Nova loucura do Bolsonaro, a 'Copa do Genocídio' poderá ser a gota d'água

02/06/2021 às 10:45
Leia nesta página:

Uma advertência acerca dos danos que poderão advir da insensata decisão presidencial de permitir a realização em nosso território da mesma Copa América que mandatários de outras nações sul-americanas sabiamente não quiseram receber

A frase célebre de Eurípedes, sobre os deuses primeiramente enlouquecerem aqueles a quem querem destruir, só não cai como uma luva para a última loucura do Bozo porque certamente ele já está maluco faz muito tempo.

No caso do palhaço sinistro, cabe mais esta adaptação de uma das maiores infâmias inseridas num editorial jornalísticos em todos os tempos: ele sofreria de uma loucurabranda , como era o regime militar antes do AI-5, e entrou agora na fase da loucuradura , como o regime militar passou a ser a partir daquele nefando 13 de dezembro de 1968, quando desembestou de vez o terrorismo de Estado, promovendo os torturadores a exterminadores, com licença irrestrita para matar.

A decisão de sediar a Copa América para salvar as finanças da Conmebol, omitindo-se do principal dever de um presidente da República brasileiro –salvar a vida daqueles a quem governa–, apenas virá confirmar, de maneira acachapante, o que a CPI da Covid tem demonstrado sessão após sessão: a prioridade do necrófilo jamais foi a de evitar o contágio e morte de sua gente, mas sim a de fazer com que ela se contagiasse rapidamente, na esperança de que a imunização de rebanho permitisse a normalização das atividades econômicas, pouco importando o número de óbitos decorrentes de tal escolha.

Quando o povo brasileiro aflige-se com a perspectiva de estarmos entrando numa terceira onda do coronavírus, mais terrível do que as duas anteriores, o celerado dá uma banana para os maricas que temem morrer e se desdobra em contorcionismos para viabilizar um evento esportivo com o qual nenhum presidente sul-americano mentalmente são se mancomunou.

Além das contaminações e mortes que poderão advir da chegada de tantos estrangeiros, potenciais transmissores de outras cepas do vírus, o pior de tudo, como sempre, é o exemplo.

Vale lembrar (vide aqui) o recente alerta do do especialista Pedro Hallal, coordenador do maior estudo epidemiológico sobre o coronavírus no Brasil:

"O negacionismo, seja seu ou daqueles que estão ao seu redor, mata, e quanto maior o grau de negacionismo, maior o risco de morte por Covid-19.

O morador de uma cidade na qual Bolsonaro venceu o 2º turno das eleições de 2018 tem três vezes mais risco de morte por Covid-19 do que o morador de uma cidade em que Bolsonaro foi derrotado com folga".

A realização em nosso país da Copa América, num primeiro momento, dará aos desinformados a impressão de que a gripezinha pode conviver com as atividades normais de uma situação normal.

Mas, caso depois se constate que ela impulsionou contágios e fez aumentar as mortes, o feitiço tende a virar contra o feiticeiro, exatamente como em 2014: o fracasso do #NãoVaiTerCopa em inviabilizar a Copa das Maracutaias deixou como saldo o desperdício de rios de dinheiro na implantação de uma infra-estrutura quase sempre superfaturada e inaproveitável, bem como o pior vexame do futebol brasileiro em toda a sua história.

A decepção subsequente foi tamanha que alavancou poderosamente o #ForaDilma, este vitorioso.

Há enorme chance de um novo #NãoVaiTerCopa, vitorioso ou não, abrir caminho para o deslanche definitivo do #ForaBolsonaro, fundamental para evitar que outras centenas de milhares de brasileiros morram entre o momento atual e o primeiro dia de 2023, quando teoricamente se dará a posse do novo presidente da República (caso o caos não chegue antes disso, levando de roldão o calendário eleitoral y otras cositas más ...).

O genocida, que detesta o Chico Buarque, deveria ouvir com atenção uma de suas canções. Aquela que diz: "Deixe em paz meu coração/ Que ele é um pote até aqui de mágoa/ E qualquer desatenção, faça não/ Pode ser a gota d'água".

Mas, confirmando Eurípedes, duvido que ele volte atrás e aja, desta vez, com bom senso ... pois sua loucura não permitirá!

Sobre o autor
Celso Lungaretti

Jornalista, blogueiro, escritor e veterano da resistência à ditadura militar. Ingressei na luta contra a ditadura militar ainda secundarista, aos 17 anos. Passei um ano na clandestinidade, como dirigente estadual da VPR e VAR-Palmares. Preso, sofri uma lesão permanente que me prejudicaria tanto no convívio social quanto nos desempenhos profissionais. Mesmo assim, fiz longa carreira jornalística. Hoje sou escritor, articulista e blogueiro, atuando frequentemente na defesa dos direitos humanos. Observador atento da cena política brasileira há mais de meio século, além de haver sido, aos 18 anos, o primeiro e único comandante de Inteligência de uma organização que travava a luta armada, tento dar aos leigos no assunto um quadro realista das perspectivas atuais, para dissipar um pouco das paranoias e alarmismos que tantos pesadelos lhes causam .

Informações sobre o texto

Este texto foi publicado diretamente pelos autores. Sua divulgação não depende de prévia aprovação pelo conselho editorial do site. Quando selecionados, os textos são divulgados na Revista Jus Navigandi

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