Edmund Burke (1729-1797) é sempre referido pelos "conservadores", no Brasil. Há, acreditem, alguns operadores de Direito e agentes políticos, oferecendo cursos on-line sobre "conservadorismo". Nada demais, contudo, as informações, pelo CDC (caput, do Art. 14), devem ser fidedignas à História.
Imaginem ingressar numa universidade para ser professor de História e aprender erroneamente fato histórico? Ou cursar Direito e "aprender" sobre a tese, mesmo após decisão do Supremo Tribunal Federal STF proíbe uso da tese de legítima defesa da honra em crimes de feminicídio. Em decisão unânime, Plenário entendeu que a tese contribui para a naturalização e a perpetuação da cultura de violência contra a mulher , da legítima defesa da honra em crimes de feminicídio?
Então. Consumidores "aprendem" sobre "conservadorismo". O (a) professor (a) ensina que no conservadorismo é impossível defender "militância gay", ou "militância LGBT+", e decisões dos membros do Supremo Tribunal Federal (STF) quanto à dignidade dos LGBT+, como união homoafetiva, nome social, criminalização da homofobia e transfobia. Prova para cargo público. O (a) aluno (a), ou os alunos, dissertam, ou prova oral, defendem o fim da "militância LGBT+", por ser "antinatural", "ativismo judicial", comunista. Pronto! Reprovação! Perda de uma chance!
Falamos de Edmund Burke (1729-1797), tido por muitos como o marco fundador de um pensamento conservador moderno chamado por alguns de liberal conservador, embora haja quem considere a expressão um oximoro ou uma aberração, debate léxico que se prende diretamente às polêmicas (...).
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Essa deferência às tradições clássicas não é, em Burke, um chamamento ao imobilismo; Mordecai Kaplan, um teólogo judaico, disse, certa vez, que o passado possui um voto, mas não um veto. Assim entendia Burke quando diz que um Estado ou ordem de coisas, para conservar sua essência positiva, precisa se modificar.
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Burke foi uma figura pouco compreendida por muitos; prestou apoio a reivindicações dos colonos americanos que se separaram da Inglaterra, bem como aos colonizados indianos; poucos sabem que defendeu os homossexuais e os católicos de seu tempo da perseguição e da punição por pena de morte. Disse que divisões partidárias, mesmo as internas de um mesmo partido, são essenciais para um governo livre. (BERLANZA, Lucas. Guia Bibliográfico da Nova Direita. 39 Novos Livros para Compreender o Fenômeno Brasileiro. Ed. Resistência Cultural.
Será, realmente, que Burke defendeu a dignidade do LGBT+?
Burke propõe a abolição do pelourinho, 1780
O tratamento brutal e posterior morte de dois sodomitas no pelourinho em 1780 levou o estadista conservador Edmund Burke a fazer um discurso no Parlamento propondo a abolição do pelourinho. Por esse gesto humanitário, ele foi atacado em alguns jornais por ser brando com os sodomitas. O procurador-geral ordenou um inquérito sobre as mortes, e o subxerife de Surrey foi julgado como resultado do inquérito, mas foi absolvido. Burke conseguiu uma pensão de 36 libras por ano na Lista Civil para a viúva de um dos sodomitas, William Smith. O pelourinho não foi abolido até 1816 (exceto como punição por suborno e perjúrio) e não totalmente abolido até 1837. Este incidente foi lembrado pelo Conde de Lauderdale quando ele participou do debate para abolir o pelourinho em 1815. (1) [tradução livre]
Sim, o "pai do conservadorismo" defendeu os LGBT+, pois a dignidade humana não é diferente para a espécie humana. Isso desmorona quaisquer tentativas, com base no "conservadorismo", de atacar STF, comunidades LGBT+ etc. por agirem com vieses "antinatural" e "contra a CRFB de 1988".
"Divisões partidárias" são importantíssimas para o bem-estar social. E a liberdade de expressão também. Notem. Burke não impediu a liberdade de expressão, muito menos foi contrário à dignidade dos LGBT+. Também não desconsiderou modificações no status quo, ou seja, os povos e seus costumes devem ser considerados. Ora, a dignidade humana é fator principiológico por Burke, o respeitos pelos instituições do Estado é a base para a estrutura das relações humanas harmoniosas; impossível pensar no caos "antidemocrático" atual em defesa do "conservadorismo falacioso".
Antes que algum (a) leitor (a) comente na "minha defesa esquerdista", é necessário admitir que "os tempos mudaram" e que não há "imutabilidade" na sociedade e no próprio Estado, nas normas criadas. A dignidade humana é princípio, independente de quem seja poucos sabem que defendeu os homossexuais e os católicos de seu tempo da perseguição e da punição por pena de morte.
FIAT LUX!
NOTA:
Burke Proposes Abolition of the Pillory, 1780. Disponível em: https://rictornorton.co.uk/eighteen/1780burk.htm