Defesa do idioma

12/04/2022 às 16:40
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  Estimei ler o artigo de José Guilherme Merquior, no JB de 04/01/83, no qual o crítico deplora a penúria de nossa fala portuguesa, que anda pobre e trôpega e conclui que “compete a todos nós concitar os poderes públicos e as autoridades do ensino a pôr cobro a essa situação alarmante” (sic).

Concordo com o ensaísta que “alguém precisa realmente cuidar um pouco mais da nossa pobre língua” (sic). Só não concordo é que se deva pedir ajuda às autoridades públicas. A luta em prol do português desaparece gradualmente e não encontra reforço nos meios oficiais. Prova disso e causa dessa situação são a extinção do latim e o  ridículo número de aulas de gramática nos cursos secundários.

Sugiro que o JB seja esse “alguém” em benefício da preservação do nosso idioma. Não na atitude do México (JB de 16/11/82), tentando criar comissão para a sua defesa, que neutralize a influência cultural  de outros países. Muito menos imitando The New York Times Magazine com a sua seção semanal On Language ou O Estado de São Paulo com suas Questões Vernáculas semanais.

 O que estou sugerindo é que JB seja o paradigma do seu uso escorreito, em todas as suas matérias publicadas, tentando assim evitar conspurcações do idioma, que são arriscadas, em face do perigo de a língua se esfacelar e perder, desse modo, o seu poder comunicativo.

 Não basta o JB reformular as suas normas de redação. É preciso que todos os seus redatores e colaboradores usem essas normas de correção de linguagem e, ao mesmo tempo, eliminem  definitivamente das suas matérias publicadas as palavras estrangeiras totalmente  dispensáveis, desde que haja em português a palavra correspondente.

A título de exemplo, aqui seguem algumas expressões usadas diariamente pelo JB, totalmente dispensáveis, uma vez que existem em português palavras que representam a mesma coisa. Exemplos com o vernáculo correspondente.

 1 - Outdoor - cartaz, cartazão.  2  - Commercial -  anúncio, propaganda. 3 - Container - recipiente, canastrão,  cofre de carga, invólucro. 4 - Open market - mercado aberto. 5 - Borderaux - pasta, relatório, registro.  6 - Voo charter - voo fretado, voo de fretamento. 7 - Marketing - mercadologia, mercadização. 8 - Shopping center - centro de compras. 9 - Slogan - lema. 10 - Standard - padrão.  11 - Staff - assessoria, pessoal, quadro, assistência. 12 - Codiname - cognome. 13 - Performance - rendimento, resultado. 14 - Ferry-boat - balsa.  15 - Hall - saguão, sala de entrada. 16 - Holding - englobadora, empresa-teto. 17 - Lingerie - roupa branca. 18 - Trading - comercializadora. 19 - Underwriting - subscrição, compromisso. 20 - Score - contagem, resultado, marcação. 21 - Comité - comissão, junta, grupo. 22 -  Croquis - esboço. 23 - Ersatz - sucedâneo. 24 - Feedback - realimentação. 25 - Design -  projeto. 26 - Ranch - fazenda. 27 - Panel - mesa redonda. 28 - Know-how - técnica. conhecimentos técnicos, culturais e administrativos. 29 - Evidence - prova. 30 - Leasing -  arrendamento.  31 - Script - texto. 32 - Relax - descanso.

Sei que não é fácil para um periódico , como o JB, lutar por isso, dados os problemas de pessoal etc., com que se defronta, sem dúvida alguma. Mas há sempre uma saída. Contrate o JB um revisor, pague melhor o funcionário encarregado dessa parte, coloque  nas suas mãos o excelente Dicionário de Questões Vernáculas, de Napoleão Mendes de Almeida para ele consultar, antes de permitir o uso de palavras estrangeiras totalmente dispensáveis.

Só assim é que o JB estará usando a medicação certa para a cura da lepra linguística, assumindo a posição de alguém que irá cuidar “um pouco mais da nossa pobre língua” (sic), no dizer do ensaísta. - Máriton Silva Lima.

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Jornal do Brasil Ltda, Rio de Janeiro, 21/01/83.

Sobre o autor
Máriton Silva Lima

Advogado militante no Rio de Janeiro, constitucionalista, filósofo, professor de Português e de Latim. Cursou, de janeiro a maio de 2014, Constitutional Law na plataforma de ensino Coursera, ministrado por Akhil Reed Amar, possuidor do título magno de Sterling Professor of Law and Political Science na Universidade de Yale.

Informações sobre o texto

Este texto foi publicado diretamente pelos autores. Sua divulgação não depende de prévia aprovação pelo conselho editorial do site. Quando selecionados, os textos são divulgados na Revista Jus Navigandi

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