Na primeira semana, eu ruir chinela, destruir objetos, fiz “xixizinho” nos móveis, errei as necessidades fisiológicas, os quais deviam ser feitas no tapetinho... Tudo isso para voltar para a Minha Doninha.
Só que aquela família foi muito compreensiva, achou que eu estava estressado devido a mudança.
Aqueles adultos arrumaram um monte de argumentos para entender meu comportamento.
A moça de cabelos escuros não dormia em cama, a dela era no chão, ela dormia em um colchão e eu também pegava carona e dormia com ela, bem perto dos pés dela.
Eu ouvi dizer que a moça de cabelos escuros estava separada e tinha voltado morar com os pais. Aí depois arrumaram uma cama para ela e perdi meu colchão.
Quando eu já estava uns quinze dias com aquela família, o pessoal levou-me ao veterinário, e o médico disse que estava bem. E ainda falou dos meus sentimentos, que eu sentia-me que fui abandonado. Esse veterinário era psicólogo, porque ele entendeu o que eu estava sentindo.
Eu senti-me como uma coisa, que já foi de alguém e foi abandonada. Doação é uma forma de abandonar, de abrir mão... Era um "res derelictae".
Os dias estavam passando e minhas tentativas de voltar a Minha Doninha falhavam...
Não adiantava fazer “xixizinho” nos pés das cadeiras e muito menos fora do lugar, aquelas pessoas sempre tinham paciência comigo.
Eu destruir chinelas, fiz “xixizinho” na chinela do Senhor P, o pai da família, destruí a chinela da Senhora M, a mãe da família e nada aconteceu, nenhuma punição.
Um belo dia eu vi a grande chance acontecer, depois daquela minha conduta, o pessoal de certeza ia devolve-me para a Minha Doninha... A Miúda deixou o colar dela no chão do quarto, então eu vi a grande oportunidade, e destruí aquela coleira.
Quando a Miúda viu o estrago que fiz no colar dela, eu sabia que ela ia querer devolve-me para Minha Doninha, porém meu plano falhou, a Miúda só ficou chateada e brigou comigo...
Aquelas pessoas tratavam-me bem, tinham compreensão, paciência, sempre argumentavam minhas atitudes, condutas, eu tinha companhia, comida e água, mesmo toda hora um saindo para rua, era raro eu ficar sozinho.
O rapaz gigante saia pela manhã, depois a moça dos cabelos negros também, às vezes eles saiam juntos, mas em carros diferentes, eles iam estudar.
A Miúda ficava comigo junto com o Senhor P e a Senhora M. A tarde chegava à moça dos cabelos escuros, às vezes o rapaz gigante, mas em geral ele chegava só à noite.
Ainda bem que escolhi a Miúda, porque ela que tinha mais haver comigo e estava quase sempre fazendo companhia a mim.
A Miúda estudava duas vezes na semana à noite, é o que denomina-se ensino à distância, semipresencial. Algumas horas depois chegava o rapaz gigante, não ficava tanto tempo sozinho.
Em geral o rapaz gigante limpava meus estragos, o “um” e o “dois”. O restante dos membros da família trabalhava a noite, a moça de cabelos escuros e os pais dela eram professores.
O Senhor P e a Senhora M também lecionavam no período da tarde, eu tinha mais contato com eles pela manhã e à noite após o trabalho deles.
Os finais de semana eram os mais bacanas, ou seja, aos sábados e domingos geralmente o pessoal ficava em casa.
Eu comecei a gostar daquelas pessoas que cuidavam de mim, já não pensava em voltar para Minha Doninha, eu já sentia que aquele lugar era meu.