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O feminino na tragédia grega

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06/01/2024 às 10:40
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Notas

1 O Deus Dionísio era conhecido como o deus da libido e influenciava diretamente na fertilidade. É um dos mais importantes deuses da religião e mitologia grega. Conhecido como Baco na história romana, deu origem ao nome de uma festa chamada Bacanal. Essa celebração era proibida por conta do consumo excessivo de álcool, orgias e situações desagradáveis. Na antiga religião grega, Dionísio é considerado o deus dos ciclos vitais, festas, atividades relacionadas ao prazer material, insanidade, ritos religiosos, teatro e do vinho – pois tinha conhecimento no preparo e, principalmente, intoxicação. Além disso, tinha o poder de criar outras drogas poderosas. O deus foi o último a ser aceito no Olimpo e também o único filho de um simples mortal. Essa particularidade o fez ser uma divindade atípica e diferenciada. Ele era filho da princesa de Tebas Sêmele – filha de Cadmo, um lendário herói grego – e do supremo Zeus. Dionísio era o guardião daqueles que não se sentiam parte da sociedade convencional. Por causa disso, representava tudo aquilo que era inesperado, caótico, perigoso e fora da própria razão humana.

2 Atenas e Esparta possuíam modelos diferentes de educação e modos de vida para a mulher. Em Esparta as mulheres eram vistas com mais importância, uma vez que estas geravam aqueles que seriam os futuros guerreiros espartanos. Logo, em Esparta “os cuidados com o corpo começavam com uma política de eugenia, prática de melhoramento da espécie, que recomendava fortalecer as mulheres para gerarem filhos robustos e sadios bem como abandonar as crianças deficientes ou frágeis demais.

3 A retórica era compreendida entre os gregos como a estrutura básica do direito e da política, a "arte da persuasão" era uma questão fundamental para a tomada de decisões na democracia grega. A palavra retórica devém do grego rhetoriké, é, na definição aristotélica, "a faculdade de ver teoricamente o que, em cada caso, pode ser capaz de gerar a persuasão". Tal como a filosofia, a retórica teve origem na Grécia antiga e a sua origem está relacionada com as novas relações sociais que caracterizam a Pólis. Se a essência da retórica consiste na persuasão do outro através da argumentação, esta é impensável sem democracia e liberdade de debate, características da democracia grega.

4 As mulheres da Grécia Antiga não podiam participar dos debates públicos e políticos. Podiam ir as festas religiosas e assistir a peças teatrais. No entanto, poucos sabem que mulheres, estrangeiros, escravos e crianças não eram considerados cidadãos e, por isso, não podiam participar das decisões políticas.

5 Lembremos da música “Mulheres de Atenas” de autoria Chico Buarque. Mulheres de Atenas é uma canção de Chico Buarque e Augusto Boal composta em 1976 para a peça de Boal intitulada Lisa, a Mulher Libertadora. Foi lançada oficialmente no álbum “Meus Caros Amigos”, de 1976. Música composta em pleno Regime Militar no Brasil (1964-1985).

6 As atenienses livres, isto é, não escravas nem estrangeiras, estavam excluídas da vida política, não podiam participar dos debates e das decisões da Eclésia, a assembleia de todos os cidadãos. Elas tinham, contudo, o (único) privilégio de transmitir a cidadania a seus filhos.

7 A mulher ateniense é uma eterna menor, que não tem direitos legais nem políticos. Toda a sua vida, ela deve permanecer sob a autoridade de um kurios (“tutor”): primeiro o pai, depois o marido, seu filho (se ela é uma viúva) ou seu parente mais próximo. Esse tutor acompanha em todos os atos legais e fala por ela defendendo “seus” interesses. Nenhum juiz se dirige diretamente à mulher. Nos tribunais atenienses, os juris são compostos unicamente por homens. Fonte: https://ensinarhistoriajoelza.com.br/mulheres-ao-longo-da-historia-4-grecia-antiga/ - Blog: Ensinar História - Joelza Ester Domingues

8 A justiça e a lei surgiram com a civilização. E na Grécia antiga, o berço da Civilização Ocidental, acreditava-se que a lei havia sido dada aos homens por Zeus. Possivelmente o primeiro legislador grego foi Sólon (638 BC – 558), que é creditado pelos seus biógrafos Heródoto e Plutarco como sendo o criador ou o reformador do Aerópago (Aeropagus) uma espécie de concelho ou tribunal superior com inspetores e mantenedores da lei. Além de ter se esforçado para promover leis voltadas a coibir o declínio moral dos atenienses, Sólon escreveu poemas que serviram para inculcar o civismo e reforçar a identidade ateniense e grega. Podemos observar que os filósofos gregos já separavam os dois tipos de justiça: a justiça política dispensada pelo Estado, e a justiça natural, aquela que se presume que cada indivíduo tenha, considerada uma virtude que se revela nos hábitos de conduta de cada indivíduo. Na visão de Sócrates é preciso que a sociedade seja harmoniosa, mas para isso é preciso que os seus cidadãos se encontrem no lugar certo, fazendo e dando o melhor que podem. Platão concordou com seu mestre sobre a importância de a sociedade ser harmoniosa, mas para ele a condição maior é a boa administração.

9 Ética vem do grego “ethos” que significa modo de ser; “conjunto de valores que orientam o comportamento do homem em relação aos outros homens na sociedade em que vive, garantindo, outrossim, o bem-estar social”, ou seja, Ética é a forma que o homem deve se comportar no seu meio social. Ética vem do grego “ethos” que significa modo de ser; “conjunto de valores que orientam o comportamento do homem em relação aos outros homens na sociedade em que vive, garantindo, outrossim, o bem-estar social”, ou seja, Ética é a forma que o homem deve se comportar no seu meio social.

10 Ésquilo é o mais antigo dos dramaturgos gregos, considerado como clássico, e os outros são Sófocles e Eurípedes. As tragédias de Ésquilo trazem em seu drama a permanente interligação entre o mundo divino e o mundo dos homens, os presságios e os sacrifícios que perpassam suas obras, trilhando os passos da epopeia de Homero. Ésquilo em suas tragédias apresenta quatro graus de verdade, isto é, os pontos de vista, o dos deuses, o dos numes, o do herói, como representante da tradição ou do mito e, o da cidade. Tais quatro esferas do humano ora se conjugam, quando na fala de Clitemnestra quando afirma estar possuída por justiça divina, quando mata o marido e, ora entram em conflito, quando o coro aponta a barbárie do ato da rainha. Outra característica das tragédias de Ésquilo é a confirmação da doutrina da hybris, onde coloca como tema central em Agamêmnon. Noutra tragédia intitulada “Os Persas”, Ésquilo suscita o questionamento de que a opulência e a grandeza são usurpações das características divinas e que, portanto, estão proibidas aos humanos.

11 Na tragédia clássica, o coro é uma personagem coletiva que tem a missão de cantar partes significativas do drama. A função original do coro da tragédia grega não se perde nesta concepção: ele funciona sempre como um espectador ideal que se responsabiliza pelo equilíbrio das emoções e pela moderação dos discursos. O coro representa, no palco, a população em geral da história específica, em contraste com muitos dos temas das peças gregas antigas que tendiam a ser sobre heróis, deuses e deusas individuais. Muitas vezes eram do mesmo sexo da personagem principal. No Agamenon de Ésquilo, o coro é composto pelos homens idosos de Argos, enquanto que em As Bacantes de Eurípides são um grupo de bacantes orientais e na Electra de Sófocles o Coro representa as mulheres de Argos. No entanto, as falas eram ditas por homens. Em As Euménides de Ésquilo, no entanto, o Coro representa um bando de Fúrias vingadoras.

12 O conceito de gênero como culturalmente construído, distinto do de sexo, como naturalmente adquirido, formaram o par sobre o qual as teorias feministas inicialmente se basearam para defender perspectivas "desnaturalizadoras" sob as quais se dava, no senso comum, a associação do feminino com fragilidade ou submissão, e que até hoje servem para justificar preconceitos. O principal embate de Butler foi com a premissa na qual se origina a distinção sexo/gênero: sexo é natural e gênero é construído. O que Butler afirmou foi que, "nesse caso, não a biologia, mas a cultura se torna o destino" (p. 26). Para a contestação dessas características ditas naturalmente femininas, o par sexo/gênero serviu às teorias feministas até meados da década de 1980, quando começou a ser questionado. In: RODRIGUES, Carla. Butler e a desconstrução do gênero. Disponível em: https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-026X2005000100012 Acesso em 16.3.2021.

13 No enredo da tragédia intitulada As Suplicantes, os 50 filhos de Egito querem se casar com as Danaides, 50 filhas de Dánao, contra a vontade delas. Para escapar deste imposto matrimônio, elas fogem de seu país em direção à Argos. Nesta cidade grega, as filhas de Dánao pedem ajuda ao Rei Pelasgos. A súplica requerida pelas Danaides é, na Grécia Arcaica, um direito religioso, pois os próprios deuses gregos protegem os suplicantes. O Rei hexita em ajudá-las, pois se auxiliar as suplicantes poderá ocasionar uma guerra, já que ao acolhê-las, ele irá despertar a ira dos filhos de Egipto; todavia, se negar auxílio às Danaides, Pelasgos infringirá a lei divina de proteção aos suplicantes. Assim, o direito divino da súplica, através do enfoque de Ésquilo na obra “As Suplicantes”, ganha aspecto político. O direito do mais fraco é mais que um dever religioso, ele também se apresenta como um requisito racional para a própria existência de uma sociedade politicamente organizada, na medida em que a tolerância à injustiça arrasta a pólis (Cidade-Estado) ao despotismo ou à anarquia, ameaças fatais à vida política e social.

14 Clitemnestra é uma das principais figuras do mito dos Átridas, família real de Micenas (ou Argos, em algumas versões), cuja saga é repleta de episódios de infanticídio, parricídio, canibalismo e incesto. Ela era esposa de Agamemnon, o grande líder da expedição grega contra Tróia, afim de trazer de volta Helena, esposa do seu irmão Menelau, que fugira com o príncipe troiano Páris. A caminho de Tróia, os navios gregos encontraram-se amarrados no porto de Áulis, pois todos os ventos favoráveis haviam cessado. Para que eles voltassem a soprar, assim anunciou o vidente Calcas: Agamemnon deveria sacrificar sua própria filha, Ifigênia, à deusa Ártemis, o que ele fez, contra a vontade e as súplicas de Clitemnestra. Essa, durante a ausência do marido, tomou por amante Egisto e com ele planejou e executou o assassinato de Agamemnon, no dia em que retornou da guerra. Anos mais tarde, incitado pela irmã Electra, Orestes, filho do casal que crescera em exílio após a morte do pai, assassinou sua mãe e Egisto, no que foi o último ato sangrento da trágica história da família.

15 Segundo mostrou o teatro grego, a Oréstia, no fundo, se constitui vasto debate entre o matriarcado, configurado principalmente por Clitemnestra e as Erínias, e o Patriarcado, traduzido, sobretudo, em Agamêmnon, Electra, Orestes, Apolo e Atena. Uma luta de morte entre as deusas-mães ctônias, as Erínias, e os deuses novos olímpicos, Zeus e Apolo. Um torneio dialético entre o Hades das trevas e o Olimpo, entre as Erínias e Apolo, coadjuvado por Atena a que nasceu sem mãe, diretamente das meninges de Zeus.

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16 Há muitos momentos que exigem reflexão, na trilogia escrita por Ésquilo - “Oresteia”. A análise de um especialista pode ser completamente diferente das opiniões dos outros. Muitos intérpretes acreditam que a questão de Orestes está associada a um tema mais extenso: uma pessoa às vezes encontra dificuldades que não têm solução, por exemplo, a obrigação familiar de Orestes com um dos pais é fundamentalmente contrastada com uma obrigação familiar com o outro. Existe outro ponto de vista. Pode parecer que isso não é muito mais do que apenas uma pergunta retórica, uma vez que a Orest aceita de bom grado o conselho de Pilad sobre a exatidão do que ele faz. Muitos cientistas estudaram a trilogia, como G.Ch. Huseynov. "Oresteia" Aeschylla é um dos objetos de sua pesquisa. Pilad implora a Orestes que não esqueça seu dever para com Apolo. Orestes após o assassinato esconde o corpo sob as roupas que seu pai usava. Assim que ele sai da casa, Erinias começa a assediá-lo. Orest foge em pânico agonizante. O coro prevê que o ciclo violento não pode ser interrompido pela Clytemnistria.

17 Orestes sofre das perseguições dos Erinianos (fúrias), que são divindades que buscam vingança por atos injustos. Graças ao incitamento, ele cometeu o assassinato de sua mãe. Em Apolo, em Delfos, Orestes encontra a paz, e Deus, que é incapaz de livrá-lo da raiva inconsolável dos erinianos, envia-o em seu caminho, enquanto ele mesmo, usando feitiços, tenta retardar as Erinias. Clitemnestra aparece como um fantasma, mas como e de onde - não se sabe … Sua aparência era como um sonho. Ela encoraja as fúrias adormecidas a continuarem em busca de Orestes. Assim que um dos erinis começa a despertar, o fantasma se afasta. O aparecimento de Erinius permeia a sensação de perseguição: eles cantam em uníssono, despertam rápida e fascinantemente e pretendem encontrar o cheiro de sangue perfumado que os levará a Orestes. Diz a lenda que a estreia da peça escrita por Ésquilo (a trilogia Oresteia foi então bem sucedida) causou tanto horror na plateia que uma mulher grávida abortou e morreu no local.

18 Observa-se, entretanto, uma progressiva e relativa liberação, e começa no século IV a se desenvolver uma prática em larga escala de visitas à casa de vizinhas para empréstimos de objetos caseiros e com a finalidade última de travar contatos, constituindo-se assim num novo espaço de circulação de informações como vimos. Tal fato, como também já observamos, está ligado a derrota na Guerra do Peloponeso e a consequente crise de valores que se instaurou na sociedade ateniense.

19 Medeia (em grego, Μηδεια, “a bem aconselhada” – Mēdeia, na transliteração) é uma tragédia grega de Eurípides, datada de 431 a.C. Nela foi apresentado o retrato psicológico de uma mulher carregada de amor e ódio a um só tempo. Medeia representa um novo tipo de personagem na tragédia grega, como esposa repudiada e estrangeira perseguida, ela se rebela contra o mundo que a rodeia, rejeitando conformismo tradicional. Tomada de fúria terrível, mata os filhos que teve com o marido, para vingar-se dele e automodificar-se. É vista como uma das figuras femininas mais impressionantes da dramaturgia universal. A Medeia foi apresentada nas Grandes Dionísias de 431 a.C. juntamente com mais duas tragédias e um drama satírico que se perderam. Não era a primeira peça de Eurípides, mas é talvez a mais antiga das tragédias dele que conservaram até ao presente. Considerada chocante para os seus contemporâneos, Medeia foi a última das peças apresentadas no festival Dionísico de 431 a.C. Não obstante, a peça continuou a fazer parte do repertório teatral de tragédias e experimentou um interesse renovado com o surgimento do movimento feminista, atendendo ao tema da decisão de uma mulher, Medeia, sobre a sua própria vida num mundo dominado pelos homens. A peça manteve-se como a tragédia grega mais frequentemente encenada ao longo do século XX.

20 Antígona (em grego Ἀντιγόνη) é uma figura da mitologia grega, irmã de Ismênia, Polinice e Etéocles, todos filhos do casamento incestuoso de Édipo e Jocasta. Em uma outra versão, a mãe dos filhos de Édipo se chamava Eurigania, filha de Híperfas. A versão clássica do mito sobre a Antígona é descrita na obra Antígona do dramaturgo grego Sófocles, um dos mais importantes escritores de tragédia. Esta obra é uma das três que compõe o que ficou conhecido como Trilogia Tebana, da qual também fazem parte Édipo Rei e Édipo em Colono. Essas três peças foram unidas posteriormente, e não faziam parte da mesma trilogia quando Sófocles as escreveu. Na verdade, cada uma era parte de uma trilogia diferente, mas apenas essas três peças chegaram aos dias de hoje.

21 ELECTRA, em grego ’Ele/ktra (Eléktra), da raiz indo-européia ulek, sânscrito ulkä, "meteoro, incêndio", é a brilhante, a que se incendeia e incendeia de ódio… Com seu temperamento forte rebelou-se contra a mãe por ter-se unido ao maior inimigo da família, e, fato grave, ainda em vida de Agamêmnon. Egisto, que dominara a angustiada Clitemnestra, transformou-lhe a filha numa verdadeira escrava do palácio. Na tragédia Electra de Eurípides, a princesa de Argos é obrigada a casar-se com um humilde camponês.

Sobre a autora
Gisele Leite

Professora universitária há três décadas. Mestre em Direito. Mestre em Filosofia. Doutora em Direito. Pesquisadora - Chefe do Instituto Nacional de Pesquisas Jurídicas. Presidente da Seccional Rio de Janeiro, ABRADE Associação Brasileira de Direito Educacional. Vinte e nove obras jurídicas publicadas. Articulistas dos sites JURID, Lex Magister. Portal Investidura, Letras Jurídicas. Membro do ABDPC Associação Brasileira do Direito Processual Civil. Pedagoga. Conselheira das Revistas de Direito Civil e Processual Civil, Trabalhista e Previdenciária, da Paixão Editores POA -RS.

Como citar este texto (NBR 6023:2018 ABNT)

LEITE, Gisele. O feminino na tragédia grega. Revista Jus Navigandi, ISSN 1518-4862, Teresina, ano 29, n. 7493, 6 jan. 2024. Disponível em: https://jus.com.br/artigos/89375. Acesso em: 19 abr. 2024.

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