A crise coroada ou a coronacrisis

25/09/2020 às 16:02
Leia nesta página:

A crise econômica causada pela atual pandemia. Os diferentes modos dos países em administrar a crise e seus reflexos.

 

 

 

 

O dia fatídico foi 11 de março de 2020 quando a Organização Mundial de Saúde (OMS) decretou a pandemia de Covid-19, doença causada por coronavírus que pode ser assintomática e, até causar sérias síndromes respiratórias acarretando óbito. Incialmente, o surto estabeleceu-se em Wuhan, na China, mas foi se propagando por todos os continentes em ritmo frenético e dinâmico.

 

A crise epidemiológica acarretou também crise econômica que pode ser particularmente grave em face das medidas emergenciais que foram e ainda são tomadas.

 

A crise afetou toda a dinâmica da economia mundial e, também, por óbvio, a economia brasileira que volta a se estatuir na égide do Estado do Bem-Estar social. Sem dúvida, a crise coroada é distinta de outras crises anteriormente observada no capitalismo ocidental.  Alcançou o pleno emprego e provocou desmobilização dos fatores de produção das principais potências produtivas do mundo, com queda sensível tanto na produção industrial e de serviços.

 

Há profunda recessão econômica já observada em diversos países. A crise que começou no mundo real afetando a área produtiva para depois impactar os mercados financeiros e de crédito. É justamente o oposto da crise de 2008 que começou no mercado de crédito imobiliário norte-americano e se espalhou para o setor financeiro e, ao final, atingiu em cheio a economia real. E, assim, a ordem dos fatos e fatores interfere certamente no resultado.

 

Saliente-se, ainda, a peculiaridade da crise no âmbito geopolítico o que mostra sua face perversa. As chamadas Supply chains ou cadeias de suprimento vão se rompendo pelo impacto da pandemia na Ásia e na Europa. As viagens aéreas e internacionais são restringidas e, ocorre, mesmo o fechamento de fronteiras e a instituição de medidas protecionistas principalmente em referência aos equipamentos e produtos médicos, havendo até proibição de exportação de máscaras e respiradores.

 

A verdadeira solução se dá quando a situação sanitária for finalmente controlada, ou ainda, houver uma vacina ou terapia eficaz contra o vírus, possibilitando a retomada da produção. Há expressivo esforço dos bancos centrais em manter saudáveis os mercados financeiros e de crédito, já que as perspectivas de receitas e lucros das empresas são decadentes. 

 

Já passou da hora de se regulamentar o imposto sobre grandes fortunas no Brasil.

 

Diante do cenário, a saída é massiva política fiscal promovendo austeridade e redução do endividamento público. Precisa-se de impor verdadeira estatização dos fluxos de renda (salário e receitas das empresas) por um período de alguns meses, ou quiçá, de anos.

 

Precisa-se ampliar o acesso ao crédito através de instituições públicas que já não existe maneira de obrigar que as instituições privadas aceitem tamanho risco num momento de instabilidade e incerteza.

 

Conclui-se que a particular natureza da atual crise econômica demanda resposta diversificada e a política monetária terá de ser capaz de adiar a crise de crédito, mas apenas a política fiscal terá habilidade de salvar a economia até que a crise sanitária seja superada.

 

A história das pandemias no mundo moldara as formas como as quais as sociedades se organizaram e permaneceram. Apesar de alguns românticos ou desavisados acreditarem que os efeitos trazidos pelo Covid-19 sejam somente temporários e que deverão ser revertidos.

 

No Brasil, a crise acentuou ainda mais as desigualdades seja por seu precário sistema de saúde público, seja pelo sistema de educação ou, simplesmente, pela falta de gestão planejada e séria para superar a crise.

 

Pois, sob a égide de um cego negacionismo, ainda enfrentamos o desastre ambiental das queimadas e desmatamentos que são peremptoriamente negligenciados. Enfim, é uma crise coroada de incerteza e crueldade, mas será necessária sobriedade para conseguir reequilibrar as economias do mundo.

 

Quanto ao negacionismo, a história reservará um lugar de execração e desprezo assim como o fez com o fascismo e nazismo. Tomara que sirva de mais uma aprendizagem.

 

 

Sobre a autora
Gisele Leite

Gisele Leite, professora universitária há quatro décadas. Mestre e Doutora em Direito. Mestre em Filosofia. Pesquisadora-Chefe do Instituto Nacional de Pesquisas Jurídicas. Possui 29 obras jurídicas publicadas. Articulista e colunista dos sites e das revistas jurídicas como Jurid, Portal Investidura, Lex Magister, Revista Síntese, Revista Jures, JusBrasil e Jus.com.br, Editora Plenum e Ucho.Info.

Informações sobre o texto

Este texto foi publicado diretamente pelos autores. Sua divulgação não depende de prévia aprovação pelo conselho editorial do site. Quando selecionados, os textos são divulgados na Revista Jus Navigandi

Leia seus artigos favoritos sem distrações, em qualquer lugar e como quiser

Assine o JusPlus e tenha recursos exclusivos

  • Baixe arquivos PDF: imprima ou leia depois
  • Navegue sem anúncios: concentre-se mais
  • Esteja na frente: descubra novas ferramentas
Economize 17%
Logo JusPlus
JusPlus
de R$
29,50
por

R$ 2,95

No primeiro mês

Cobrança mensal, cancele quando quiser
Assinar
Já é assinante? Faça login
Publique seus artigos Compartilhe conhecimento e ganhe reconhecimento. É fácil e rápido!
Colabore
Publique seus artigos
Fique sempre informado! Seja o primeiro a receber nossas novidades exclusivas e recentes diretamente em sua caixa de entrada.
Publique seus artigos