Na antiguidade existia em Israel um principio de solidariedade chamada goel[1], onde os parentes mais próximos sentiam-se na obrigação de ajudar seus parentes. Assim se apresenta a história de Rute e Noemi, onde Noemi por ser Israelita teria um direito de ser remida através da Lei de Levirato[2]. Tais princípios garantiam aos familiares o dever de ajuda, além do pagamento de dívidas e libertação de escravos no ano sabático[3].
O dever de ajuda entre familiares era algo que os Judeus mantiam e observavam de forma fidedigna, buscando, desta forma a ajuda mutua entre familiares, isso ocorreu após a saída do povo de Israel da terra do Egito e funcionava como um principio de direito estendidos a todos os familiares, ainda que um parente pobre.
Na trilogia de Sófocles temos a história de Édipo, que casou-se com a própria mãe e teve 03 (três) filhos desta relação incestuosa, quando ficou sabendo de tal impropérios através do Oráculo de Delfos, em razão da fome e dificuldade existente em Tebas. Quando soube disso Édipo vazou os próprios olhos e isolou-se em uma caverna, sendo visitado por sua filha Antígona[4].
Na relação incestuosa nasceram Antígona, Etéocles e Poliniiacce, ficando convencionado entre os filhos de Édipo que se revezariam no poder, mas Etéocles não quis passar o poder a seu irmão, o que gerou uma invasão de Poliniiacce a Tebas e nessa guerra ambos irmãos morreram, foi quando Creonte assumiu o poder e determinou através de um decreto que somente Etéocles poderia ser enterrado com honras, mas Poliniiacce não poderia ter um enterro, o que na época era uma desonra. Nessa história destaca-se a pessoa de Antígona, pois mesmo contra o Decreto de Creonte, seu tio, a mesma sacrificou sua própria vida em favor da solidariedade.
Ao saber do decreto do então Rei Creonte, Antígona se insurgiu e em uma das frases mais marcantes disse: acima das leis dos homens existe uma Lei divina e a essa me submeto e procedeu o enterro do irmão insurgente que invadiu a cidade. Quando soube disse Creonte sentenciou Antígona à morte, mas esta manteve-se firme em suas crenças, ainda sob a pena de morte.
Em ambas as culturas percebe-se que o auxílio entre familiares é algo que vem de culturas muito antigas, inclusive, o dever de ajuda, porém, na cultura ocidental e em tempos modernos pessoas ligadas por laços de consangüinidade deveriam dispensar aos seus familiares a proteção e ajuda, aliás, na Lei de alimentos vigente no Brasil enfatiza os alimentos são devidos aqueles que necessitam, mas nem sempre isso é cumprido pelos familiares, pois os valores morais tem se perdido através dos tempos. Não é a Lei coercitiva que deve determinar quem deve ou não a ajuda, mas a própria Lei Moral.
Não importa a religião, a crença ou mesmo a ideologia que se apregoa, mas a proteção aos familiares é uma questão Moral, pois quem não cuida dos seus não segue sequer princípios antigos de solidariedade entre povos menos civilizados que nós, pelo menos assim o consideramos, porém, a solidariedade é algo que deve ser pratica, especialmente no seio familiar.
Seja qual for sua fé, sua forma de atribuir a sua divindade suas preces, mas se você não pratica solidariedade entre sua própria família sua fé é absolutamente vazia em seus próprios conceitos sofismáticos. Tem um ditado que diz: quem não vive para servir não serve para viver. Em algumas doutrinas ouvimos que o homem que não cumpre com o seu dever não é digno, pois o dever e somente pelo dever que somos impulsionados a praticar a solidariedade.
Resumindo, religioso é quem tem o senso de solidariedade entre familiares, quiçá entre pessoas, pois o fato de sermos humanos deveria nos tornar diferentes dos demais viventes na natureza, porém, o mundo animal tem nos dado lições de solidariedade, afinal quando vemos atitudes de cães e gatos percebemos o quanto estamos longe de sermos solidários com os nossos semelhantes. Afinal, que tipo de ser tem se tornado os humanos?
Talvez na história dos homens devemos retroceder a tempos que se perderam na história, pois a evolução tem nos tornado seres frios e indiferentes aos nossos semelhantes, nossos familiares e tornando-nos uma sociedade sem sentimentos.
O segredo da vida é a solidariedade, compaixão, pois religião sem isso é discurso vazio e sem substância, mas lamentavelmente é o que temos visto nos dias atuais. Os antigos, menos civilizados, segundo o nosso conceito nos dão aulas de solidariedade, pois o perdeu-se muito a essência dos conceitos de amar o próximo, o resto é mercantilismo e hipocrisia.
O texto alhures nos retrata um pouco da filosofia do direito, com um pouco da cultura Israelita, mas mostra o nascimento de algumas de nossas Legislações, dentre elas a Lei de Alimentos, Assistência aos Idosos e aos parentes necessitados. Esse é o espírito das Leis na filosofia de Montesquieu.
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As narrativas bíblicas que tratam do período tribal em Israel apresentam um processo de ampla duração histórica, quando os pobres, em grande parte migrantes, se recusaram a continuar submissos ao império egípcio e seus operadores regionais os reis em Canaã. Por quase 200 anos as tribos resistiram ao estado tributário e aos diversos mecanismos sociais, econômicos, religiosos e políticos que o sustentavam. Fizeram isso a partir de uma experiência ampla de empoderamento, expressa nas diversas instituições vigentes nas tribos de Israel. Essa memória pode nos inspirar em nossas buscas por um outro mundo possível e necessário. Palavras-chave: Empoderamento; Tribalismo; História de Israel
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Levirato é o costume, observado entre alguns povos, que obriga um homem a casar-se com a viúva de seu irmão quando este não deixa descendência masculina, sendo que o filho deste casamento é considerado descendente do morto. Este costume é mencionado no Antigo Testamento como uma das leis de Moisés.
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Essa prática faz parte da cultura Judaica e a palavra sabático, em hebraico, significa repouso. Essa tradição, que está descrita no livro sagrado dos Judeus, o Torá (equivalente ao antigo testamento cristão), surgiu da necessidade de renovar a terra, que servia como base para a agricultura.
Assim, em um período de sete anos, seis eram destinados para a plantação, cultivo e colheita. Depois disso, era necessário mais um ano, o sabático, para que a terra pudesse descansar e o solo se recuperar, fechando o ciclo.
Na Bíblia dos Judeus, o ano sabático é complementado por outro termo, o Shemitá, que em hebraico quer dizer libertação. A ideia do período sabático de seis para um, e o Shemitá, estão presentes nas leis trabalhistas Judaicas. Segundo elas, a cada seis dias de trabalho, deve-se ter um de descanso.
Por esse motivo, nas tradições Judaicas, que são seguidas até hoje, o sábado passou a ser considerado um dia sagrado, em que não se pode trabalhar. Esse período deve ser destinado para cuidar de si, da família, repousar e voltar renovado para o próximo ciclo.
Embora a essência do ano sabático que traz a ideia de descanso e renovação tenha se mantido, atualmente esse tempo é destinado a inúmeras outras descobertas e o período pode ser muito menor que um ano. A seguir vamos ver um pouco mais sobre o assunto. Continue acompanhando!
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Antígona é uma tragédia grega de Sófocles, composta por volta de 442 AC. É cronologicamente a terceira peça de uma sequência de três tratando do ciclo tebano, embora tenha sido a primeira a ser escrita. A personagem do título é Antígona, filha de Édipo, e irmã de Etéocles e Polinice.