Gerenciamento de Eventos Críticos

Atuação Policial diante de Eventos Críticos

09/09/2020 às 18:03

Resumo:


  • Gerenciamento de crises é essencial no serviço policial para lidar com eventos críticos inesperados, visando a preservação da vida e a manutenção da ordem pública.

  • A primeira intervenção em uma situação crítica é determinante para o desfecho, exigindo do policial conhecimento e cautela para não agravar a situação ou colocar vidas em risco.

  • Capacitação contínua e adoção de protocolos operacionais padrão são fundamentais para preparar os policiais para atuarem tecnicamente em eventos críticos, garantindo ações eficazes e seguras.

Resumo criado por JUSTICIA, o assistente de inteligência artificial do Jus.

O objetivo desse artigo foi analisar os procedimentos utilizados pela Policia Militar do Paraná para administração de ocorrências consideradas críticas. Enaltecendo a importância do treinamento e preparo do primeiro interventor da crise.

RESUMO

Nível de estresse alterado, compressão de tempo para decisões, vidas a serem preservadas, entre outras características, fazem parte do serviço policial no gerenciamento de evento crítico. A missão principal da Policia Militar é realizar o policiamento ostensivo e preventivo, porém, situações de crises são inesperadas e ocorrem diariamente, não sendo a prevenção eficaz em todos os lugares. O objetivo do presente artigo foi analisar os procedimentos utilizados na Policia Militar do Paraná para administração de eventos considerados críticos, os quais causam rompimento da tranquilidade pública. Na PMPR há grupos especializados no atendimento de tais ocorrências, os quais seguem um protocolo de atuação, porém, entre os pontos cruciais, o fato da crise ser um evento critico inesperado, a primeira equipe a dar o atendimento deve ter o máximo de cuidado nas atitudes, pois pode por em perigo a vidas das vítimas caso não tomem a atitude correta. O artigo apresentou nesse sentido, obras literárias que envolvem o assunto e diretrizes internas inerentes ao efetivo da PMPR. Demonstrou que independente de qualquer obstáculo na vida do profissional de segurança pública, a obrigação de defesa do cidadão e o zelo pela paz social, exige a melhor solução aceitável, sendo a preservação de vidas acima da aplicação da lei.

Palavras – chaves: gerenciamento de crise, causador de evento critico, solução aceitável.

EICHSTAEDT,Dirceu1- Soldado da Polícia Militar do Paraná, Formado em Agronomia na Faculdade Assis Gurgaz. Formando em Especialista em Gestão com ênfase na Segurança Pública, pela Sociedade Técnica Educacional da Lapa.

Sc.M ZANETTI, Elizabeth²   Mestre em Engenharia da Produção UFSC, Especialista em Psicologia de RH-UNICAMP, Bacharel em Administração de Empresas-FESP. Especialista/EAD. Orientadora e Avaliadora de TCC FAEL, UNINTER e UFTPR.

INTRODUÇÃO

A crise pode ser entendida popularmente como uma manifestação violenta de um ou mais indivíduos, que venham a romper repentinamente a segurança de alguém, causando danos que podem ser irreversíveis, pois envolve perigo a vida e requer uma resposta especial.

No Brasil, entre as décadas de 1980 e 1990, os policiais não tinham um treinamento especifico para atender ocorrências que exigiam um tratamento diferenciado, vindo a agir muitas vezes de acordo com as experiências vividas e de forma improvisada, e com isso muitos casos terminaram de forma desastrosa, com comprometimento da vida das vítimas.

Diante da necessidade de capacitar o efetivo policial e qualificar para tais atendimentos, as corporações além de incluir como matéria obrigatória nos cursos de formações, criaram grupos especializados, que treinam especificamente com o foco de atuar a frente de eventos críticos, como a tomada de reféns em roubos frustrados ou grandes rebeliões por exemplo.

Ainda, para gerenciar uma crise, há uma doutrina que estabelece algumas referências visando facilitar as decisões, as quais são denominadas como critérios de atuação.

Dessa forma, a pesquisa propõe analisar como os eventos críticos são conduzidos para que se tenha uma resposta aceitável, com foco na atuação da Policia Militar do Paraná, uma vez que se exige do profissional de segurança pública o domínio de técnicas e táticas para as tomadas de decisões com o objetivo principal de preservar vidas.

A motivação da pesquisa se dá pelo fato de que qualquer profissional da segurança publica está sujeito a se deparar com um evento crucial, conhecendo ou não o protocolo a ser aplicado e necessitando lidar com o comportamento humano imprevisível, com situações atípicas a qualquer treinamento ou experiência profissional. Diante de tal situação qual atitude é   mais viável para que a crise não aumente ou que não haja comprometimento na segurança das vitimas, uma vez que dependendo da situação, a equipe especializada precisa ser acionada, porém, em eventos críticos há a compressão de tempo, exigindo tomada de decisões urgentes?

A pesquisa se justifica pelo fato de o serviço de segurança púbica ter a obrigação de defesa do cidadão e o zelo pela paz social, com foco em uma sociedade sem conflitos, porém, eventos críticos de grande proporção são inevitáveis e isso exige que a formação dos profissionais seja fundamentada em doutrinas, técnicas e táticas que o capacitem para a melhor solução aceitável.

2. CRISE

A palavra crise remete ao pensamento de algo ruim, algo que alterou o que estava acontecendo como aceitável e que precisa ser tratado.

Trazendo para o âmbito da segurança pública, crise é relacionado a ruptura da normalidade, sendo definido por alguns autores, como Souza (2000, P. 41), o conceito adotado pela Academia Nacional do FBI: “Um evento ou situação crucial, que exige uma resposta especial da polícia, a fim de assegurar uma solução aceitável”

No mesmo sentido, a Diretriz nº005/11 – PM/3 (Diretriz para o gerenciamento de crises), da Polícia Militar do Estado do Paraná, define crise: Crise, no contexto policial, é definida como um evento ou situação crucial, que exige uma resposta especial da polícia, a fim de assegurar uma solução aceitável.

2.1 Eventos críticos

São considerados eventos críticos, ocorrências que exigem respostas especiais por parte da policia, como sequestros, rebeliões em presídios, assaltos com tomadas de reféns, ataques terroristas, tentativa de suicídio, artefatos de explosivo, acidentes de grande proporção, atiradores em locais públicos, como nas escolas, entre outros, os quais necessitam da atuação de equipes policiais com rapidez e aceitabilidade legal, ética e moral.

2.2 Causadores de evento critico

Quando se fala em causador de evento critico, é comum remeter o pensamento diretamente a individuo criminoso, que tem por objetivo a posse de algo ou mesmo o desejo intrínseco de prejudicar alguém, porém, nem sempre o causador é um infrator da lei.

Entre os causadores de evento critico estão também indivíduos que tentam o suicídio, os que são mentalmente perturbados, os que estão enfrentando problemas conjugais e não conseguem aceitar fins de relacionamentos, conflitos sociais, desemprego, entre outros casos que visam somente causar sofrimento a alguém e impor condições.

Monteiro (2011) classifica os causadores de evento critico por grupos:

a)   Criminoso comum: É o indivíduo que se dedica a prática de furtos, roubos e outros crimes. Esse tipo de provocador geralmente causa uma crise por acidente, devido a um confronto inesperado com a polícia, na flagrância de alguma atividade ilícita. Com a chegada da polícia, muitas vezes chamada por terceiros, o elemento captura pessoas ao seu alcance como reféns e passa a utilizá-las como garantia para a fuga ou de sua integridade física, neutralizando assim a ação dos policiais;

b)       Emocionalmente perturbado: Pode ser um desequilibrado crônico ou simplesmente alguém que não conseguiu lidar momentaneamente com seus problemas sociais, afetivos, de trabalho ou familiares;

c)   Fanático político ou religioso: Geralmente protagonizam eventos planejados, cuja repercussão e a divulgação constituem, na maioria das vezes, o principal objetivo da crise, que se revela como uma oportunidade valiosa para críticas às autoridades constituídas e para revelação dos propósitos ou causa do grupo perpetrador. Normalmente escolhem os alvos em virtude do valor simbólico, propagandístico, vulnerabilidade e possibilidade de êxito na ação.

Independe do grupo que o causador do evento critico se enquadra, o gerenciador da crise necessita descobrir qual é seu objetivo, seu histórico, se possui passagens policiais, se é elemento considerado de alta periculosidade, entre outras características que são determinantes nas tomadas de decisões

3. PRIMEIRA INTERVENÇÃO NA CRISE

A primeira intervenção na crise pode ser fator determinante para que o resultado seja bem sucedido ou desastroso.

Conforme anteriormente citado, os grupos especializados em atendimentos a ocorrências de grande porte e que necessitam de uma resposta especial, embora fiquem disponíveis 24h por dia, dependem de deslocamentos para prestar atendimento, por isso é de suma importância o primeiro interventor em uma crise não tomar qualquer atitude precipitada que venha a comprometer o resultado e em perdas de vidas. Silva (2015, p.77), cita que:

Não há mais espaço para ações malfadadas. Precisamos parar de avaliar somente o resultado de uma primeira intervenção. Precisamos analisar todo o processo que chegou ao resultado. Precisamos nos livrar definitivamente do empirismo, do amadorismo e da improvisação que ainda assolam nossas ações. Mudar procedimentos e atitudes ultrapassadas é um desafio hercúleo. Entretanto, aqueles que acreditam na doutrina e na boa técnica, jamais desistirão.

A apostila de Gerenciamento de Crises elaborada no ano de 2012, pelo então Capitão Cap. QOPM Marco Antônio da Silva, PMPR, traz em seu contexto que vida de inocentes não podem ser negligenciadas por qualquer das características acima citadas, tampouco, por vaidades de policiais que querem resolver sozinhos, sem ter o mínimo de conhecimento de procedimentos que deve tomar, assim como atuações improvisadas ou baseadas no empirismo que quando não terminam em tragédia, se transformam em um risco de policiais agirem da mesma forma, e o resultado favorável (a libertação do refém, por exemplo) podem fazer que não vejam a atitude como incorreta e fora da técnica prevista.

3.1 Atitudes adotadas pelo primeiro intervento

Conforme já citado anteriormente, a crise não escolhe nem o local nem o profissional que vai administrá-la, pois não é seletiva, assim como tem caraterísticas próprias e cada caso exige um tratamento, e é por esse motivo que se faz necessário que o profissional de segurança pública esteja em condições de enfrentar de maneira técnica A apostila de Primeira Intervenção em Crises/PMPR, elaborada em 2012, traz a ressalva que qualquer policial pode se deparar com o evento:

Importante dizer que a primeira intervenção se enquadra na fase da resposta imediata estabelecida pela doutrina de gerenciamento de crises. É o início de todo o processo de ação visando à resolução da crise e qualquer policial que esteja em atividade operacional ou não, por exemplo, realizando serviços burocráticos com viatura caracterizada, pode se deparar com um evento crítico que acabou de eclodir e ser um primeiro interventor. (SILVA, Marco A. 2012). Assim sendo, é de fundamental importância que todos os policiais militares integrantes da Corporação tenham conhecimentos básicos sobre a atuação do Primeiro Interventor numa situação crítica. A crise poderá ocorrer em qualquer local e a qualquer momento e nenhum policial militar poderá ser displicente com tais conhecimentos, sob pena de transformar o desfecho da crise numa grande tragédia. O Primeiro Interventor deverá ter em mente que sua atuação, de tão importante, poderá significar a garantia da vida dos envolvidos, inclusive a dele. (SILVA, Marco A. 2012)

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Grupos especializados, com equipamentos diferenciados para alguns casos específicos, oneram os Estados e dessa forma a maior parte permanece nas capitais, os quais têm responsabilidades em todo o território estadual, prestando apoio e orientações nas conduções de ocorrências de grande vulto, agindo de forma coordenada e planejada.

Dessa forma, os policiais de todas as Unidades do Estado do Paraná são instruídos nos cursos de formações para que ao se depararem com situações de evento critico sigam as diretrizes que norteiam os procedimentos a serem tomados de imediato.

As regras têm por objetivo padronizar os comportamentos administrativos e operacionais, seguindo o protocolo de ações estabelecido pelo POP - Procedimento Operacional Padrão, o qual determina que a primeira intervenção seja seguida as seguintes sequências de ações:

1.Localizaro ponto exato da crise (o ponto crítico) em extremas condições de segurança, com o intuito de confirmar a ocorrência e proporcionar a tomada das demais ações;

2.Conter a crise, a fim de não deixar que se alastre ou mude de local, ou seja, manter o Causador do Evento Crítico (CEC) no mesmo local em que foi encontrado;

3.Isolar o ponto crítico, não permitindo que pessoas se aproximem e o CEC faça contato com o mundo externo e vice-versa, além de iniciar o estabelecimento dos perímetros de segurança;

4.Estabelecer contato sem concessões ao CEC, sem, portanto, negociar com ele, considerando que tal missão técnica é de responsabilidade da equipe especializada;

5.Solicitar apoio de área, incluindo equipes de socorro médico, de maneira organizada e seguindo os canais de comando;

6.Coletar informações acerca dos reféns, vítimas, CEC, armas, prazos, motivações e detalhes das instalações físicas do ponto crítico;

7.Diminuir o estresse da situação com o intuito de estabilizá-la, pensando nos inocentes e falando calmamente com o CEC;

8.Permanecer em local seguro a todo o momento, não se expondo ao risco proporcionado pelo CEC até o fim da primeira intervenção;

9.Manter terceiros (imprensa, curiosos e familiares) afastados do ponto crítico para resguardar suas vidas e evitar que atrapalhem os trabalhos;

10.Acionar as equipes especializadas do Batalhão de Operações Especiais –BOPE via canal técnico e sem prejuízo dos canais hierárquicos. No caso específico de crises envolvendo suicidas desarmados, acionar o Corpo de Bombeiros para gerenciar o evento, o qual contará com o apoio técnico-operacional do Grupo de Operações de Socorro Tático (GOST). (POP nº 200.1. PMPR, 2019) 

Ainda, em complemento, os órgãos se segurança instruem seus efetivos o a doutrina de Gerenciamento de Crises do FBI, estabelece como critérios de ações:

O critério da necessidade indica que toda e qualquer ação somente deve ser implementada quando for indispensável.

O critério da validade do risco, nos mostra que toda e qualquer ação têm que levar em conta se os riscos dela advindos são compensados pelos resultados.

A aceitabilidade implica em que toda ação deve ter respaldo legal, moral e ético.

Monteiro (1994, p 26) afirma que de uma resposta imediata eficiente depende quase que 60% do êxito da missão policial no gerenciamento de uma crise.

Moraes disserta que a polícia pode ser definida como a organização destinada a prevenir e reprimir delitos, garantindo assim a ordem pública, a liberdade e a segurança individual. Como a prática de todos os meios de ordem de segurança e de tranquilidade pública. A polícia é um meio de conservação para a sociedade. (MORAES, 1992, p. 24 e 25).

4. COMPRESSÃO DE TEMPO

Entre as características que englobam um evento critico está a compressão de tempo, a qual alguns autores defendem que não pode ser confundida com o tempo de duração da ocorrência, uma vez que uma crise pode não ter prazo para terminar, bem como, deve ter relação com o iminente risco de morte, necessitando urgência, porém, com medidas apropriadas.

Monteiro (2000, p. 19) afirma que a diagnose da situação e a consequente classificação do grau de risco ou ameaça dependem de vários fatores a serem avaliados, os quais integram os chamados elementos essenciais de informações.

Pontes (2000, p 31) alega que dentre todas as fontes de informações, as mais fidedignas, para utilização da fase final do evento, são as que têm origem de policiais, pois as demais estarão envolvidas emocionalmente, enquanto que os policias estarão observando com olhar técnico e crítico. Principalmente as originadas pelos atiradores de precisão e ações de reconhecimento, que possuem um maior domínio sobre o que observar.

A crise é um momento perigoso e decisivo, uma vez que entre suas características principais está a manifestação violenta e repentina, com ameaça a vida, e que há um tempo limitado para uma solução, necessitando na maioria dos casos a possibilidade de uso da força, com emprego de técnicas especializadas.

O que não pode ocorrer é falta de competência ou a precipitação do profissional, pois compromete não só a vida das vítimas, mas da própria equipe envolvida. Em situações difíceis é comum o nível de estresse ficar alterado e reduzir a capacidade da tomada de decisões, dificultando a solução dos problemas ou adotando medidas erradas.

Se compararmos a outra profissão, como o médico, por exemplo, ao se formar ele tem conhecimento de como tratar diversas doenças no geral, mas para situações especificas precisa realizar especialização na área, estudar afinco tudo que pode ser possível para aquele tratamento. Assim é também dentro da corporação policial, todos devem ter treinamento para agir em qualquer situação, porém, há a necessidade de grupos se especializarem em determinadas áreas, complexas, difíceis, que exigem do profissional uma rotina diferente dos demais, com especialização em determinados armamentos, em negociação com pessoas mentalmente perturbadas ou criminosas.

O profissional de segurança pública ao se deparar com situações críticas não pode ceder a emoções ou desacreditar na possibilidade de execução da vítima. O julgamento precipitado dificulta as ações e as tomadas de decisões, bem como, a organização para solução dos problemas.Bengochea (2004) cita que o serviço policial é em um ambiente de incertezas:

A ação da polícia ocorre em um ambiente de incertezas, ou seja, o policial, quando sai para a rua, não sabe o que vai encontrar diretamente; ele tem uma ação determinada a fazer e entra num campo de conflitividade social. Isso exige não uma garantia da ordem pública, como na polícia tradicional, sustentada somente nas ações repressivas, pelas quais o ato consiste em reprimir para resolver o problema. O campo de garantia de direitos exige uma ação mais preventiva, porque não tem um ponto determinado e certo para resolver. (BENGOCHEA, 2004, p. 120).

Monteiro (2000. p9) afirma que independentemente da preparação para o seu enfrentamento, alguns situações são inevitáveis e, invariavelmente, provocam alterações que influenciam no processo de tomada de decisão.

5. GERENCIAMENTO DE CRISE

O rompimento da tranquilidade pública, aquilo que não é considerado comum ou aceitável como normal no contexto da segurança pública, se caracteriza como uma crise e gerenciar esse evento exigem responsabilidade e competência, uma vez que a administração de ocorrência de alto risco não pode ser considerada uma ciência exata, não existindo duas crises iguais, pois cada caso exige tratamento dentro das circunstâncias do momento em que ocorre.

O gerenciamento de crises, citado por Salingnac (2011) é o conceito definido pela Academia Nacional do FBI: “O processo de identificar, obter e aplicar os recursos necessários à antecipação, prevenção e resolução de uma crise”. Salignac acrescenta: O gerenciamento de crises pode ser descrito como um processo racional e analítico de resolução de situações críticas baseado em probabilidades. Deve lidar, sob tremenda compressão de tempo, com complexos problemas sociais, econômicos, políticos, ideológicos e psicológicos, quando eles se manifestam em termos destrutivos. (SALIGNAC, Ângelo. 2011, p. 23)

De acordo com a Diretriz nº 005/PM-3 da Polícia Militar do Estado do Paraná, Gerenciamento de Crises é:

O processo eficaz de identificar, obter e aplicar, em conformidade com a legislação vigente, as medidas estratégicas adequadas para a resolução do evento crucial, a fim de preservar a vida e a integridade física dos envolvidos, a aplicação da lei e o restabelecimento da ordem pública (PARANÁ, 2011, p. 2).

Para Monteiro (2008 p 12), a preservação de vidas deve estar como quesito principal, acima da própria aplicação da lei.

Ainda, para o referido autor, gerenciamento de crises é um método que visa oferecer ao órgão policial princípios, regras e rotinas que possibilitem a condução de situações de grande complexidade e imprevisibilidade na direção de resultados probabilisticamente favoráveis. (MONTEIRO, 2000).

Não menos importante que as diretrizes e procedimentos padrões, são os treinamentos dos efetivos, tanto físico quanto psicológico, os quais mesmo em situações de grandes estresses e por longas horas de trabalho, necessitam se manter cientes da missão que possuem e desenvolve-la da melhor forma possível, devendo realizar os procedimentos em extremas condições de segurança, sem tomar atitudes isoladas que comprometam ou coloquem em risco de morte qualquer envolvido.

Nesse sentido, a capacitação continuada se mostra como forte aliada. Chiavenato (2010) afirma que:[...] desenvolver pessoas não é apenas dar-lhes informação para que elas aprendam novos conhecimentos, habilidades e destrezas e se tornem mais eficientes naquilo que fazem. É, sobretudo, dar-lhes a formação básica para que aprendam novas atitudes, soluções, ideias, conceitos e que modifiquem seus hábitos e comportamentos e se tornem mais eficazes naquilo que fazem. (CHIAVENATO, Idalberto. 2010, p. 362)

Monteiro (2000 p 10) defende que não resta a menor dúvida de que os estudos e treinamentos especiais são pré-requisitos indispensáveis para qualquer policial que receba a incumbência de gerenciar crises, independentemente do seu nível hierárquico. Destaca que, que esses estudos e treinamentos devem ser constantes e sempre atualizados, através de exercícios periódicos, pois quanto mais treinada e preparada estiver uma organização policial para o enfrentamento de eventos críticos, maiores serão as suas chances de obter um bom resultado.

5.1 Classificações de ocorrências criticas

A Policia Militar do Paraná adota para classificação de ocorrências criticas e para fins de cumprir os Procedimentos Operacionais Padrão – POP, as seguintes ocorrências:

1. Roubos ou outros crimes frustrados com tomada de reféns;

2. Extorsões mediante sequestro (responsabilidade da Polícia Civil);

3.Rebeliões com reféns em estabelecimentos prisionais, centros de socioeducação, cadeias públicas ou delegacias;

4. Mentalmente perturbados, barricados ou não, com tomada de vítimas, reféns ou sozinhos;

5.  Criminosos sozinhos e barricados contra a ação da polícia;

6.  Movimentos sociais ou grupos sociais específicos com tomada de reféns ou vítimas;

7.  Tentativas de suicídio com CEC armado ou desarmado;

8.  Ocorrências envolvendo explosivos;

9. Ações terroristas (atentados ou tomada de reféns ou vítimas);   

10.Ocorrências envolvendo atiradores ativos;

11.Tomada de aeronaves por criminosos, terroristas ou perturbados.

Na Policia Militar do Paraná todas as Unidades são instruídas quanto à doutrina de emprego em casos de evento critico, os quais tem a obrigação de seguir o protocolo de atuação,   sendo   fundamental   a   responsabilidade    coletiva    e   fidelidade   aos    objetivos doutrinários, sendo os eventos que porventura extrapolarem a capacidade do policiamento extraordinário, gerenciados por equipe especializada.

6 . METODOLOGIA

A pesquisa explorou diretrizes e regras que norteiam a Instituição Policial Militar do

Estado  do  Paraná,   as   quais   estabelecem   procedimentos   padrões   para   atendimento  de

ocorrências policiais, principalmente as consideradas de alto risco, ou seja, eventos críticos

que exigem táticas e técnicas destinadas a defesa do cidadão e do próprio policial, com foco

na preservação da vida.

Inicialmente  foi  apresentada  a  definição  de  conceitos  que  envolvem  o  assunto,

baseado em bibliografias de autores que estudam o tema, apresentando os problemas que

envolvem  o  primeiro  atendimento  em  evento  critico,  e  a  compreensão  da  doutrina  de

gerenciamento de crises, relacionando com o protocolo de atuação da Policia Militar do

Paraná, com as regras e diretrizes internas.

O objetivo da pesquisa foi compreender as responsabilidades da primeira equipe

policial  ao  se  deparar    com  uma  ocorrência  de  grande  vulto  e  necessitar  prestar  todo

atendimento inicial sem se precipitar, pois como afirma Souza (2000): não cabe improviso quando se lida com vidas humanas em perigo.

A pesquisa foi realizada através de levantamento bibliográfico, a qual é feito a partir do levantamento de referências teóricas já analisadas (GIL, 2008), com o estudo de obras já publicadas, sejam elas escritas ou digitais.

As referências utilizadas foram obras publicadas por pessoas envolvidas na segurança pública, como delegado Monteiro, Policial Federal Salignac, Capitão Souza (PMESP) entre outros, os quais descrevem problemas ocorridos e direcionamentos com o objetivo de analisar questões sobre gerenciamento de eventos críticos, sendo a pesquisa de caráter exploratório e descritivo, embasando o referencial teórico.

7. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Toda ocorrência policial, por mais simples que possa parecer pode se tornar uma situação de evento critico, pois o ser humano em determinadas situações pode tomar atitudes inesperadas, independente se criminoso ou não.

Dessa forma, por se tratar geralmente de manifestação violenta e repentina se faz necessário que tanto a Corporação quanto o profissional Policial Militar se preocupem na capacitação técnica, física e psicologicamente para que caso necessite, possa prestar atendimento que não comprometa a vida de vitimas ou dos próprios policiais, uma vez que inevitavelmente policiais que não pertencem a tropas especializadas são os primeiros interventores.

Nesse sentido, há se considerar ainda que cada caso necessita de uma resposta especial e aceitável, e a aptidão para negociação ou a necessidade de intervenção letal, exige definição de responsabilidades, postura da Corporação em sua organização referente as resposta aos incidentes críticos, estrutura e investimentos nas equipes especializadas, capacitação dos policiais e protocolos operacionais padrões de conhecimento de toda a tropa.

É   notório que as Instituições vêm se preparando mais, com planejamentos especiais, instruções padronizadas ao efetivo, porém, não depende somente da capacitação da mesma ou do policial para que o resultado seja satisfatório, uma vez que, embora a crise seja considerada imprevisível e não seletiva, há algumas situações em que a falta de atitude por parte dos governantes ou até mesmo administradores, podem gerar danos irreparáveis, como caso das penitenciárias superlotadas em que as rebeliões são pré-anunciadas diariamente.

O gerenciamento de uma crise não pode ser improvisado, bem como, não pode ser desprezada qualquer atitude ou ameaça do causador, uma vez que são diversos os motivos que levam as pessoas a agirem de forma perigosa e o nível de estresse pode ter um desfecho trágico irreparável. Além, conforme relatado no teor do trabalho, a preservação de vidas deve estar acima do cumprimento da lei. O causador pode ser preso posteriormente, vitima ou refém usado para vantagens como a liberdade, podem não ter a segunda chance.

REFERÊNCIAS

BENGOCHEA, Jorge Luiz Paz; GUIMARÃES, Luiz Brenner; GOMES, Martin Luiz; ABREU, Sérgio Roberto de. A transição de uma polícia de controle para uma polícia cidadã. São Paulo em Perspectiva, v. 18, n. 1, 2004.

CHIAVENATO, Idalberto. Gestão de pessoas. 3. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2010.

GIL, Antonio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2008.

MONTEIRO, Roberto das Chagas, Tradução e adaptação do tema "What every negotiator would like his chiefto know" de Fuselier, Dwaine Gary. - Curso de Gerenciamento de Crises da PMPR, s.d.

PONTES, Valter Wiltemburg, Operações Policiais Militares: Administração de Crises.

Curitiba-Paraná. 2000.

SALIGNAC, Ângelo. Negociação em crises: Atuação policial na busca da solução para

eventos críticos. 1. ed. São Paulo: Ícone, 2011.

SILVA,  Marco  A.  Primeira  intervenção  em  crises:  teoria  e  pratica.  1  ed.  Curitiba:

Associação da Vila Militar, 2015.

SOUZA, Wanderley Mascarenhas de. Gerenciamento Crises em Segurança Pública. 1ª ed.

São Paulo, 2000.

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Dirceu Eichstaedt

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A importância desse estudo está diretamente relacionado a preservação da vida humana, que é o nosso bem maior. Profissionais que estão incumbidos dessa preservação necessitam cada vez mais estarem preparados física e psicologicamente para atenderem da melhor forma possível a ameaça a esse bem tão valioso. Pensando nisso estudos são desenvolvidos normatizando padrões de atendimento para que se tenha uma maior eficiência em ocorrências com essa com

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