"A metrópole e a vida mental" de Georg Simmel - Uma análise sobre a cidade contemporânea

Uma análise sobre a cidade contemporânea

Resumo:


  • Georg Simmel, em "A metrópole e a vida mental", explora as transformações psicológicas do indivíduo causadas pela vida em cidades grandes, destacando a especialização do trabalho e a consequente dependência interpessoal, bem como a possibilidade de substituição impessoal dos indivíduos.

  • As grandes cidades impõem estímulos intensos e um ritmo acelerado que exige uma adaptação psíquica, resultando em uma postura de reserva e indiferença como mecanismos de defesa contra a sobrecarga sensorial e a anonimidade.

  • O texto de Simmel é relevante para o estudo das dinâmicas urbanas em projetos de pesquisa, como o impacto das políticas públicas de turismo em cidades históricas, ajudando a compreender as diferenças entre as percepções urbanas e rurais em relação a tais políticas.

Resumo criado por JUSTICIA, o assistente de inteligência artificial do Jus.

"A metrópole e a vida mental" de Georg Simmel - Uma análise sobre a cidade contemporânea

Em “A metrópole e a vida mental” Georg Simmel trata, sobretudo, das consequências psicológicas, sob o indivíduo, fruto do convívio em espaços urbanizados. O século XVIII significou um momento histórico de desprendimento de instituições como o Estado e a religião, além da contradição posta pela especialização do trabalho. Ao mesmo tempo em que o homem “moderno” se vê livre, sob diversos aspectos, como nunca antes, cada indivíduo se torna único e, em certa medida, indispensável, a mesma especialização o torna proporcionalmente mais dependente das atividades suplementares dos outros. Mas este mesmo homem pode, também, ser substituído impessoalmente.

Tais contradições são, de acordo com Simmel, mais notáveis no espaço urbano das grandes cidades, espaço também dos grandes estímulos nervosos. A metrópole extrairia do homem uma quantidade diferente de consciência se comparada à vida rural. O ritmo das atividades econômicas, da leitura sensorial, da mudança de hábitos, geraria também um choque psíquico notável sobre as pessoas, as obrigando a adaptações que as distanciam afetivamente. Tal distanciamento tem raízes fincadas nas relações sociais e econômicas, segundo Simmel: “(...) o homem metropolitano negocia com seus fornecedores e clientes, seus empregados domésticos e frequentemente até com pessoas com quem é obrigado a ter intercâmbio social. (...) A economia do dinheiro domina a metrópole”. O autor aponta para a complexidade inerente a tais relações, que se integram baseadas em uma “pontualidade” que não existe paralelamente nas áreas rurais. Usando Londres como exemplo Simmel diz que a referida metrópole é a alegoria do cérebro da Inglaterra (e não do seu coração). O estado de ânimo blasé seria o reflexo da interiorização da economia do dinheiro metropolitana. A anonimidade característica do indivíduo nas grandes cidades seria um dos modos de “defesa”, uma reserva que se imporia nas relações sociais dos espaços urbanos:

Na verdade, tal indiferença seria exatamente tão antinatural quanto a difusão de uma sugestão mútua indiscriminada seria insuportável. A antipatia nos protege de ambos esses perigos típicos da metrópole, a indiferença e a sugestibilidade indiscriminada. Uma antipatia latente e o estágio preparatório do antagonismo prático efetuam as distâncias e aversões sem as quais esse modo de vida não poderia absolutamente ser mantido. (p. 17)

 

Em comparação com o homem metropolitano, o homem do campo está mais vinculado ao ritmo natural das coisas, ao passo que nas grandes cidades impõe-se a necessidade de uma “intelectualização” e assunção de postura social que interfere, cotidianamente, na vida psíquica. Segundo o autor, há desafios tipicamente vinculados à vida metropolitana: a pessoa precisa expandir e afirmar sua personalidade em dimensões maiores e, quando quantitativamente o dispêndio energético atinge seus limites, há a necessidade de exploração das diferenças qualitativas para a atração da atenção do círculo social, fazendo com que o homem metropolitano assuma as peculiaridades mais extravagantes. A cidade liberta e, paradoxalmente, sufoca, quando torna anônimo e distante do grupo, o indivíduo. A impessoalidade inerente ao metropolitano deixa, portanto, cicatrizes psíquicas e emocionais marcantes.

Detalhe fundamental na compreensão do texto parece ser a definição do metropolitano, que significa, antes de tudo, o moderno. A metrópole e, por conseguinte, a modernidade, se caracteriza pelo destaque do “espírito objetivo”, em comparação ao “espírito subjetivo” ligado ao primitivo.

O conceito metropolitano tratado no texto de Simmel merece especial atenção no desenvolvimento da problemática proposta no meu projeto de dissertação. Quando pretendo analisar a percepção dos impactos das políticas públicas de turismo pelos cidadãos da sede de Diamantina (que aqui se vincula ao urbano) em comparação com a percepção dos moradores das comunidades tradicionais diamantinenses, faz-se mister debater o que é o urbano (e o que não é). Tais políticas públicas são usualmente executadas em espaços urbanizados, onde geralmente se acolhe o turista. No caso específico de Diamantina talvez não sejam os locais onde há maior necessidade de execução de tais políticas (em detrimento do entorno, geralmente mais carente de ações governamentais). Esse é um dos desafios postos no meu projeto em que Simmel me parece muito útil.

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

SIMMEL, Georg. 1967 [1903]. “A metrópole e a vida mental”. In VELHO, Otávio Guilherme (org.). O fenômeno urbano.

Sobre o autor
André Port Artur de Paiva Torres

Interessado em Direito Administrativo. Bacharel em Turismo pela Universidade Federal de Minas Gerais. Bacharel em Administração Pública pela fundação João Pinheiro.

Informações sobre o texto

Este texto foi publicado diretamente pelos autores. Sua divulgação não depende de prévia aprovação pelo conselho editorial do site. Quando selecionados, os textos são divulgados na Revista Jus Navigandi

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