A obra Porque as nações fracassam?, de autoria de Daron Acemoglu em conjunto com James Robinson, tem como ponto de partida a investigação dos motivos que levam algumas das nações do mundo a serem abastadas e outras pobres. Neste contexto, os autores elaboram a tese de que a abundância e a riqueza de uma nação está ligada diretamente à participação política do maior número de pessoas possíveis, a dissolução das elites e a crescente em direção à democracia. Isso porque, de acordo com eles, a possibilidade de ganhos financeiros com o próprio esforço, sem que haja uma elite que retire parte desses lucros, estimulam a capacidade de inovação, o que consequentemente cria tecnologias mais eficientes e torna os indivíduos e nações mais ricos.
Nesta perspectiva, de modo a corroborar a sua tese, os autores citam exemplos diversos ao longo do livro. Um desses exemplos é a cidade de Veneza durante a Idade Média, que foi uma das cidades mais ricas do mundo na época, isso porque a cidade era o lugar com mais instituições políticas inclusivas do planeta. Essas se manifestavam sobretudo por meio de um conselho legislativo que era constantemente renovado e incluía cada vez mais assentos no mesmo. Com o passar dos anos o aumento da participação política em especial dos mais jovens permitiu propor leis contra os monopólios das elites locais, o que diminuiu a influência das mesmas na cidade ao longo de algumas décadas. Todavia, com a constante ameaça dos novos membros as elites essas passaram a restringir o acesso de novos membros ao Grão-Conselho, data a qual os autores interligam a decadência econômica da cidade.
Outro exemplo mais conhecido é o da revolução Francesa, em que o rei junto a toda a nobreza e parte do clero foram abolidos nos primeiros anos de revolução. Assim como uma série de impostos que sustentavam as elites do primeiro e segundo estado e todos os cidadãos passam a ser elegíveis a qualquer cargo, seja de cunho eclesiástico, civil ou militar, o que implica na eficiência como critério de escolha. A partir daí, a França sob o comando de Napoleão se expande e se torna o primeiro império francês, sendo derrotado apenas com o esforço conjunto de Reino Unido, Rússia, Áustria e Prússia.
Também é interessante mencionar casos de nações que por conta da manutenção das elites locais e dos monopólios impediram a inclusão política da população e com isso ficaram estagnadas tecnologicamente. Um exemplo disso é a revolução russa e a criação da URSS, que durante as primeiras décadas apresentou um crescimento estável, devido a recolocação de mão de obra da agricultura para a indústria e a acumulação do capital tomado da antiga nobreza. Todavia, aos poucos uma nova elite se incrustou no país, uma ditadura foi implantada o que silenciou as críticas de grupos contrários ao regime. Os direitos de livre expressão se tornaram escassos, assim como a produção dos trabalhadores que era tomada pelo Estado. E como se não bastasse tudo isso, com o início da decadência econômica, os comandantes do Estado começaram a exilar na Sibéria aqueles que propunham decisões que causavam algum prejuízo político, mesmo que esta melhorasse a situação econômica do país o que apenas acelerou a queda do próprio regime.
Contudo, talvez o exemplo mais curioso seja a ascensão da China no século XXI como uma superpotência. Uma vez que, no início do século XX com a tomada de poder por Mao Tsé Tung, o país apenas recriou as instituições extrativistas que existiam durante a monarquia, com Tung perseguindo opositores e concentrando o poder político em si mesmo. Sendo a expressão máxima desse período a revolução cultural, em que algo entre 1 e 20 milhões de pessoas foram mortas por conta de opiniões políticas. No entanto, com a morte de Mao, Deng Xiaoping promoveu uma crescente abertura econômica do país, favorável à propriedade privada e a investimentos externos. E ao permitir que as pessoas pudessem possuir bens, aos poucos uma nova onda de tecnologia começou a tomar conta da China. Uma de suas máximas era de que não importava a cor do gato, branco ou preto, capitalista ou comunista, desde que ele caçasse ratos, conseguisse produzir. Este processo foi continuado pelos líderes que o sucederam, de modo que hoje a China além de uma potência industrial vêm se tornando uma potência em relação a inovação tecnológica, se consagrando como a segunda maior economia do globo.
Entretanto, é difícil predizer se a China continuará a crescer financeiramente, afinal o partido comunista chinês ainda controla todo o país. A população em geral têm poucos direitos políticos e esses ainda podem sofrer supressões caso o partido assim decida. De maneira que, pela posição dos autores, há dois caminhos principais para o futuro, o primeiro deles é a crescente da inclusão política, fomentada pelo crescimento da imprensa independente e pela diminuição do controle do partido. Outro caminho é a estagnação como vista na URSS ou em Veneza, que após o período de centralização, inclusão e franco desenvolvimento, as elites passarão a tentar neutralizar o avanço democrático, para se sustentarem no poder e por consequência diminuirão a capacidade de inovação da nação.
Por último cabe a ressaltar que essa tese trata-se de um modelo geral e abstrato, razão pela qual os casos concretos podem apresentar variações por conta do contexto temporal e espacial diferente das várias nações. Em uma opinião pessoal a teoria dos autores é muito interessante e me convenceu em vários pontos, sendo que eu mesmo consigo visualizar exemplos não citados pelos autores no livro, mas que corroboram em grande parte a tese apresentada.