Desenvolvimento regional e inovação tecnológica

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Elton Emanuel Brito Cavalcante

Resumo: o texto aborda a relação entre o desenvolvimento tecnológico, a inovação (seja na gestão, seja na produção) e a noção de desenvolvimento regional. O objetivo é polemizar a respeito de tais conceitos, mostrando que nem sempre a culpa da pobreza é do capitalista, mas, ao contrário, de uma visão que combate o livre mercado e a produção em larga escala.

Palavras-chave: desenvolvimento tecnológico, desenvolvimento sustentável, inovação.

1. Introdução: inovação tecnológica desde a primeira Revolução Industrial

A inovação tecnológica é uma das metas da humanidade desde sempre. A troca de pedras e madeiras pontiagudas por espadas de ferro e aço representam bem esse avanço da técnica. A questão é que hoje o avanço tecnológico possui um ritmo não comparável ao de épocas anteriores. O ritmo é tão intenso que já não causa tanto assombro invenções como a Inteligência Artificial, por exemplo. Tal ritmo tem um começo bem delimitado: a Primeira Revolução Industrial. O uso do motor a vapor potencializou a indústria em geral de tal forma que se pode dizer que foi naquele momento que se iniciou a Idade Contemporânea e não em 1789, durante a Revolução Francesa.

O homem que viveu a referida Revolução Industrial possuía algo em comum como o do século XX: a ansiedade pelo novo. Nem sempre, porém, o novo é o melhor. Há um refrão entre intelectuais que diz o seguinte: Quem não lembra o passado está condenado a repeti-lo". Esse dito é uma faca de dois gumes, pois, em alguns casos, quer dizer que o que ocorreu é ruim e que não deve ser repetido. Na maioria dos casos, é uma crítica aos erros do sistema capitalista e às crises vivenciadas por ele, como se os demais sistemas político-econômicos fossem sempre estáveis. A crise da bolsa de Nova York em 1929 foi terrível, mas o capitalismo conseguiu se reestruturar e superar suas deficiências. Uma das superações, e isso os contrários ao capitalismo não perdoam, foi o fato de os gestores das empresas capitalistas terem notado que a renda do operário deveria ser adaptada ao sistema de consumo. Se o operário não ganhasse o suficiente para consumir, quem compraria os objetos e serviços produzidos pela sociedade de consumo massivo?

2. A mudança no padrão de vida do operário

O operário, desde a década de cinquenta, passou a ter um padrão de vida que lhe permitia ter uma casinha, alguns comprarem o seu carro, pôr os filhos em escolas, ou seja, saíram da total pobreza para uma vida difícil, mas que lhe dava certas possibilidades de ascensão.

Quando os robôs passaram a substituir a mão de obra assalariada, os sindicatos disseram que isso era uma tática para destruir o operário e, principalmente, a luta sindical organizada. Neste último caso, talvez até seja verdade. No entanto, o desemprego tem aumentado devido ao fato de haver mais gente para empregar. As mulheres ingressaram maciçamente no mercado de trabalho, as pessoas hoje possuem uma vida laboral mais longeva e, principalmente, a expectativa de vida do homem médio tem aumentado nas sociedades capitalistas. Ou seja, a briga, às vezes, não é para destruir as empresas capitalistas, mas que surjam mais para que possam empregar o restante da população. Por outro lado, as inovações tecnológicas têm barateado produtos que antes eram inalcançáveis para as classes médias: o exemplo mais claro é o do celular. Essa mesma inovação tecnológica tem contribuído bastante para o desenvolvimento regional e a conservação do meio ambiente.

3. Desenvolvimento regional: sustentável versus liberal

Antes de tudo, deve-se ter em mente que desenvolvimento regional pode ser entendido de duas formas distintas: a visão mais liberal e a visão progressista. Na primeira, há, sim, um intento de frear a destruição ambiental e gerar renda para as famílias mais necessitadas. O capitalista não é um monstro como querem fazê-lo ver. A questão é que a forma de pensar dele é diferente, pois crê que o avanço material é a única forma de gerar riquezas, e que somente a difusão de novas tecnologias é que pode fazer os preços dos produtos baixarem. Quando um celular de última geração ingressa no mercado, faz automaticamente com que os modelos anteriores caiam de preço. Assim, fica mais acessível a pessoas que não podem comprar o modelo de última geração. Da mesma forma, crê ele que a grande produção, seja de grãos, seja a da agroindústria, é a que pode fazer os alimentos ficarem mais baratos. O capitalista não é contrário à agricultura familiar, mas diz que esta não é suficiente para alimentar uma população cada vez maior e exigente. Nisso parecem ter razão. Por isso, mecanizam o campo. Por isso estão começando a usar a tecnologia 4.0 para digitalizar tanto os processos de produção como as formas de gerir o negócio e comercializar os produtos.

A segunda forma de entender desenvolvimento regional é a progressista, a qual se preocupa com o trabalhador e vê a tecnologia como responsável pelo desemprego e o capitalista como o destruidor do sistema biológico do planeta. Assim, crê o progressista, o desenvolvimento regional não pode prescindir do desenvolvimento sustentável, e este deve ser voltado para as pequenas indústrias artesanais, agricultura familiar, pequenas usinas etc. Por isso, vê no sistema de cooperativas a saída para o pequeno agricultor. Há um caso exemplar: no Maranhão, o coco babaçu constitui uma das formas de renda do povo maranhense. Até a década de noventa, havia uma indústria do babaçu que empregava muita gente e produzia em grande quantidade para exportação. A partir de meados da década de noventa, a administração pública passou a preocupar-se mais com a questão ambiental e voltar seus incentivos fiscais para a agricultura familiar e o desenvolvimento sustentável. Diminuiu, portanto, o incentivo à grande indústria e, pior, passou a tributá-la com maior intensidade. Resultado, as empresas começaram a falir ou a não querer investir em novas tecnologias, pois podiam a qualquer momento terem um recrudescimento das políticas estaduais contra o grande produtor. Nisso, as cooperativas de quebradeiras de coco ganharam relevância e os técnicos começaram a planejar a forma de elas exportarem o que produziam. Não conseguiram, pois, para tanto, há necessidade de uma empresa organizada e motivada.

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Os poucos empresários que têm a coragem de continuar a comercializar os derivados do babaçu têm que pagar um preço baixo pelo que as quebradeiras de coco produzem. Este fato é algo que pareceria normal numa sociedade de mercado, afinal este não está aquecido para os derivados do babaçu. Os comerciantes não são instituições de caridade, necessitam ter lucro para sobreviver. E em um ambiente que lhes é hostil fazem o que podem para manter-se no mercado. No entanto, os técnicos e promotores do desenvolvimento sustentável e da agricultura familiar dizem que as quebradeiras de coco não têm um padrão de vida elevado devido à ganância dos comerciantes. Eles, os técnicos, para ajudar as quebradeiras tentam desenvolver máquinas que ajudem aquelas a quebrar cocos com mais segurança e produtividade. Entretanto, tais máquinas parecem ferramentas da Idade Média. O objetivo é manter as quebradeiras sem a noção de lucro do ganancioso capitalista, pois se elas perceberem que podem produzir em larga escala através da tecnologia capitalista e que podem ganhar bastante dinheiro, deixarão de ser quebradoras de coco e passarão a ser burguesas. Desta forma, há uma tentativa de manter o trabalhador do campo, aí mesmo, ou seja, no campo, mas sem que ele tenha os vícios do empreendedor capitalista e não se deixe levar pela tecnologia e ciência que favorecem uma sociedade de consumo. Ou seja, o desenvolvimento sustentável, pela perspectiva progressista, é mais do que uma preocupação desinteressada como o pequeno produtor/agricultor, mas uma forma politicamente correta de luta contra o sistema capitalista, considerado o maior dos vilões, ao menos para alguns.

4. Conclusão

Enquanto isso, regiões, estados e países que não têm essa preocupação anticapitalista possuem maior produtividade e o homem do campo não tem vergonha de se considerar um grande produtor/exportador. Investem em tecnologia de ponta, procuram adaptar-se às novas técnicas produzidas pela indústria 4.0 e geram riquezas tanto para si quanto para as regiões onde estão estabelecidos. É esse um dos motivos pelos quais os Estados Unidos são grandes. O mesmo se diga do Japão, da China e de algumas regiões do Brasil.

Referências

FRIZZO, Kamila. Gestão da inovação do modelo de negócios e desempenho inovador e sustentável. Dissertação de Mestrado em Administração, Universidade Federal de Santa Maria, RS, 2018.

MEDEIROS, Janine Fleith de. Gestão da Inovação em Produtos Ambientalmente Sustentáveis. Tese de Doutorado em Engenharia, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2013.

OLIVEIRA E SILVA, M. F.; SILVA, Jorge F. da; MOTTA, Luiz F. J. da. A vantagem competitiva das nações e a vantagem competitiva das empresas: o que importa na localização? RAP Rio, 2012.

TIGRE, Paulo Bastos. Paradigmas Tecnológicos e Teorias Econômicas da Firma. Instituto de Economia da UFRJ. Fevereiro de 2005.

TIGRE, Paulo Bastos. Gestão da inovação: a economia da tecnologia no Brasil. Ed. Elsevier, Rio, 2006.

VIDAL, Mauricélia B. Taylorismo, fordismo e toyotismo: uma análise do sistema de trabalho. Dissertação (Mestrado em Economia Rural e Regional), Universidade Federal da Paraíba, Campina Grande, Paraíba, 2002.

Sobre o autor
Elton Emanuel Brito Cavalcante

Doutorando em Desenvolvimento Regional e Meio Ambiente - UNIR; Mestrado em Estudos Literários pela Universidade Federal de Rondônia (2013); Licenciatura Plena e Bacharelado em Letras/Português pela Universidade Federal de Rondônia (2001); Bacharelado em Direito pela Universidade Federal de Rondônia (2015); Especialização em Filologia Espanhola pela Universidade Federal de Rondônia; Especialização em Metodologia e Didática do Ensino Superior pela UNIRON; Especialização em Direito - EMERON. Ex-professor da rede estadual de Rondônia; ex-professor do IFRO. Advogado licenciado (OAB: 8196/RO). Atualmente é professor do curso de Jornalismo da Universidade Federal de Rondônia - UNIR.

Informações sobre o texto

Este texto foi publicado diretamente pelos autores. Sua divulgação não depende de prévia aprovação pelo conselho editorial do site. Quando selecionados, os textos são divulgados na Revista Jus Navigandi

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