolver um projeto pedagógico aplicável a todas as pessoas, bem como refletir sobre a aceitação da pessoa considerada com necessidades diferenciadas.
Sob esse enfoque, implica aceitar a educação inclusiva como algo que não pode retroceder e por isso requer constante adequação do planejamento no contexto escolar, bem como desenvolver um novo olhar acerca das teorias e práticas curriculares, metodológicas, avaliativas e do ambiente físico, pois é o espaço que deve se adequar ao aluno e não o aluno ter que se adequar ao espaço. Nessa nova perspectiva, destaca-se que não significa entregar uma atividade específica para cada discente, mas sim buscar mecanismos para que seja possível realizar um preenchimento das lacunas que possam aparecer no processo de ensino e aprendizagem dos alunos com deficiência. Por exemplo, aplicando-se a mesma atividade, mas exigindo algo diferenciado, levando em consideração as particularidades de cada indivíduo (LAZZARETTI; FREITAS, 2016).
No que tange às novas formas de ver a teoria e prática curriculares, o currículo pode estar finalizado, mas ao se deparar com alunos com deficiência, deve sofrer adequações. Nesse aspecto é de grande relevância a participação da entidade familiar pois pode auxiliar por meio de ideias e efetiva interação com o meio escolar. Em termos gerais, a inclusão efetiva de crianças deficientes no contexto escolar requer séria e profunda revisão das metodologias e do processo de avaliação, o que implica encontrar novas estratégias de aliar a teoria à prática. Sendo assim, o professor atuante na mediação do ensino e aprendizagem deve, via de regra, repensar sua metodologia, incluindo a contribuição da família.
Vale lembrar que a criança não possui discernimento, bem como o senso crítico em avaliar se é algo é bom ou ruim para a mesma, razão pela qual é dever da família e da escola promover o desenvolvimento da sua consciência moral e crítica, permitindo que no instante em que essa criança tenha que decidir sobre algo esteja certa do rumo a tomar, assim, ao se considerar as crianças com deficiência, deve ser garantido que ela possa desenvolver autonomia e possa se sentir valorizada (DANELUZ, 2008).
Nesse sentido, há vários benefícios da interação da família com a escola, pois dessa maneira: “a família permanece mais informada com relação à deficiência e com relação aos seus direitos e responsabilidades. Já os profissionais podem ter maior conhecimento sobre a história de vida e as necessidades da criança e da família” (LAZZARETTI; FREITAS, 2016, p.10).
Sob esse enfoque, a relação que se estabelece entre a família e a escola contribui para uma melhoria no atendimento das necessidades da escola, aprimorando competência e potencialidades, estimulando a autonomia das crianças com deficiência, permitindo que sejam vencidos vários obstáculos e concretizando o processo de ensino e aprendizagem.
Uma boa interação entre família, escola e profissionais proporciona uma maior compreensão das necessidades, interesses, habilidades e potencialidades da criança com deficiência. Embora seja de extrema relevância esta parceria, existem alguns obstáculos a serem enfrentados, por parte da família em relação aos profissionais: falta de tempo, dificuldade para entender a linguagem técnica usada pelos profissionais, dificuldade com transporte, sentimento de inferioridade em relação aos profissionais e falta de conhecimento sobre a deficiência. Por parte dos profissionais com relação à família: apatia dos pais, da falta de tempo, e da falta de reconhecimento do trabalho profissional. Embora nos dias atuais, os familiares sejam parceiros, a relação com profissionais e escola ainda é difícil. Mesmo diante de todos os benefícios que esta parceria proporciona, ela deve ser buscada constantemente (LAZZARETTI; FREITAS, 2016, p.11).
Desta forma, é preciso que haja o empoderamento da família para uma efetiva participação e que ela colabore com informações e ideias, sendo que os pais e/ou responsáveis possam participar das decisões, contribuindo, portanto, para a mudança de hábitos e aprimoramento de técnicas para efetivar o processo de ensino e aprendizagem, fundamentalmente no contexto escolar inclusivo dos alunos com deficiência, diante de suas várias características e necessidade de inclusão escolar como um direito fundamental desses educandos.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao findar esta pesquisa, foi possível verificar que foram pontuados aspectos relevantes à educação inclusiva, no que tange à sua significação e características, bem como a relação entre a entidade familiar e a esfera educacional e, por fim, a importância que a participação da família desempenha para a concretização da educação de alunos com deficiência no ensino regular. Sendo assim, constata-se que a educação inclusiva pode ser entendida como uma modalidade da educação que se funda nos direitos humanos para garantir o direito à educação para todas as pessoas, independentemente de suas características, deficiências ou necessidades, sendo que todos devem ser tratados como iguais.
Considerando essa questão, pontua-se que a família estabelece uma importante relação com o espaço educacional, tendo em vista que essa corresponde à primeira instituição social que a criança faz parte, bem como por também constituir um contexto propício para o indivíduo desenvolver suas habilidades e competências, tanto as consideradas como individuais, quanto aquelas tidas como coletivas, em que utiliza em sociedade.
Portanto, foi possível considerar que a importância da família no processo inclusivo do aluno com deficiência no ensino regular é de grande relevância para a comunidade escolar e particularmente desse educando, sendo que este instituto familiar pode contribuir significativamente da tomada de decisões da escola, bem como propondo novas ideias e sugestões de melhoria do processo de ensino e aprendizagem.
REFERÊNCIAS
BARBOSA, Juliana Silveira Branco. A importância da participação familiar para a inclusão escolar. Disponível em: http://bdm.unb.br/bitstream/10483/2152/1/2011_JulianaSilveiraBrancoBarbosa.pdf. Acessado em: 15 maio 2018.
BERGAMO. Regiane B. Pesquisa e prática profissional: educação especial. Curitiba: Ibpex. 2009.
BRASIL, Constituição da República Federativa do Brasil, Brasília, 1988.
BRASIL. Lei n. 8.069, de 13 de julho de 1990. Estatuto da Criança de do Adolescente. Brasília:1990.
BRASIL. Lei 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Brasília, 1996.
BRASIL. Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva. Brasília, 2008.
DANELUZ, Mariluci. Escola e família: duas realidades, um mesmo objetivo. In: I Simpósio Nacional de Educação e XX Semana da Pedagogia. Cascavel: Unioeste, 2008.Disponível em: http://www.unioeste.br/cursos/cascavel/pedagogia/eventos/2008/1/Artigo%2011.pdf. Acessado em: 15 maio 2018.
DESSEN, Maria Auxiliadora; POLONIA, Ana da Costa. A família e a escola como contextos de desenvolvimento humano. Ribeirão Preto: Paidéia. Vol. 17. n. 36. Jan/Abr. 2007. Disponível em: http://ww.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103863X2007000100003. Acessado em: 15 maio 2018.
FACION, José Raimundo. Inclusão Escolar e suas implicações. Curitiba: Ibpex, 2009.
FARIA FILHO, Luciano Mendes de Faria. Para entender a relação escola-família: uma contribuição da história da educação. São Paulo: Perspec. vol. 14 n. 2 Abr/Jun. 2000. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S010288392000000200007&script=sci_arttext&tlng=pt%23top4. Acessado em: 15 maio 2018.
FERNANDES. Sueli. Fundamentos para educação especial. Curitiba: Ibpex, 2007.
FRIAS, Elzabel Maria Alberton; MENEZES, Maria Christine. Inclusão escolar do aluno com necessidades educacionais especiais: contribuições ao professor do ensino regular. Disponível em: http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/portals/pde/arquivos/1462-8.pdf. Acessado em: 15 maio.2018.
LAZZARETTI, Beatriz; FREITAS, Alciléia Sousa. Família e escola: O processo de inclusão escolar de crianças com deficiência. Caderno Intersaberes. vol 5, n.6, p.1-13, 2016.
MACIEL, Maria Regina Cazzaniga. Portadores de deficiência: a questão da inclusão social. São Paulo: Perspec. Vol. 14. n. 2 Abr/Jun 2000. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=s010288392000000200008&script=sci_arttext. Acessado em: 15 maio 2018.
ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS. Convenção da ONU sobre os direitos das pessoas com deficiência, 2008. Disponível em: https://www.governodigital.gov.br/documentos-e-arquivos/A%20Convencao%20sobre%20os%20Direitos%20das%20Pessoas%20com%20Deficiencia%20Comentada.pdf. Acesso em: 18 set 2018.
SILVA, Aline Maira da. Educação especial e inclusão escolar: história e fundamentos. Curitiba: Ibpex, 2010. (Série Inclusão Escolar).