A Filosofia Asteca

Resumo:


  • Os astecas montaram um império com riqueza filosófica nas regiões central e sul do México entre os séculos 15 e 16.

  • A cultura asteca compreendia uma concepção mágico-racional do divino e do abstrato, marcando mudanças na natureza, problemas do homem no conhecimento ultérrimo do real, valores e elementos que formam o homem, entre outros.

  • Os astecas acreditavam que a busca da verdade era a busca do Ser, da raiz última que traz estabilidade, e buscavam uma vida digna de ser vivida em vez de uma felicidade transitória.

Resumo criado por JUSTICIA, o assistente de inteligência artificial do Jus.

A filosofia asteca era uma escola de filosofia que se desenvolveu a partir da cultura asteca. Os astecas tinham uma escola de filosofia bem desenvolvida, talvez a mais desenvolvida nas Américas e, de muitas maneiras, comparável à filosofia grega antiga.

Entre o século 15 e o início do século 16, os astecas montaram um império com uma cultura de grande riqueza filosófica onde hoje ficam as regiões central e sul do México.

O pensamento asteca compreende uma concepção mágico-racional do divino e do abstrato. Suas abordagens compreendem uma concepção mágico-racional do divino e do abstrato. Que marcam também as mudanças na Natureza (Metafísica), os problemas do homem no conhecimento ultérrimo do real (Teoria do Conhecimento), quais são os valores e os elementos que formam o homem e que promovem o encontro com ele mesmo (Antropologia e Filosofia Moral), etc.

Sua concepção da Divindade é muito parecida com quase todas as antigas civilizações; existe uma deidade que rege seus trabalhos, sua mística: Huitzilopochtli. Segundo as tradições, desde as longínquas terras de Atzlan, os sacerdotes haviam trasladado a estátua desse deus, numa peregrinação de mais de 150 anos. É o deus da Guerra Florida, da atividade contínua, da vitória de fazer florescer a alma, da expansão interior que busca a conquista e civilização dos povos que as rodeiam.

Representa o Sol e também o deus romano Marte. Sahagún diz que a insígnia desse deus é um dragão que expele fogo pela boca. Também é representado por um beija-flor (símbolo da alma) que eleva seu vôo até fundir-se na luz da atmosfera solar.

Além dessa Divindade de “Estado”, existe uma concepção filosófica e cosmogônica de um Princípio-Uno, que gera todas as coisas, de tradições recolhidas pelos toltecas, que as entregaram aos astecas, quando foram conquistados por eles.

Esse deus é Tloque Nahuaque ou Ipalnemohuani. Chamam-lhe Senhor (Tlacatle), deus da imediata proximidade (Tloque Naluaque, dono das proximidades – tloc – e do imenso anel que envolve o mundo – nahuac-), “Aquele pelo qual tudo vive” (Ipalnemohuani), Noite e Vento (pois como Deus Supremo é invisível como a noite e implacável como o vento). “ Aquele que forja a si mesmo com o pensamento” (Moyocoyatzin).Como tudo na Natureza manifesta-se em relação com seu oposto, e a mente humana não pode conceber o um sem o dois, foi chamado Ometeotl, deus da dualidade, que se desdobra num princípio masculino, Ometecutli (Senhor Dois), e outro feminino, Omecihualt (Senhora Dois), Pai e Mãe de todos os seres vivos, que vivem em algum lugar da dualidade, o “lugar de nove divisões” (os noves planos de consciência que dividem a existência manifestada).

Dois são os deuses que marcam com sua vida e proezas os trabalhos que a alma deve realizar para assemelhar-se cada vez mais com o divino, e não mais voltar a esta terra: Huitzilopochtli é o caminho da guerra mágica, da conquista interior.

Quetzalcoatl (Serpente emplumada) é o caminho da sabedoria e da purificação da alma. Quetzalcoatl é um místico rei de Tula, que na legendária Idade de Ouro, governava com justiça seus súditos, do interior de seu palácio templo com colunas de serpente. “Nunca era visto em público, vivia em silêncio nas sombras de seu templo”. Mas um dia o mago Tezcatlipoca, com um espelho de dupla face o enfeitiçou. No espelho mágico o rei viu seu reflexo material, ou seu lado feminino (Quetzlpetalt, a borboleta de asas multicoloridas), por quem se apaixonou e manteve relações sexuais após embriagar-se. Perdida a inocência, deve laboriosamente convertê-la em pureza mediante uma série de trabalhos, que incluem uma descida aos Infernos e a recuperação das tradições mágicas do passado. Finalmente, em uma pira construída com suas próprias mãos, é imolado e sua alma transforma-se na estrela Vênus, “o precioso gêmeo da Terra”.

Para os astecas, a busca da verdade não é simplesmente a busca de imagens mentais que possam parecer mais ou menos mentais que possam parecer mais ou menos reais, mas a busca do Ser, da raiz última daquilo que traz estabilidade. A palavra “verdade” em nahuati (neltiliztli) tem a mesma etimologia que “raiz” ou “fundamento”.

A vida na Terra

O ser humano, nessa Terra, é como um “espelho”, como a imagem fugaz de um sonho. Está aprisionado num cárcere de carne e sangue que o impede de ter um conhecimento pleno da verdade. Dizem seus poetas: Nada, nada, mas nada de verdade vive na Terra. Pois a vida na Terra é como um sonho do qual despertamos com a morte. Por acaso se vive de verdade na Terra?

Pois a vida na Terra é como um sonho do qual despertamos com a morte.

A Terra é a Casa das Pinturas. O coração do homem é a Galeria das Pinturas, das cenas da vida que como quadros vai atravessando a consciência humana vivendo e sofrendo como atores e aprendendo como espectadores.

Por acaso são verdade os seres humanos? Porque se não são, também não é verdadeiro nosso mundo. A Terra é o lugar de separação. Nessa Terra, dizem os textos astecas, corre um vento como de afiadas facas de obsidiana.  Mas também é o lugar de reencontro das almas irmãs: a amizade é uma chuva de flores preciosas. Os filósofos astecas não se fecham estéreis no cárcere de seus raciocínios, mas os utilizam como degraus para recuperar a consciência de Deus. Dizem os antigos poetas astecas: Em toda a parte está tua casa, Doadora de vida a esteira de flores, tecida com flores por mim. Sobre ela te evocam os príncipes. Conservamos deles também uma espécie de Teoria do Conhecimento. A verdade é tão sutil e instável que foge das definições racionais. Somente podemos nos referir a ela com símbolos, com metáforas. O símbolo e a arte, a poesia, é o que chamam flor e canto, o único modo de dizer palavras verdadeiras nessa terra. Esses símbolos, esses cantos, originam-se do céu, da inspiração. Não são invenções humanas, pois o simbolismo é a linguagem da Natureza: Do interior do céu vem as belas flores, os belos cantos, os enfeiam nossa ânsia, nosso invento nos leva a perde-los. Também é a flor símbolo da alma que se abre como uma oferenda. Brotam, brotam as flores, abrem suas pétalas as flores, diante do rosto do Doador de Vida (...) as flores se movem!

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Símbolos Astecas

Os astecas com símbolos extraídos da própria Natureza tornaram inteligível o mistério. Com pegadas se referiram à presença de Deus Invisível; com a Serpente ao tempo, com a Terra à sabedoria. Referiam-se ao Gênio interior (a própria alma?) como uma imagem, ou animal, suspenso por trás e unido a nós por um finíssimo fio.

O caracol representa os ciclos espiralados do tempo. Com uma cruz, o quincunce, o movimento interno de todas as coisas, a harmonização, o giro e a síntese dos quatros elementos. Por um olho na interseção dos braços da cruz, a consciência, nascida do impacto do espírito na matéria. Também com a cruz representaram a encarnação da alma na matéria, as provas e dificuldades que esta deve superar por encontrar-se crucificada. Com uma mão, o poder de Deus. Com um espelho esfumaçado, a Natureza, inflamada, fervendo, diante da presença de seu Amor. Também o último Juiz de nossos atos, o carma, o que “semeia discórdias”.

Com o sangue, representam a fluido etéreo que anima todo o Universo, que revigora os astros, no espaço semeado de estrelas, que alimenta e mantém a vida do homem. Uma tíbia quebrada e florescida, o sacrifício do material para dar luz no espiritual. A faca de pedernal, a inexorável vontade do homem que  vence suas limitações, que troca sua prisão de carne. O jaguar representa o sol fazendo sua ronda noturna debaixo da terra, patrono dos guerreiros. A águia é o Sol no Céu, em seu elemento próprio, reinando sobre o mundo, patrono dos governantes. A borboleta multicolorida representa a psique, cheia de encantos e beleza, porém frágil e quebradiça. Uma panela fervendo, com boca e olhos, a natureza da alma encarnada, condenada a viver num mundo que não é seu, mas efervescente de paixões.

A Educação entre os Astecas

Para os astecas, como eles mesmos expressam, o ideal educativo é a ação de dar sabedoria aos rostos e a ação de endireitar os corações. O coração, yollotl, deriva etimologicamente da mesma raiz que ollin (movimento), pois no coração está o movimento interno, a vontade. Por fontes indígenas, sabemos de um sistema de educação universal e obrigatório. No código Florentino, encontramos que entre os ritos que eram praticados, quando nascia uma criança nahuatl, estava a consagração do recém-nascido a uma determinada escola. A imagem do sábio asteca é muito parecida, para não dizer idêntica, a dos antigos filósofos do mundo clássico.

Segundo os sábios astecas, o homem é a encarnação de uma partícula do Espírito Celeste. A Alma do homem provém do Sol e para ele voltará após numerosas encarnações e provas. Por isso, o Sol é chamado de rei dos que voltaram. Sua casa é o firmamento e está rodeada de turquesa e de apenas de quaetzal das almas que regressaram a seu estado inicial de Unidade. O supremo ideal do homem e da mulher nahualt é, portanto, ser dono de seu rosto, dono de um coração.

"Os astecas não acreditavam que houvesse qualquer vínculo conceitual entre levar a melhor vida que pudermos, por um lado, e experimentar prazer ou 'felicidade' do outro".

Ou seja, para eles ter uma vida boa e ser feliz não estavam ligados, algo que pode ser estranho, dada a tradição filosófica do Ocidente.

Há um provérbio asteca que resume este problema e que poderia ser traduzido como "escorregadia, a terra é indescritível".

"O que eles queriam dizer é que, mesmo de tivermos as melhores intenções, nossa vida na terra é aquela em que as pessoas estão propensas a erros, sujeitas a falhas em seus objetivos e, provavelmente, a 'cair' como se estivessem na lama".

"Além disso, esta terra é um lugar onde as alegrias só vêm misturadas com dores e transtornos."

Os astecas acreditavam que, por mais talentoso ou inteligente que alguém pudesse ser, coisas ruins poderiam acontecer com todo mundo, assim como todos estão sujeitos a cometer erros, escorregar e cair.

Logo, em vez de buscar deliberadamente uma felicidade que, no melhor dos casos, seria transitória e perigosa, a meta para os astecas era levar uma vida digna de ser vivida.

Quatro níveis

Para definir o que é uma vida que vale a pena, os astecas usavam a palavra neltiliztli, que pode ser traduzida como "arraigada" ou "enraizada".

O primeiro nível "começa com o próprio corpo, algo que muitas vezes é negligenciado na tradição europeia, preocupada com a razão e a mente"Para isso, os astecas tinham um regime diário de exercícios surpreendentemente semelhante ao yoga.

O segundo nível envolve estar enraizado em sua própria psique, um conceito que abrange igualmente não apenas a mente mas também os sentimentos.

Em terceiro lugar, a comunidade, algo de importância crucial para os astecas.

Diferentemente de Platão e Aristóteles, que propunham uma ética das virtudes centrada no indivíduo, essa civilização indígena posicionava o eixo na sociedade.

Uma vida que valesse a pena não seria possível sem laços familiares ou com amigos e vizinhos, aqueles que o ajudarão a se levantar depois das inevitáveis quedas na terra escorregadia.

Por último, havia o enraizamento do Teoti, uma divindade que nada mais era do que a natureza.

Sobre os autores
Gleibe Pretti

Pós Doutorado na UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina- nota 6 na CAPES -2023) Link de acesso: https://ppgd.ufsc.br/colegiado-delegado/atas-delegado-2022/ Doutor no Programa de pós-graduação em Direito da Universidade de Marília (UNIMAR- CAPES-nota 5), área de concentração Empreendimentos Econômicos, Desenvolvimento e Mudança Social, com a tese: APLICAÇÃO DA ARBITRAGEM NAS RELAÇÕES TRABALHISTAS, COMO UMA FORMA DE EFETIVIDADE DA JUSTIÇA (Concluído em 09/06/2022, aprovado com nota máxima). Segue o link de acesso a tese: https://portal.unimar.br/site/public/pdf/dissertacoes/53082B5076D221F668102851209A6BBA.pdf ; Mestre em Análise Geoambiental na Univeritas (UnG). (2017) Pós-graduado em Direito Constitucional e Direito e Processo do Trabalho na UNIFIA-UNISEPE (2015). Bacharel em Direito na Universidade São Francisco (2002), Licenciatura em Sociologia na Faculdade Paulista São José (2014), Licenciatura em história (2021) e Licenciatura em Pedagogia (2023) pela FAUSP. Perícia Judicial pelo CONPEJ em 2011 e ABCAD (360h) formação complementar em perícia grafotécnica. Coordenador do programa de mestrado em direito da MUST University. Coordenador da pós graduação lato sensu em Direito do CEJU (SP). Atualmente é Professor Universitário na Graduação nas seguintes faculdades: Faculdades Campos Salles (FICS) e UniDrummond. UNITAU (Universidade de Taubaté), como professor da pós graduação em direito do trabalho, assim como arbitragem, Professor da Jus Expert, em perícia grafotécnica, documentoscopia, perícia, avaliador de bens móveis e investigador de usucapião. Professor do SEBRAE- para empreendedores. Membro e pesquisador do Grupo de pesquisa em Epistemologia da prática arbitral nacional e internacional, da Universidade de Marília (UNIMAR) com o endereço: dgp.cnpq.br/dgp/espelhogrupo/2781165061648836 em que o líder é o Prof. Dr. Elias Marques de Medeiros Neto. Avaliador de artigos da Revista da Faculdade de Direito da Universidade Federal do Paraná (UFPR). Editor Chefe Revista educação B1 (Ung) de 2017 até 2019. Colaborador científico da RFT. Atua como Advogado, Árbitro na Câmara de Mediação e Arbitragem Especializada de São Paulo S.S. Ltda. Cames/SP e na Secretaria Nacional dos Direitos Autorais e Propriedade Intelectual (SNDAPI), da Secretaria Especial de Cultura (Secult), desde 2015. Mediador, conciliador e árbitro formado pelo CNJ (Conselho Nacional de Justiça). Especialista nas áreas de Direito e Processo do Trabalho, assim como em Arbitragem e sistema multiportas. Focado em novidades da área como: LGPD nas empresas, Empreendedorismo em face do desemprego, Direito do Trabalho Pós Pandemia, Marketing Jurídico, Direito do Trabalho e métodos de solução de conflito (Arbitragem), Meio ambiente do Trabalho e Sustentabilidade, Mindset 4.0 nas relações trabalhistas, Compliance Trabalhista, Direito do Trabalho numa sociedade líquida, dentre outros). Autor de mais de 100 livros na área trabalhista e perícia, dentre outros com mais de 430 artigos jurídicos (período de 2021 a 2024), em revistas e sites jurídicos, realizados individualmente ou em conjunto. Perito Judicial Grafotécnico. Autor com mais produções no Centro Universitário Estácio, anos 2021 e 2022. Tel: 11 982073053 Email: [email protected] Redes sociais: @professorgleibepretti Publicações no ResearchGate- pesquisadores (https://www.researchgate.net/search?q=gleibe20pretti) 21 publicações/ 472 leituras / 239 citações (atualizado julho de 2024)

Informações sobre o texto

Este texto foi publicado diretamente pelos autores. Sua divulgação não depende de prévia aprovação pelo conselho editorial do site. Quando selecionados, os textos são divulgados na Revista Jus Navigandi

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