O homem está condenado a ser livre, uma vez jogado no mundo, ele é responsável por tudo que faz. Essa sentença resume bem o pensamento do filósofo existencialista Jean-Paul Sartre. O pensador é uma figura controversa: os militantes da direita o condenam por ter defendido ideais marxistas; os militantes da esquerda o condenam por romper com o Partido Comunista Francês e por ter criticado duramente o Stalinismo.
Além de considerar o existencialismo uma filosofia burguesa, alguns condenam a sua falta de fé em uma força superior, já outros insistem que sua filosofia leva ausência de valores e a destruição da ordem, e outros simplesmente o consideram uma pessoa muito pessimista. Em sua defesa, o próprio afirma que a angústia que caracteriza o existencialista, vem do fato de que ele precisa assumir responsabilidades.
Sartre viveu de 1905 a 1980, em 1940 serviu o exército francês quando foi capturado por forças nazistas e passou cerca de um ano em um campo de concentração até conseguir sair em 1941. É inegável que essa experiência, bem como toda a realidade histórica que o cercava, contribuiu para o desenvolvimento suas teorias.
Logo em seguida, Sartre se alia à resistência francesa e intensifica sua produção intelectual, ao mesmo tempo, em que se engajar politicamente, em 1943 publica seu livro mais importante O Ser e o Nada, e continua a escrever romances, contos e peças teatrais que complementam e ilustram suas investigações filosóficas como a famosa Entre Quatro Paredes de 1945. Essas duas obras, ao lado do seu primeiro romance A Náusea de 1938, formam a base do seu pensamento, por sua vez, o ensaio O Existencialismo é um Humanismo de 1946, apresenta uma explicação de suas principais ideias de uma forma mais didática.
Para Sartre, a existência do homem precede sua essência, o que significa dizer que o ser humano se determina, se constrói, se inventa enquanto age no mundo. O existencialismo de Sartre se diferencia do existencialismo cristão, que tem que carregar de como seu principal expoente. Sartre defende que são as nossas próprias escolhas que constrói a inocência, não existem valores pré-determinados, não existe a ideia de natureza humana, e nisso ele não difere tanto de existencialismo cristão. Mas a grande diferença é que, para Sartre, não existe nada que condicione ou justifique a necessidade da nossa existência, assim como nossa existência não serve à um propósito único.
O homem é um projeto em eterna construção., diz Sartre, assim, no homem nada mais é do que aquilo que ele faz de si mesmo, é esse o primeiro princípio do existencialismo.
Cada vez que escolhemos agir de determinada maneira, se constrói a nossa própria identidade, determinando a própria noção de humanidade e a nossa conduta que os caracteriza enquanto seres humanos. Nesse sentido, ninguém está fadado a ser mau ou bom, fracassado ou bem sucedido, assim como não temos ninguém para culpar pelas consequências dos nossos atos e pelo rumo que nossa vida leva. Além disso, cada uma de nossas ações se tornam ação possível para todos os outros seres humanos e contribui para formar a ideia geral do que é a humanidade.
Muitas vezes as pessoas abordam que a humanidade está perdida, e para Sartre, a culpa é inteiramente da própria sociedade. Portanto, a responsabilidade da pessoas é muito maior do que se pode supor, pois ela engaja a humanidade inteira.
É perceptível que a noção de liberdade é o elemento central do pensamento de Sartre, mas a liberdade não significa ser totalmente livre para cometer qualquer tipo de ação, muito pelo contrário, essa liberdade é praticamente um fardo do qual o homem não Todas as ações são frutos de uma escolha, e tudo que acontece é resultado de um conjunto de escolhas.
A liberdade é total, porém ela gera consequências com as quais terão que ser lidadas, ou seja, impõe uma responsabilidade total. Por isso, para ele não é preciso de valores universais previamente determinados para se agir eticamente. Todos os critérios são inventados por nossas próprias escolhas, e alguns deles acabam se tornando universais, mas porque foram escolhidos por vários indivíduos.
Ainda assim, existe um porém, nós não vivemos sozinhos em total isolamento, e algumas condições simplesmente fogem do nosso controle. Mas isso não elimina a nossa liberdade, já que para Sartre, uma coisa é o fato como ele se apresenta e outra é o sentido que damos a esses fatos e as escolhas que tomamos a partir deles, já que podemos escolher nos resignar com a realidade dada ou nos esforçar para transformá-la.
Não temos controle sobre onde nascemos, em que época ou em que classe social. e sobretudo não temos o menor controle sobre as pessoas que nos cercam, ou seja, aquele que não é o que eu sou e que é o que eu não sou.
Já que somos todos indivíduos diferentes uns dos outros, cada um com seus anseios e valores e principalmente com a sua liberdade de escolha e de ação. Vivemos a tensão entre essas liberdades numa relação intersubjetiva que às vezes pode ser harmoniosa, mas em outras vezes, será conflituosa.
Quando escolhemos o que fazer, somos obrigados a saber que aquilo que nós fazemos vai sofrer influência dos outros, e muitas vezes, o resultado será frustrante. Somos obrigados a perceber que o outro também é um indivíduo e carrega a sua subjetividade, e que nós podemos ver e julgar suas ações.
Para explicar a teoria existencialista, ele recorre ao dualismo psicofísico, que seria como uma composição do ser humano: nós somos compostos de um corpo e de uma consciência. Não é possível existir uma consciência sem um corpo, do mesmo modo que um corpo sem consciência não é um ser humano. O filósofo cria então dois conceitos:
Ser-em-si: aquele que tem uma identidade definida e que faz parte também do ser humano, pois é o seu corpo;
Ser-para-si: aquele que tem consciência de si, mas não possui uma identidade definida, no caso, a consciência que nos compõe enquanto seres humanos.
Esses conceitos fazem com que o indivíduo caia em uma situação dolorosa, pois como "liberdade", ele quer ser igual a si mesmo, mas não pode, porque a consciência não tem identidade definida. Portanto, não existe natureza humana, portanto, não existe natureza humana. O ser humano sempre terá que estabelecer sua própria existência. Ele não é algo, está sempre no estado de algo. Portanto, ele também estará sempre sujeito a algo que temporariamente o qualifica para ser uma existência para este propósito.
REFERÊNCIAS
Resumo de Existencialismo - SARTRE (netsaber.com.br)
https://brasilescola.uol.com.br/filosofia/existencialismo-sartre.htm