O avanço da tecnologia sobre a economia criativa

29/03/2022 às 19:38
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Por Christiano Sobral*

A inovação vai trazer novos empregos. Não quer ser substituído, não atue como um robô. Quanto mais criativa uma atividade, menor o risco de ser automatizada.

Será que essas afirmativas são realistas? Terá realmente segmentos de atuação profissional que estão protegidos de avanços como o do uso de inteligência artificial?

A história nos mostra que, com a chegada dos teares industriais, vagas que não existiam foram formadas nas cidades; tendo sido um dos motivos que passamos de agrícolas para urbanos em nossa predominância. Porém, não se pode esconder que as vagas do campo e dos artesãos foram aniquiladas, o que funcionou como outro fator da já citada urbanização.

Ou seja, a tecnologia deu e retirou vagas, e a transferência não foi para o local onde elas foram perdidas. Talvez até a formação equiparada de oportunidade tenha sido bem menor que as perdidas, mas compensadas pelo crescimento econômico resultante. Preços acessíveis, maior demanda, necessidade de oferta, formação de vagas.

A promessa das inovações atuais não é diferente, só com o maior uso de IA espera-se que o crescimento dos países mais desenvolvidos dobre seu ritmo. Mais velocidade de expansão, mais demanda para diferentes produtos e mais empregos.

Mas será que só as vagas de atuação repetitiva estão sendo destruídas? Ou a realidade já ameaça os empregos da economia criativa?

A cerca de seis anos atrás, quando o IBM Watson era mais fortemente divulgado, iniciando a ser usada em escritório de advocacia americanos, surgiu um vídeo na internet que dizia: () está pensando em fazer direito? Desista. Mas o que de fato ocorreu neste período?

Vamos tomar a amostra dos principais escritório Full Service do Brasil, identificando a quantidade de profissionais em relação ao volume de processos dos cinco maiores, numa ótica dos últimos cinco anos.

 

Em 2015 eram 3.393 advogados e 1.125.363 causas - 331,67 causas por advogado

Em 2020 eram 3.817 advogados e 1.848.481 causas - 484,28 causas por advogado

Fonte: Análise da Advocacia, ranking dos maiores escritórios Full Service do Brasil, 2016 e 2021

Os dados acima refletem o ganho de produtividade no tempo. Para os atuais 1,8 milhões processos acompanhados, seriam necessários mais de 5.573 advogados caso nada tivesse mudado desde 2015, representando que cerca de 1.756 vagas profissionais deixaram de ser necessária apenas para este pequeno grupo de bancas.

Mas isso não significa necessariamente que esses profissionais não foram absorvidos no mercado, pois o mercado cresceu no período, com a crescente judicialização que foi registrada, também decorrente de mais consumo e atividade econômica em geral.

Dado o avanço cada vez maior do uso de IA no ambiente do direito, essa realidade deverá se acelerar. Antes o foco tinha sido retirar dos advogados a parte menos criativa da atuação, mas agora nossos robôs fazem contestações, entendem decisões judiciais e montam recursos; não só auxiliando os advogados, mas permitindo uma maior adaptação das peças ao magistrado e tribunal envolvido. Só Carol Watson, do Urbano Vitalino Advogados, conseguiu levar o escritório a elevar, em até cinco vezes, o volume de improcedência nos processos de alguns clientes.

 

Claro que ela possui maior facilidade de penetrar nos segmentos de demanda de massa, onde os assuntos são mais repetitivos. Mas se engana quem associa o uso de inteligência artificial, e outros avanços, só neste contexto.

Robôs também auxiliam em processos de due diligence, monitoramento de Compliance e checagem de exposição em casos como os da LGPD. Suportam pesquisas complexas, baseadas em contexto, para entender o todo, ou partes, de contratos e acordos formalizados por meios magnéticos como e-mails. Restando cada vez menos áreas onde a tecnologia não penetre no mundo do direito.

A evolução tecnológica não pode ser freada, e as conquistas vão se acumulando, não sendo uma ilusão esperar que todo o setor seja transformado, mas sua essência não mudará. Então, se você está pensando em fazer Direito, faça. Mas invista também em conhecer e entender o mundo dos algoritmos no qual você vai realmente atuar.

 

*Christiano Sobral é advogado e administrador, Diretor Executivo do Urbano Vitalino Advogados, Law Master em Direito Digital, mestre em Estratégia e especialista em marketing, finanças, economia e negócios, e programador.

 

Sobre o autor
Urbano Vitalino Advogados

Escritório com mais de 80 anos de história, especializado em advocacia empresarial

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Este texto foi publicado diretamente pelos autores. Sua divulgação não depende de prévia aprovação pelo conselho editorial do site. Quando selecionados, os textos são divulgados na Revista Jus Navigandi

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