Resumo: O artigo destaca a importância da valorização da cultura local. Discorre sobre a importância não só da preservação cultural do destino turístico, mas também da experiência de envolvimento do turista com a realidade do lugar. Apresenta a alternativa de construção de um Turismo sustentável e cultural através da utilização da recreação e do Lazer destacando-se as características regionais e as peculiaridades do Lugar.
Palavras-chave: Turismo, Lazer, Cultura, Sócio-cultural.
Introdução
A atividade turística na realidade contemporânea apresenta diversos desafios diretamente ligados à valorização da cultura do destino e da verdadeira imersão do turista no contexto sócio-cultural do lugar. Para Ryan (2002), no coração da complexa estrutura do turismo, reside a experiência individual no lugar e as interações que os turistas têm com o local, sua população e com os representantes do setor de turismo que ali trabalham. O autor destaca que, do ponto de vista de quem recebe o turista, tais experiências e interações representam impactos sobre o status quo. Isso estabeleceria um diversificado conjunto de responsabilidades relacionadas aos turistas e às partes afetadas.
Podemos afirmar que o turismo é uma atividade consumidora de culturas (Santana, 2003). Portanto a preservação dos costumes, meios de vida, relação social e tradições do destino turístico é essencial não só por uma questão ética mas pela manutenção da própria atratividade do lugar. O profissional de turismo deve estar atento, então, não só a essa relevância da necessidade de se respeitar a cultura local, mas também à interação realmente profunda e genuína do turista em tal cultura.
Segundo os teóricos do lazer como Dumazedier (1979) e Marcellino (1987), o turismo seria um conteúdo ou interesse do lazer, isto é, o turismo seria uma forma de lazer. Portanto, tendo em vista tal relação se vê a importância da comunhão positiva do lazer com todos os segmentos turísticos. E considerando as afirmações supra citadas da relevância da preservação e valorização cultural dos destinos, se vê também a relevância do Lazer, e por conseqüência, da recreação como fator suporte para potencializar a realização do turismo com base no envolvimento e troca cultural entre turista e lugar.
Definições
Os termos envolvidos nesse artigo são motivo de discussões e relativismos intermináveis, porém me limitarei a usa-los da forma aqui apresentada para facilitar a compreensão do leitor. Segundo Dumazedier:
“Lazer é um conjunto de ocupações às quais o indivíduo pode entregar-se de livre vontade, seja para repousar, seja para divertir-se, recrear-se e entreter-se, ou ainda, para desenvolver sua informação ou formação desinteressada, sua participação social voluntária ou sua livre capacidade criadora após livrar-se ou desembaraçar-se das obrigações profissionais, familiares e sociais." (Dumazedier, 1976, apud Oleias)
Trabalharemos com esse conceito ressaltando a parte que diz respeito a entreter-se. Vê-se também a necessidade de se definir recreação mesmo sendo um termo mais específico e menos abrangente. Segundo a autora Marlene Guerra, recreação são:
“todas as atividades espontâneas, prazerosas e criadoras, que o indivíduo busca para melhor ocupar seu tempo livre”. “Qualquer atividade agradável ou distração que suponha descanso do trabalho”. (Guerra,1984)
Ela diz, ainda, que este tipo de atividade deve atender principalmente os diversos anseios das diferentes faixas etárias, dando liberdade de escolha das atividades, fazendo assim com que o prazer seja gerado. A definição de Turismo também gera polêmicas e diversos pontos de vista, porém utilizaremos a definição da OMT (Organização Mundial de Turismo):
“Movimento de pessoas a lugar diverso do qual habite por tempo inferior a 360 dias, desde que esta não realize atividades econômicas". (Organização Mundial de Turismo)
Outro assunto que gera polêmica talvez por ser um termo um tanto quanto abstrato é a definição de cultura. Como o que nos interessa é a cultura no sentido de raízes tradicionais de um lugar, como por exemplo o seu folclore, seus hábitos, sua culinária e todos os outros fatores que singularizam uma comunidade, assim o usaremos.
A valorização da cultura do Lugar através do Lazer e da recreação
A experiência imersiva do turista com o lugar é uma das peças chaves para a realização de um turismo positivo e sustentável. Um dos grande desafios do Turismo no século XXI é aliar o crescimento ecônomico das localidades ao mesmo tempo que solidifica a cultura e a preserva das consequencias negativas do turismo. A existência de discussões que atentam para a necessidade de preservação e valorização, resultam de um entendimento de que a cultura local funciona como uma bússola, de acordo com JeanPierre Warnier (Warnier,2000) e portanto deve ser entendida como um patrimônio. E que influências de outras localidades são bem vindas desde que as oportunidades de diversidade criadas não desvirtuem os locais.
Um termo em alta na literatura refrente ao Turismo e nas discussões pertinentes ao mesmo é o termo turismo sustentável que é definido pela OMT como sendo :
“aquele ecologicamente suportável em longo prazo, economicamente viável, assim como ética e socialmente eqüitativo para as comunidades locais”. (Organização Mundial do Turismo)
Fica claro pela definição que não há outra forma de se realizar um turismo favorável tanto para as comunidade quanto para o turista, desde que se queira valorizar a cultura de um destino turístico. Apartir disso devemos pensar meios que auxiliem a realização de turismo com tal caráter e assim sendo podemos ver no lazer um incentivo no desenvolvimento do turismo sustentável.
Uma vez inserido na realidade local o turista em sua maioria buscará Lazer dentro daquela realidade, não interessando se o seu objetivo com a viagem é o de busca por conhecimento, visitar parentes, apenas repousar em um lugar diferente do qual reside ou qualquer outro tipo de Lazer como turista. Dessa forma é importante desenvolver-se aparatos para que o mesmo realize suas atividades de Lazer contextualizado no cotidiano e na realidade do destino. Isso fica claro em situações como as em que o turista se desloca para um determinado destino e nesse lugar não se sente verdadeiramente participante da realidade do mesmo e se frustra pois a sua experiência de Lazer não foi muito diferente da que está acostumado no seu cotidiano.
Para solucionar o problema supracitado, podemos usar a recreação como auxiliar no almejado processo de inserção do turista com a realidade local. Toda comunidade possui em suas raízes culturais atividades de Lazer e recreação que a singularizam ou pelo menos retratam seus costumes. Brincadeiras, jogos e esportes regionais podem ser direcionados então para a sociabilidade e participação do turista junto da realidade local. Deve-se atentar também a não “sistematização” exagerada de tais atividades já que uma das bases da recreação é a espontaneidade e liberdade criadora dos envolvidos . Dessa forma o ideal seria, apenas a sugestão e a possível consideração de regras simples para a realização das diversas formas de recreação típicas do destino turístico.
Um exemplo positivo é a realização de gincanas (com turistas voluntários), como parte de um pacote de viagem, que envolva jogos, esportes e outros tipos de recreação típicos da localidade. Tais atividade já são vistas em algumas colônias de férias infantis.
Tais atividades diretamente relacionadas com o cotidiano e às raízes do lugar além de proporcionarem uma experiência singular ao turista, têm um efeito positivo também sob a comunidade. Espera-se um crescimento da valorização da própria cultura por parte da comunidade do lugar já que
“Ao valorizar as manifestações culturais, folclóricas, artesanais e a arquitetura da cidade, o Turismo Cultural melhora a autoestima da população local.” (Schneider, 2004).
Desse modo se vê como suporte a todo um processo de Turismo sustentável e positivo para a população local o processo de utilização do Lazer e da recreação para solidificar a identidade do lugar e potencializar a satisfação do turista no dado local.
Bibliografia
•Marlene GUERRA, Recreação e lazer, Sagra. Porto Alegre, 1984
• WARNIER, J.P. A Mundialização da Cultura. São Paulo: Edusc,2000.
• DUMAZEDIER, Jofre. Sociologia Empírica do Lazer.São Paulo: Perspectiva: SESC, 1979.
• http://www.revistaturismo.com.br/materiasespeciais/turismoe.html, acessado em Novembro de 2008
• Organizacion Mundial del Turismo. Panorama 2020. Madrid, 1998.
• Organização Mundial de Turismo: http://www.world-torism.org, acessado em Novembro de 2008
• SCHNEIDER, Cristina Seibert, Turismo Cultural: uma Proposta de Preservação do Patrimônio Material , Centro de Ensino Superior Cenecista de Farroupilha-Cesf, 2004.