Justa Causa

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Resumo

A Constituição Federal segundo Brasil, em seu artigo 7º, inciso I, traz o direito social dos trabalhadores à proteção da relação de emprego contra a despedida arbitrária ou sem justa causa, prevendo uma indenização compensatória a ser regulada em lei complementar, dentre outros direitos. Trata-se de dispositivo normativo que visa respaldar o empregado em vista da extinção do contrato de trabalho.

Brasil reitera nesse contexto, tal como em outros tipos de contratos, o fim do contrato trabalhista permeia por diversas formas extintivas, sendo que, especificamente no caso da relação de emprego por prazo indeterminado, tem-se a justa causa.

Nos termos do art. 477 da Consolidação das Leis do Trabalho CLT, com a extinção do contrato de trabalho, o empregador deverá proceder à anotação na Carteira de Trabalho e Previdência Social, comunicar a dispensa aos órgãos competentes e realizar o pagamento das verbas rescisórias no prazo e na forma prevista em lei.

Desenvolvimento

Segundo Romar (2019) a justa causa é a dispensa decorrente da prática de falta grave pelo empregado. De modo que, o funcionário, ao praticar as condutas enumeradas pelo ordenamento, faz com que torne-se impossível a manutenção do vínculo de emprego, impondo​-se a rescisão do contrato de trabalho por iniciativa do empregador.

Para Romar, essa espécie extintiva retrata uma pena disciplinar, a ser vista como uma das mais graves, atribuída ao contratado que transgride as normas taxativas da lei. Com a aplicação da justa causa, o empregado deixa de receber a maioria de suas verbas rescisórias, restando-se somente aquelas fincadas no direito adquirido, dentre as quais estão o saldo de salários e férias vencidas, acrescidas de 1/3, se houver.

Dessa forma Leite, ocorrerá a justa causa quando o empregado praticar qualquer das faltas previstas no art. 482 da CLT. Assim, serão essas hipóteses:

  1. Ato de improbidade;

O termo improbidade provém do latim e traduz a ideia do que é de má qualidade, imoral ou malicioso. Nesse sentido, é caracterizado por uma ação ou omissão enganosa do empregado, revelada pela deslealdade, fraude ou má-fé, visando a obtenção de vantagem para si ou para outrem. Segundo corrobora Leite (2020) o ato de improbidade trata-se de ato desonesto praticado pelo empregado contra o patrimônio do empregador, ou de terceiros, relacionado com o trabalho.

Leite, pressupõe-se que seja atuação exclusiva do funcionário, com a intenção de locupletar-se do patrimônio do empregador. Havendo a essencialidade de sua comprovação por intermédio de um conjunto comprobatório irrefutável.

  1. Incontinência de conduta ou mau procedimento;

A incontinência de conduta refere-se a comportamento incompatível com a moral sexual no ambiente de trabalho. Assim, sua configuração ocorre quando o empregado comete ofensa ao pudor, pornografia ou obscenidade, bem como desrespeito aos colegas de trabalho e à empresa.

Como exemplo tem-se a prática de atos libidinosos dentro do estabelecimento ou a utilização ou armazenamento de imagens que exponham sexo ou atos sexuais no ambiente de trabalho, conforme expõe Leite (2020).

Não obstante, o mau procedimento está atrelado ao comportamento incorreto, que vai de encontro as exigências legais e sociais. Nesse contexto, Leite (2020) exemplifica a adulteração de cartão de ponto ou de atestado médico, uso de equipamentos ou materiais da empresa para fins pessoais sem autorização.

  1. Negociação habitual por conta própria ou alheia sem permissão do empregador, e quando constituir ato de concorrência à empresa para a qual trabalha o empregado, ou for prejudicial ao serviço;

Está relacionada a dispensa por justa causa em razão do exercício de ato de comércio por parte do empregado, que de forma reiterada e visando satisfação própria ou de terceiros, implique em concorrência desleal com a atividade econômica conduzida pelo empregador, sem que haja consentimento deste.

  1. Condenação criminal do empregado, passada em julgado, caso não tenha havido suspensão da execução da pena;

Essa hipótese parte do entendimento de que o cumprimento de sentença condenatória em regime de reclusão impede a prestação de serviços, ou seja, impede o cumprimento da principal obrigação do empregado na relação empregatícia (LEITE, 2020). Assim, o fato que ensejou na condenação não precisar estar necessariamente relacionado ao trabalho, e sua configuração é baseada na impossibilidade de comparecimento do contratado para exercer sua função, haja vista a pena privativa de liberdade.

  1. Desídia no desempenho das respectivas funções;

O termo desídia refere-se a falta de atenção, de zelo, desleixo, incúria, negligência. No contexto trabalhista, trata-se de comportamento habitual e improdutivo do empregado no exercício das atividades. Assim, é o exemplo da falta de assiduidade e de pontualidade.

  1. Embriaguez habitual ou em serviço;

Esse dispositivo abrange dois aspectos inerentes ao uso de bebidas alcoólicas e/ou tóxicos. Quanto a embriaguez habitual, trata-se da ebriedade reiterada e fora do serviço que repercute diretamente no desempenho da profissão por parte do empregado. A embriaguez no serviço, por sua vez, está relacionada a um comportamento consumado mediante um ato, a exemplo da apresentação do empregado em estado de embriaguez, ou ainda, se pondo nele quando no estabelecimento laboral.

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  1. Violação de segredo da empresa;

Tal dispositivo implica na prática do empregado de ato que culmine na divulgação de qualquer conhecimento ou patente de uso exclusivo da empresa e sem autorização desta. A título de exemplo, tem-se a inobservância da privacidade do banco de dados que contém a lista ou carteira de clientes, telefone ou e-mails.

  1. Ato de indisciplina ou de insubordinação;

Segundo Leite (2020) a indisciplina é caracterizada pelo descumprimento de ordens gerais de serviço, contidas em portarias, códigos de ética, instruções gerais da empresa, regulamentos, dentre outros. Ainda de acordo com ele, vislumbra-se como exemplo o fumar em local expressamente proibido dentro da empresa. Já na insubordinação, vai de encontro a subordinação, requisito elencado pelo art. 3º da CLT para que uma pessoa seja considerada empregada, e de igual modo trata do descumprimento de ordens, mas de cunho pessoal, ou seja, dirigidas individualmente ao empregado.

  1. Abandono de emprego;

Aplica-se na ausência continuada e ânimo de não mais trabalhar para o empregador. Para tanto a doutrina exemplifica-se que compõe-se do elemento objetivo, sendo ele causado pelo decurso do tempo, e subjetivo, qual seja, o animus abandonandi, assim, a intenção manifesta de romper com o contrato de trabalho.

Sobre a temática Súmula 32 do TST estabelece que Presume​-se o abandono de emprego se o trabalhador não retornar ao serviço no prazo de 30 (trinta) dias após a cessação do benefício previdenciário nem justificar o motivo de não o fazer.

  1. Ato lesivo da honra ou da boa fama praticado no serviço contra qualquer pessoa, empregador e superiores hierárquicos ou ofensas físicas, nas mesmas condições, salvo em caso de legítima defesa, própria ou de outrem;

Essa hipótese dada pela lei causa a lesão dos direitos da personalidade, considerando se tratar de ofensas direcionadas a integridade física, psíquica ou moral do empregador ou de terceiros.

  1. Prática constante de jogos de azar.

Tais atos constituem justa causa e para tanto requer habitualidade para configuração. De acordo com entendimento doutrinário, são considerados jogos de azar apenas aqueles assim descritos pela legislação penal, a exemplo do jogo do bicho.

  1. Perda da habilitação ou dos requisitos estabelecidos em lei para o exercício da profissão, em decorrência de conduta dolosa do empregado.

Trata-se de hipótese somente aplicável aos casos em que a profissão efetivamente não pode ser exercida sem a habilitação e desde que o dolo do empregado tenha sido comprovado, conforme explica Romar (2019).

Conclusão

Conclui se quando contrato de trabalho tem regras que precisam ser cumpridas. Essas regras, em sua maioria, são asseguradas pela CLT, e ajudam no controle da ordem e harmonia do ambiente de trabalho.  Mas o que acontece quando o funcionário viola alguma regra? Quando isso acontece, a demissão por justa causa se torna um direito do empregador. 

Sempre que um empregado comete atitudes que de alguma maneira prejudicam a empresa, o setor de gestão de RH deve se preparar para uma provável demissão por justa causa, motivada por alguma falta grave cometida pelo trabalhador.

Quando um trabalhador é demitido por justa causa, diversos direitos trabalhistas deixam de ser pagos pelo empregado, e entender em quais situações isso pode ocorrer, é importante tanto para o trabalhador quanto para a empresa. Por esse motivo, preparamos este conteúdo, que reúne informações muito pertinentes relacionadas com respaldo ao art. 482 da CLT.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Consolidação das Leis do Trabalho. Disponível em < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del5452.htm> Acesso em 09 de out. 2021.

BRASIL. Constituição Federal. Disponível em < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm> Acesso em 09 de out. 2021.

LEITE, Carlos Henrique Bezerra Curso de Direito do Trabalho. 12. ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2020.

ROMAR, Carla Teresa Martins; coordenador Pedro Lenza. Direito do Trabalho Esquematizado Coleção esquematizado. 05. ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2019.

Sobre os autores
Gleibe Pretti

Pós Doutorado na UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina- nota 6 na CAPES), com término em 2023, com a pesquisa focada na Arbitragem nas relações trabalhistas (Sua aplicação como uma forma de dar maior celeridade na solução de conflitos com foco, já desenvolvido, na tese de doutorado, contrato procedimento - Vertragsverfahren) Doutor no Programa de pós-graduação em Direito da Universidade de Marília (UNIMAR- CAPES-nota 5), área de concentração Empreendimentos Econômicos, Desenvolvimento e Mudança Social, com a tese: APLICAÇÃO DA ARBITRAGEM NAS RELAÇÕES TRABALHISTAS, COMO UMA FORMA DE EFETIVIDADE DA JUSTIÇA (Concluído em 09/06/2022, aprovado com nota máxima). Mestre em Análise Geoambiental na Univeritas (UnG). Pós-graduado em Direito Constitucional e Direito e Processo do Trabalho na UNIFIA-UNISEPE (2015). Bacharel em Direito na Universidade São Francisco (2002), Licenciatura em Sociologia na Faculdade Paulista São José (2016), Licenciatura em história (2016) e Licenciatura em Pedagogia (2018) pela Uni Jales. Coordenador do programa de mestrado em direito da MUST University. Atualmente é Professor Universitário na Graduação nas seguintes faculdades: Centro Universitário Estácio São Paulo, Faculdades Campos Salles (FICS) e UniDrummond. UNITAU (Universidade de Taubaté), como professor da pós graduação em direito do trabalho, assim como arbitragem, Professor da Jus Expert, em perícia grafotécnica, documentoscopia, perícia, avaliador de bens móveis e investigador de usucapião. Professor do SEBRAE- para empreendedores. Membro e pesquisador do Grupo de pesquisa em Epistemologia da prática arbitral nacional e internacional, da Universidade de Marília (UNIMAR) com o endereço: dgp.cnpq.br/dgp/espelhogrupo/2781165061648836 em que o líder é o Prof. Dr. Elias Marques de Medeiros Neto. Avaliador de artigos da Revista da Faculdade de Direito da Universidade Federal do Paraná (UFPR). Editor Chefe Revista educação B1 (Ung) desde 2017. Atua como Advogado, Árbitro na Câmara de Mediação e Arbitragem Especializada de São Paulo S.S. Ltda. Cames/SP e na Secretaria Nacional dos Direitos Autorais e Propriedade Intelectual (SNDAPI), da Secretaria Especial de Cultura (Secult), desde 2015. Especialista nas áreas de Direito e Processo do Trabalho, assim como em Arbitragem. Focado em novidades da área como: LGPD nas empresas, Empreendedorismo em face do desemprego, Direito do Trabalho Pós Pandemia, Marketing Jurídico, Direito do Trabalho e métodos de solução de conflito (Arbitragem), Meio ambiente do Trabalho e Sustentabilidade, Mindset 4.0 nas relações trabalhistas, Compliance Trabalhista, Direito do Trabalho numa sociedade líquida, dentre outros). Autor de mais de 100 livros na área trabalhista e perícia, dentre outros com mais de 370 artigos jurídicos (período de 2021 a 2023), em revistas e sites jurídicos, realizados individualmente ou em conjunto. Autor com mais produções no Centro Universitário Estácio, anos 2021 e 2022. Tel: 11 982073053 Email: [email protected] @professorgleibepretti

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