O que é o gaslighting

22/07/2021 às 20:39
Leia nesta página:

Vocês já ouviram falar em Gaslighting? Sabe o que significa isso? Sabia que é um tipo de violência doméstica?

Entende-se o Gaslighting como uma forma de violência psicológica utilizada, especialmente, nos casos de relacionamentos abusivos.

Esse tipo de violência ocorre com grande frequência, afetando mais as mulheres do que os homens, podendo ocorrer em qualquer tipo de relacionamento ou ambiente, mais especialmente naqueles de fundo amoroso.

O fato de as mulheres serem as vítimas mais frequentes do Gaslighting demonstra o seu fundamento no machismo e no patriarcado estrutural, deveras arraigados em nossa sociedade.

Tal característica faz com que as mulheres, vítimas do Gaslighting, sejam estigmatizadas como histéricas e exageradas em situações nas quais contestem os homens ou as regras por eles impostas.

O Gaslighting se define como o conjunto de agressões caracterizadas por abusos psicológicos nos quais as informações da realidade da vítima são distorcidas ou omitidas, a fim de favorecer o abusador, ou inventadas com o fim de causar dúvida na vítima quanto à sua memória, à percepção dos fatos de sua vida e à sua sanidade.

Nesta modalidade de violência, a vítima é frequentemente, desvalorizada, tendo os seus sentimentos minimizados, sendo levada a tomá-los como um mero capricho pessoal.

Infelizmente, o Gaslighting, por sua natureza e mecânica, é muito difícil de ser detectado pela vítima, principalmente, em seus estágios mais avançados.

É importante ressaltar que o Gaslighting se constitui em um padrão de comportamento, materializado em um conjunto de ações, as quais, quando presentes, possibilitam a identificação do manipulador.

Desta forma, devemos entender o Gaslighting como uma das formas de violência psicológica, na qual, há um sutil abuso, por parte do agressor, através da manipulação da realidade, provocando um progressivo desgaste da autoestima e da autoconfiança da vítima, a ponto de anulá-la.

Silencioso e destrutivo, o Gaslighting coloca em xeque a sanidade mental e as convicções de alguém, através de ações contínuas, repetitivas e muito eivadas de perversidade, materializando, indiretamente, na geração de dúvidas e confusão na vítima, causando-lhe um abalo psicológico tal que esta passa a se sentir culpada pelas condutas de violência do abusador, duvidando de tudo o que acontece à sua volta.

A vítima de Gaslighting quase nunca possui consciência de que está sendo abusada, pelo menos, no sentido estrito da palavra, dificultando-se, assim, a caracterização clara e explícita da agressão.

De fato, a própria vítima passa a duvidar da realidade da agressão, tendo em vista os efeitos perversos desta violência, através da qual, todas as suas opiniões são tidas como equivocadas, tornando o abuso, extremamente difícil de ser reconhecido e mais ainda, de ser denunciado.

O termo Gaslighting tem origem no filme GasLight (À Meia Luz, na versão brasileira), de 1944, com Ingrid Bergman.

Na trama, o marido tenta convencer a mulher de que ela é louca, manipulando pequenos elementos de seu ambiente e insistindo que ela está errada ou que se lembra de coisas de maneira incorreta.

Esse nome faz referência às lâmpadas que, na época da história do filme, eram alimentadas a gás, e em certo momento piscam. Ela nota, mas o marido a faz crer que ela está imaginando, fazendo com que, esta, duvide da própria sanidade.

Antes deste filme houve uma peça teatral chamada GasLight em 1938, e uma primeira adaptação para o cinema em 1940. Na trama, o marido manipula a esposa psicologicamente, distorcendo fatos e mudando elementos do ambiente, para que ela se convença de que enlouqueceu.

Por conta destas obras, o termo passou a identificar todo e qualquer abuso através da manipulação psicológica da percepção da realidade, sendo adicionado ao Oxford English Dictionary, em 2004, como tal.           

O Gaslighting se desenvolve de modo silencioso, evoluindo sem ser identificada, deixando marcas profundas na vítima, muito difíceis de serem apagadas, produzindo, em grande parte das vezes, graves sequelas emocionais de caráter irreversível. Como agravante, esta violência psicológica, em muitos casos, adota uma forma física, causando mais danos, ainda à vítima.

Esta modalidade de violência contra a mulher, pode se dar, ainda, como todo e qualquer ato com o intuito de controlar comportamentos, crenças e decisões da mulher, que possam causar prejuízo à sua autoestima e autodeterminação, ou ainda, à sua higidez psíquica.

Na sua forma mais cruel, a violência se expressa, em atos e situações com vista a criar um desequilíbrio emocional na mulher, de modo a que, esta, tenha a sua percepção da realidade, da sua identidade e dos fatos de sua vida cotidiana, completamente contaminada pelas práticas do abusador.

Sobre a autora
Claudia Neves

Advogada. Pós-graduada em Direito das Mulheres e em Direito de Família e Sucessões, com atuação na área cível com ênfase na área de família, com seus reflexos patrimoniais e assessoria em contratos civis e comerciais, seja na celebração de negócios seja na defesa de interesses. Coordenadora Adjunta da Comissão da Mulher Advogada e membro da Comissão de Prerrogativas da OAB Santo Amaro (2019-2021). Instagram: @claudianeves.adv

Informações sobre o texto

Este texto foi publicado diretamente pelos autores. Sua divulgação não depende de prévia aprovação pelo conselho editorial do site. Quando selecionados, os textos são divulgados na Revista Jus Navigandi

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