Mossad: Serviço Secreto do Estado de Israel

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Tem como objetivo estudo o serviço de inteligência de Israel e buscar analisar suas estratégias e de como funcionam suas operações.

  1. INTRODUÇÃO

Os Serviços de Inteligência sempre fizeram parte dos grandes clássicos Hollywoodianos. E foi através do soft power - expressão usada nas Relações Internacionais para descrever a habilidade que um Estado tem de influenciar outros corpos políticos indiretamente através da cultura ou ideologias - que a visão de mundo ocidental foi construída. Filmes como 007, onde o famoso agente secreto inglês James Bond, homem inteligente, confiante, bem vestido e que vive uma vida repleta de ação e missões impossíveis, são exemplos da imagem que a sociedade ocidental tem desse tipo de Serviço de Inteligência.

Entretanto, em Israel, essa Instituição tem um papel de suma importância na história. O Mossad, Serviço Secreto Israelense, foi oficializado em 19 de dezembro de 1949, com sua sede principal em Telavive, e desde então tem se tornado o Serviço Secreto mais eficiente e mais temido de todos os tempos. O programa iniciou-se em meados dos anos 30, quando uma organização paramilitar chamada Haganá, composta por judeus operou na Palestina. Foi então que o Ezra Danin, agricultor da região, se tornou o primeiro espião da Instituição e passou a investigar a vida de possíveis alvos árabes, rivais na época. Logo após esse episódio, ele criou mais duas unidades de espionagem chamada Shai, como um centro especializado dentro do Mossad e o Jewish Brigade Group, passou também a fazer parte. Esse último foi responsável na Segunda Guerra Mundial a ajudar judeus irem da Europa para a Palestina, ou seja, transportá-los com segurança clandestinamente. Foi nesse momento que descobriram as atrocidades que ocorriam nos campos de concentração Nazistas comandadas por Adolf Hitler e outros na Alemanha (SZKLARZ, 2019).

Perante a revolta, criou-se grupos de extermínio que tinham como principal objetivo se vingar do que ocorria com os judeus, e foi a partir daí que passaram a perseguir e caçar oficiais nazistas que de certa forma tinham alguma ligação com tudo que estava acontecendo pós guerra. Foi por meio desse princípio da história do Mossad e a partir de filmes e documentários como: O Anjo de Mossad (2018), Munique (2005), Missão no Mar Vermelho (2019), Por dentro de Mossad (2018) e muitos outros documentos, que essa análise foi feita. Buscando relatar algumas das principais missões da Instituição, analisando a forma que o Mossad atuou em cada uma delas e quais foram os seus reais motivos, destacamos as operações: Garibaldi, Cólera de Deus, Mar Vermelho e Síria no relatório, além de evidenciar a relação de poder e eficiência do Serviço de Inteligência mais temido por todos.

  1. OPERAÇÕES

OPERAÇÃO GARIBALDI

Uma das operações mais conhecidas do Serviço Secreto israelense foi a condenação de Adolf Eichmann, um dos chefes nazistas responsáveis pela morte de mais de 6 milhões de judeus durante o período do Holocausto. Ele viveu foragido na cidade de Buenos Aires na Argentina com o nome falso de Ricardo Klement, e não demorou muito para que Adolf fosse desmascarado pelo Mossad.

A operação não foi violenta, porém, desafiando a soberania do Estado da Argentina, os agentes entraram em ação, sequestrando Eichmann e o levando para Israel. Lá ele foi julgado, mais precisamente no dia 11 de abril de 1961 e a sua sentença de morte foi lida. Eichmann solicitou por clemência, mas foi negada e duas horas após, ele foi enforcado e seu corpo cremado (CARVALHO, 2017).

OPERAÇÃO CÓLERA DE DEUS

A Operação mais conhecida como Cólera de Deus, foi uma das retaliações mais extensas e famosas do grupo Mossad. Depois do ataque terrorista em 1972, onde vários atletas israelenses foram assassinados pelo grupo Setembro Negro nas Olimpíadas realizadas na cidade de Munique - Alemanha, a sede de vingança do povo de Israel perdurou por vários anos. Porém, para entender a motivação do grupo palestino Setembro Negro e seu ataque, é preciso voltar um pouco na história e evidenciar a rivalidade entre Israel e os países árabes.

No ano de 1967, o Exército de Israel ocupou a Faixa de Gaza (território palestino) e partes da Síria e do Egito, onde viviam mais de 1 milhão de palestinos. Como consequência, vários deles foram presos e até mesmo mortos na tentativa de expulsá-los. Ou seja, durante o ataque, muitas das pessoas que vivenciaram o massacre dos atletas em Munique não sabiam desse motivo (GOMES, 2020; MIRANDA, 2020).

Durante a tentativa de resgate no dia do ataque de 1972, policiais alemães perceberam que tudo passava de um ataque suicida, e que eles não conseguiriam fazem muito. Foi então, que terroristas em helicópteros abriram fogo contra todos, explodindo uma granada. Dentre as vítimas estavam, outros atletas, policias e terroristas. No final disso, 3 palestinos foram presos, o que não foi o suficiente para os israelenses. Foi então que começou a saga da vingança do ataque, mais conhecido como: Operação “Ira de Deus” ou “Cólera de Deus”.

Nos anos seguintes, vários considerados responsáveis pelos ataques do Setembro Negro foram perseguidos, investigados e mortos de várias formas brutais pelo Serviço de Inteligência Israelense. O mais conhecido foi o Abu Youssef, terceiro homem mais poderoso do Fatah, braço militar da Organização para Libertação da Palestina e também acusado por financiar o ataque terrorista.

OPERAÇÃO ETIÓPIA

No ano de 1974 houve uma Guerra Civil na Etiópia, na qual a causa foi um golpe de Estado. Essa Guerra foi marcada por conflitos armados bastante violentos por parte de um grupo militar que tomou o poder, chamado “Derg”. Por conta dessa Guerra, haviam milhares de refugiados, fugindo dos assassinatos, violência, e atentados contra suas vidas. O Mossad, interessado em ajudar esses refugiados, planejou uma missão para salvarem as vidas dos mesmos. (MUST, 2020)

Em um filme, baseado em fatos reais, chamado “The Red Sea Diving Resort” ou “Missão no Mar Vermelho”, da Netflix, retrata a realidade que os refugiados e o Serviço de Inteligência de Israel (Mossad) viveram durante alguns anos. Logo no início do filme, eles mostram um cruel ataque à população, onde o grupo militar assassinou friamente homens, mulheres (chegando a abusar sexualmente das mesmas), crianças e etc; enquanto um homem chamado “Ari” ajudava essa mesma população.

Quando o agente secreto da Mossad, Ari, volta para Israel, seus superiores cancelam a operação na Etiópia, fazendo com que, mesmo contra vontade da organização, Ari apresente uma suposta solução para continuarem com a operação sem levantarem suspeitas. A solução seria de construir um hotel de fachada perto do Mar Vermelho onde agentes disfarçados pudessem planejar fugas dos refugiados sem que fossem descobertos.

Essa parte em específico retrata uma realidade diferente da fama que colocam em cima da Mossad. Geralmente a retratam como violenta, onde muitos tem medo de suas ações. Dentro da Operação citada, os agentes usam nomes diferentes e entram sem armas de fogo, agindo secretamente. Contradizendo sua fama.

Quando eles conseguem o hotel com o chefe de Estado do Sudão, logo começam a planejar os resgates. Mas algo inesperado acontece quando eles realmente recebem hóspedes. Apesar disso, continuaram as operações, funcionando por volta de dois anos, até o momento em que os militares desconfiam do sumiço de diversos números de refugiados e procuram quem está por trás desses fatos. Tais operações obtiveram sucesso por conta do sigilo, afinal, os agentes não teriam conseguido se tivessem agido de forma brutal.

OPERAÇÃO SÍRIA

Tendo o Mossad surgido com o fito de obter informações que fossem consideradas úteis ao Estado de Israel, a relação inicial da organização com o país sírio estabeleceu-se nessas mesmas bases. Expoente disso, a agência infiltrou um agente secretamente na Síria, a fim de coletar dados para sua inteligência, para que pudessem precaver-se de possíveis ameaças e ataques. Esse agente, um egípcio de nome Eli Cohen (⋆1924-♰1965) interpretava uma persona, Kamil Amin Taabes, e teve sua estreia em uma operação na Argentina, em 1960, e era a figura de um rico exportador e importador, o que viabilizou sua entrada em Damasco rapidamente. (GHIVELDER, 2005; ISRAEL, [20--]; OREN; KFIR, 2014; THOMAS, 2009)

Assim que se estabeleceu na capital, ele criou uma importante rede de contatos com proeminentes políticos, empresários e militares, como no círculo social do então Presidente Nazim Al-Kudsi (1961-1963), e de seu predecessor, Presidente Amin Al-Hafez (1963-1966). Fruto de seu período em campo, Cohen descobriu informações secretas sobre o bunker subterrâneo sírio, que se estendia pela fronteira do país com Israel, assim como instalações militares as quais guardavam armamento fornecidos pelos soviéticos. (DEREČIN, 2015; GHIVELDER, 2005; OREN; KFIR, 2014; THOMAS, 2009)

Contudo, em janeiro de 1965, o agente foi descoberto, graças a equipamentos avançados da inteligência soviética, enquanto se comunicava com a inteligência israelense. Dessa forma, após ser capturado e torturado, Eli Cohen foi levado a julgamento e condenado à pena de morte na forca, no dia 18 de maio do mesmo ano. Tendo isso em vista, trabalhos como o de Cohen foram vitais para a segurança israelense, de maneira que conseguiram vantagens na Guerra Árabe-Israelense de 1967, em que as Colinas de Golã, na fronteira síria-israelense, onde se encontravam os bunkers, foram tomados por Israel. (BAINERMAN, 2005; DEREČIN, 2015; GHIVELDER, 2005; OREN; KFIR, 2014; THOMAS, 2009)

  1. RELAÇÃO DE PODER E EFICIÊNCIA

Com base nas operações realizadas pelo Mossad, evidenciando a existência de muitas outras que não foram aprofundadas neste relatório, é possível perceber a eficiência das mesmas à partir de muitos aspectos. O primeiro deles, é o sigilo das operações realizadas pelo Serviço de Inteligência de Israel, este muitas vezes evita o uso de violência e acaba tendo o mesmo êxito. O segundo, é o poder que esse grupo tem, pois foram diversos ataques grandiosos em missões de extrema importância para a história, uma vez que o Estado de Israel é cercado de inimigos. Outro aspecto é que apesar de não possuírem tecnologia de ponta, utilizam ainda da espionagem à moda antiga, onde diversos agentes estão espalhados pelo mundo, se esforçando em missões secretas.

Contudo, é no contexto de operações como as supracitadas que o Mossad tornou-se um dos serviços de inteligência mais reconhecidos em sua capacidade de ação. Seguindo cálculos utilitários, Israel estabeleceu-se enquanto agente seguidor de uma estratégia “Realpolitik ‘esclarecida’”, em que realiza ações embasadas no princípio da sobrevivência do Estado, enquanto compartilha de valores solidaristas e comunitaristas internacionais (ALMEIDA, 2008). Dessa forma, a agência de segurança realiza diversas ações que transpassam a legalidade nacional de outrem e convenções internacionais, visando um “bem comum” delimitado arbitrariamente pelos interesses israelenses. Não obstante, embora não seja uma potência global, o Estado demonstra que a Realpolitik pode ser adotado apesar da projeção internacional que um ator tenha.

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REFERÊNCIAS

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ARENDT, Hannah. Eichmann em Jerusalém: Um relato sobre a banalidade do mal. [S. l.: s. n.], 1999.

BAINERMAN, Joel. Inside the Covert Operations of the CIA and Israel's Mossad: Undercover with the Spymasters of America and Israel. 1. ed. [S. l.]: Spi Books, 2005. 291 p. ISBN 978-1561713509.

BEZERRA, Eudes. Mossad – guia completo sobre o serviço secreto de Israel. Disponível em: https://incrivelhistoria.com.br/mossad-servico-secreto-israel/. Acesso em: 4 set. 2020.

CARVALHO, Sagran. Operação Garibaldi – Mossad – A prisão de Adolf Eichmann. Café no Front, [S. l.], p. Camaradas-atuais, 31 out. 2020. Disponível em: https://cafenofront.wordpress.com/2017/10/31/operacao-garibaldi-mossad-a-prisao-de-adolf-eichmann/. Acesso em: 31 out. 2017.

DENÉCÉ, Éric; ELKAIM, Davis. Les services secrets israéliens: Aman, Mossad et Shin Beth. Paris: Éditions Tallandier, 2014. 451 p. ISBN 97 9-1 0-2 1 0-01 64-0.

DEREČIN, Robert. Kako Je Uhićen Naš Čovjek U Damasku?. Polemos: Journal of Interdisciplinary Research on War and Peace, [S. l.], v. XVIII, ed. 36, p. 119-136, 2015. Disponível em: https://hrcak.srce.hr/index.php?show=clanak&id_clanak_jezik=231004&lang=en. Acesso em: 4 set. 2020.

ESPONA, Maria José; PITTA, Manuel Giavedoni. A “Cegueira Pregnante” na Inteligência: Um Caso Histórico. Coleção Meira Mattos, Rio de Janeiro, v. 9, n. 35, p. 421-432, maio/ago 2015.

FRATTINI, Eric. Mossad: Historia Del Instituto: Los servicios secretos. 1. ed. [S. l.]: Edaf Antillas, 2006. 267 p. ISBN 978-8441417441

FRATTINI, Eric. Mossad os Carrascos do Kidon: Os Carrascos Do Kidon. [S. l.]: Seoman, 2014. 392 p. ISBN 8598903876.

GHIVELDER, Zevi. Eli Cohen: O espião mestre. In: INSTITUTO MORASHÁ DE CULTURA (Brasil). Morashá (ed.). Biografias. 49. ed. [S. l.], junho 2005. Disponível em: https://www.morasha.com.br/biografias/eli-cohen-o-espiao-mestre.html. Acesso em: 5 set. 2020.

HECHT, Haim. Mossad: An Intelligence Failure. Disponível em:https://online.ucpress.edu/jps/article-abstract/12/4/178/96158/Mossad-An-Intelligence-Failure?redirectedFrom=PDF. Acesso em: 5 set. 2020.

ISRAEL. Mossad, [20--]. Website oficial. Disponível em: https://www.mossad.gov.il/eng/Pages/default.aspx. Acesso em: 5 set. 2020.

MACHELL, Ben. O agente secreto que ajudou a salvar 7 mil judeus. Disponível em: https://www.must.jornaldenegocios.pt/conversas/detalhe/o-agente-secreto-da-mossad-que-resgatou-mais-de-7-mil-judeus. Acesso em: 4 set. 2020.

OREN, Ram; KFIR, Moti. Sylvia Rafael: The life and death of a Mossad spy. [S. l.]: The University Press of Kentucky, 2014. ISBN 978-0-8131-4696-6.

SZKLARZ, Eduardo. A eficiência implacável do serviço secreto israelense. AH. Disponível em:<https://aventurasnahistoria.uol.com.br/noticias/reportagem/mossad-a-eficiencia-implacavel-do-servico-secreto.phtml>. Acesso em: 4 set. 2020

THE ANGEL. Direção: Ariel Vromen. Produção: Simon Istolainen, Zafrir Kochanovsky e Antoine Stioui. Intérprete: Marwan Kenzari. Roteiro: Ariel Vromen, David Arata e Luke Garrett. United America States: Netflix, 2018. Disponível em: netflix.com. Acesso em: 29 ago. 2020.

THOMAS, Gordon. Gideon's Spies: The Secret History of the Mossad. New York: Thomas Dunne Books, 2009. 832 p.

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Trabalho na disciplina de Direito Internacional Publico na Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais.

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