AZEVEDO, Marcelo Teixeira de. Transformação digital na indústria: indústria 4.0 e a rede de água inteligente no Brasil. Tese doutoral em Ciências, Escola Politécnica da USP, São Paulo, 2017.
Marcelo Teixeira de Azevedo é doutor em Engenharia Elétrica e professor nos cursos de Engenharia de Controle e Automação, Redes de Computadores e Sistemas de Informação na Universidade Brasil. Ministra aulas na pós-graduação da Metrocamp de Campinas e no Senai-SP, UNIP, FATEF e ITA. Trabalha com segurança da informação e redes de computadores.
O texto ora resenhado, antes de tudo, começa conceituando digital, digitalização e transformação digital.
Digital, diz o autor, é a conversão da informação em tecnologia analógica para a digital, e cita como exemplo uma foto impressa convertida para um dispositivo digital.
Digitalização, por seu turno, está relacionada à questão de transformar processos físicos em virtuais utilizando-se tecnologias específicas para tal (AZEVEDO, 2017, p. 19).
A transformação digital, por fim, seria o equivalente a uma mudança de mentalidades, não se limitando apenas a mudança de novas tecnologias com também novas formas de tornar os negócios mais seguros e rentáveis.
Como é um câmbio que já vem ocorrendo pontualmente, não se sabe ao certo em que grau ele se encontra difundida no Brasil a indústria 4.0. E o que seria esta indústria? Seria o equivalente à quarta revolução industrial no mundo.
A primeira revolução industrial, diz o autor, teria ocorrido na Inglaterra no século XVIII, findando-se no início do século XIX. O que a marcou foi o uso do carvão vegetal como fonte de energia para abastecer as máquinas a vapor. Muitos ramos industriais se beneficiaram com tal revolução, mas não todos, ao menos imediatamente, sendo a indústria têxtil a que primeiro apresentou os logros da revolução. A grande mudança social foi a aceleração abrupta do êxodo rural para os grandes centros urbanos, o que geraria os problemas de infraestrutura, sanitários, violência e desemprego, ainda muito presentes em muitas cidades atualmente.
A segunda revolução, no fundo apenas um aprimoramento da primeira, marca a essência do sistema capitalista, isto é, a constante busca de aprimoramentos dos métodos e técnicas de produção existentes, com o intuito claro de baratear os preços ou aumentar o consumo. Dentro dessa perspectiva, a própria Primeira Revolução Industrial não seria mais que uma consequência lógica do processo de produção manufatureira capitalista iniciado desde finais do século XV. Na segunda revolução industrial, o grande logro foi a utilização de combustíveis oriundos de fonte de energia fóssil e do eletromagnetismo. houve, com isso, um incremento considerável na produção industrial, reduzindo tanto os custos quanto o período para fabricação dos produtos. A linha de montagem fordista é o exemplo mais conhecido desse momento histórico.
Em relação à terceira revolução, diz o autor, teria ela iniciado a partir de meados do século XX, tendo como base o uso de equipamentos eletroeletrônicos e sobretudo da Tecnologia da Informação, cujo objetivo de ambas era a completa automação da indústria manufatureira. O avanço nas telecomunicações, o aprimoramento dos computadores para diminuir distâncias, tudo isso marca esse momento.
A quarta revolução, ainda é contestada. Mas, para muitos, já é realidade. O autor aponta alguns exemplos, tais como a Internet das Coisas, a Big Data e a computação em nuvem. A grande marca desse momento é a celeridade, a capacidade de produção de tecnologias inovadoras por parte de umas quantas grandes multinacionais (as famosas Big Techs) e a necessidade de as demais empresas, de todos os ramos de produção, de adaptarem-se a tal velocidade tecnológica.
O que, de verdade, caracterizaria esta quarta revolução seria o intenso uso das tecnologias digitais e o consumo massivo destas pela população, inclusive as classes mais baixas, isso em termos econômicos.
Há menos de vinte anos já havia, com certeza, certo grau de velocidade na produção e comercialização de novas tecnologias, mas em nada comparável ao momento atual, no qual um produto quando repassado ao consumidor já está quase considerado superado.
Isso é assim porque as grandes empresas produtoras supracitadas têm, ademais da capacidade de produção, o poder de comunicar quase em tempo real o resultado de suas pesquisas em tecnologia. Desta forma, antes de que um produto seja testado e posto no mercado, já há compradores.
Assim, se a indústria 4.0 está vindo como uma avalanche sobre a forma tradicional de se fazer negócios, o autor se indaga como esta nova mentalidade está sendo absorvida pela indústria responsável pelas distintas fases da produção de água potável abastecedora dos centros urbanos brasileiros.
Após analisar toda a rede de águas, o autor chegou à conclusão de que as novas tecnologias que permitem esta mudança [adaptação à indústria 4.0] devem trabalhar de forma colaborativa e integrada pois a solução completa para a transformação digital depende do correto funcionamento entre as tecnologias habilitadoras, dentre elas se destacam: Internet of Things, Machine Learning, Cloud & Fog Computing, sistemas ciberfísicos, M2M, 5G e big data analytics (AZEVEDO, 2017, p. 140).
Em suma, as tecnologias 4.0, embora sejam uma realidade consolidada em muitas nações, no Brasil ainda está em fase de implantação, sendo seus maiores inimigos a burocracia, o desconhecimento das vantagens que ela pode gerar e o preço, ainda caro demais para certos ramos industriais nacionais.
A seu favor há, entretanto, o fato de que se a indústria brasileira em geral não se adapta perderá competitividade no mercado internacional, o que de fato abala o progresso do país.