Cada dia que passa assistimos a novos movimentos da indústria automobilística, que se reinventa como canal de venda e modelo de negócio. Poucos são os segmentos industriais que são tão camaleões quanto a indústria automobilística, seja no lançamento de modelos, seja na vida desses modelos.
Tente fazer um paralelo entre outros segmentos da indústria automobilística, que antes tinham carros com suas marcas que duravam séculos, hoje criam e abandonam marcas em períodos muito curtos. Veja por exemplo quantos modelos a General Motors lançou e quantos modelos deixou de fabricar.
O fato é que nesse instante há um problema, de um lado a indústria automobilística que mais vale não é a que mais vende. Nesse instante a Tesla ultrapassou o valor de mercado da Toyota, ainda que produza menos de um décimo do que produz a fábrica japonesa.
Mas o que isso está mudando? Bem, está mudando pelo fato de que a Tesla e outras montadoras, poucas delas aliás, apostaram em novas matrizes de energia. Veja o caso da Tesla, que só fabrica carros 100 por cento elétricos, já a Toyota que é a segunda montadora que mais vale no mundo, fabrica carros híbridos e domina essa tecnologia, mas isso é para falarmos único exclusivamente na mudança do perfil tecnológico de como os carros se movem.
Há algo muito mais significativo que está mudando e mudando bastante, Afinal, quem quer comprar um carro hoje? Com a possibilidade de carros compartilhados as montadoras estão vendo o seu mercado diminuir, vende-se menos porque, afinal, com os aplicativos um carro só serve a inúmeras pessoas ao longo do dia, isso agora catalisada pela queda das vendas durante a pandemia, que deve representar uma queda de 30 a 40 por cento, dependendo do país, faz com que as montadoras tenham que se reinventar.
E onde elas estão se reinventando? No canal de venda e no formato de negócio. A reinvenção não é mais só do modelo nem da matriz energética, até porque carros híbridos e carros elétrico parecem ser uma estrada comum para as montadoras, que olharam para o lado de quem mais está ganhando dinheiro com os carros e observaram que bem lá do lado sossegado e navegando com muita tranquilidade, vinham as locadoras, que em muitos casos representavam de 15 a 20 por cento do total de vendas de uma montadora. Visto isso, qual o sentido em vender carros para as locadoras, que ganham descontos maiores do que as próprias concessionárias e que depois revendem os carros pelo valor de mercado, tornando-se concorrentes das lojas de usados das próprias montadoras?
Logo, com esse panorama, Ford, Toyota e outras montadoras começaram agora, ainda que timidamente, o serviço de locação de carros. Cada vez mais as locadoras irão ocupar o espaço das montadoras e cada vez mais isso se tornará um grande negócio para a montadora, que ao invés de vender o carro irá locar o carro, porque tal qual a locadora, o mercado de usados será da montadora e das redes de concessionárias, que serão responsáveis pela manutenção e garantia dos carros e pela demonstração dele, até porque boa parte do carro será comercializado pela internet, logo, as concessionárias terão sua rede diminuída.
E a locação de carros? Bem, a locadora tende a desaparecer do mercado, visto que quem irá alugar os carros serão as montadoras. É uma reinvenção e muito tem para ser discutido sobre o marco legal de alguns segmentos, que terão que ser refeitos, mas é uma tendência que não tem como frear.
Se nós vamos vender menos carros, ganha-se menos na escala e consequentemente é necessário ganhar mais nos serviços, e para isso serve a possibilidade de montadoras tornarem-se locadoras.
Começou com duas, mas não tenha dúvida, em um ou dois anos toda a montadora estará alugando também os carros. Fica uma opção para o cliente, tal qual uma máquina reprográfica, que você pode comprá-la ou você pode alugá-la.
O futuro nunca esteve tão presente e nunca se transformou com tanta velocidade. É um momento rico e uma oportunidade para observarmos bem de perto toda essa transformação.