Invisibilidade social e relações de trabalho dos profissionais terceirizados

29/06/2022 às 12:26
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RESUMO

O processo de terceirização do trabalho é um movimento em ascensão em todo o mundo com o advento da chamada modernização das relações de trabalho. O trabalho está diretamente ligado às interações interpessoais desenvolvidas no ambiente e à identidade para com a cultura da empresa. Entretanto, o profissional terceirizado diversas vezes não possui estes vínculos que norteiam a atividade profissional e são extremamente importantes para a criação de um vínculo de afetividade e o desenvolvimento de um sentimento de pertencimento à empresa. Neste contexto, se faz mister analisar as condições estabelecidas no mercado, no que tange a invisibilidade social destes profissionais no ambiente de trabalho a partir desta realidade posta. Este o projeto tem o objetivo principal de observar se a invisibilidade social se apresenta como uma realidade no cotidiano dos profissionais terceirizados que prestam serviço à Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Para isso, foi realizado levantamento bibliográfico com vistas ao desenvolvimento de uma melhor compreensão sobre a temática da invisibilidade social e seu impacto nas condições de trabalho, na prática e sua previsão legislação e posteriormente, foi aplicada uma entrevista com funcionários terceirizados de diversos setores nos turnos matutino e noturno.

Palavras-chave: Terceirização, Invisibilidade Social, UFRN.

  1. INTRODUÇÃO

O processo de terceirização do trabalho é um movimento em ascensão em todo o mundo com o advento da chamada modernização das relações de trabalho. No Brasil, com a aprovação da nova reforma trabalhista, prevista na Lei nº 13.467/2017, à qual passa a autorizar a terceirização de todas as atividades, inclusive a atividade principal, torna-se cada vez mais importante debater a temática e compreender este processo de transição.

O trabalho está diretamente ligado às interações interpessoais desenvolvidas no ambiente e à identidade para com a cultura da empresa. Entretanto, o profissional terceirizado diversas vezes não possui estes vínculos que norteiam a atividade profissional e são extremamente importantes para a criação de um vínculo de afetividade e o desenvolvimento de um sentimento de pertencimento à empresa.

Neste contexto, se faz mister analisar as condições estabelecidas no mercado, no que tange a invisibilidade social destes profissionais no ambiente de trabalho a partir desta resta realidade posta.

Este o projeto tem o objetivo principal de observar se a invisibilidade social se apresenta como uma realidade no cotidiano dos profissionais terceirizados na que prestam serviço à Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Deseja-se, ainda, compreender se este fenômeno se configura como um impedimento para que o profissional desenvolva suas identidades para com o seu trabalho, permitindo que este tenha um melhor desempenho na execução de suas atribuições.

Diante do presente exposto, queremos com este trabalho identificar os problemas que surgem a partir deste fenômeno de invisibilidade apontando possíveis medidas e adaptações que possam ser úteis à superação deste status quo oferecendo a estes profissionais um ambiente saudável para se trabalhar.

Estas medidas voltadas à adaptação são importantes visto que este movimento de terceirização tem fortes indícios de permanecer como principal forma de contratação no futuro próximo nas empresas em todos os ramos de atuação econômica. Desta forma, a universidade precisa se adaptar de maneira mais apropriada sob o risco de promoção das desigualdades de tratamento que são afrontas ao princípio da dignidade da pessoa humana.

Inicialmente, foi realizado levantamento bibliográfico com vistas ao desenvolvimento de uma melhor compreensão sobre a temática da invisibilidade social e seu impacto nas condições de trabalho, na prática e sua previsão legislação.

Posteriormente, foi aplicada uma entrevista com 18 funcionários terceirizados de diversos setores nos turnos matutino e noturno. Os entrevistados responderam a um questionário fechado contendo 08 (oito) perguntas com 05 (cinco) que abordaram temas relevantes à consecução de suas atividades.

O questionário aplicado utilizou a metodologia Likert como método de avaliação substituindo o sistema de resposta binário sim e não por uma graduação de concordância. Desta forma, é possível se aproximar de maneira mais eficiente à realidade considerando os variados níveis de percepção pelos indivíduos dos fenômenos sociais. Assim, procurou-se avaliar, através desta ferramenta, a subjetividade das respostas dos entrevistados.

Feito isto, os dados serão catalogados e computados gerando uma base de informações que utilizaremos para a geração dos gráficos no que tange a caracterização do público trabalhado e os aspectos subjetivos intencionados neste projeto.

  1. DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO E MODERNIZAÇÃO DAS RELAÇÕES DE TRABALHO

O desenvolvimento da tecnologia colocou em cheque muitos paradigmas da sociedade e transformaram sobremaneira as relações sociais, em todos as esferas. Com a economia não foi diferente, os avanços tecnológicos foram determinantes para a diferenciação das empresas modernas as quais passaram a ter maior preocupação com os processos produtivos com vistas à uma produção mais eficiente e ampliando as possibilidades de lucro.

Este cenário de transformação envolveu todas as esferas a economia de uma maneira geral, do setor primário ao terciário. As novas tecnologias passaram a redesenhar na agricultura os processos seleção das sementes, plantio, colheita, tratamento e transporte. No setor secundário, as indústrias com novas máquinas otimizaram a produção dos bens de consumo das mais diversas naturezas.

Contudo, no setor terciário, de serviços, este desenvolvimento da técnica tem um papel dualista. As relações de trabalho passaram por uma transformação expressiva durante a revolução industrial alterando substancialmente o ambiente de trabalho fomentados pelas inovações tecnológicas da modernidade. O desenvolvimento tecnológico dá origem à novas funções dentro das empresas, ao mesmo tempo que elimina atribuições que já não se fazem necessárias.

Nesta perspectiva, Silva (2005) corrobora esta ideia ao afirmar que

As mudanças tecnológicas e organizacionais geram novas profissões ao mesmo tempo em que levam ao desaparecimento de outras; em todo o mundo assiste-se à fragmentação do mercado de trabalho e à elevação do desemprego, fenômenos que estão associados ao surgimento de novas figuras contratuais, ao lado do tradicional contrato de trabalho por prazo indeterminado.

Essas mudanças alteram completamente os paradigmas de mercado, pois o foco dessas inovações passa a se configurar como fatores diretamente relacionadas à produtividade, competitividade e conquista de mercados (RODRIGUES, MIRANDA E CRESPO, 2010, p. 54 apud LYKAWKA, 2013, p. 04).

Uma vez que o mercado globalizado padroniza os preços dos produtos nivelando a competitividade, as empresas precisam se movimentar ajustando a gestão de seus processos e para reduzir os custos da produção, tornar-se competitiva no mercado e maximizar os lucros.

Acerca deste processo de globalização da economia Milton Santos (2006) afirma,

Num mundo globalizado, regiões e cidades são chamadas a competir e, diante das regras atuais da produção e dos imperativos atuais do consumo, a competitividade se torna também uma regra da convivência entre as pessoas. A necessidade de competir é, aliás, legitimada por uma ideologia largamente aceita e difundida, na medida em que a desobediência às suas regras implica perder posições e, até mesmo, desaparecer do cenário econômico.

Contudo, neste contexto de nivelamento o contrato de trabalho se apresenta como o principal elemento de ajuste da empresa sendo ele um dos principais custos e os ajustes possuem resultados financeiros imediatos. Logo, as relações trabalhistas são as primeiras a serem afetadas pelas transformações que surgem ao longo do tempo e muitas vezes se sujeitam às condições de trabalho impostas pelas empresas, pois não possuem igualdade de negociação das alterações propostas.

Esta nova realidade modifica o ambiente de trabalho tendo fortes impactos na produtividade, pois, segundo Pepe, (2012, apud LYKAWKA, 2013, p. 04) podemos supor que o ambiente de trabalho [...] deve influir no comportamento das pessoas e, por conseguinte, influenciar nas relações interpessoais e supostamente nos resultados das empresas em todos os sentidos.

Recentemente o mundo do trabalho vem passando por um movimento de transformações denominado Flexibilização das Relações de Trabalho na tentativa de superar a forte crise de desempregos que impacta o mercado internacional. A terceirização de todas as atividades da empresa é parte deste movimento e impacta diretamente na qualidade do serviço prestado.

Como um fenômeno eminentemente social, o trabalho acarreta consigo todos os resultados das relações desenvolvidas no seio da sociedade. Importa, para efeitos de compreensão deste processo, analisar a importância que o trabalho possui para o homem na formação de si como indivíduo componente de um corpo coletivo. Para Abrahão e Torres (2004, p. 70), o trabalho:

[] constitui um elemento fundamental da existência humana, podendo contribuir para o bem-estar ou, para a manifestação de sintomas que afetam a saúde. A organização do trabalho é considerada como mediadora desse processo. Ela é compreendida como a divisão do trabalho, incluindo a divisão das tarefas, a repartição, a definição das cadências, o modo operatório prescrito; e a divisão de homens, repartição de responsabilidades, hierarquia, comando, controle.

O trabalho é, sensivelmente, um dos aspectos mais relevantes da vida social. Contudo, algumas funções são carregadas de uma série de preconceito dando origem ao fenômeno de invisibilidade social caracterizando-se pela forma de estigmatização de trabalhadores de profissões sem status social e de baixa remuneração (CARDOSO, SILVA e ZIMATH, 2017).

Os trabalhadores terceirizados, por sua vez, experienciam este fenômeno de maneira amplificada quando têm por ambiente de trabalho órgãos públicos, pois existe um forte sentimento de resistência e repulsa à sua permanência no âmbito das instituições.

Estes sentimentos encontram amparo no progressivo movimento para terceirização dos cargos e funções existentes no funcionalismo público. Desta forma, os funcionários terceirizados tornam-se uma espécie de ameaça e daí surgem as práticas separatistas e excludentes dentro dos ambientes de trabalho.

Os estudos sobre a temática são escassos e como um fenômeno recente carece de apropriação em estudos futuros. Entretanto, tem-se tornado cada vez mais necessário avaliar a evolução deste processo, visto que é inevitável, de modo que não se permita a propagação de injustiças para com estes profissionais que já possuem diversos elementos limitantes de ascensão social.

  1. PESQUISA E RESULTADOS

A pesquisa aplicada aos funcionários terceirizados teve o intuito de avaliar a forma como estes profissionais compreendem o seu lugar no espaço que ocupam e como as relações desenvolvidas durante a execução de suas atividades influenciam no processo de autodeterminação como sujeito ativo em meio à coletividade nos limites da instituição.

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Os participantes foram selecionados aleatoriamente em diversos setores e departamentos da universidade. Foram visitados os setores do Centro de Ciências Sociais Aplicadas (CCSA), Complexo Tecnológico de Engenharia (CTEC), Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes (CCHLA), Superintendência de Comunicação (Comunica) e Biblioteca Central Zila Mamede com o intuito de ter uma maior participação e representação dos dados coletados.

Ao longo da pesquisa foram entrevistados um total de 18 funcionários terceirizados. Do total, 83,3% (15) eram homens e 16,7% (3) eram mulheres. A seleção dos entrevistados deu-se de maneira aleatória não havendo qualquer espécie de combinação prévia para elaboração das respostas. O contato com os entrevistados foi fruto da somente da oportunidade de encontro nos corredores da instituição quando da ronda feita para a realização do trabalho.

Quanto às funções dos funcionários entrevistados procuramos diversificar ao máximo para observarmos a percepção quanto ao tema em profissionais de várias áreas. Dos 18 entrevistados 9 eram Agentes de Portaria/Recepcionistas, 7 Auxiliares de Serviços Gerais (Jardineiros e Agentes de Limpeza) e 2 Seguranças.

Foi realizado um levantamento para identificar o perfil dos entrevistados com o objetivo de analisarmos o padrão dos profissionais que se enquadram nestas categorias.

Em relação à idade, a maior parte dos entrevistados, aproximadamente 72,2%, se encaixam no intervalo de 30 a 50 anos. Muitos deles chefes de família que dependem exclusivamente do seu trabalho como fonte principal de renda.

 

< 20

> 20 < 30

> 30 < 40

> 40 < 50

50+

Idade

5,6%

16,7%

33,3%

38,9%

5,6%

Tabela 01 Idade dos Participantes

Apesar das responsabilidades que possuem, e da grande carga de trabalho diário, os salários oferecidos são defasados a sua maioria não ultrapassando o limite de 01 (hum) salário mínimo. Contudo, diante da atual crise econômica que o país se encontra e da escassez do trabalho nos modelos convencionais de contratação (funcionários orgânicos), estas são as únicas oportunidades que eles possuem para permanecer trabalhando e garantindo os recursos e condições necessárias para produção de sua própria existência.

Até 1 SM

Entre 1 e 3 SM

Renda

72,2%

27,8%

Tabela 02 Renda dos Participantes

Os profissionais que superam o limite de 1 salário mínimo encaixam-se nas funções de segurança ou aqueles que possuem mais de 5 anos na mesma função por motivo de progressão salarial.

Muitos desses profissionais encontraram no serviço terceirizado uma forma de inserção no mercado diante da pouca instrução e formação especializada para exercer funções de maior nível hierárquico.

 

Ens. Fund. Incompleto

Ens. Fund. Completo

Ens. Médio Incompleto

Ens. Médio Completo

Escolaridade

11,1%

22,2%

5,6%

61,1%

Tabela 03 Escolaridade dos Participantes

Apesar de boa parte dos funcionários terem ensino médio completo (61,1%), para que possam assumir cargos de gestão ou em setores estratégicos é exigido dos profissionais formação especializada como técnico ou graduação.

Em relação ao tempo de serviço como funcionário terceirizado, temos dois grupos mais expressivos, os que atuam entre 1 e 3 anos (33%) e o que atuam há mais de 5 anos (39%). O primeiro grupo representa aqueles que aderem à terceirização como forma de fugir da grave crise de desemprego e o segundo aqueles que não conseguem progredir de cargo ou profissão pelas limitações de formação.

 

Até 1 ano

Entre 1 e 3 anos

Entre 3 e 5 anos

5+ anos

Tempo

6%

33%

22%

39%

Tabela 04 Tempo de Serviço dos Participantes

A entrevista aplicada foi composta de 08 (oito) afirmações às quais os entrevistados deveriam dar sua resposta de acordo com o seu nível de concordância de acordo com a seguinte classificação: 1 significando Discordo Totalmente, 2 Discordo, 3 Indiferente (ou neutro), 4 Concordo e 5 Concordo Totalmente.

Esta metodologia (Likert) utilizada além de oferecer a oportunidade de apresentar mais opções de respostas, pode-se obter uma maior aproximação à real opinião do entrevistado do que com questionários binários contendo unicamente as opções Sim e Não.

As afirmações têm o intuito de compreender o ambiente as relações de trabalho desenvolvidas por trabalhadores terceirizados em relação à empresa contratante e a tomadora de serviço (UFRN). Além disto, é também intuito deste trabalho avaliar se há presente o fenômeno da invisibilidade social no local de trabalho por parte desses trabalhadores.

Afirmação 01

Seu trabalho tem o reconhecimento devido por parte da empresa, demais colaboradores e alunos.

Gráfico 01 Afirmação sobre reconhecimento dos funcionários.

Para a maior parte dos entrevistados existe o reconhecimento em relação às atividades desenvolvidas, mas com algumas ressalvas. O reconhecimento não advém de todos os lados nem de maneira uniforme. Muitos afirmam que há mais reconhecimento por parte dos funcionários efetivos do que por parte da empresa contratante.

Em relação ao reconhecimento por parte dos alunos há divergência entre eles, muito em função da diferenciação dos cargos. Os Agentes de Limpeza afirmam não haver um reconhecimento condizente com o esforço empreendido no sentido de valorização de suas atividades, com exceção de pessoas específicas com os quais passaram a desenvolver um vínculo de afetividade.

Afirmação 02

As pessoas compreendem a importância da sua função para o pleno funcionamento da instituição.

Gráfico 02 Afirmação sobre compreensão da função exercida.

Os entrevistados concordam majoritariamente em relação à compreensão de todos da importância que eles têm para o pleno funcionamento da instituição. Muito embora também hajam ressalvas em relação à esta concordância.

Alguns concordam que é de conhecimento de todos que suas funções são cruciais para a manutenção das instalações e/ou segurança dos locais coletivos, mas os usuários não agem cooperativamente.

Afirmação 03

Você acredita que se você não fosse funcionário terceirizado o tratamento seria diferente.

Gráfico 03 Afirmação condição como terceirizado.

A maioria dos entrevistados (78%) concordam ou concordam totalmente com o fato de que há um tratamento diferenciado dos profissionais terceirizados em relação aos orgânicos. Esta diferença dá-se pela ausência de solidariedade em relação às atividades desenvolvidas e à falta de tratamento, que não ocorre aos funcionários orgânicos.

Muitos dos participantes relatam uma série de abusos de tratamento (entre funcionários e alunos) fazendo com que experimentem forte sentimento de rejeição e desprezo ao afirmarem que são indesejáveis ou que não existem ali, como declara um dos entrevistados.

A terceirização é um processo em evolução e engendra os mais variados serviços, inclusive o funcionalismo público. Dessa forma, é possível vislumbrar, nos tratamentos aplicados aos funcionários terceirizados, uma resistência à possíveis substituições do corpo de funcionários orgânicos, mas de maneira mais abrupta e repousando culpa aos trabalhadores.

Afirmação 04

A empresa na qual você trabalha lhe oferece possibilidades de desenvolvimento e ascensão profissional.

Gráfico 04 Afirmação sobre condições de desenvolvimento profissional.

Outro ponto de consonância entre os entrevistados é visto em relação a como eles observam as oportunidades de desenvolvimento e ascensão profissional dentro da empresa. A oferta de possibilidade de desenvolvimento tem sido um grande diferencial para os profissionais de uma maneira geral, pois o mercado possui uma tendência a se tornar mais dinâmica. Caso o profissional não tenha condições de evoluir profissionalmente tornar-se-á muito difícil permanecer ativo no mercado de trabalho.

Os funcionários veem a estrutura da empresa com um intransponível engessamento sem possibilidades de avanço profissional. Entre os entrevistados haviam profissionais que estavam na mesma função há mais de 05 (cinco) anos sem qualquer perspectiva de avanço de cargo e/ou carreira. Nos casos em que a empresa oferece algum tipo oportunidade de evolução, os processos são restritos e de difícil acesso não se estendendo a todos os colaboradores.

Afirmação 05

As relações de trabalho praticadas fazem com que você desenvolva um sentimento de pertencimento à empresa na qual presta serviço.

Gráfico 05 Afirmação sobre as relações de trabalho para com a empresa.

O objetivo desta afirmação era saber se os profissionais por meio das suas atividades desenvolviam um sentimento de pertencimento junto às empresas das quais eram funcionários. Entretanto, o resultado foi bastante divergente. Apesar de alguns estarem ligado à empresa por meio do vínculo empregatício, boa parte deles discorda do fato de que desenvolveram um vínculo afetivo de pertencimento à instituição.

Em contrapartida, um bom grupo concorda com a afirmativa, pois entende que por meio dessa relação é que eles obtêm seus proventos e estão aparados, de alguma forma, pelo empregador e o vínculo que os unem. Contudo, esta relação é bastante sinuosa e frágil, visto a volatilidade desta relação.

Afirmação 06

As relações de trabalho praticadas fazem com que você desenvolva um sentimento de pertencimento à empresa tomadora dos serviços terceirizados.

Gráfico 06 Afirmação sobre as relações de trabalho para com a UFRN.

Num segundo momento questionamos se as relações de trabalho desenvolvidas influenciavam na criação por parte deles do mesmo vínculo afetivo com sentimento de pertencimento à instituição. Podemos afirmar que este foi o item de maior dualidade, dividindo os discursos explicitamente no que tange a relação deles com a universidade.

Para a metade deles, existe sim o vínculo de aproximação afetiva para com a instituição. Uma vez que ela se configure como seu ambiente de trabalho, é nela onde são desenvolvidas relações com uma parcela dos demais funcionários efetivos e alguns alunos. Este fato faz com que eles se vejam como parte da instituição como um todo no sentido de contribuir para a construção de uma instituição forte e consolidada.

Entretanto, para a outra metade, as relações existentes apenas permanecem somente enquanto o vínculo empregatício durar. Eles não se sentem absorvidos como

Afirmação 07

Este ambiente de trabalho e sentimento influenciam diretamente na sua produtividade no dia a dia.

Gráfico 07 Afirmação sobre produtividade.

Outro tema bastante divergente nas respostas dos entrevistados é a afirmação de que este ambiente de trabalho influencie positiva ou negativamente sua produtividade. Enquanto que alguns defendem que este sentimento de pertencimento influencie positivamente, outros são indiferentes quanto à esta relação e não acham que este elemento seja importante.

Há ainda aqueles que afirmam que a produtividade depende tão somente da força de vontade do trabalhador e da responsabilidade que ele tem para com a execução de suas atividades. Houve ainda quem afirmasse que este sentimento teria efeito contrário, pois haveria um maior comodismo e os profissionais iriam fluir para um relaxamento do trabalho reduzindo sua produtividade.

Afirmação 08

Você se sente ou já se sentiu invisível em seu trabalho.

Gráfico 08 Afirmação sobre a invisibilidade social.

Como ponto de culminância deste trabalho, esta afirmativa tinha o objetivo de avaliar a percepção por parte dos colaboradores da existência de um sentimento de invisibilidade em função da profissão exercida.

Alguns entrevistados foram enfáticos em afirmar veementemente sua condição de invisibilidade afirmando que sua presença é ignorada tanto quanto sua existência. Outros entrevistados relutaram em ser tão enfático em função ao respeito às relações que haviam desenvolvido para com alguns funcionários efetivos e/ou alunos e para não incorrer em injustiça afirmaram que isto é recorrente, mas não absoluto.

Este sentimento está presente em sua maioria nos discursos dos Agentes de Limpeza conquanto estes profissionais são tidos como inferiores, intelectual e economicamente, por parte do alunado e demais funcionários. Contudo, nas entrevistas pode-se notar sensível revolta quanto ao preconceito sofrido individualmente e a classe como um todo.

Muitos desses profissionais aceitam as funções que lhe são ofertadas pela falta de formação adequada para exercer outras funções técnico-administrativas. Entretanto, eles afirmam ser tratados sob uma óptica de objetificação e redução de sua condição humana no que tange à sua sociabilidade.

Estes profissionais, uma vez que são excluídos dos ciclos sociais internos à instituição, formam verdadeiros grupos de apoio para comunicarem-se de maneira mais ampla fazendo com que sua estadia seja menos psicologicamente agredida. Neste contexto de um simples gesto de cordialidade como um Bom Dia assusta pela ruptura do habitual, mórbido e excludente silêncio.

  1. CONSIDERAÇÕES FINAIS

No Brasil, este contexto de grandes transformações nas relações de trabalho, com a aprovação da reforma trabalhista de 2017, as análises de temas desta natureza se tornam imperativas. É necessário que este movimento seja melhor compreendido visando alcançar as melhores soluções para os novos problemas sociais que estão surgindo. Os profissionais que sofrem desta invisibilidade podem vir a sofrer impactos relevantes em sua saúde mental e social.

A invisibilidade social, como fenômeno humano, possui diversas variáveis e nuances tendo implicações em todos os ramos do cotidiano na população. A universidade como um ambiente de construção de conhecimento e compreensão dos fenômenos sociais ainda estará muito distante de superar essas desigualdades enquanto não compreender sua participação neste processo e promover as medidas necessárias para o rompimento deste ciclo de exclusão social.

A terceirização pode ser considerada como um movimento contínuo e com forte tendência de permanecer e engendramento em todos os setores da economia. Contudo, muitos detalhes de sua implementação precisam ser revistos e analisados sendo feitas suas ressalvas com vistas à manutenção da qualidade de condições de trabalho aos profissionais.

REFERÊNCIAS

ABRAHÃO, J. I.; TORRES, C. C. Entre a organização do trabalho e o sofrimento: o papel de mediação da atividade. In: CARDOSO, P. S.; SILVA, T. da; ZIMATH, S. C. Todo mundo olha, quase ninguém vê: a percepção de trabalhadores operacionais com relação à invisibilidade social de seus trabalhos. Cadernos Brasileiros de Terapia Ocupacional, São Carlos, v. 25, n. 4, p. 701-711, 2017.

BRASIL. Lei Nº 13.467, de 13 de julho de 2017. Altera a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). Brasília, DF, Jul 2017. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2017/lei/l13467.htm> Acesso em: 14 out. 2018.

CARDOSO, P. S.; SILVA, T. da; ZIMATH, S. C. Todo mundo olha, quase ninguém vê: a percepção de trabalhadores operacionais com relação à invisibilidade social de seus trabalhos. Cadernos Brasileiros de Terapia Ocupacional, São Carlos, v. 25, n. 4, p. 701-711, 2017.

DIÓGENES, S. H. do A. B.; CAVALCANTE, S. M. de A.; OLIVEIRA, J. D. de. Fatores determinantes de motivação de funcionários terceirizados no serviço público: o caso de uma instituição federal de ensino superior. Revista Eletrônica de Administração. v. 15, n.2, ed. 29, jul./dez. 2016.

GEMMA. S. F. B.; FUENTES-ROJAS, M.; SOARES, M. J. B. Agentes de limpeza terceirizados: entre o ressentimento e o reconhecimento. Revista Brasileira de Saúde Ocupacional. São Paulo, vol.42, mar. 2017.

IRBER, B. G. De C. S. Trabalhadoras terceirizadas de limpeza e conservação da UNB: relatos de violências, invisibilidade e precarização. 2016. 74 f.. Monografia (Graduação) Departamento de Sociologia, Universidade de Brasília, Brasília, 2016.

LYKAWKA, Liliane. O trabalho terceirizado: reconhecimento, valorização e satisfação. 2013. 45 f.. Monografia (Especialização em Psicologia Organizacional) Instituto de Psicologia, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Rio Grande do Sul, 2013.

MEIRELES, V. de A. Retrato da invisibilidade profissional de terceirizados: estudo de casos com trabalhadores de Belo Horizonte. 2015. 131 f.. Dissertação (Mestrado Profissional em Administração) Diretoria de Educação Continuada, Pesquisa e Extensão, Centro Universitário Una, Belo Horizonte, 2015.

SANTOS, Milton. Por uma outra globalização: do pensamento único à consciência universal. Rio de Janeiro: Record, 2006.

SILVA, Otavio Pinto e. A nova face do direito do trabalho: tecnologia, desemprego, trabalho autônomo e trabalho informal. In: Revista do Advogado, 2005, No82, São Paulo, AASP.

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