RESENHA: O livre-mercado e seus inimigos: Pseudociência, socialismo e inflação

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MISES, Ludwig Von. O livre-mercado e seus inimigos: Pseudociência, socialismo e inflação. LVM Editora, São Paulo, 2020.

1. O autor e seu contexto

Austríaco de nascimento, Ludwig Von Mises defendeu o liberalismo clássico, sobretudo contra a influência das ideias intervencionistas que provinham do socialismo. Em 1909, começou a trabalhar na Câmara Vienense de Comércio, Artesanato e Indústria. Lidando diariamente com os temas econômicos, publicou, em 1912, The Theory of Money and Credit, livro no qual apresentou a Teoria Austríaca dos Ciclos Econômicos, demonstrando que as inflações e depressões não eram inerentes a uma economia de livre mercado [...], mas causadas pelo mau gerenciamento governamental dos sistemas monetário e bancário.

Lutou a Primeira Guerra Mundial, defendendo o Império Austro-Húngaro. Com a saída da Rússia da guerra, indicaram-no para ser o responsável pelo controle monetário na Ucrânia, então ocupada pelos austríacos.

Terminada a guerra, voltou a trabalhar na Câmara Vienense de Comércio, sendo indicado para a liquidação dos débitos austríacos anteriores à guerra.

O Império Austríaco foi dividido, tornando-se uma república. Como represália, os vencedores da guerra impuseram uma forte barreira ao comércio exterior austríaco, o que levou o país a hiperinflação e a uma situação de fome.

Ademais, influenciados pelos êxitos da URSS, os socialistas austríacos tentaram transformar à força a nação em uma república comunista. Mises ajudou a impedir a completa nacionalização das empresas austríacas, lutou contra a hiperinflação e contribuiu na reorganização do Banco Nacional do seu país.

Publicou, em 1919, Nation, State and Economy. Neste livro argumentou que a origem da Primeira Guerra Mundial estava nas ideologias nacionalistas, socialistas e imperialistas. Nessa mesma linha de raciocínio, em Socialism: An Economic and Sociological Analysis, publicado em 1922, demonstrou que, com a nacionalização dos meios de produção e a abolição resultante do dinheiro, da concorrência de mercado e do sistema de preços, o socialismo levaria ao caos econômico e não à prosperidade social. Assim, além da tirania que o socialismo criaria devido ao domínio do governo sobre todos os aspectos da vida humana, ele era também intrinsecamente insustentável como sistema econômico.

2. O livro

Mises, já a meados da década de 1920, notava o perigo das ideias nazistas, sendo consciente que a sua Áustria sucumbiria também a elas. Fugindo do nazismo, migrou para a Suíça, em 1933.

Em 1940 passou a viver em Nova Iorque, sendo amparado pela Fundação Rockefeller.

O livro ora resenhado foi fruto de uma série de palestras ministradas por Mises na Fundação para a Educação Econômica, em Nova Iorque, durante doze dias, 25.06 a 06.07.1951.

O conteúdo do livro é basicamente um elogio da liberdade econômica e, por conseguinte, uma demonstração dos erros materialismo dialético e do determinismo histórico de Karl Marx. Demonstra, entretanto, o funcionamento real do processo de mercado através do qual a liberdade econômica fornece os incentivos e a liberdade pessoal para que os indivíduos possam trabalhar, economizar e investir. Ele explica como a demanda por bens e serviços, sempre orientada pelo cliente, é o que realmente fornece o estímulo e as oportunidades de lucro para que os empreendedores, de forma criativa, organizem e guiem a produção de modo a servir aos desejos e necessidades do público comprador

Ou seja, ao mesmo tempo, combate o intervencionismo estatal na economia, seja ele soviético ou nazista.

Ademais, mostra que uma economia estatizada, centralizadora não consegue desviar-se do desperdício: demonstra que o processo de mercado é dependente da emergência de um meio de troca o dinheiro , através do qual uma miríade de bens e recursos podem ser reduzidos a um denominador comum, na forma de preços monetários. O cálculo econômico, na forma de preços de mercado, fornece o método pelo qual os empreendedores conseguem estimar seus lucros potenciais e suas perdas possíveis, considerando linhas e métodos alternativos de produção. Através desse processo, o desperdício e o mau uso de recursos escassos são mantidos num nível mínimo, para que uma quantidade máxima de bens e serviços de alto valor e desejados pelos consumidores possa ser trazida ao mercado.

E é justamente por causa desse desperdício que Mises aponta a planificação socialista como uma total falta de racionalidade, pois com a abolição dos mercados e preços, sob o socialismo, os planejadores centrais não têm a menor ideia de como aplicar os recursos, o capital e o trabalho sob seu controle de forma eficaz. Portanto, socialismo significa, na prática, o caos planejado.

O problema central das crises capitalista, diz ele, está na má administração e gerência do governo sobre os sistemas bancários e monetários, pois ao distorcer os sinais de preço do mercado incluindo as taxas de juros - as inflações geradas pelos governos causam a má alocação de recursos e trabalho e o investimento errado do capital, levando finalmente a uma depressão.

Neste sentido, Mises combate a estagnação, a falta de inovação e o apego a uma noção de que um Estado agigantado gerará riquezas para a nação.

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Sobre o autor
Elton Emanuel Brito Cavalcante

Doutorando em Desenvolvimento Regional e Meio Ambiente - UNIR; Mestrado em Estudos Literários pela Universidade Federal de Rondônia (2013); Licenciatura Plena e Bacharelado em Letras/Português pela Universidade Federal de Rondônia (2001); Bacharelado em Direito pela Universidade Federal de Rondônia (2015); Especialização em Filologia Espanhola pela Universidade Federal de Rondônia; Especialização em Metodologia e Didática do Ensino Superior pela UNIRON; Especialização em Direito - EMERON. Ex-professor da rede estadual de Rondônia; ex-professor do IFRO. Advogado licenciado (OAB: 8196/RO). Atualmente é professor do curso de Jornalismo da Universidade Federal de Rondônia - UNIR.

Informações sobre o texto

Este texto foi publicado diretamente pelos autores. Sua divulgação não depende de prévia aprovação pelo conselho editorial do site. Quando selecionados, os textos são divulgados na Revista Jus Navigandi

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