RESENHA: Gestão da inovação: a economia da tecnologia no Brasil

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TIGRE, Paulo Bastos. Gestão da inovação: a economia da tecnologia no Brasil. Ed. Elsevier, 7ª impressão, Rio de Janeiro, 2006.


Paulo Bastos Tigre é professor titular do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Desenvolve projetos sobre diferentes aspectos econômicos da inovação tecnológica, especialmente nas tecnologias da informação e comunicação. Graduado em Economia pela UFRJ; Mestre em Engenharia de Produção pela COPPE; e PhD em Política Científica e Tecnológica pela University of Sussex. Foi pesquisador visitante no Centre for Latin American Studies da Universidade da California, Berkeley e da Universidade de Paris XXII.

O professor Bastos Tigre é um dos grandes teóricos da inovação tecnológica. Para ele, esta constitui uma ferramenta essencial para aumentar a produtividade e a competitividade das organizações, assim como para impulsionar o desenvolvimento econômico de regiões e países [...]. [No entanto], a mudança tecnológica não é um processo automático, pois representa a substituição de métodos já estabelecidos, causando prejuízo ao capital investido. É necessário fazer uma combinação de fatores.  (BASTOS TIGRE, 2006, pp.13-18).

O conceito de inovação, portanto, é classificado na doutrina em quatro tipos: a) incremental, equivalendo a pequenas melhorias, métodos, incrementos nas áreas administrativas, serviços e produção. A incremental: é mais ou menos administrável; b) radical, cujo foco é criar um novo produto. Às vezes pode ser revolucionaria, exemplo disso é empresa UBER, a qual revolucionou o modelo de taxis, mas não destruiu a empresa tradicional de taxes, obrigando, porém, a adaptar-se ao novo contexto; c) disruptiva, neste caso, a nova empresa destrói o setor do mercado que lhe antecedeu. Por exemplo, a Microsoft e as demais empresas de microinformática acabaram com o mercado para as empresas produtoras de máquinas de escrever. Outro exemplo é o da Amazon, a qual está, gradativamente, destruindo o mercado das livrarias tradicionais nos Estados Unidos; d) aberta, a qual, vendo que há uma acirrada disputa, busca criar inovações no sentido de criar parcerias entre as grandes empresas, inclusive entre as concorrentes entre si. Aqui o risco de surgimento de monopólios é alto.

Para o autor, entretanto, a gestão da inovação não é apenas a questão do crescimento econômico de um país, pois um país pode estar com problemas econômicos, no entanto, isso não implica que empresas desse país estejam todas com dificuldades. Para uma empresa continuar no ritmo de desenvolvimento, suas atitudes devem residir fundamentalmente em um processo qualitativo de transformação da estrutura produtiva no sentido de incorporar novos produtos e processos e agregar valor à produção por meio da intensificação do uso da informação e do conhecimento (BASTOS TIGRE, 2006, p.13).

Aponta, também, o professor Bastos que já não é mais novidade que muitos países antes pobres superaram a pobreza devido ao investimento maciço em educação e tecnologia, além da mudança de mentalidade da população em acatar e incentivar uma estrutura educacional-tecnológica dinâmica e inovadora. Neste sentido, não basta investir em qualquer tipo de educação, pois há países, sobretudo os latino-americanos, que gastam muito dinheiro em processos educacionais que combatem as estruturas capitalistas e favorecem uma mentalidade estatizante e contrária aos investimentos privados em avanço científico-tecnológico. 

Essa educação criticaria bastante a indústria capitalista e permitiria uma relação constante entre os sindicatos e o Estado. É este o grande patrocinador, impositor e inquisidor. Para essa visão, o empresário é uma espécie de contrário ao bem-estar social e responsável pela pobreza da população. Assim, a tendência é o incentivo de uma educação paternalista, cujo foco não é o que se destaca pelo esforço ou pelo mérito, mas, sim, igualar os indivíduos, considerando o mérito como uma forma de dominação social. Por isso, Bastos Tigre diz que o desenvolvimento depende essencialmente de transformações que gerem empregos mais qualificados, criem novas formas de organização, atendam a novas necessidades dos consumidores e melhorem a própria forma de viver (BASTOS TIGRE, 2006, p.13).

Não pode uma sociedade que deseja a riqueza e a prosperidade econômica rechaçar a o setor que mais gera empregos, ou seja, o da iniciativa privada. No fundo, a mentalidade empresarial privada deveria ser emprega pelas empresas estatais, muitas delas criticadas devido à burocracia interna e à pouca produtividade. Assim, uma empresa (estatal, privada ou mista) deve ter uma gestão da inovação, porque do ponto de vista empresarial, as empresas mais dinâmicas e rentáveis do mundo são justamente aquelas mais inovadoras que, em vez de competir em mercados saturados pela concorrência, criam seus próprios nichos e usufruem de monopólios temporários por meio de patentes e segredo industrial (BASTOS TIGRE, 2006, p.13).

Assim, o professor Bastos defende a seguinte tese: A geração e apropriação de inovações, entretanto, é um processo complexo que depende não apenas das qualificações e dos recursos técnico-financeiros detidos pela firma, mas também do ambiente institucional no qual está inserida e do poder de negociação com fornecedores e clientes [...]. O principal argumento é que o sucesso na introdução de novas tecnologias depende do matching entre a oferta de conhecimentos e a capacidade de as empresas absorverem eficientemente novos equipamentos, sistemas e processos produtivos. Inicialmente são apresentadas as diferentes estratégias tecnológicas adotadas pelas empresas, mostrando que as opções não são necessariamente voluntárias, pois dependem da capacitação técnica da empresa, sua força financeira e das condições dos mercados em que atuam. Um bom produto ou processo é apenas uma das variáveis a ser considerada na formulação de uma estratégia competitiva e as decisões tecnológicas precisam estar em harmonia com o modelo de negócios adotado pelas empresas (BASTOS TIGRE, 2006, pp.13,15,16).

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Portanto, o autor tratará o tema acima de forma multidisciplinar, ou seja, a organização da produção é objeto de estudo de engenheiros de produção e administradores; a análise dos processos de inovação e difusão tecnológica está assentada na contribuição de especialistas em tecnologia; os impactos sociais e econômicos e os mecanismos de incentivo à inovação são campos de estudos compartilhados por economistas e sociólogos, enquanto as políticas públicas de inovação recebem o aporte teórico de cientistas políticos. A literatura relacionada à inovação, apesar dos esforços de integração, ainda encontra-se fragmentada entre diferentes áreas do conhecimento, que adotam focos de análise e metodologias distintas (BASTOS TIGRE, 2006, p.13).

Então, além de defender a tese supracitada, o autor busca no livro integrar todas estas áreas do saber, ligadas à gestão da inovação, de forma coesa, analisando, sobretudo, a situação nacional, pois o foco na realidade brasileira visa a preencher lacunas na literatura internacional, mesmo a relativa às questões de países em desenvolvimento, que não atende às particularidades e singularidades do nosso país (BASTOS TIGRE, 2006, p.13).

As técnicas e métodos, para Bastos Tigre, são pensadas e estudadas a partir das realidades de países ricos e estáveis, onde as incertezas, tributos e contexto para os negócios são favoráveis ao empreendedor. No Brasil, ao contrário, existe um ambiente complexo e contraditório, pois é, ao mesmo tempo, rico e pobre, isto é, possui uma economia entre as mais poderosas do mundo, porém parte da população vive como se fosse um país pobre. O problema aqui não é a distribuição de renda, não é tirar do rico e levar para o menos favorecido. Isso não resolveria o problema, o qual está ligado, justamente, à pouca expansão da mentalidade empreendedora e de uma gestão eficiente das empresas para as zonas menos ricas do país. A Coreia do Sul tornou-se rica porque adotou um capitalismo empreendedor e, principalmente, o Estado e os empresários resolveram gerir suas empresas de forma inovadora, adotando a tecnologia de ponta como motor basilar da economia. O Brasil, e a América Latina em geral, tem ojeriza ao mercado livre, sempre o barra através das malhas estatais. 

Por isso, o autor faz primeiramente uma longa análise histórica da gestão empresarial-inovadora, estudando, desde a Revolução Industrial até a indústria 4.0, a evolução tecnológica e empresarial das firmas: A análise da evolução das teorias da firma e sua relação com paradigmas técnico-econômicos distintos mostram que não existe um corpo teórico único e coerente, pois as teorias estão condicionadas por diferentes filiações metodológico-teóricas, enfocam aspectos distintos e baseiam-se em contextos institucionais, históricos e setoriais diversos (BASTOS TIGRE, 2006, p.14). 


Sobre o autor
Elton Emanuel Brito Cavalcante

Doutorando em Desenvolvimento Regional e Meio Ambiente - UNIR; Mestrado em Estudos Literários pela Universidade Federal de Rondônia (2013); Licenciatura Plena e Bacharelado em Letras/Português pela Universidade Federal de Rondônia (2001); Bacharelado em Direito pela Universidade Federal de Rondônia (2015); Especialização em Filologia Espanhola pela Universidade Federal de Rondônia; Especialização em Metodologia e Didática do Ensino Superior pela UNIRON; Especialização em Direito - EMERON. Ex-professor da rede estadual de Rondônia; ex-professor do IFRO. Advogado licenciado (OAB: 8196/RO). Atualmente é professor do curso de Jornalismo da Universidade Federal de Rondônia - UNIR.

Informações sobre o texto

Este texto foi publicado diretamente pelos autores. Sua divulgação não depende de prévia aprovação pelo conselho editorial do site. Quando selecionados, os textos são divulgados na Revista Jus Navigandi

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