Sociedade de informação versus sociedade do conhecimento

25/10/2020 às 18:10
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Vivenciamos numa era de mudanças ou numa mudança de era. Há profundas transformações que acompanham a acelerada introdução na sociedade da inteligência artificial e as novas tecnologias da informação e comunicação (TICs).

Vivenciamos numa era de mudanças ou numa mudança de era. Há profundas transformações que acompanham a acelerada introdução na sociedade da inteligência artificial e as novas tecnologias da informação e comunicação (TICs).

Sem dúvida é uma nova etapa da sociedade industrial, da formação da aldeia global, a era tecnotrônica, uma sociedade pós-industrial, a sociedade da informação e sociedade do conhecimento são alguns dos termos cunhados com intenção de identificar e entender o alcance destas mudanças.

Mas enquanto o debate continua no âmbito teórico, a realidade antecipa os efeitos e a terminologia mais adequada para ser utilizada.

Basicamente qualquer terminologia usada apresenta um atalho que nos permite acessar um fenômeno tanto atual como futuro, sem ter de descrevê-lo todas as vezes, mas o termo escolhido por si só não define o conteúdo.

O real conteúdo surge através de usos em um dado contexto social que, por sua vez, influem nas percepções e expectativas, uma vez que cada termo carrega consigo um passado e um sentido ou sentidos, com sua respectiva bagagem ideológica e filosófica.

Era de se esperar, então, que qualquer termo que se queira empregar para designar a sociedade na qual vivemos, ou à qual aspiramos, seja objeto disputa de valores que existem por de trás em cada projeto de sociedade.

Segundo a Cimeira ou Cúpula Mundial da Sociedade da Informação (CMSI)[1], há dois termos que ocuparam o cenário, a saber: a sociedade da informação e sociedade do conhecimento com suas respectivas variantes. Apesar de que o âmbito ter imposto o uso da primeira terminologia, desde o início houve falta de conformidade e nenhum termo conseguiu um consenso.

No século XX, a sociedade da informação inegavelmente foi a expressão que se consagrou como termo hegemônico, não porque expresse necessariamente uma clareza teórica, mas principalmente pelo batismo que recebeu das políticas oficiais dos países desenvolvidos e ainda pela glorificação que pontuou a Cúpula Mundial.

Os antecedentes do referido termo, porém, datam de época anterior, pois já em 1973[2] o sociólogo norte-americano Daniel Bell introduziu o conceito de sociedade de informação no seu livro intitulado “O advento da sociedade pós-industrial” onde formulou que o eixo principal dessa sociedade será o conhecimento teórico e adverte que os serviços baseados no conhecimento terão de se converter na estrutura central da nova ordem econômica, e de uma sociedade sustentada na informação[3], onde as ideologias serão supérfluas.

Pretende-se fomentar a noção de que as TICs desde que sejam bem utilizadas e geridas com o fito de garantir maior disseminação da informação a todos os tecidos sociais, a fim de que se consiga promover a revolução da informação para todos, auxiliando no desenvolvimento da sociedade do conhecimento, com amparo nas possibilidades mais acessíveis.

As primeiras manifestações sobre uma nova sociedade calcada nas potencialidades da informação e do conhecimento, inclusive reconhecida como geração de riqueza, foi manifestada por Bell conforme citou Burch e Nehmy & Paim. Foi Bell que trouxe para o debate as alterações realizadas com base nas tecnologias insurgentes.

Segundo Nehmy & Paim que desenvolveu algumas teses para a nova sociedade, baseada em critérios como alteração no setor de serviços pois aumentariam os cargos vinculados ao conhecimento; o conhecimento iria servir como propulsor da concorrência entre as empresas, de forma que a pesquisa e o desenvolvimento ao lado das inovações tecnológicas passariam a ser centro de atenção dos países que buscam o desenvolvimento.

Dá-se a criação de uma elite do conhecimento que seria a classe dominante nesta sociedade, ou seja, quem detivesse conhecimento, deteria o poder, o estreitamento entre os interesses econômicos e o conhecimento; o deslocamento da importância do conhecimento humano para a relevância em transmutar estes conhecimentos para dentro de computadores.

Depois de Bell com sua sociedade pós-industrial, onde o conhecimento assume um caráter utilitarista, outros doutrinadores seguiram tentando apontar os prováveis rumos da nova sociedade e, veio a receber diversas nomenclaturas, de acordo com a visão e a teoria de cada um destes.

Foi em 1990 que o termo "sociedade da informação" aparece no bojo do desenvolvimento da internet e das tecnologias da informação e comunicação.

Mas, a partir de 1995, o termo é inserido na agenda de reuniões da Comunidade Europeia e da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico que reúne os trinta países mais desenvolvidos da Terra. O termo igualmente fora adotado pelo governo norte-americano bem como pelo Banco Mundial.

Para a autora Burch o termo "sociedade da informação" passou a ser usado como construção política e ideológica, de forma unilateral dentro do contexto da globalização e para quem a meta seria o acelerar a instauração de mercado mundial aberto e auto-regulável.

Aliás, política que passou a contar com o apoio dos organismos internacionais econômicos.  Já para André Gorz a denominação escorreita seria "Sociedade da Inteligência" porque para o doutrinador a inteligência que é de fato mais importante.

Referências:

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TOFFLER, A. A terceira onda. Rio de Janeiro: Ed. Record, 1980.


[1] Consiste em dois eventos patrocinados pela Organização das Nações Unidas (ONU) sobre informação, comunicação e, em termos amplos, a Sociedade da Informação que ocorreu em 2003 em Genebra e em 2005 em Túnis. Uma de suas metas principais era diminuir a então chamada exclusão digital global que separa países ricos e pobres através da ampliação do acesso à internet no mundo em desenvolvimento. As conferências marcaram o dia 17 de maio como sendo o Dia Mundial da Sociedade da Informação.

O Processo de Avaliação é um seguimento da CMSI cujo propósito é fornecer registro de atividades realizadas pelos governos, organizações internacionais, setor financeiro, sociedade civil e outras entidades, A Plataforma de avaliação da CMSI foi lançada por Mister Zao, Secretário-Geral Adjunto da  União Internacional de Telecomunicações (UIT) e presidente da Força Tarefa da CMSI, cargo da UIT. O objetivo dessa plataforma é de melhorar funcionalidades existentes e transformar o antigo banco de dados estático em um portal para destacar os projetos relacionados com TCI e iniciativas em consonância com a implementação da CMSI.

[2] A expressão sociedade pós-industrial é proposta no sentido de demonstrar que a economia passou por série de mudanças específicas, depois do processo de industrialização. E, tal conceito fora introduzido pelo professor emérito da Universidade de Harvard Daniel Bell, em sua obra The Coming of Post Industrial Society: A Venture in Social Forecasting (A vinda da sociedade pós-industrial: um empreendimento na previsão social”, de 1973.

[3] O mundo industrial que existiu entre os anos de 1900 até 1945 tinha em seu processo produtivo o trabalho manual, racional, conhecido como taylorismo/fordismo. E, com isso, nas linhas de produção e montagem, o trabalho intelectual era apartado do trabalho braçal e os operários com suas atuações ultra-especializadas, não podiam desenvolver criatividade ou até mesmo, ter ações participativas no desenvolvimento da empresa, uma vez que era interessante a padronização e o local de produção das mercadorias.

Nessa era, o homem valia em razão de sua força física. Porém, com a expansão da comunicação, a informação e o conhecimento foram se tornando necessário e aos poucos, o homem em vez de usar sua força física, passou a utilizar a força mental para o trabalho.

E, assim, surgiu a importância da criatividade que foi substituindo à força muscular; as atividades mentais foram sendo aprimoradas, quando, para se produzir, acionaram-se também os mecanismos de processamento de dados e a inteligência artificial de computadores em diversos locais de produção. Desta forma a criatividade e a inovação tecnológica foram se tornando bens importantes e o homem ao invés de expandir músculos para produzir, passou a expandir e exercitar a sua inteligência.

Sobre a autora
Gisele Leite

Gisele Leite, professora universitária há quatro décadas. Mestre e Doutora em Direito. Mestre em Filosofia. Pesquisadora-Chefe do Instituto Nacional de Pesquisas Jurídicas. Possui 29 obras jurídicas publicadas. Articulista e colunista dos sites e das revistas jurídicas como Jurid, Portal Investidura, Lex Magister, Revista Síntese, Revista Jures, JusBrasil e Jus.com.br, Editora Plenum e Ucho.Info.

Informações sobre o texto

Este texto foi publicado diretamente pelos autores. Sua divulgação não depende de prévia aprovação pelo conselho editorial do site. Quando selecionados, os textos são divulgados na Revista Jus Navigandi

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