Nicolau Maquiavel, em sua obra, O Príncipe, dedicou-se a mostrar condições para que um soberano alcançasse e se mantivesse no poder, direcionado a Lourenço de Médici, governador da Itália na época. Ao discorrer de seu livro, o autor elenca o que seria indispensável para que o monarca obtenha e se mantenha em um governo harmonioso.
Maquiavel fora o primeiro pensador a romper a ética da política. Isso é bem esclarecido em sua famosa frase em que "os fins justificam os meios". Ou seja, o que se quer dizer é que, se o príncipe pretende alcançar determinado fim que por ele seja almejado e que é algo benéfico ao seu governo, não importa os meios que ele utilize para se chegar a esse fim. Ou seja, pouco importa se o governante tomar alguma atitude que seja considerada antiética ou amoral, ou que seja considerada uma ação contra os bons costumes, desde que o fim que deseja seja alcançado para a manutenção de seu governo. Deste modo, é essencial que princípios pessoais, éticos ou morais sejam desconsiderados ao deter o poder, pois podem prejudicar o bom governo por estabelecer limites a este poderio. Por exemplo, durante a monarquia absolutista o governo era essencialmente ligado a religião, princípio que impede o monarca de se dispor de determinados meios para um bom governo por possuir princípios que proíbe e condenam determinadas atitudes indesejáveis.
Consoante ao exposto, "é melhor ser temido do que amado" é o que define o governo de acordo com Maquiavel. Pois, se para tomar e manter o poder seja preciso que o governante seja temido, desde que se alcance o bem maior, não há complicações, pois nada vale o meio desde que se atinja seus fins. Isso não quer dizer que ser temido é sinônimo de tomar atitudes sem pensar, era preciso agir com sabedoria. Ou seja, se o príncipe fosse amado por tomar atitudes consideradas boas e morais, mas, por não poder se valer de todo e qualquer meio para se manter de acordo com o que deseja em sua vigência, é melhor que seja temido e que possa fazer o que bem entender para alcançar o que deseja para com seu poderio. A junção de ambos os termos - ser temido e amado - apesar de ser o mais adequado, é algo muito difícil de se ocorrer, portanto, se for preciso escolher apenas um, que seja ser temido.
Os conceitos de virtú e fortuna
Além do que foi aqui destacado, era preciso que o príncipe possuísse qualidades para governar, em todo e qualquer momento e independentemente da situação. Por tanto, um governante precisava ser provido de virtú - qualidades positivas para enfrentar dificuldades que possam se apresentar durante a governança - para enfrentar o que seria a fortuna - o inesperado, infortúnios que podem afetar o governo e emergir na direção oposta do bem maior para com o governo. Então, pode-se dizer que um bom governante é aquele que diante de situações catastróficas tem a capacidade de se manter no poder por meio de maneiras adequadas para enfrentar os problemas que podem surgir durante sua regência, estando prevenido ao que possa ocorrer e evitando um abalo ao governo por posssuir o que for necessário para enfrentar possíveis dificuldades que possam estar por vir, dispondo da maior flexibilidade possível.
Porque ser maquiavélico não é sinônimo de estar de acordo com a teoria de Maquiavel?
Muitos associam a teoria de Maquiavel erroneamente em consonância com o agir ou pensar maquiavélico. Mas o que o autor realmente propõe é que de qualquer meio é válido pra se obter determinado fim, sendo que ser temido é melhor do que ser amado, mas isso não quer dizer que deve valer-se de meios com fins maldosos e abusar desse poder de maneira descontrolada e sem escrúpulos, visando algum tipo de aproveitamento - o que é o que define o pensar maquiavélico.
Ou seja, a teoria de Maquiavel não é maquiavélica pois não se diz respeito ao agir mal intencionado a todas as situações, mas sim de se valer de qualquer meio, podendo ser distinto da ética, que vise o bem de seu governo, e não um meio descontrolado sem um norte que não vise unicamente o bem comum de seu governo.
Diante do que fora supracitado, pode-se afirmar que os pressupostos de Nicolau Maquiavel inovaram a ciência política moderna e podem ser utilizados até os dias de hoje como inspiração acerca das atitudes de um indivíduo durante a posse de seu governo, um assunto que perdura desde a época de seus escritos e que advém até a contemporaneidade.