RESENHA: Os Parques de Ciência e Tecnologia e Incubadoras e o Desenvolvimento Regional

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AZEVEDO, Marta Isabel Carneiro. Os Parques de Ciência e Tecnologia e Incubadoras e o Desenvolvimento Regional. Dissertação de Mestrado, Faculdade de Economia, Universidade do Porto, 2011.

1. A autora

Marta Isabel Carneiro Azevedo concluiu a licenciatura em Economia em 2008 na Faculdade de Economia da Universidade do Porto. Nesse mesmo ano começa a trabalhar na Agência de Inovação, S.A. (AdI), onde se mantém até aos dias de hoje. Desempenhou funções como responsável pela análise financeira de projetos enquadrados no Sistema de Incentivos à Criação de Núcleos de Investigação e Desenvolvimento Tecnológico no Setor Empresarial (NITEC) e atualmente é gestora de projetos em Copromoção e Mobilizadores no âmbito do Quadro de Referência Estratégico Nacional (QREN), quer na avaliação de candidaturas quer no acompanhamento financeiro dos projetos (Adaptado de AZEVEDO, 2011, p. II).

2. O tema, o método e o contexto

A dissertação avaliou a importância dos Parques de Ciência e Tecnologia (PCT) e Incubadoras para a Região Norte (de Portugal) [...]. O método utilizado foi a comparação entre empresas instaladas em PCT e Incubadoras versus empresas semelhantes localizadas fora destas infraestruturas, para aferir da existência ou não de diferenças significativas, tendo por base o inquérito efetuado por iniciativa da PortusPark (rede de PCT e Incubadoras do Norte) a todas as suas empresas, bem como a base de dados dos Quadros de Pessoal do Gabinete de Estratégia e Planeamento do Ministério do Trabalho e Solidariedade Social (GEP-MTSS) para a Região Norte. As empresas da PortusPark destacam-se do tecido empresarial da Região em que se inserem, sobretudo por serem jovens, constituídas por recursos humanos altamente qualificados e na sua esmagadora maioria do sexo masculino. De realçar também que uma das suas áreas de atividade predominantes é a de investigação científica e desenvolvimento (Adaptado de AZEVEDO, 2011, p. V).

3. Objetivos

A autora elenca alguns objetivos ao elaborar as questões acima: Na sequência destas questões, este trabalho tem dois objetivos principais. Como não é ainda possível avaliar o impacto destas infraestruturas nas regiões em que se localizam, pois a experiência portuguesa é ainda muito incipiente, em primeiro lugar, pretende-se fazer uma caracterização geral dos PCT e Incubadoras de Portugal que foram financiadas por fundos públicos e que fazem parte da Associação Portuguesa de Parques de Ciência e Tecnologia (TECPARQUES), expondo as suas semelhanças e diferenças. Em seguida, pretende-se avaliar a importância dos PCT e Incubadoras para as regiões em que se localizam, sendo para tal realizada uma caracterização das empresas que fazem parte da rede PortusPark e posterior comparação com o universo empresarial da região em que inserem a fim de aferir da existência ou não de características distintivas das demais empresas (AZEVEDO, 2011, pp. 02-03).

4. Conceito de inovação

Nos anos 70, já se tinha a noção de que as empresas tradicionais dentro do sistema capitalista deixariam de existir, ficando em seus lugares as que estivessem embasadas na tecnologia de ponta e na constante inovação político-econômica-administrativa. A autora define inovar: consiste em fazer algo de forma diferente, com o intuito de chegar a uma solução melhor do que as existentes, através de novas combinações de inputs [...]. A Ciência e a Tecnologia convergem neste conceito de inovação de forma a estimular a competitividade e criar progresso Mais do que nunca, as palavras de ordem nas empresas são a competitividade e a inovação. Em particular, passou a tomar-se consciência das enormes vantagens resultantes da relação universidade-empresa e da aposta na Investigação e Desenvolvimento [...] (AZEVEDO, 2011, p. X).

Ela reaça a importância da relação universidade-empresa, o que choca com a ideologia predominante em Portugal atualmente, ou seja, a de que a citada relação torna o conhecimento meramente estruturalista, preocupado apenas com o mercado de trabalho e o consumo e não com a formação de uma população com a mentalidade altamente crítica do sistema capitalista. A autora combate tal argumento citando os exemplos propiciados pela Califórnia, EUA, onde, desde 1951, emergiram através das dimensões económica, social e cultural, revelando uma dinâmica e uma capacidade de adaptação que transcende os limites geográficos e temporais AZEVEDO, 2011, p. 01).

Graças ao vínculo da Universidade de Stanford, Califórnia, e as empresas, teve-se o surgimento do polo tecnológico no Vale do Silício. Não por acaso, diz a autora, ali os PCT romperam com as barreiras organizacionais e institucionais, facilitando uma melhor integração dos múltiplos agentes presentes nos parques e promovendo o fluxo de conhecimento e a transferência de tecnologia entre todos os elementos participantes [...]

Esse tipo de parque é fonte de desenvolvimento e riquezas. No entanto, segundo a autora, nem sempre são bem sucedidos em algumas regiões de Portugal, e ela explica o porquê: muitas estratégias de desenvolvimento baseadas em PCT e Incubadoras não têm os efeitos teoricamente esperados nas regiões em que se instalam, em particular porque muitas vezes os problemas concretos regionais são considerados como se fossem comuns a todas as regiões do país (Tödtling e Trippl, 2004) (AZEVEDO, 2011, p. 02).

Ou seja, quando os grupos econômicos logram superar as ideologias contrárias ao progresso capitalista, nem sempre os gestores têm noções das realidades regionais, imaginando que o que se deu na Califórnia pode ser aplicado absolutamente do mesmo modo como ocorreu no Vale do Silício. A autora afirma que as idiossincrasias locais devem ser respeitadas: As medidas devem ser tomadas de forma integrada e compreensiva, pois a natureza dos problemas varia de caso para caso (AZEVEDO, 2011, p. 02).

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Ademais, a interação universidade-parques não é algo que possa ser criada com uma simples canetada, pois os gestores se esquecem de que a interação entre o meio empresarial e o meio académico resulta de um longo e duradouro processo e aprendizagem que está longe de ser automático [...]. Por isso, nem todos os PCT surtem os mesmos efeitos e com a mesma amplitude nas regiões em que se instalam (AZEVEDO, 2011, p. 02).

Por outras palavras, não basta o gestor impor uma norma dizendo que haverá relação entre a universidade pública e os parques tecnológicos se não houver boa vontade tanto das universidades públicas quanto dos parques. Às vezes, ocorre que o meio empresarial deseja a interação, mas há grupos dentro das universidades que não aceitam essa relação, pois muitos questionam: Serão estes parques efetivos focos de crescimento dos setores de alta tecnologia numa região, ou os seus efeitos não transbordam os limites físicos do parque? Servirão de facto propósitos regionais ou são apenas a versão da economia do conhecimento dos chamados parques industriais (Shearmur e Doloreux, 2000)? (AZEVEDO, 2011, p. 02).

5. Resultado

De acordo com a autora, contrariando a tendência regional de decréscimo do número de empresas nos últimos anos, as empresas da PortusPark aumentaram, nomeadamente de 2007 para cá. A sua esmagadora maioria diz respeito a empresas jovens, criadas depois de 2001 e em que uma parte muito significativa delas, 44%, não existia antes de se instalarem no parque. Tal poderá sugerir que de facto a proximidade entre empresas e outras instituições que existe em cada um dos parques exerce atração sobre as empresas, o que poderá estar de acordo com o milieux inovateur de Camagni. Segundo este, a proximidade entre os agentes económicos colmata um conjunto de gaps que caracterizam o processo de inovação (AZEVEDO, 2011, p. 74).

Infere-se, portanto, que a evidência dos primeiros sinais do desempenho dos PCT e Incubadoras enquanto catalisadores de mudança numa região, nomeadamente através da criação de novos empregos ou da promoção de um maior nível de qualificação nas empresas, deixando algumas pistas de investigação futura acerca da importância da criação e da avaliação da performance destas infraestruturas no longo prazo (AZEVEDO, 2011, p. VI).

Sobre o autor
Elton Emanuel Brito Cavalcante

Doutorando em Desenvolvimento Regional e Meio Ambiente - UNIR; Mestrado em Estudos Literários pela Universidade Federal de Rondônia (2013); Licenciatura Plena e Bacharelado em Letras/Português pela Universidade Federal de Rondônia (2001); Bacharelado em Direito pela Universidade Federal de Rondônia (2015); Especialização em Filologia Espanhola pela Universidade Federal de Rondônia; Especialização em Metodologia e Didática do Ensino Superior pela UNIRON; Especialização em Direito - EMERON. Ex-professor da rede estadual de Rondônia; ex-professor do IFRO. Advogado licenciado (OAB: 8196/RO). Atualmente é professor do curso de Jornalismo da Universidade Federal de Rondônia - UNIR.

Informações sobre o texto

Este texto foi publicado diretamente pelos autores. Sua divulgação não depende de prévia aprovação pelo conselho editorial do site. Quando selecionados, os textos são divulgados na Revista Jus Navigandi

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